As advertências de Washington coincidiram com a primeira ligação telefônica em sete semanas entre Joe Biden e Netanyahu
Os Estados Unidos advertiram Israel, nesta quarta-feira (9), contra uma ofensiva militar no Líbano semelhante à que ocorre em Gaza, após o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, ameaçar o país vizinho com uma "destruição" parecida com a do território palestino.
"Estou deixando muito claro que não deve haver nenhum tipo de ação militar no Líbano que se pareça em nada com a de Gaza nem que deixe um resultado parecido com o de Gaza", disse o porta-voz do Departamento de Estado, Matthew Miller, a jornalistas, em resposta às declarações de Netanyahu.
Na terça-feira, o primeiro-ministro israelense pediu aos libaneses para "livrarem" seu país do movimento islamista Hezbollah, aliado do Hamas, como forma de acabar com a guerra.
"Eles têm a oportunidade de salvar o Líbano antes que ele caia no abismo de uma longa guerra que levará a uma destruição e a um sofrimento como os que vemos em Gaza", ameaçou.
O chefe do Estado-Maior israelense, Herzi Halevi, prometeu nesta quarta-feira que Israel continuará bombardeando alvos do Hezbollah "sem descanso". Estes ataques já mataram mais de 1.200 pessoas desde 23 de setembro, quando o Exército israelense começou a bombardear os redutos do grupo pró-iraniano no Líbano.
O Exército israelense também anunciou nesta quarta que matou um membro do Hezbollah identificado como Adham Jahout em um bombardeio na Síria, na região de Quneitra.
As advertências de Washington coincidiram com a primeira ligação telefônica em sete semanas entre o presidente americano, Joe Biden, e Netanyahu.
Os dois tiveram uma conversa "produtiva", "honesta" e "direta", e Biden pediu a Netanyahu que "limite ao máximo o impacto sobre os civis" no Líbano, informou a Casa Branca.
Além da situação no Líbano, os líderes também acordaram a resposta de Israel a um ataque com mísseis do Irã na semana passada.
O ataque de retaliação contra Teerã "será mortal, preciso e surpreendente", afirmou o ministro da Defesa israelense, Yoav Gallant, em um comunicado.
Biden já advertiu Israel para não atacar as plantas nucleares iranianas. O presidente americano também desaconselhou um ataque às instalações petrolíferas do país persa, já que isso elevaria os preços do petróleo a menos de um mês das eleições presidenciais americanas.
Foguetes matam dois israelenses
O Irã lançou em 1º de outubro mais de 200 mísseis contra Israel, seu principal inimigo, e afirmou que o ataque foi uma resposta às mortes do chefe do Hezbollah, Hassan Nasrallah, e do líder do Hamas, Ismail Haniyeh.
O primeiro morreu em um bombardeio israelense em 27 de setembro em Beirute, a capital libanesa. Já o segundo foi abatido em um bombardeio atribuído a Israel em 31 de julho em Teerã.
Uma fonte do governo libanês afirmou nesta quarta-feira à AFP que o Hezbollah havia aceitado um acordo de cessar-fogo com Israel no dia da morte de Nasrallah.
Mas Netanyahu afirmou no mesmo dia na ONU que continuaria atacando o movimento islamista no Líbano. Além disso, o governo libanês "não tem mais contato" com o grupo xiita desde a morte de seu líder, acrescentou a fonte.
Até então, a poderosa formação apoiada pelo Irã condicionava qualquer trégua no Líbano ao fim dos combates em Gaza.
O Hezbollah abriu uma frente contra Israel há um ano em apoio ao Hamas.
Após ter enfraquecido o Hamas com sua ofensiva em Gaza, o Exército israelense deslocou, em meados de setembro, a maior parte de suas operações para o Líbano, como forma de combater o Hezbollah.
Israel lançou uma ofensiva terrestre no sul do Líbano em 30 de setembro. O objetivo, segundo o governo, é permitir que dezenas de milhares de israelenses deslocados pela violência na fronteira possam voltar para suas casas.
Duas pessoas morreram nesta quarta-feira em Kiryat Shmona, no norte de Israel, devido a disparos de foguetes vindos do Líbano. Essas foram as primeiras mortes de civis em Israel por projéteis lançados do país vizinho desde a intensificação da ofensiva israelense contra o Hezbollah, a qual já deixou mais de um milhão de deslocados.
O movimento islamista afirmou ter frustrado duas tentativas de infiltração de soldados israelenses no sul do Líbano e que enfrentou os militares em combates terrestres.
A Defesa Civil libanesa reportou que cinco de seus socorristas morreram em um bombardeio israelense no sul do país. O Ministério da Saúde libanês, por sua vez, indicou que pelo menos quatro pessoas morreram em outro ataque israelense contra um vilarejo no distrito de Shouf, ao sudeste de Beirute.
Habitantes de Gaza "lutam a cada dia"
Em Gaza, que segue sendo alvo de bombardeios israelenses, os habitantes "lutam a cada dia para poder alimentar suas famílias, encontrar água potável, energia para continuar vivendo", disse Sarah Davies, do Comitê Internacional da Cruz Vermelha.
O conflito começou em 7 de outubro de 2023, após o ataque sem precedentes do Hamas no sul de Israel, o qual causou a morte de 1.206 pessoas, a maioria civis, segundo um levantamento da AFP baseado em números oficiais israelenses.
Das 251 pessoas sequestradas naquele dia, 97 continuam em cativeiro em Gaza, incluindo 34 que foram declaradas mortas pelo Exército israelense.
Em resposta, Israel lançou uma ofensiva implacável que já matou mais de 42 mil palestinos no território palestino governado pelo Hamas, sendo a maioria civis, segundo dados do Ministério da Saúde de Gaza, que são considerados confiáveis pela ONU.
AFP e Correio do Povo