Em dezembro, o dólar já sobe 3,06%, o que leva a valorização no ano a 27,44%
Após dois pregões seguidos de baixa, o dólar à vista voltou a subir com força nesta segunda-feira, 23, e encerrou na casa de R$ 6,18, no segundo maior valor nominal de fechamento da história. O Banco Central, que na semana passada interveio pesadamente no mercado cambial, desta vez não atuou, limitando-se à rolagem programada de swaps cambiais tradicionais.
Em dia de fortalecimento global da moeda americana no exterior e de fluxo de saída de recursos típica de fim de ano, o real apresentou o pior desempenho entre divisas emergentes. Operadores atribuem a fraqueza da moeda brasileira ao desconforto com o quadro fiscal e à nova rodada de piora das expectativas de inflação no Boletim Focus.
A avaliação predominante é a de que a desidratação do pacote de contenção de gastos aprovado pelo Congresso coloca em risco o alcance das metas fiscais pelos próximos dois anos, o que faz com que a taxa de câmbio carregue prêmios de risco ainda elevados.
Embora o presidente Luiz Inácio Lula da Silva tenha adotado um tom mais moderado no fim da semana passada, reforçando a autonomia do Banco Central e a busca pela responsabilidade fiscal, há dúvidas se o ministério da Fazenda será capaz emplacar novas medidas de austeridade. Há receio também de dificuldades de articulação no Congresso após o ministro Flávio Dino, do Supremo Tribunal Federal, voltar a suspender distribuição de emendas de comissão previstas até o fim de ano.
Com máxima a R$ 6,2010 à tarde, o dólar à vista terminou a sessão em alta de 1,86%, cotado a R$ 6,1851 - valor inferior apenas ao do fechamento da última quarta-feira, 18 (R$ 6,2657). Naquela ocasião, além da crise de confiança local, houve uma disparada da moeda americana no exterior, após o Federal Reserve sinalizar que há menos espaço para reduzir os juros em 2025. Em dezembro, o dólar já sobe 3,06%, o que leva a valorização no ano a 27,44%.
O gerente de câmbio da Treviso Corretora, Reginaldo Galhardo, observa que ainda há fluxo de saída de fim de ano de empresas multinacionais e fundos, embora menor que o verificado na semana passada, em um ambiente marcado por liquidez reduzida às vésperas do feriado de Natal. Por ora, Galhardo trabalha com dólar na faixa de R$ 6,10 e R$ 6,30.
"O investidor estrangeiro está com o pé atrás e não se desfaz de suas posições cambiais defensivas. Enquanto perdurarem as dúvidas com o risco fiscal, não há como visualizar um cenário mais favorável ao Brasil no curto prazo”, diz Galhardo. “O BC entrou quando percebeu que havia distorções no mercado. Mas ele não vai entrar agora com uma tendência de dólar forte lá fora”.
Em dezembro, o BC injetou US$ 27,760 bilhões no mercado. Apenas as vendas em leilões à vista, iniciadas em 12 de dezembro, superaram US$ 16,76 bilhões. Reportagem de Cícero Cotrim e Célia Froufe, do Broadcast, mostra que a saída de dólares do Brasil entre os dias 2 e 19 de dezembro, de US$ 14,699 bilhões, foi a maior para o período na série histórica do BC, iniciada em 2008. Considerando exatamente os primeiros 19 dias do mês, a maior saída até agora, de US$ 12,651 bilhões, havia sido registrada em dezembro de 2019.
Entre as explicações para a magnitude do fluxo negativo figuram três hipóteses: dividendos maiores em razão do crescimento forte da economia neste ano, receio de aumento da tributação dos mais ricos (que seria utilizada para compensar isenção de IR para quem recebe até R$ 5 mil) e aumento de envio ao exterior por pessoas físicas.
Estadão Conteúdo e Correio do Povo