Autarquia nega que falha esteja associada à mobilização dos funcionários
BRASÍLIA
O site do Banco Central apresentou instabilidade e ficou fora do ar por alguns minutos na tarde desta quarta-feira (30), em meio à paralisação dos servidores da autarquia por reajuste salarial e reestruturação de carreira.
Ao tentar consultar a página, uma mensagem em inglês sinalizava a impossibilidade de acesso. "Nossos serviços não estão disponíveis no momento. Estamos trabalhando para restaurar todos os serviços o mais rápido possível. Por favor, volte em breve", mostrou o site.
De acordo com o presidente do Sinal (Sindicato Nacional dos Funcionários do Banco Central), Fabio Faiad, a instabilidade está relacionada à mobilização dos servidores do BC. "A manutenção é do departamento de informática, que está fortíssimo na adesão ao movimento", disse.
A autoridade monetária, por sua vez, negou que a falha estivesse associada ao movimento. "O site do BC apresentou problema técnico e já foi prontamente restabelecido", disse.
A falha pode ser vista como um alerta ao BC a dois dias do início da greve dos funcionários por tempo indeterminado, marcada para começar na próxima sexta-feira (1º). Desde o dia 17 de março, os funcionários vêm realizando paralisações diárias das 14h às 18h e atuando em operação-padrão.
A mobilização dos servidores do BC tem provocado uma série de atrasos na rotina da autoridade monetária, especialmente na divulgação de indicadores.
Mais cedo, a autarquia informou que os indicadores econômicos selecionados, como o fluxo cambial, não seriam publicados nesta quarta, como previsto na agenda. "Informaremos quando houver uma definição de data da publicação", comunicou em nota.
A divulgação das notas econômico-financeiras relativas ao mês de fevereiro também foi adiada, ainda sem previsão de nova data.
Além disso, nas últimas semanas, houve atraso na publicação do resultado do questionário pré-Copom e da apuração da ptax (taxa de câmbio) diária, além de interrupções no monitoramento preventivo do Pix e do SPB (Sistema de Pagamentos Brasileiro).
Durante a greve, o sindicato garante que a lei de serviços essenciais será respeitada. Mas ressalta que "o Pix e diversas outras atividades do BC não estão nessa lei. Portanto, muitos atrasos ou interrupções poderão ocorrer".
A distribuição de moedas e cédulas, a divulgação da pesquisa Focus e de diversas taxas, bem como o funcionamento do SPB, a mesa de operações do Demab e outras atividades podem sofrer impactos.
Já o BC diz ter planos de contingência para "manter o funcionamento dos sistemas críticos para a população, os mercados e as operações das instituições reguladas, tais como STR [Sistema de Transferência de Reservas], Pix, Selic, entre outros".
Na próxima quinta (31), os membros das entidades representativas dos servidores têm um encontro previsto com a diretoria de Administração do BC para discutir como será o andamento das atividades da autoridade monetária durante a greve.
Na terça (29), eles se reuniram com o presidente da autarquia, Roberto Campos Neto, sem avanço nas pautas reivindicadas, principalmente no que diz respeito ao reajuste salarial de 26,3%.
Segundo os representantes dos servidores, Campos Neto disse que participará de uma reunião com membros do Executivo na próxima semana para "combinar os movimentos de PF e BC".
Na avaliação do presidente do Sinal, o último encontro com o presidente do BC foi um fiasco, pois não houve uma proposta oficial até o momento. Faiad também criticou a decisão de Campos Neto de se ausentar na véspera da greve dos servidores.
De acordo com a agenda oficial do BC, Campos Neto estará de férias a partir desta quinta (31), quando será substituído interinamente pelo diretor Otavio Damaso. "Roberto Campos [Neto] deveria estar aqui, adiar essas férias e lutar para ajudar a gente na reivindicação", disse o líder do sindicato.
O único avanço nas negociações até agora se deu com relação às demandas não salariais. A diretora de Administração, Carolina Barros, relatou no encontro com os sindicalistas que o Ministério da Economia avalia a possibilidade de abrir novo concurso público para a autoridade monetária, ainda sem previsão de data, com 245 vagas para analistas, técnicos e procuradores.
"Não há previsão de mudança na mobilização em razão da aprovação ou não de concurso. A demanda de concurso é mais antiga que a pauta da mobilização atual", disse o vice-presidente da ANBCB (Associação Nacional dos Analistas do Banco Central do Brasil), Alexandre Caletti.
O movimento dos servidores do BC faz parte da mobilização nacional do funcionalismo público por reajuste salarial e reestruturação de carreira. A pressão começou após o presidente Jair Bolsonaro (PL) ter acenado com aumento aos policiais federais, categoria que compõe sua base de apoio. ?
Com a iminente greve dos funcionários do BC, outras áreas têm aumentado a pressão sobre o governo.
Os servidores do Tesouro Nacional decidiram, em assembleia realizada na terça, intensificar a operação-padrão e agendaram duas novas paralisações, uma na próxima sexta (1º) e outra na terça da semana que vem (5).
Devido à mobilização, a divulgação da estimativa de carga tributária bruta do governo no ano de 2021, que estava prevista para esta quarta, foi adiada para a próxima segunda (4). A divulgação do Relatório Mensal da Dívida Pública também sofreu atraso e só veio a público nesta quarta.
Na última sexta (25), os servidores do Tesouro Nacional interromperam as atividades, afetando algumas atividades da área. De acordo com a Unacon Sindical (Sindicato Nacional dos Auditores e Técnicos Federais de Finanças e Controle), houve atraso de duas horas no pagamento dos títulos vencidos do Tesouro Direto, o que motivou a abertura de diversos chamados na Subsecretaria da Dívida Pública.
Fonte: Folha Online - 30/03/2022 e SOS Consumidor