sexta-feira, 1 de abril de 2005

Por que azul para menino e rosa para meninas?

A associação é tão comum que nem parece precisar de explicação, mas nem meninos vestiram azul e meninas vestiram rosa. Segundo o livro Dictionary of Omens and Supersticions (“Dicionário de Agouros e superstições”, sem tradução em português), o costume já existia na era pré-cristã, quando se acreditava que algumas cores podiam expulsar os espíritos que rondavam os recém-nascidos. Como bebês do sexo masculino eram mais valiosos, passaram a ser vestidos com roupas azuis, com associada aos espíritos do bem (por ser a mesma do céu). As meninas, quando recebiam alguma atenção, ganhavam roupas pretas, cor símbolo da fertilidade na cultura oriental, de onde possivelmente veio a crença nos espíritos.

Foi no século 19 que o rosa ganhou alguma ligação com a feminilidade, influenciado por uma lenda europeia que diz que as meninas nascem de rosas e os meninos de repolhos azuis. Esse padrão, no entanto, não se disseminou por todo o mundo. Por um bom tempo, na França, as meninas se vestiam de azul, por causa da tradição católica, que associa a cor à pureza da Virgem Maria.

Fonte: Revista Super Interessante, abril de 2005, página 37.

Síndrome de Down

Nosso material genético, os cromossomos andam aos pares. Em que tem Down há um único cromossomo a mais, o 21, formando um trio que provoca alterações por todo o organismo. Algumas estão na cara, com maior ou menor sutileza: os olhos amendoados, o nariz ligeiramente mais achatado. Os portadores em geral têm dificuldade para falar. Sua língua tende a ficar para fora e a boca costuma viver aberta. Isso é minimizado quando a criança com Down faz exercícios específicos, orientados por um fonoaudiólogo.

Outro fator associado é o fraco tônus muscular. “Portadores da síndrome devem fazer mais esforço físico para atingir os mesmos resultados de uma outra pessoa”, compara o médico Zan Mustacchi, do Centro de Estudos e Pesquisas Clínicas de São Paulo. Desse modo, com os movimentos são mais cansativos, a obesidade é uma ameaça constante. Mas ela pode ser controlada com uma dieta equilibrada e, espantando a preguiça justificável no caso, ginástica.

Fonte: Revista Saúde! É Vital, abril de 2005, página 57.

sexta-feira, 18 de fevereiro de 2005

O Protocolo de Kyoto

A entrada em vigor do Protocolo de Kyoto é um passo à frente para a conscientização internacional sobre a importância da proteção ao meio ambiente. O objetivo do protocolo, ratificando por 141 países, é controlar os efeitos de gases que, ao aprisionarem calor na atmosfera, aquecem o planeta. Estudos científicos estimam que o chamado efeito estufa, num processo gradativo, poderá provocar alterações do clima, cujo degelo das calotas polares seria o resultado catastrófico mais sério. Embora todos os cálculos quanto ao aquecimento do planeta assegurarem que tal hipótese é remota, a redução gradativa da emissão dos gases produzidos pela queima de fósseis é medida de segurança recomendada pela ciência.
O lamentável é que os Estados Unidos, responsáveis por um quarto das emissões poluentes, recusem-se a ratificar o protocolo, mantendo a posição firmada pelo presidente George W. Bush quando da investidura em seu primeiro mandato, em 2001. mesmo assim, governadores de quase a metade dos estados discordam da postura do presidente Bush e prometeram trabalhar em favor da cooperação internacional para uma melhor qualidade de vida no planeta, estimulando a adoção de políticas públicas antipoluição que não dependem, para sua implantação, da esfera federal.
Os países desenvolvidos do Primeiro Mundo, altamente industrializados, pelo Protocolo de Kyoto, comprometem-se em reduzir em determinadas porcentagens o nível de emissão de gases registrados em 1990.
Países emergentes, como Brasil e Índia, só terão metas a cumprir depois de 2012. Mesmo assim, em sua política de proteção ao meio ambiente, o Brasil, que conta em seu território com a maior floresta tropical do mundo, a Amazônia, com a implantação do Sistema de Vigilância da amazônia (Sivam), combate o desmatamento e as queimadas, fatores que concorrem para o aumento do efeito estufa. Na complicadíssima engenharia das negociações internacionais, o Protocolo de Kyoto pode não ser o suficiente, mas pode ser considerado um avanço na harmonização das preocupações ambientalistas, que ganharam corpo a partir da década de 70, com os interesses econômicos dos países.



Fonte: Editorial do Correio do Povo, página 4 de 18 de fevereiro de 2005. 

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2005

Chávez, novo Fidel?

A política, em qualquer lugar onde se exercite a mutação democrática, tende a ser ondulante: o réprobo de hoje, e a história está aí para confirmar, pode ser o herói de amanhã e vice-versa. Pois este senhor Hugo Chávez, ainda há pouco tempo quase apeado pela opinião pública do governo da Venezuela, vai tomando o papel de líder sul-americano disputado com Lula. Sem sucesso, para citar o episódio mais recente, no Fórum Social Mundial, foi estrondoso. No penúltimo dia do Fórum, sendo um dos oradores escalados, recolheu aplausos como ninguém antes recolhera. Falou coisas óbvias para o congresso, nada de novo em termos de políticas sociais e de integração, tudo dito e repetido por outros intérpretes, inclusive pelo próprio Lula, então de partida para Davos, onde falaria a outros senhores, estes representantes do capitalismo. Lula, por isso, colheu algumas vaias, de que passou recibo na base do “paz e amor”, que cultiva com maestria.
Voltando porém a Chávez: além da oratória de cunho social, foi especialmente prático ao assinar protocolos de intenções como o governo brasileiro para adoção de regras usadas em um assentamento de sem-terra nas proximidades de Porto Alegre, coisa sem grande importância por tratar apenas intenções, como o nome do protocolo indica, mas de muito efeito como marketing prático. Na sua aparatosa fala, dissertou sobre o papel da América do Sul, “que detém o futuro do Norte”, frase de interpretação cerebrina e incompreensível, mas de fato excelente para oportunidade. Terminou conquistando para seu país o galardão de ser uma das sedes prováveis do Fórum Social Mundial de 2006. Em suma, ficou sob a luz dos holofotes enquanto Lula se ofuscava no meio dos figurões de Davos...
É, tudo indica, ainda muito cedo para ser ter a certeza de que o índio venezuelano do país que já teve o tirano Gomez como líder venha a ser uma referência na história do continente meridional americano. Mas força e determinação não lhe faltam para isso. Parece questão de tempo para ser Fidel.



Fonte: Editorial do Correio do Povo, página 4 de 2 de fevereiro de 2005. 

domingo, 9 de janeiro de 2005

A difícil tarefa de explicar o horror

Depois da morte de mais de 150 mil pessoas, as religiões tentam descobrir um significado para a tragédia

PETER GRAFF

Reuters/Londres

Sempre que acontece um desastre, uma tragédia, a pergunta é feita. Dias atrás, ela foi repetida mais uma vez, agora na boca de uma mulher idosa em um vilarejo destruído do Estado de Tamil Nadu, no sul da Índia

  • Por que fez isso conosco, Deus? O que fizemos de errado?

  • Chorava ela.

Os tsunamis de 26 de dezembro, ondas gigantes assassinas que mataram mais de 150 mil pessoas, desafiam as grandes religiões do mundo. A tragédia atingiu indiscriminadamente muçulmanos indonésios, hinduístas indianos, budistas tailandeses e do Sri Lanka, além de cristãos e judeus que faziam turismo nas praias do Oceano Índico. Nos templos, mesquitas, igrejas e sinagogas de todo o mundo, pede-se aos religiosos que expliquem: como um Deus benevolente pode lançar tanto horror contra pessoas comuns? Alguns líderes religiosos descreveram a destruição como parte do plano de Deus, como prova de seu poder e como punição pelos pecados dos humanos.

É a expressão da grande ira de Deus com o mundo. O planeta está sendo punido pelas coisas erradas, seja o ódio desnecessário, a falta de caridade, a torpeza moral – disse à agência de notícias Reuters o rabino-chefe de Israel, Shlomo Amar.

Pandit Harikrishna Shastri, sacerdote do grande tempo hindu Birla, em Nova Délhi, declarou que o desastre foi causado por “uma enorme quantidade de maldade humana na Terra”, além da posição dos planetas. Para Azizan Absul Razak, líder religioso muçulmano e vice-presidente do Parti Islam se-Maysia, partido oposicionista islâmico da Malásia, a tragédia foi um lembrete de Deus que “ele criou o mundo e pode destruí-lo”. O xeque Ibrahm Mogra, influente líder religioso muçulmano de Leicester, na Grã-Bretanha, também deu sua opinião.

  • Acreditamos que Deus tenha o controle total sobre sua criação. Temos a responsabilidade de tentar atrair a bondade e a misericórdia de Deus e de não fazer nada que atraia a sua fúria.

Maria, 32 anos, uma testemunha de Jeová do Chipre que acha que o Apocalipse está se aproximando, afirmou que as pessoas começam a prestar atenção em suas palavras. Mas, para outros, calamidades como a do final de dezembro podem provocar a rejeição da fé. Ateu britânico Martin Kettle escreveu no jornal britânico The Guardian que os tsunamis deveriam obrigar as pessoas a se perguntarem “se Deus existe e pode fazer coisas como essas” – ou se não há Deus, apenas a natureza.

  • Não há problema para explicar a tragédia pela visão da ciência. Houve um fato natural burro, que destruiu tanto os muçulmanos como os hindus. Um sistema de crença não-científico, especialmente um que se baseie em qualquer tipo de noção de ordem divina, no entanto, deve explicações – escreveu Kettle.

Conforme o rabino americano Daniel Isaak, da congregação Neveh Shalom, em Portland, Oregon, essa é uma questão com que os religiosos lidam quase todo dia, quando consolam as pessoas em relação às tristezas diárias da vida – e não só nas épocas de grandes catástrofes.

  • É muito difícil acreditar em um Deus que não apenas cria tsunamis que matam milhares de pessoas, mas que põe defeitos de nascimento em crianças. Muitas vezes a primeira pergunta que as pessoas fazem é aquela feita pela mulher indiana. Por que Deus está fazendo isso comigo? – admite o rabino.

Para alguns, Deus não interfere em sua criação

Segundo Isaak, na visão moderna no entanto, Deus não interfere nas questões de suas criações. Catástrofes como as dos tsunamis no sul da Ásia ocorrem pelos motivos naturais apontados pelos cientistas.

  • Não foi algo que Deus fez. Deus não escolheu um determinado grupo de pessoas em determinada área do mundo e disse: “Vou puni-los”. O mundo tem certas imperfeições em sua ordem natural, e temos que conviver com elas. A pergunta não é “Por que Deus fez isso conosco?”, mas “Como nós, seres humanos, cuidamos uns dos outros?” – opinou Isaak.

O teólogo grego ortodoxo Costas Kyriakides, do Chipre, tem uma visão semelhante:

  • Pessoalmente, não vejo nenhum significado teológico nisso. Deus é sempre o bode expiatório. É sempre culpado, injustamente, por nós.

Fonte: Zero Hora, página 32 de 9 de janeiro de 2005.