Mercado mostrou otimismo com falta de espaço para contestação da eleição de Lula e perspectiva de política econômica moderada
O dólar despencou ao longo da tarde desta segunda-feira e encerrou o dia na casa de R$ 5,16, com relatos de desmonte de posições cambiais defensivas por investidores locais e entrada de fluxo estrangeiro. Segundo analistas, o mercado incorpora à taxa de câmbio a redução do risco político-institucional, em razão da falta de espaço para contestação do resultado da eleição pelo presidente Jair Bolsonaro, e a perspectiva de que o presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva, mostre que vai adotar uma política econômica moderada com a montagem da equipe de transição.
Esse movimento de apreciação do real não veio, contudo, sem sobressaltos. Na abertura dos negócios, como previsto, o dólar esboçou uma alta mais forte e chegou a tocar o patamar de R$ 5,40. A valorização da moeda no exterior em relação a pares fortes e divisas emergentes, na esteira da leitura ruim de inflação na Europa e indicadores de atividade abaixo do esperado na China, contribuía para pressionar a taxa de câmbio.
O dólar perdeu força no mercado doméstico ainda pela manhã, à medida que surgiam sinais vindos do QG de Lula, em especial a possível indicação do vice-presidente eleito, Geraldo Alckmin (PSB), para comandar a equipe de transição de governo. Operadores notavam também influência de fatores técnicos com a disputa pela formação da última taxa Ptax de outubro e rolagem de posições no mercado futuro.
Já abaixo da linha de R$ 5,20 no fim da manhã, o dólar renovou mínimas ao longo da tarde assim que surgiram relatos de que o presidente Jair Bolsonaro se manifestaria para reconhecer a derrota nas urnas. Com oscilação de cerca de 25 centavos entre a máxima (R$ 5,4085) e a mínima (R$ 5,1544), o dólar à vista encerrou a sessão em baixa de 2,54%, cotado a R$ 5,1659 - menor valor de fechamento desde 21 de outubro. A moeda fecha outubro com desvalorização de 4,24%.
Para o economista-chefe da JF Trust, Eduardo Velho, além das dúvidas sobre o rumo da política econômica em um governo Lula, os preços dos ativos locais refletiam o risco institucional, dada a possibilidade de que Bolsonaro contestasse o resultado eleitoral. A movimentação política interna e o reconhecimento da vitória de líderes internacionais diminuíram o espaço para contestação. "Apesar de ainda termos de esperar pelo o que o Bolsonaro vai dizer, existe uma diminuição desse risco institucional. A reação natural do mercado é promover essa correção que estamos vendo no câmbio", afirma Velho, ressaltando que o dólar operou descolado do comportamento global na semana passada. "Agora, está mais alinhado a níveis convergentes com a sinalização do Federal Reserve de que pode desacelerar o ritmo de alta de juros a partir de dezembro".
Segundo o economista, embora deva haver mudanças na política econômica, dada a fé de economistas alinhados do PT no papel da expansão dos gastos públicos para o crescimento econômico, não se espera uma guinada radical rumo à heterodoxia. "A sensação é de que não vai ter nenhuma maluquice. Existe memória do primeiro governo Lula, com bons nomes de equipe econômica, e possibilidade de nova âncora fiscal para substituir o teto de gastos", afirma.
Agência Estado e Correio do Povo