Prefeito eleito falou sobre desafios na Capital e afirmou que "um prefeito que não cuida do Centro não cuida do resto da cidade"
Em sua primeira entrevista como prefeito eleito de Porto Alegre, Sebastião Melo falou à Rádio Guaíba nesta segunda-feira e afirmou que são muitos os desafios à frente do Paço Municipal. “Quero ser prefeito em quem votou em nós, em quem não votou. Paz na cidade, chega de guerra”, disse ao programa Agora. Entretanto, o emedebista defendeu uma atenção especial ao Centro da Capital. “Tem beleza maravilhosa, mas precisa ter vida, mais cafés, mais padarias. Tem que ter vida urbana. Precisamos dar um banho de loja, mas isso precisa ser feito com parceria com os comerciantes e proprietários. Um prefeito que não cuida do Centro não cuida do resto da cidade”, avaliou.
Um dos pontos a ser resolvidos é a questão das obras do Mercado Público. Melo pretende se reunir com os permissionários para analisa juridicamente se é possível fazer um empréstimo para terminar a reforma. Queremos um mercado novo rapidamente”, comentou. Também sobre infraestrutura, citou o Esqueletão, prédio de 19 andares instalado na rua Marechal Floriano e inacabado. “Está ali desde em 1957. Se não houver uma resolução, vamos demolir. Não é possível que um prédio daqueles esteja lá instalado e prefeito olhe e não faça nada”, disse, frisando que buscará parcerias para melhorar a cidade.
“Quando concebemos o empréstimo da Confederação Andina de Fomento para Orla 1, Orla 3 e Usina do Gasômetro, também tem uma parcela de financiamento que pode qualificar a rua da Praia. Não sei por que o atual prefeito não fez, mas creio que o dinheiro está guardado”.
O prefeito eleito considerou que é preciso estimular a moradia no Centro e levantou a possibilidade e mudanças no Imposto Predial Territorial Urbano (IPTU) da área. “Não acredito numa cidade zoneada. E aí podemos pensar em um IPTU diferenciado. O setor hoteleiro do Centro vive grande dificuldade e se levarmos deste jeito o imposto, a atividade vai fechar. Existem muitos imóveis no bairro da prefeitura e nós pretendemos vendê-los para criar um fundo de recuperação do bairro”, explicou.
Ele ainda disse que vai conversar com o governador Eduardo Leite na tentativa de buscar uma solução rápida para o imbróglio envolvendo o Cais Mauá. “Vou dizer que, se ele quiser ceder para a Prefeitura, estaremos contentes. Não dá para esperar um grande projeto, mas tem que ter uma solução caseira para entregar o cais para a população”. “Nós temos coisas fantásticas. O Viaduto Otávio Rocha é fantástico, mas aquele viaduto já custava milhões para sua recuperação lá em 2016. A noite dos Museus deu muito certo. Há iniciativas, mas há também muitos desafios”.
Busca por diálogo com a Câmara de Vereadores
Com uma Câmara de Vereadores diversa, Melo terá o desafio de articular uma maioria para aprovar seus projetos. “Vamos construir uma base sólida em cima do governo, mas vamos respeitar a oposição. Eles são tão legítimos quanto nós que brotamos das urnas. Pensar diferente faz parte da riqueza da política. Venho de uma cepa em que a divergência pode construir uma boa convergência, mas tem que fazer isso com respeito", defendeu.
“Espero que os vereadores respeitem as posições do prefeito e do vice. Tenho absoluta certeza de que o que interessa da cidade tem que nos nortear. Quero conversar com a oposição e tratá-la com respeito porque ela brotou das urnas. Esperem de nós esse equilíbrio. Eu não vejo problema algum com a Câmara. Eu vejo soluções”, concluiu.
Polêmica antes da vitória
Melo criticou a estratégia de Manuela D’Ávila, apontando que ela fez insinuações de que ele é racista. “Se você fizer uma crítica política, tenho a compreensão. Agora, quando tu entras na divisão de classes, é uma coisa horrenda. Somos uma cidade de muitas etnias. Tem racismo no mundo? Tem. Tem no Brasil? Tem. Tem em Porto Alegre? Tem. Somos de uma cidade cordata, acolhedora. Um prefeito tem que governar para todo mundo”, avaliou o emedebista, que ainda considerou que a esquerda tentou politizar o assassinato de João Alberto Silveira Freitas, 40 anos, por dois seguranças do Hipermercado Carrefour, na zona Norte de Porto Alegre.
“O que não ficou legal nesta eleição é pegar um crime horrendo e querer transformá-lo em um capitulo eleitoral. Eu recebi apoio do PSB e entre eles há aqueles que apoiaram o presidente Jair Bolsonaro. Agora, você pegar uma frase de quem te apoia e dizer "vote contra o racismo"... Não ficou legal da minha adversária colocar isso em mim. Eu tenho por ela uma pessoa decente, correta. Divirjo politicamente dela. São coisas que não quero que aconteçam, mas foi um momento muito difícil”, comentou.
O episódio citado por Melo aumentou a tensão da campanha em Porto Alegre, dias antes do pleito desse domingo. O agora prefeito eleito chegou a registrar um boletim de ocorrência contra Manuela e, a partir disso, solicitou junto à justiça eleitoral um direito de resposta no programa da integrante do PCdoB. O juiz Leandro Figueira Martins, da 161ª Zona Eleitoral do TRE indeferiu o pedido e considerou que Melo adotou “induvidosa tentativa de buscar uma forma de cerceamento, a partir de qualquer argumento que tenha o potencial mínimo de lhe causar alguma insatisfação.”
Manuela, por outro lado, anunciou na ocasião que ingressaria com ação indenizatória contra Melo na justiça comum e com uma notícia crime por denunciação caluniosa na justiça eleitoral. O advogado Lucas Lazari, que compõe a assessoria jurídica da candidata, explicou que os argumentos nas duas ações são os de que Melo "tentou produzir um fato político e divulgá-lo de diferentes formas com base em informações falsas mesmo estando ciente de que elas eram inverídicas".
O emedebista prometeu recorrer do indeferimento da justiça eleitoral, solicitando a retirada da propaganda da adversária e reiterando o desejo por um direito de resposta. Melo também chegou a cogitar um processo civil e outro criminal contra Manuela, mas hoje, em entrevista à Guaíba, declarou que pode repensar. “Eu pretendia levar à Justiça, mas, talvez, eu não leve adiante. Quero paz na cidade. Ganhamos a eleição em toda a cidade, o povão me conhece, sabe que fui um vereador voltado para eles. Quando eu fui vice-prefeito, eu estava lá”, recordou.
Correio do Povo