terça-feira, 1 de outubro de 2019

Quando o sonho de emigrar para Portugal vira pesadelo

Brasileiros que partiram para o país nos últimos anos relatam suas desilusões, dificuldades e dramas na busca frustrada por uma vida melhor

Por Hérica Marmo, de Lisboa

MALAS PRONTAS - Marina Lamar, na Praça do Comércio, em Lisboa: “Vamos voltar, chegamos ao limite” (Daryan Dornelles/.)

No seu mais recente disco, Bandeira da Fé, Martinho da Vila gravou uma música em homenagem aos novos imigrantes brasileiros em Portugal. Em Fado das Perguntas, o sambista conta a história de um sujeito que disfarça o sofrimento com as baixas temperaturas do inverno e com a solidão dentro de uma tasca. “Tudo bom, nada mal”, diz a letra. Na realidade de parte dos mais de 100 000 brasileiros que hoje vivem do outro lado do Atlântico, não está nada bom. Em vez de pastel de bacalhau, queijo da Serra ou amêijoas, o que essas pessoas andam experimentando no país-­irmão é o gosto da desilusão. A gerente comercial Marina Lamar, de 28 anos, integra esse grupo. “Mudamos para tentar melhorar de vida”, conta ela, que chegou a Lisboa em setembro de 2018, com o marido, os filhos de 1 e 9 anos e grávida do terceiro. “Hoje vivemos pior que no Brasil.”

A família de Marina tinha uma rotina simples em Vitória, no Espírito Santo, mas conseguia viajar (“parcelando mil vezes no boleto”), ter carro, animais de estimação, vida social. A decisão de deixar o Brasil foi motivada pelo medo da violência e pelo desejo de proporcionar um ensino gratuito de qualidade aos filhos. Após um tempo vivendo na casa de amigos, o casal resolveu batalhar por um endereço só da família. Como o preço dos aluguéis na capital é muito alto (não se consegue nada por menos de 4 600 reais nos melhores bairros), os dois começaram a procurar lugares mais afastados. Depois de morarem em um quarto de hostel e em uma quitinete infestada de percevejos, conseguiram alugar um apartamento de dois quartos numa cidade a 20 quilômetros do bairro de Lisboa onde o marido trabalha como garçom. “Passados seis meses, a senhoria pediu o imóvel. Fiquei sem chão”, lembra Marina, que hoje mora de favor no apartamento de uma amiga, enquanto espera sair o passaporte do filho que nasceu em Portugal para retornar a Vitória. “Chegamos ao limite”, desabafa. Para cruzar o Atlântico de volta, Marina conta com a ajuda de parentes do casal que estão se cotizando para pagar as cinco passagens de avião.

NO PREJUÍZO – Nathalia: dificuldades para pagar o aluguel da loja no Porto

NO PREJUÍZO – Nathalia: dificuldades para pagar o aluguel da loja no Porto (Daryan Dornelles/.)

A onda de desencanto representa a ressaca pós-inundação migratória. Depois do êxodo em direção a Miami a partir dos anos 90, Portugal virou o eldorado para muitos que buscam uma fuga de problemas como a violência e o desemprego. Em 2018, a comunidade de brasileiros no país europeu chegou ao número de 105 000, 23,4% superior ao total registrado em 2017. Novamente, o Brasil liderou o número de títulos de residência emitidos, 28 210, e representa o país natal de 21% dos imigrantes que vivem por lá. Para os mais endinheirados, o governo local oferece vantagens até mesmo para conseguir a nacionalidade, e o mercado imobiliário constrói condomínios sob medida, com casas a partir de 2 milhões de reais e adaptações como cômodos para empregadas, espaços que não existem nas residências das famílias portuguesas. Para quem não tem o mesmo colchão financeiro e arrisca tudo na mudança, há o grande perigo de trombar com a barreira da tímida economia portuguesa. O PIB, equivalente a 900 bilhões de reais, é menos que a metade da economia do Estado de São Paulo (2,2 trilhões) e deve crescer 1,9% em 2019, segundo estimativas oficiais. “Nem sempre o processo migratório é bem-sucedido, às vezes por falta de informação antes da viagem, expectativas não condizentes com a realidade ou dificuldades de integração”, afirma Luís Carrasquinho, responsável em Portugal pelo Programa de Apoio ao Retorno Voluntário e à Reintegração (ARVoRe).

A iniciativa, da Organização Internacional para as Migrações (OIM), não só banca a volta de expatriados sem condições de arcar com o custo das passagens como dá um incentivo financeiro para a reintegração no mercado de trabalho do país de origem. Desde 2007, o Brasil é a na­ciona­lidade mais representativa no ARVoRe — e, nos últimos anos, o número de pedidos de ajuda de brasileiros vem aumentando. Em 2017 foram 335 solicitações e em 2018 elas chegaram a 616. Em 2019, até agosto, o ARVoRe já havia recebido 418 candidaturas.

CONSELHEIRO – Marinho: consultoria para quem quer empreender no país

CONSELHEIRO – Marinho: consultoria para quem quer empreender no país (Daryan Dornelles/.)

A goiana Claudine Alves, de 40 anos, foi uma das pessoas que se beneficiaram do programa. Ela desembarcou em Lisboa em dezembro de 2017 com os dois filhos, então com 7 e 16 anos, para encontrar o marido, que vinha de Londres. Claudine vendeu o carro e os móveis antes de sair do Brasil e levou as economias para ajudar no recomeço. Na chegada, o primeiro choque foi térmico. Dos 39 graus de Goiânia, eles foram para 4 graus. O marido, que havia conseguido emprego na construção civil, acabou sendo dispensado com a diminuição de obras no inverno. Enquanto o casal penava para encontrar trabalho, as economias trazidas do Brasil eram queimadas no aluguel e nas despesas da casa. Nas vésperas do Natal, os dois deram duro numa confeitaria fazendo bolo-­rei, doce típico das festas de fim de ano portuguesas. Na hora do pagamento, tomaram um calote. “Uma brasileira que contratava os funcionários sabia que não tínhamos documentos e disse: ‘Não vou pagar nada, não. Se quiserem, reclamem na polícia’.” Nos meses seguintes, Claudine conseguiu bicos num café e numa empresa de limpeza. Mas o que ganhava era muito abaixo das despesas. “Em cinco meses, a gente se viu numa situação desesperadora, à beira do despejo, com a proprietária dizendo que ia arrombar a porta e nos expulsar. Era muita humilhação”, conta. A família acabou salva pelo ARVoRe. Um mês depois de se candidatar ao programa, estava voltando para casa.

Embora tenha uma taxa de desemprego baixa (6,7%) em comparação com a trágica realidade brasileira (12,5%), Portugal está longe de ser um oásis para quem procura trabalho — e os estrangeiros sofrem mais ainda com essa dificuldade. A relações-­públicas carioca Ana Duarte, de 43 anos, chegou a Lisboa em 2016 e guarda no notebook os mais de 300 e-mails que enviou com seu currículo desde então. Apenas sete empresas retornaram, das quais só uma era em sua área de atuação — e ela não ficou com a vaga. “Quando terminar meu mestrado, vou tentar uma bolsa em outro país europeu”, conta. Na falta de encontrar um emprego qualificado, a administradora Nathalia de Lima, de 32 anos, investiu cerca de 50 000 reais para montar com o marido, engenheiro de produção, uma loja de frutos secos caramelizados e doces em uma das estações de metrô mais movimentadas da cidade do Porto. As vendas iam bem, porém não o suficiente para pagar o caro aluguel do imóvel. “Tentamos negociar o valor da locação, mas o administrador foi irredutível”, diz Nathalia, que atualmente tenta recuperar o investimento vendendo o estoque pela internet. No momento, há vagas sobrando para setores específicos, como o de tecnologia de informação. Portugal criou um visto especial para atrair talentos da área das mais diferentes partes do mundo. Neste ano, até julho, 284 brasileiros obtiveram o documento, de um total de 338 autorizações. Muitos que têm qualificação acabam trabalhando no país como motorista de Uber ou motoboy para sobreviver.

DE VOLTA – A goiana Claudine com a família: retorno ao Brasil depois de calote no trabalho e ameaça de despejo

DE VOLTA – A goiana Claudine com a família: retorno ao Brasil depois de calote no trabalho e ameaça de despejo (Cristiano Mariz/.)

Em busca de uma saída, alguns brasileiros começaram a ganhar dinheiro oferecendo serviços à grande comunidade de conterrâneos expatriados, como o de bufê de festa infantil caprichada, um negócio estranho às famílias portuguesas. O empresário paulista Marinho Ponci, de 52 anos, por sua vez, criou uma consultoria no Porto para brasileiros interessados em montar negócios por lá. Para quem pensa em empreender, ele dá duas dicas: paciência e reserva financeira de pelo menos dois anos. “O primeiro ano é terrível; no segundo, entende-se o mercado; e no terceiro o negócio pode deslanchar”, afirma. Para quem desembarca com urgência em ganhar a vida em euros, alerta o consultor, é grande o risco de o sonho português virar um pesadelo.

Publicado em VEJA de 2 de outubro de 2019, edição nº 2654


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General diz que ainda não sabe que foi demitido do comando do Incra

Militar foi demitido após desavenças com Nabhan Garcia

Por Evandro Éboli

Nabhan Garcia, secretário de Assuntos Fundiários, batia de frente com o general, que deixou o governo (Tânia Rêgo/Agência Brasil)

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Guarda-roupa Casal 4 Portas 6 Gavetas - Araplac Sofia com Espelho

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Vacina de sarampo deve ficar mais cara para SUS por alta demanda global, diz Mandetta

Ministro da Saúde deve levar pauta para Organização Mundial da Saúde

Ministro da Saúde deve levar pauta para Organização Mundial da Saúde

Ministro da Saúde deve levar pauta para Organização Mundial da Saúde | Foto: Marcelo Camargo / Agência Brasil / CP

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O ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, afirmou nesta segunda-feira, que o custo da vacina de sarampo deve aumentar por causa da alta procura mundial. O imunizante é oferecido pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Segundo ele, há falta de fornecedor global de vacinas para a quantidade comprada pelo País. "Ontem (domingo), o Brasil propôs uma reunião estendida, com mais de dez países, onde pautamos a questão da vacina e a crise de vacina, que é global, já que o sarampo voltou em praticamente todos os continentes. Os Estados Unidos estão numa luta enorme contra o sarampo, México com dificuldade de abastecer, e o Brasil com São Paulo concentrando os casos, e pouquíssimos produtores mundiais de vacina. Imaginamos que o preço da vacina deve ter tendência de alta, porque vai acabar prevalecendo a lei de mercado", disse Mandetta, a jornalistas, em Washington.

O ministro participa de reunião de ministros da Saúde das Américas, na Organização Pan-Americana de Saúde (Opas), na capital americana. O ministro afirmou que o País foi apoiado a levar a pauta para a Organização Mundial da Saúde, para que as metas de 2020 e 2030 sobre vacinação considerem o tema como um bem imaterial da humanidade. "O Brasil percebe uma falha de mercado na produção de vacinas global", afirmou Mandetta. Ainda sobre sarampo, o ministro voltou a dizer que há dificuldade em lidar com "uma geração inteira que só tomou uma dose" da vacina. "O Brasil tem uma boa cobertura para primeira dose, que é feita aos 12 meses, mas não tem uma boa cobertura para a segunda dose do sarampo", afirmou.

Ele também disse que "um movimento anti-vacina baseado em 'fake news'" atrapalha a imunização. "E você tem um outro fenômeno, que são as mães atuais que não viram essa doença. As avós viram, mas uma geração mais jovem acha que isso não existe, minimiza, não viveu o estresse que foi controlar essas doenças", afirmou Mandetta. Em Nova Iorque, a matrícula nas escolas fica condicionada à apresentação do atestado de vacinação contra Sarampo e as famílias devem prestar contas, mesmo se alegarem motivos religiosos para não vacinarem as crianças. Um surto de sarampo na cidade acarretou na nova legislação. A prefeitura de Nova Iorque ordenou a vacinação em áreas da cidade e chegou a estabelecer inclusive multas aos que não se vacinarem.

Questionado sobre o tema, Mandetta disse ter dúvida se a política punitiva é o caminho correto. "No caso, é mais a construção de consciência mesmo", afirmou. Ele mencionou ter ido ao Congresso solicitando que as consequências da não vacinação sejam colocadas em "um patamar um pouco mais importante". O ministro quer que as escolas solicitem a carteira de vacinação na matrícula, não para impedir a inscrição da criança, mas para comunicar ao Ministério Público e ao Conselho Tutelar em caso de ausência de imunização básica.

O ministro também mencionou que quer que 100% dos homens que, aos 18 anos, se apresentam ao Exército sejam vacinados. Segundo ele, o Bolsa Família é o único programa social no Brasil que condiciona o pagamento do benefício à apresentação da carteira de vacinação em dia.


Agência Estado e Correio do Povo


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Setor público registra déficit primário de R$ 13,44 bilhões em agosto

Dívida bruta sobe para 79,8% do PIB e volta a bater recorde

Déficit nominal atingiu R$ 280,759 bilhões nos oito primeiros meses do ano

Déficit nominal atingiu R$ 280,759 bilhões nos oito primeiros meses do ano | Foto: Marcos Santos / USP Imagens / Divulgação / CP

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Formado por União, estados, municípios e empresas estatais, o setor público consolidado registrou déficit primário de R$ 13,448 bilhões em agosto, divulgou, nesta segunda-feira, o Banco Central (BC). O resultado representa uma leve melhora em relação à agosto do ano passado, quando as contas ficaram negativas em R$ 16,876 bilhões. Entretanto, o déficit ainda é superior ao rombo de R$ 9,529 bilhões registrado no mesmo mês de 2017.

O déficit primário representa o resultado negativo das contas do setor público desconsiderando o pagamento dos juros da dívida pública. O montante difere do resultado divulgado na sexta-feira pelo Tesouro Nacional porque, além de considerar os governos locais e as estatais, o BC usa uma metodologia diferente, que considera a variação da dívida dos entes públicos.

No mês passado, segundo o BC, o Governo Central (Tesouro Nacional, Previdência Social e Banco Central) teve déficit primário de R$ 16,459 bilhões. Os estados e os municípios registraram superávit de R$ 2,657 bilhões; e as estatais, déficit primário de R$ 355 milhões.

Nos oito primeiros meses do ano, o setor público acumula déficit de R$ 21,95 bilhões. O déficit primário do Governo Central chega a R$ 42,535 bilhões de janeiro a agosto. O resultado negativo foi parcialmente compensado pelos superávits primários de R$ 19,815 bilhões pelos estados e municípios e de R$ 770 milhões das estatais (federais, estaduais e municipais).

O resultado do Banco Central é o levado em conta para o cumprimento da meta fiscal estabelecida na Lei de Diretrizes Orçamentárias e no Orçamento Geral da União, que corresponde a R$ 132 bilhões de déficit primário nos três níveis de governo e nas estatais para 2019. Este será o sexto ano consecutivo de resultados negativos nas contas públicas.

Os gastos com os juros da dívida pública totalizaram R$ 50,187 bilhões no mês passado. Essas despesas chegam a R$ 258,808 bilhões de janeiro a agosto e a R$ 349,203 bilhões – 4,96% do Produto Interno Bruto (PIB) – no acumulado de 12 meses até agosto.

Resultado nominal

O déficit nominal, representado pela soma do resultado primário e dos juros, atingiu R$ 63,644 bilhões em agosto, R$ 280,759 bilhões nos oito primeiros meses do ano e R$ 444,711 bilhões (6,32% do PIB).

O resultado nominal é levado em conta pelas agências de classificação de risco ao analisar o endividamento de um país. Quanto maior o rombo nas contas públicas, a recomendação de investimento piora porque o país não está conseguindo economizar para pagar a dívida pública.

Dívida bruta

A dívida bruta do setor público avançou em agosto e voltou a bater recorde. Em agosto, o indicado chegou a 79,8% do PIB (R$ 5,617 trilhões), contra 79% do PIB em julho e 77,2% em dezembro do ano passado. Assim como o resultado nominal, a dívida bruta é usada pelas agências de classificação de risco para traçar comparações internacionais.


Agência Brasil e Correio do Povo