por Suzana Petropouleas
Sem renda, trabalhadores devem aguardar nova data para o atendimento
SÃO PAULO
O garçom Cristiano Silveira, 35, deixou sua casa em Cidade Tiradentes (zona leste da capital paulista) na manhã desta segunda-feira (31) rumo a uma agência do INSS com o pé lesionado e um objetivo: voltar a trabalhar. Afastado ao se machucar no trabalho e sem renda há um mês e meio, descobriu ao chegar na unidade que sua perícia foi cancelada e remarcada para 17 de fevereiro, em razão da paralisação dos peritos médicos do órgão.
Os 17 dias extras sem receber é um longo período para quem teve a renda zerada após as duas primeiras semanas de afastamento, diz Cristiano. Pela lei, esse é o período em que o empregador deve remunerar a licença do empregado lesionado.
O segurado que continua sem condições de trabalhar após esse período deve ser submetido a perícia do INSS para o médico avaliar se ele tem direito ao auxílio-doença do governo ou se ele deve retornar ao trabalho. Nenhum dos dois é uma opção para Cristiano até que a perícia de fato aconteça.
"Por que não avisaram via telefone para eu não gastar o dinheiro da condução, que peguei emprestado? Não pensam em nós. Ainda sinto dor, mas preciso muito voltar a trabalhar", diz o garçom, que é pai de duas meninas de quatro e 12 anos e recebe cerca de R$ 2.000 com o trabalho registrado em carteira, na região do Brás, onde se lesionou carregando mesas e cadeiras. "Estou com o cartão estourado. O jeito vai ser atrasar de novo o aluguel esse mês."
A espera pelo benefício também é a realidade da costureira Darlene Monteiro, 45, que há dois anos busca a aposentadoria por invalidez graças a uma lesão grave no joelho, que levou-a à mesa de cirurgia e a deixou com dificuldades de locomoção.
Após trabalhar com carteira assinada por 20 anos, ela é hoje MEI (Microempreendedora Individual) e viu sua perícia, marcada para esta segunda (31), ser remarcada para dia 14 de fevereiro. "Não mandaram nem um aviso. Fui na chuva, mancando e arriscando cair na rua. Desanima porque se torna uma humilhação para nós", diz a costureira.
Procurado para comentar os casos dos segurados ouvidos pela reportagem, o INSS não respondeu até a publicação deste texto.
Os peritos médicos paralisaram nesta segunda-feira em todo o país, afetando cerca de 25 mil perícias marcadas para esta segunda, segundo estimativas da ANMP (Associação Nacional dos Médicos Peritos).
Eles reinvidicam recomposição salarial de cerca de 20%, fim da teleperícia, distribuição igualitária de agendamentos entre os peritos dos turnos da manhã e tarde e concurso para preencher cerca de 3.000 vagas em que faltam profissionais. A entidade afirma que a paralisação ocorre após tentativas frustradas de negociação com o Ministério do Trabalho e Previdência.
Na última semana, o governo federal anunciou o corte de R$ 998 milhões nas despesas do INSS previstas no Orçamento. O valor representa 41% da verba de R$ 1,4 bilhão inicialmente previsto para o órgão. A medida ameaça o atendimento dos segurados, segundo especialistas, e é vista como inferior ao mínimo necessário para assegurar as atividades do órgão. A fila de espera por benefícios acumulava 1,8 milhão de pedidos em novembro.
Na noite desta segunda, a ANMP informou que as perícias serão retomadas nesta terça (1º), mas não descartou novas paralisações na semana que vem.
Fonte: Folha Online - 31/01/2022 e SOS Consumidor