domingo, 15 de agosto de 2004

A síndrome do pânico, por Simoni Missel*

A síndrome ou transtorno do pânico se caracteriza por medo repentino e sem motivo, acompanhado de falta de ar, ansiedade, medo de morrer, perder o controle ou enlouquecer, coração acelerado, suor nas mãos, tontura, vertigem ou desmaio.
Pode ser desencadeado por situações de estresse ou depressão. Caso o transtorno não seja diagnosticado e tratado adequadamente, as crises podem se tornar mais frequentes. Isso pode evoluir para quadros como depressão ou agorafobia (medo de locais onde a saída parece difícil). O tratamento usa a combinação de medicações que regulam a serotonina no cérebro e a psicoterapia.

*Psicóloga


Fonte? Zero Hora, página 37 de 15 de agosto de 2004.

sábado, 14 de agosto de 2004

Arsenal contra a pirataria

Ao contrário da CPI mista do Banestado, que não consegue encaminhar as investigações sobre a evasão de divisas para o final devido a divergências políticas entre seus integrantes, a investigação da Câmara sobre a pirataria encerrou-se com uma perspectiva de moralização nesta área. Além da criação do Conselho Nacional de Defesa da Propriedade Intelectual e Combate à Pirataria, a investigação sugere a criação ou a ampliação de penas para crimes como contrabando, receptação, reprodução, cópia e venda de produtos e obras intelectuais pirateados e amplia o rigor sobre o comércio de falsificações. Nem tudo depende de leis nesta área, mas se, for bem aproveitado, o arsenal pode colaborar para levar o país à seriedade.
Normalmente percebida mais como uma forma de gastar menos, a pirataria impõe prejuízos à população que vão muito além da qualidade inferior e dos riscos da falsificação em itens que vão de medicamentos a computadores. Um deles é o fato de que, embora se constitua em forma de sobrevivência para ambulantes, acaba contribuindo para gerar empregos nos países que vivem da produção de falsificados, contendo a ampliação de 1,5 milhão de vagas no mercado formal do país. O outro é o constituído pelas constantes ameaças de retaliação ao Brasil por países industrializados sob alegação de descumprimento de leis de propriedade intelectual e industrial. E, nesse caso, as perdas se dão tanto no plano financeiro quanto na imagem externa do país, o que acaba afetando os investimentos.
O mérito da CPI da Pirataria, portanto, foi o de mostrar como é possível levar à prisão alguns dos maiores contrabandistas do país, ainda que isso não seja suficiente para desmantelar o esquema. Frequentemente associado ao crime organizado, o comércio ilegal deve ser combatido sem trégua, por meio de conscientização e da aplicação de leis rigorosas como as que estão sendo propostas agora pela investigação do Congresso. Só haverá resultados consistentes nesta área, porém, se os esforços deflagrados agora, impulsionados pelo final dos trabalhos, tiverem continuidade.
Ao mesmo tempo, o setor público não pode perder de vista que uma das formas de combater a pirataria é estimular o setor produtivo formal. Nenhuma medida pode se mostrar mais eficiente neste sentido do que a redução da carga tributária.



Fonte: Zero Hora, editorial, edição de 14 de agosto de 2004, página 12.

quarta-feira, 11 de agosto de 2004

Censura


O governo mandou projeto ao Congresso a criação de um Conselho Federal de Jornalismo. Objetivo: “orientar, disciplinar e fiscalizar” a imprensa. Ou seja: estabelecer a censura. As coisas começaram assim na Alemanha de Hitler e na Cuba de Fidel. Ali, como no poema atribuído a Brecht, os jornalistas fizeram de conta que a coisa não era com eles e, quando perceberam, já não dava para reagir, era tarde demais. A tentativa não é inédita dentro da filosofia dos companheiros. Um deles, quando prefeito de Porto Alegre, tentou no âmbito local o mesmo “conselhão”, o que, felizmente, não prosperou. A medida é fascista stalinista. Há uma Lei de Imprensa em vigor e quem a viola é punido severamente. A tentativa de recriar a censura é cala a boca que os jornalistas não podem permitir.


Flávio Alcaraz Gomes, Correio do Povo, 11 de agosto e 2004, página 4.

Como a mulher de César, por Cândido Norberto*

 Se me perguntarem o que vem a ser a palavra “denuncismo”, eu sei o que quero dizer com ela, embora não tenha encontrado em nenhum de meus dicionários. É um neologismo, não é? Trata-se de imputar a pessoa ou a uma instituição o uso e o abuso de acusações sem fundamento com a intenção de neutralizar as críticas de que venham sendo objeto, livrando-se, do trabalho e sobretudo do dever de contestá-las com fatos e provas.
Na atualidade, por exemplo, nosso simpático palavroso presidente da República, diante das graves acusações que vêm sendo feita aos presidentes do Banco Central e do Banco do Brasil, tem dito e repetido que elas não merecem crédito nem carecem ser desmentidas pelo governo e pelos próprios acusados, porque não passam pura e simplesmente de denuncismo da oposição. O mesmo vem sendo reiterado pelos homens públicos acusados de envolvimento em atos ilegais ou pelo menos contrário à ética e aos bons costumes.
Sinceramente, me confessso incapaz de entender os complicados procedimentos que, a juízo dos denunciantes, teriam sido praticados pelos dois destacados homens públicos que vêm sendo alvos de tantas e tão graves acusações. No momento, o que me apresso a dizer é que concordo com o chefe do governo – idem com relação aos que como eles estão dizendo a mesma coisa – em que a prática do chamado denuncismo é por todos os títulos condenável. Um odioso crime mesmo. Seus autores, além de punição legal, merecem reprovação da sociedade em geral. De acordo?
Agora, tem uma coisa: dessas verdades não se há de chegar à conclusão de que as alegações dos acusados possam ser desconsideradas por inteiro, eis que são ocupantes de elevados cargos públicos. Em tal caso é incabível que se limitem a ignorá-las, considerando-as como sendo meros denuncismos ou afirmando que se trata de reles exploração política.
Para servidor público a situação muda de figura. Cabe-lhes o dever de chamar seus detratores à Justiça, constrangendo-os a que provem suas imputações ou respondam pelos delitos que tenham cometido. Indispensável tal procedimento porque a servidores públicos, especialmente quando exercem altos cargos de confiança, corresponde o mesmo dever que os antigos romanos exigiam da mulher de César, isto é, que, além de ser honesta, devia parecer honesta. No momento, é o que se está esperando dos senhores presidentes do Banco Central e do Banco do Brasil. E do próprio presidente da República com relação a seu governo. Ou será que estou raciocinando incorretamente?
A propósito desse assunto, o governo está tratando de que seja criado no Brasil um conselho de alcance ainda não bem avaliado. Trata-se do Conselho Federal de Jornalismo. Quais suas finalidades? Quem respondeu até aqui a essa indagação foi o ministro de Comunicação e Gestão Estratégica, Luiz Gushiken. Disse ele: “A ideia é proteger o jornalista, assegurando condições para que o jornalismo seja indispensável a todos”. O texto do projeto será submetido ao Congresso Nacional reza que o conselho e suas seções estaduais tenham poderes para “orientar, disciplinar e fiscalizar” o exercício da profissão e das atividades de jornalismo – inclusive com possibilidade de cassar registros profissionais.
Informamos apenas (?) disso, é de se ficar atentíssimo ao assunto. Mais do que muito atento, com medo, trêmulo, para não dizer mais... Em todo o caso, manda a prudência que, antes de qualquer comentário crítico, se espere mais e completas informações sobre o assunto. Essa cautela se justifica de modo muito especial quando se lê a opinião que sobre o tema foi emitida por um destacado prócer do partido do governo, o senador Cristovam Buarque. Ele reagiu ao anúncio da proposta governamental, dizendo, num blog recém-criado, que “o resultado da criação do referido conselho pode ser o controle da imprensa”, e que um projeto como o anunciado não deveria ser remetido ao Congresso.

*Jornalista


Fonte: Zero Hora, 11 de agosto de 2004, página 17.

Lula gosta de conceder favores com o chapéu alheio