O dólar voltou a perder força no mercado doméstico de câmbio na sessão desta quinta-feira (31), último pregão de março. Nem mesmo a alta da moeda americana lá fora, em dia marcado por baixo apetite ao risco e perdas das bolsas em Nova York, tirou o brilho do real.
Operadores voltaram a relatar fluxo de recursos para ativos domésticos e destacar a busca dos estrangeiros por ganhos com o chamado “carry trade” (operação que explora diferencial de juros entre países). A entrada de capital externo teria levado à desmontagem de posições defensivas no mercado futuro, em meio à disputa pela formação da última taxa Ptax de março, referencial para liquidação de contratos futuros e confecção de balanços corporativos.
A queda do petróleo no mercado internacional para menos de US$ 110, com liberação de parte de reservas estratégicas dos EUA, e dados fracos da atividade industrial na China não abalaram a expectativa de que os preços das commodities sigam em níveis elevados, dado o prolongamento da guerra na Ucrânia.
Há a perspectiva de que os chineses adotem novas medidas de estímulo monetário para evitar uma desaceleração econômica provocada pelos lockdowns para combater a covid. O minério de ferro negociado em Qingdao, na China, subiu 3,2% nesta quinta.
Em queda desde a abertura dos negócios, o dólar registrou mínima no início da tarde, a R$ 4,7228. Passada a formação da Ptax (que encerrou março a R$ 4,7378, com perda 7,81% no mês e de 15,10% ano) e diante da aceleração dos ganhos da moeda americana no exterior, o dólar desacelerou o ritmo de baixa por aqui e voltou a ultrapassar a linha de R$ 4,75.
No fim da sessão, era cotado a R$ 4,7612, em queda de 0,54%, o que levou as perdas em março a 7,65% – a maior desvalorização mensal desde outubro de 2018 (-7,97%). A divisa fechou o primeiro trimestre de 2022 em baixa de 14,61%.
Embora divisas emergentes pares do real, como o rand sul-africano e os pesos chileno, colombiano e mexicano, também tenham se valorizado em relação ao dólar no primeiro trimestre, a moeda brasileira teve de longe a melhor performance, apresentando ganhos de dois dígitos.
“O real tem o melhor desempenho do trimestre. Isso se deve ao aumento dos preços das commodities, mas também a uma recuperação há muito atrasada de uma grande subvalorizacão”, afirma, em postagem no Twitter, o economista-chefe do Instituto Finanças internacionais (IIF), Robin Brooks.
A dobradinha formada por commodities nas alturas e taxa Selic em patamares elevados, com pelo menos mais uma alta de 1 ponto porcentual em maio, para 12,75% ao ano, dá sustentação ao real, afirmam analistas. Mesmo que o Federal Reserve (Fed, o banco Central americano) acelere o ritmo de alta da taxa básica nos EUA em maio, o diferencial de juros continuará ainda elevado no curto prazo.
Também nesta quinta, foi divulgado que o índice de preços de gastos ao consumo (PCE) nos EUA subiu 0,6% em fevereiro, com alta de 0,4% no núcleo, ambos em linha com o esperado. Na comparação anual, o PCE subiu 6,4% e seu núcleo, 5,4%. Segundo monitoramento do CME Group, as apostas em alta de 0,50 ponto porcentual da taxa básica americana em maio estão próximas de 70%.
Para Cristiane Quartaroli, do Banco Ourinvest, caso o Fed adote uma postura de aumentos mais agressivos da taxa de juros, o dólar pode subir pontualmente no mercado doméstico. Outro ponto de eventual pressão sobre a taxa de câmbio seria o processo eleitoral, já que há sempre um grau de incerteza em torno de um novo governo.
“Devemos ter volatilidade. Mas, passada a eleição, a nossa moeda pode continuar com um comportamento mais benéfico até o fim do ano”, afirma Quartaroli, ressaltando que há um fluxo forte de curto prazo para o Brasil, em meio à explosão dos preços das commodities provocada pela guerra na Ucrânia e ao diferencial de juros elevados.
O Sul