O Globo: O senhor estará na base do governo Bolsonaro a partir do ano que vem?
Rodrigo Maia: Votei no Bolsonaro pela agenda econômica dele. Tenho muita convergência com os caminhos que estão sendo propostos pelo Paulo Guedes. Se essa for a agenda do governo no Parlamento, terá sempre o meu apoio.
OG: O que dá para votar este ano?
RM: Depende de como vai ser a articulação do novo governo no Parlamento. A cabeça nesse corpo precisa ser do novo, não do que está saindo.
OG: A flexibilização do Estatuto do Desarmamento é uma agenda do próximo governo...
RM: Há consenso para ampliar as restrições (ao porte de armas) e tirar da Polícia Federal o poder discricionário de liberar ou não a licença, depois de atingidos os pré-requisitos. O que tem de polêmico nesse debate é o porte rural. Hoje, no campo, o fazendeiro pode ter a posse de arma na sua propriedade. Mas ele não pode andar em nenhum ambiente no entorno porque não tem o porte. Isso restringe muito a proteção pessoal do produtor rural em relação até à entrada de animais. Só tem que ter cuidado para não virar uma milícia armada. Mas não é uma agenda para a semana que vem, não tem data marcada.
OG: O deputado Onyx Lorenzoni (DEM-RS) disse que a proposta de reforma da Previdência do futuro governo é distinta da do governo Temer. Há clima para votar o tema ainda este ano?
RM: Eu não conheço a proposta do Onyx. Temos duas questões a serem resolvidas: o estoque, que são as pessoas que já estão no sistema, e os novos. Um governo eleito como esse tem sempre força para aprovar suas matérias.
OG: A partir de janeiro ou agora?
RM: Eu não sei como o governo vai atuar. A partir do ano que vem, com certeza terá força para aprovar as reformas que propôs na eleição.
OG: Onyx irá para a Casa Civil, mas é da cota pessoal do Bolsonaro. O DEM vai participar do governo?
RM: Quem tem que avaliar isso é o presidente eleito com o presidente do partido (ACM Neto). Repito: a minha opinião é que a agenda que o Bolsonaro propôs através do Paulo Guedes é 100% convergente com aquilo que a gente pensa. Isso temos que apoiar de qualquer jeito.
OG: Afinal, o senhor vai disputar a Presidência da Câmara de novo?
RM: Não decidi ainda. Ninguém é candidato a presidente da Câmara apenas pela sua vontade. É preciso construir as condições. Agora, se perguntar se gosto de ser presidente da Câmara, se é uma posição que te dá prestígio e poder? Sim.
OG: Bolsonaro já disse que não fará indicações políticas para o seu ministério. Acha que ele conseguirá governabilidade dessa forma?
RM: Existe um mito sobre a necessidade de se dar cargos. A preocupação do deputado, legítima, é muito maior com para suas bases quer que, naquele município onde ele foi o mais votado, o governo coloque dinheiro em saúde e educação.
OG: Na eleição que rejeitou a velha política não passou um recado de que práticas antigas terão que ser revistas?
RM: É claro que tem um recado, uma parte da política já se reinventou. O Jair Bolsonaro, por exemplo, se reinventou. Tem sete mandatos e se elegeu como a mudança na política. Parabéns para ele, enxergou na frente dos outros.
OG: O senhor apoiou Geraldo Alckmin (PSDB), que teve um péssimo desempenho nas urnas. No que que ele errou?
RM: O resultado da eleição mostrou que havia um esgotamento do ciclo de 30 anos da redemocratização. A punição maior, indicavam as pesquisas, era ao PT e ao PSDB. O PT sobrevivia principalmente no Nordeste pela liderança do Lula. O resultado da eleição provou que os partidos que estavam no entorno do PSDB também estavam contaminados pela velha política. O problema do Geraldo (Alckmin) foi muito mais de fim de ciclo do que dele.
OG: O Ciro (Gomes) era um nome melhor para o Centrão apoiar?
RM: Para ganhara eleição, está na cara que era. Mas o partido majoritariamente não queria o Ciro. Eu entendia que ele isolava o PT e a gente passava ater condição deter uma candidatura mais ao centro. Dois seriam fortíssimos e que desistiram eram Luciano Huck e Joaquim Barbosa. Como eles não se colocaram, o Jair conseguiu representar esse sentimento de mudança, que ele já vinha trazendo desde a eleição de 2014.
OG: O que o DEM vai fazer agora?
RM: A relação da política com a sociedade mudou. Todo mundo achava que se você não desse um abraço no eleitor, ele não votava em você. Que a estrutura de TV te fazia conhecido. Não estou dizendo que a TV perdeu a força. Acho, por exemplo, que o episódio de 6 de setembro (facada) deu ao Bolsonaro um nível de exposição na mídia que compensou o pouco tempo de TV. Agora, o WhatsApp ganhou uma importância que não vi ninguém, fora o grupo do Bolsonaro, atento.
OG: Reconhece então que foi pego de surpresa nessas eleições?
RM: Eu sei o que aconteceu, agora, os instrumentos, como ele (Bolsonaro) fez, ele não construiu da noite para o dia. Todos terão que construir. Eles descobriram quais aplicativos e de que forma seriam melhor usados. O aperto de mão é importante, mas hoje o eleitor se sente próximo a você através do celular, o que a gente não imaginava que tivesse tanta confiança.
OG: Na eleição do Rio, Eduardo Paes errou?
RM: Ele fez tudo certo. Tinha era uma onda pró-Bolsonaro que, pelo movimento que o Flávio (Bolsonaro) fez, ficou vinculada ao juiz. E teve o indeferimento da candidatura do Garotinho, que foi decisivo para o Wilson (Witzel). O juiz cresceu mais no voto evangélico. A queda do Garotinho abriu um espaço.
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