sexta-feira, 6 de agosto de 2004

Antônio Chiarello

O ex-deputado estadual e ex-prefeito de Uruguaiana, Antônio Chiarello morreu no dia 22, aos 83 anos, no Pavilhão São Francisco da Santa Casa, em Porto Alegre, vítima de falência múltipla de órgãos.
Chiarello teve a vida política ligada ao antigo PTB e ao PDT. Foi um dos fundadores do PTB em Uruguaiana, partido que presidiu na cidade por 13 anos. Funcionário concursado do Banco do Brasil (BB), não deixava de integrar a vida do partido mesmo quando transferido de cidade.
A participação de Chiarello na política teve início com a chamada Campanha Queremista, que pretendia convencer Getúlio a concorrer à Presidência em 1945. Na eleição de 1954, elegeu-se suplente de deputado estadual, assumindo uma vaga na Assembleia em 1957. Eleito prefeito de Uruguaiana em 1959, exerceu o mandato entre 1960 e 1963.
A doutora em Ciência Política e autora do livro Uruguaiana e Os Coronéis, Lúcia Silva e Silva, lembra que a principal característica de Chiarello era ser afável com os adversários políticos.
Pouco antes do golpe de 1964, foi convidado pelo presidente João Goulart para integrar uma assessoria da Casa Civil. Acabou não assumindo a função e em outubro foi demitido do BB em razão do AI-1. Desempregado, trabalhou em uma agência de publicidade, como produtor na Rádio Guaíba e, mais tarde, na assessoria do então deputado federal Victório Trez.
Com a anistia em 1979, aposentou-se no BB. Nos anos 80, filiou-se ao PDT e concorreu a deputado estadual, mas não foi eleito. Assumiu, no mandato de Leonel Brizola no governo do Rio, a superintendência para a Região Sul do Banerj. Abandonou a vida pública em 1987. Depois de aposentado, escreveu dois livros. Casado com Maffalda, teve os filhos Nicia, Nicely (falecida), Nídia e Antônio Francisco, nove netos e seis bisnetos.


Fonte: Zero Hora, página 53 de 6 de agosto de 2004.

quinta-feira, 5 de agosto de 2004

A moderna endoscopia já é coisa do passado

A endoscopia tradicional já tem seus dias contados. Há certa de um ano, chegou ao Brasil uma novidade que prometia acabar com o exame do aparelho digestivo que tanto incomodava os pacientes. A cápsula endoscópica fez sucesso, está sendo adotada por vários hospitais do país e os pacientes não se assustam mais com o fato de engolir um objeto eletrônico.

Quando caminha pelo aparelho digestivo, a cápsula envia até 50 mil imagens para um pequeno computador localizado no cinturão. O exame dura oito horas e, enquanto isso, o paciente mantém normalmente suas atividades diárias.

Depois que a cápsula é evacuada (e não-reutilizada) pelo organismo, as imagens que foram capturadas por meio de sensores fixados ao abdômen do paciente são descarregadas para um gravador.

Em seguida, o Data Recorder é processado no Rapid Workstation, um programa que permite ao médico visualizar e analisar o intestino delgado por meio de um filme de vídeo. O recurso possibilita o congelamento das imagens e o arquivamento em CD.

COMPOSIÇÃO – A cápsula de vídeo é do tamanho de uma pílula de vitamina (aproximadamente 1 centímetro de comprimento por 8 milímetros de largura) e é usada junto com um aparelho endoscópio, uma câmera e fonte de iluminação próprias à prova d'água e resistente a mordidas e ao meio ácido.

Esta tecnologia evita cirurgias, permite diagnosticar doenças e sangrentos do sistema digestório e é o único meio eficaz de identificação da Doença de Crohn no intestino delgado.

A Clínica Ana Rosa, de Santo André (SP), foi uma das primeiras empresas do Brasil a adquirir a cápsula endoscópica, assim como os hospitais Sírio Libanês e Albert Eistein, em São Paulo. Ronaldo Oliveira, médico gastroenterologista da clínica explica que a cápsula é indicada principalmente para o diagnóstico de doenças inflamatórias intestinais.

“Além disso, usamos este recurso para detectar sangramentos digestivos de origem obscura, anemia crônica e tumores intestinais benignos e malignos em que, na maioria dos casos, outros procedimentos frequentemente não alcançaram os resultados esperados”, destaca o especialista.

INVESTIMENTO – o Hospital Albert Eisntein inaugurou a divisão da Cápsula Endoscópica no dia 21 de julho do ano passado e o equipamento custou 60 mil dólares (cerca de 183 mil reais). A última versão do aparelho (adquirida pelo hospital) possui um sistema de localização espacial (tipo GPS) que facilita a localização exata do ponto de sangramento ou da lesão encontrada.

O recurso tem sido utilizado também para diagnosticar problemas no aparelho digestivo e acabar com o sofrimento dos pacientes que passam pela endoscopia tradicional.

Em São Paulo, o exame não é coberto por nenhum plano de saúde e custa entre 3 mil reais e 7 mil reais, dependendo do valor dos honorários do médico que analisa as imagens. (Cibele Gandolpho/AE)

Fonte: O Sul, página 9 do Caderno de Reportagem da edição de 5 de agosto de 2004.

segunda-feira, 2 de agosto de 2004

Imigração judaica, por Victor Faccioni

Além dos nativos, o Rio Grande do Sul foi enriquecido pela contribuição de grande variedade étnica: portugueses, africanos, espanhóis, alemães, italianos, judeus, árabes, sírio-libaneses e tantos outros ajudaram a formar o gaúcho contemporâneo. Se festejamos dia 25 último 180 anos dos alemães, cabe igualmente lembrar o centenário dos judeus. Seus ancestrais tiveram motivação diferente para escolher nosso Estado como sua seguida pátria. Enquanto a maioria dos imigrantes europeus buscava fugir de uma situação econômica difícil e reiniciar vida nova com dignidade, a corrente israelita fugia da discriminação em seus países de origem, para viver em paz. O barão francês Maurício de Hirsch, banqueiro em Bruxelas, fundou o ICA (Yidisch Colonization Association), em 1891, para retirá-los da Europa Oriental.
Em 1903, o barão Hirsch adquiriu 5,7 mil hectares no município de Santa Maria, para estabelecer a fazenda agrícola Philippson. Em 1904 chegaram as primeiras 38 famílias da Bessarabia (Rússia). Cinco anos depois, o ICA adquiriu mais 93.850 há entre Erechim e Getúlio Vargas. Em 1910 foi criada a União Israelita Portoalegrense, a mais antiga sinagoga do Estado, seguindo-se Centro Israelita. Começaram os “bancos informais”, para ceder empréstimos aos novos imigrantes, e os “caixas dos doentes” para subsidiar consultas e facilitar o acesso a toda infraestrutura médico-hospitalar. Embora exímios comerciantes, destacaram-se também a medicina, nas artes, no direito, na literatura, etc., e que tanto honraram o nosso pago.
Em todas as atividades, firmaram marcas indeléveis de participação ativa e tudo impregnaram com o seu senso progressista e os seus valores culturais. A comunidade israelita hoje prossegue na mesma trilha e, graças a ela, junto com a contribuição das demais etnias, o Rio Grande transformou-se ao longo de décadas, em uma das mais importantes unidades da Federação. No Biênio da Colonização e Imigração, em 1974-1975, de cuja Comissão Estadual fui o presidente, comemoramos os 70 anos da chegada dos primeiros imigrantes judeus, e a programação teve como coordenadores do então Grupo de Trabalho Estado de Israel, Saul Nicolaiewski e Maurício Rosemblatt, Shalon, pois à operosa comunidade israelita gaúcha.

Presidente do TCE-RS


Fonte: Correio do Povo, página 4 de 2 de agosto de 2004.

sexta-feira, 23 de julho de 2004

Fida Goulart Macedo

Irmã mais velha de Jango morre aos 97 anos em Porto Alegre

Morreu no dia12 Fida Goulart Macedo, irmã do ex-presidente João Goulart e da mulher do ex-governador Leonel Brizola, Neusa. Era mãe do publicitário Luiz Macedo, um dos fundadores da agência de publicidade MPM, destacada no mercado brasileiro nos anos 70 e 80.

Nascida em São Borja, ela tinha 97 anos e foi vítima de falência múltipla dos órgãos. Registrada como Elfrides, era a mais velha de sete irmãos. Na juventude, costumava cuidar dos menores e era a responsável nas brincadeiras.
  • Gostava de ser chamada de tia Fida e, como era 12 anos mais velha, ensinou as primeiras letras ao Jango, lá na Fazenda Nossa Senhora do Socorro – diz a irmã Yolanda.

Filha de Vicentina Marques e Vicente Rodrigues Goulart, estudou no Colégio das Irmãs Teresinas, em Itaqui, à época um dos melhores da região. Dona Fida morou grande parte de sua vida na fazenda principal da família, em São Borja, onde o marido, Joaquim Faria Macedo, era um dos responsáveis. Mudaram-se para Porto Alegre nos anos 40.
  • Bastante ligada à família, Dona Fida é definida como uma mulher independente e calma.
  • Era uma mulher de bom senso, a voz dela era acatada em todas as oportunidades pela família – destaca o filho Luiz.

Apesar de pertencer a uma família de políticos, nunca participou ativamente da vida pública.
  • Ela sempre esteve distante da política, acompanhava mas não se envolvia. Mesmo assim, nunca deixou de votar. Ela fazia questão em ir – conta a filha Terezinha.

Católica, costumava frequentar a Igreja Auxiliadora, onde colaborava com as quermesses e visitava os doentes. Em casa, costurava casacos de crochês e pintava porcelanas. Dona Fida convivia muito bem com as pessoas mais jovens e era admirada pelos netos.
  • Ela era reservada, não perguntava como ia a tua vida nem dava conselhos, mas todos sabiam que por traz disso tinha uma pessoa doce e que conseguia aglutinar a família – conta o neto Ivan.

Fonte: Zero Hora, página 47 de 23 de julho de 2004.

domingo, 18 de julho de 2004

Uma brava nação, por Sérgio da Costa Franco*

Data Nacional do Uruguai – 18/07/1830

Ni enemigos le humillan la frente,
Ni opresores le imponen el pié.
(Versos do hino nacional uruguaio)

Dezoito de julho, data do juramento da sua Constituição de 1830 é a data nacional do Uruguai. E o fato de termos nascido na fronteira de Jaguarão, onde brasileiros e uruguaios convivem fraternalmente, e de termos trabalhado na fronteira de Quaraí, junto à simpática e acolhedora cidade de Artigas, arrolou-nos definitivamente entre os amigos e admiradores da República Oriental.
O Uruguai, com escassos 180 mil quilômetros quadrados, o equivalente a dois terços do Rio Grande do Sul, parece um desses milagres pouco explicáveis da geopolítica. O fato de haver resistido às pretensões expansionistas de dois vizinhos poderosos – Argentina e Brasil – exige algo mais que meras explicações casuísticas. A posse de um porto acessível e de águas profundas, melhor que o seu concorrente da outra margem do Prata, desenha-se como a matriz principal da vocação autonomista dos orientais, cujo destino mais lógico teria sido a vinculação com as Províncias Unidas do Rio da Prata. Por outro lado, se não fosse Montevidéu um seguro porto para a navegação oceânica, enquanto o nosso Rio Grande era um cemitério de navios e de vidas, é bem possível que a transitória incorporação da Cisplatina ao Brasil pudesse ter perdurado. Mas a História não se faz de hipóteses e de discursos condicionais. Os uruguaios hão de concordar em que sua nação tudo deve ao seu porto, onde, aliás, se concentra quase a metade da população do país. Também é pacífico que a diplomacia britânica, interessada na existência de um Estado-tampão entre Argentina e Brasil, foi a madrinha da independência uruguaia. Porém, o fato de o Uruguai ter atravessado 176 anos de vida independente sem submeter-se à gula e às ambições de seus vizinhos revela uma nação de personalidade, de identidade própria e de aspirações autônomas. Mesmo que, ao nascer, tenha sido acalentada pela poderosa Inglaterra – um criador que, ao longo do temo, perdeu o controle de suas criaturas...
Entretanto, o que mais cabe admirar, na história do Uruguai, é a sua devoção à educação popular, mormente a partir da grande reforma escolar de 1876, empreendida por José Pedro Varela. Adotando os princípios da gratuidade e da laicidade da escola pública, o jovem José Pedro Varela, que faleceu aos 34 anos de idade, iniciou em seu país uma verdadeira revolução, responsável por maiúscula transformação na vida cultural. Em sua exposição de motivos, Varela registrava que, nos últimos 45 anos, houvera 19 revoluções no país, e que, desde a independência, nem 10 livros tinham sido editados. Revoluções e maus governos, segundo ele, seriam corolários da ignorância popular. Apesar da reação do clero, do bispo de Montevidéu, dos políticos que perdiam a faculdade de nomear e desnomear professores, a reforma foi implantada, com pulso firme pelo presidente Latorre, um autoritário de visão reformista e modernizante. E o fato é que, por longos anos, foi modelar a instrução pública no Uruguai, causando inveja aos brasileiros da fronteira, cujas aulas, por vezes, não bastavam para atender à população em idade escolar, obrigando-nos à suma vergonha de matricular crianças brasileiras na escola de “allá”.
Em verdade, nunca tivemos no Rio Grande do Sul um programa eficiente de educação, como o que se implantou na República Oriental. Nem conseguimos atingir os índices de escolaridade e alfabetização alcançados na pátria de Artigas. Só esse fato justifica homenagem muito calorosa ao Uruguai em sua data nacional.


*Historiador


Fonte: Zero Hora, página 17 de 18 de julho de 2004.