Trabalhadores reivindicam aumento salarial de 6%, referente ao dissídio de 2023
Trabalhadores rodoviários do transporte público metropolitano retomam a partir desta segunda-feira a greve da categoria em protesto a falta de avanços nas negociações com a patronal pela reivindicação de reposição salarial de 6%, referente ao dissídio de 2023. De acordo com Sindicato dos Trabalhadores em Empresas de Transportes Rodoviários Intermunicipais da Região Metropolitana (Sindimetropolitano), o valor, com reajuste, deveria ter sido pago desde 1º de junho.
Além disso, os trabalhadores não concordam com o reajuste ser vinculado ao aumento da tarifa, como proposto pela patronal. Por determinação judicial, o movimento grevista deve manter 50% da frota na rua durante os horários de pico, compreendido das 5h30min às 9h e das 16h30min às 19h, e 30% dos ônibus circulando nos demais horários.
A greve, que reúne cerca de 3 mil trabalhadores rodoviários, teve início na quinta-feira passada e pegou muitos usuários de surpresa, deixando passageiros aguardando o transporte público em muitos pontos de ônibus sem saber o porquê de tanta demora. A paralisação dos rodoviários atinge os usuários das cidades de Alvorada, Cachoeirinha, Canoas, Glorinha, Gravataí, Nova Santa Rita e Viamão. De acordo com dados fornecidos pela Associação dos Transportadores Intermunicipais Metropolitanos de Passageiros (ATM), por dia, são transportados quase 200 mil passageiros no transporte público em toda a Região Metropolitana.
De acordo com avaliação do secretário do Sindimetropolitano, Alessandro Araújo, o segundo dia de paralisação da categoria foi mais organizado, com mais mobilização e conscientização dos trabalhadores na busca por seus direitos. “A sexta-feira foi marcada pela operação tartaruga, desde a saída dos veículos das garagens das empresas. Percebemos mais usuários nas paradas e muito transtorno. Para nós, a sexta-feira foi muito positiva, foi um sucesso.”
Para esta segunda-feira, a ideia é que seja igual ou melhor à mobilização de sexta, disse Alessandro. “A tendência é que a circulação da frota se mantenha devagar neste início de semana, que o motorista pise no freio, como forma de protestar mesmo. É importante lembrar que o motorista não para no ponto de ônibus quando o veículo já está superlotado. Caso contrário, ele embarca todos os passageiros que aguardam pelo transporte público. A intenção não é prejudicar nenhum trabalhador. Não vamos deixar ninguém sem transporte. Também somos trabalhadores e sabemos que tem muita gente que depende do ônibus e que não tem outro meio de locomoção”, disse o secretário do Sindicato.
Segundo ele, apesar de legítimo, também houve registros de pessoas contrárias ao movimento por conta dos atrasos e da lentidão nas viagens. “Tivemos momentos bastante tensos entre quinta e sexta-feira. Casos em que motoristas foram xingados por passageiros exaltados e nervosos. Não houve agressão física, mas caso isso venha a acontecer daqui para frente, vamos parar 100%, porque a partir daí também vamos reivindicar pela segurança dos trabalhadores. Estamos realizando nosso protesto dentro do nosso espaço de trabalho, sem prejudicar o direito de ir e vir do outro. Todos têm transporte público ao seu dispor, com um pouco de atraso, mas têm. Estamos reivindicando por direitos que são nossos”, garante.
Nova audiência
Alessandro diz que uma nova audiência no Tribunal Regional do Trabalho da 4ª Região (TRT4), está marcada para a próxima quinta-feira, dia 6 de julho. Ele garante que se não houver avanço nas negociações, a greve segue sem data para encerrar. “Queremos a reposição salarial de 6%. A patronal chegou a oferecer essa reposição de forma parcelada, 3% mais 3%, proposta que foi aceita pela categoria. O que não concordamos é que o reajuste esteja vinculado ao aumento da tarifa. Não aceitamos esta prática, pois além de custear o bolso do usuário ainda teremos que ficar à mercê de decisões do Estado. Isso não é bom. Queremos a reposição sem vincular com o aumento de tarifa".
Preparação
Ao contrário de quinta-feira, quando muito dos usuários com destino às cidades da região Metropolitana foram pegos de surpresa, nesta segunda-feira muitos trabalhadores e estudantes que dependem dos ônibus já se preveniram acordando mais cedo, pegando carona, chamando carros de aplicativo ou mesmo deslocando de trem. Entre estes usuários está Renata Gonçalves, administradora, que mora em Canoas e atua em uma empresa de geradores com sede em Porto Alegre. “Somos quatro colegas aqui da região. Vamos todos os dias de ônibus em direção a Porto Alegre. Diante da paralisação e dos transtornos que enfrentamos na semana passada, combinamos de dividir a gasolina e irmos de carona todos nós em um só carro. Sai econômico e mais organizado, já que trabalhamos todos na mesma empresa. Além disso, vamos fazendo fofoca dos colegas durante o trajeto, é até bem mais divertido".
Jonas Laércio Albuquerque dos Santos, morador de Nova Santa Rita, que também trabalha na capital, já combinou com um amigo que é motorista de aplicativo para que ele faça uma corrida cedo nesta segunda-feira. Jonas não quer chegar duas horas atrasado na empresa que atua como diretor de marketing, como aconteceu na semana passada. “Minha equipe depende de mim. Se uma peça da engrenagem falha, a estrutura toda desanda. Não posso falhar nessa semana. Vou de aplicativo.”
Da mesma forma já se planeja Luana Bastos Neves da Fontoura, que reside no bairro Mathias Velho, em Canoas, e conseguiu na semana passada um emprego em Porto Alegre. “Apesar do ônibus me largar na esquina do meu local de trabalho, com a greve eu me atrasei muito na outra semana e não vou arriscar. Nesta segunda-feira eu vou optar pelo trem, porque tenho certeza que ele sai no horário certo. Vou caminhar um pouquinho, mas é melhor do que perder o emprego que eu tanto batalhei.”
O Sindicato das Empresas de Transportes Rodoviários no Estado do Rio Grande do Sul (Setergs) informou, em nota que, “em audiência realizada na última quinta-feira (29) à tarde, no Tribunal Regional do Trabalho da 4ª Região (TRT4), o Estado, Poder Concedente, informou que estava protocolando os esclarecimentos iniciais na ação popular que busca impedir o pagamento dos valores referentes ao Programa Emergencial de Compensações do Serviço Público Delegado de Transporte Metropolitano Coletivo de Passageiros e dos Aglomerados Urbanos do Estado do Rio Grande do Sul, criado pela Lei nº 15.908, de 21 de dezembro 2022, que visa compensar os efeitos da defasagem tarifária dos serviços já prestados pelos operadores, que hoje atinge 34%".
Além disso, "O Estado se comprometeu a dar uma posição sobre o tema até esta terça-feira. Tão logo isso aconteça, o Setergs terá condições de evoluir na negociação com os trabalhadores, por meio de seu sindicato, o Sindimetropolitano, com o intuito de encerrar a greve". Ou seja, se nesta terça-feira o governo apresentar algum posicionamento sobre a compensação, aí o Setergs apresenta nova proposta. Caso contrário, o Sindicato das Empresas de Transportes Rodoviários segue aguardando nova mediação programada para quinta-feira.
A Secretaria Estadual de Desenvolvimento Urbano e Metropolitano (Sedur) informou que aguarda posicionamento da Procuradoria-Geral do Estado (PGE) sobre a ação popular, que deve sair nesta segunda-feira. Sobre o movimento de embarque e desembarque de passageiros nas estações de trem, entre quinta e sexta-feira, a assessoria da Trensurb informou que se manteve normal nos dois primeiros dias de greve dos trabalhadores rodoviários. Na quinta-feira, 111.075 usuários embarcaram nas estações durante todo o dia. Na sexta-feira este número se manteve similar, somando 111.622 passageiros em todas as estações de trem. Para esta segunda-feira, mais uma vez, a Trensurb aguarda um movimento não fora do comum.
Correio do Povo