terça-feira, 6 de outubro de 2020

Laboratório encontra fungos, bactérias e possíveis pragas em pacotes de sementes misteriosas


Mídia de cabeçalho

Laboratório encontra fungos, bactérias e possíveis pragas em pacotes de sementes misteriosas
Segundo o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, as sementes vieram da Ásia e já chegaram a pelo menos 24 estados brasileiros e ao Distrito Federal. A orientação do ministério é que as pessoas não abram os pacotes, além de não plantarem e não descartarem no lixo comum. Quem receber, deve entrar em contato com o órgão competente para retirada. Ainda não está claro o motivo das entregas, mas uma das hipóteses é que envio aconteça por técnica de fraude chamada de 'brushing'.
Foto via @ultimosegundo























Trump proibiu oficialmente, no dia 02/10/2020, qualquer imigrante que seja membro ou afiliado ao Partido Comunista (ou de qualquer outro partido totalitário, doméstico ou estrangeiro) de ingressar nos EUA



Inflação dos mais pobres acelera a 0,89% em setembro com salto de 10,64% do arroz e feijão


the-rice-and-beans-5325625-1920.jpg
Com o resultado, indicador da FGV acumula alta de 3,13% no ano e 4,54% nos últimos 12 meses, permanecendo em nível superior ao da inflação sentida pela população de maior renda.
A inflação sentida pela população de baixa renda acelerou em setembro, segundo dados divulgados nesta terça-feira (6) pela Fundação Getulio Vargas (FGV). O Índice de Preços ao Consumidor - Classe 1 (IPC-C1) – que mede a variação de preços de produtos e serviços para famílias com renda entre um e 2,5 salários mínimos – ficou em 0,89% no mês passado, contra 0,55% em agosto.
Com o resultado, o indicador acumula alta de 3,13% no ano e 4,54% nos últimos 12 meses.
Já o IPC-Br, que mede a variação de preços para famílias com renda de um a 33 salários mínimos mensais, ficou em 0,82% em setembro, vindo de 0,53%. Com o resultado, acumula alta de 3,62% em 12 meses, permanecendo em um nível abaixo da inflação sentida pelos mais pobres.
A principal diferença entre o IPC-C1 e o IPC-Br está na ponderação da cesta de produtos e serviços para chegar ao indicador final. Para famílias mais pobres, por exemplo, alimentação costuma ter maior relevância, e educação particular, menor, dentro do total de despesas.
No acumulado no ano, a inflação para famílias mais pobres está mais que o dobro do que o registrado pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo - 15 (IPCA-15), considerado uma prévia da inflação oficial do país. 
Destaques de alta e queda no mês Destaques de setembro do Índice de Preços ao Consumidor - Classe 1 (IPC-C1) — Foto: Divulgação/FGV
Destaques de setembro do Índice de Preços ao Consumidor - Classe 1 (IPC-C1) — Foto: Divulgação/FGV
Dos 8 grupos de componentes do índice, 3 tiveram alta na passagem de agosto para setembro: Alimentação (0,76% para 2,23%), Educação, Leitura e Recreação (0,09% para 2,44%) e Vestuário (-0,42% para 0,12%).
Entre os itens com maior alta no mês, destaque para arroz e feijão (1,02% para 10,64%), passagem aérea (2,77% para 39,19%) e roupas (-0,54% para 0,12%).
Por outro lado, houve queda nos preços dos grupos Saúde e Cuidados Pessoais (0,61% para -0,10%), Despesas Diversas (0,58% para 0,26%), Habitação (0,61% para 0,54%), Comunicação (0,12% para 0,04%) e Transportes (0,68% para 0,61%). Nestas classes de despesa, os destaques foram os itens: médico, dentista e outros (0,57% para -1,49%), serviços bancários (0,81% para 0,08%), tarifa de eletricidade residencial (1% para 0,22%), mensalidade para tv por assinatura (0,44% para 0,07%) e gasolina (2,68% para 1,67%).
Fonte: G1 - 05/10/2020 e SOS Consumidor

Indenização para camareira que contraiu leptospirose em hotel de Gramado (RS)


A 7ª Turma do TRT da 4ª Região (RS) confirmou, por unanimidade, o pagamento de indenização por danos morais a uma camareira que contraiu leptospirose no Hotel Alpenhoff Ltda., onde trabalhava. A decisão de primeiro grau foi do juiz Arthur Peixoto San Martin, da 1ª vara do Trabalho de Gramado, que fixou a indenização em R$ 5 mil.
Depoimentos e documentos juntados ao processo comprovaram o afastamento do trabalho da obreira por 10 dias após ela apresentar dores abdominais, diarreia, febre e calafrios. Os sintomas surgiram depois que a trabalhadora se alimentou no estabelecimento.

Em sua defesa, o hotel alegou “não haver a comprovação de que a doença foi contraída no local, uma vez que outros empregados e hóspedes não tiveram problemas”. Manifestou, ainda, que as irregularidades foram corrigidas após a inspeção da Vigilância Sanitária.
Conforme os autos, a inspeção realizada pela Secretaria da Saúde do Município constatou a existência de várias irregularidades: restos de alimentos em recipientes impróprios; alimentos armazenados diretamente no chão; lixeiras sem tampa e sem acionamento por pedal. Também foi encontrada uma bandeja com um rato morto e fezes dos roedores, além de embutidos pendurados ao ar livre.
Considerando o laudo da Vigilância Sanitária, a interdição do estabelecimento, bem como um descumprimento - pelo hotel - do termo de interdição - o que resultou em nova multa administrativa - o magistrado avaliou presente o nexo causal entre a doença diagnosticada e a conduta da empresa.
“Entendo aplicável a inversão do ônus da prova, no tocante à existência de nexo de causalidade entre a leptospirose contraída pela reclamante e a alimentação fornecida pela empregadora”. Para o magistrado, cabia à reclamada produzir prova da existência de condições sanitárias que impedissem o contágio por leptospirose, ônus do qual não se desonerou”.
O magistrado ainda qualificou como grave a culpa do Hotel Alpenhoff, por se omitir quanto ao cumprimento das normas de saúde e segurança do trabalho, assim expondo os trabalhadores a riscos.
As partes apresentaram recurso ordinário. A trabalhadora para aumentar o valor da indenização e o hotel para afastar a condenação ou reduzir o valor a ser pago. Ambos foram desacolhidos.
O acórdão ratificou o entendimento do juízo de primeiro grau e manteve o valor da indenização. “Existente o nexo causal entre a doença de que foi portadora a autora e o trabalho em ambiente em condições sanitárias inadequadas, dispensa-se a prova da dor, pois se trata de dano in re ipsa”, avaliou o desembargador Wilson Carvalho Dias.
A advogada Carla Silva de Aguiar Pacheco atua em nome da reclamante. Não há trânsito em julgado. (Proc. nº 0020681-08.2019.5.04.0351 - com informações do TRT-4 e da redação do Espaço Vital).
Fonte: Espaço Vital - www.espacovital.com.br - 05/10/2020 e SOS Consumidor

A pressa pela busca da vacina contra o coronavirus


Após reunião com Guedes, Bittar diz que Renda Cidadã respeitará teto e terá aval do ministro

por Fábio Pupo
Senador diz que, após turbulências, pretende apresentar proposta até quarta-feira (7)
O senador Márcio Bittar (MDB-AC), relator do Orçamento de 2021 e da proposta do Pacto Federativo, afirmou nesta segunda-feira (5) após reunião com o ministro Paulo Guedes (Economia) que qualquer solução para criar o Renda Cidadã vai respeitar o teto de gastos e ter a chancela do titular da equipe econômica. 
Ele afirmou que, após turbulências nas discussões sobre o programa social, o diálogo está entrando nos eixos e que pretende apresentar uma proposta até a próxima quarta-feira (7). "Houve turbulência, é normal. São relações humanas. E agora as coisas, a meu juízo, entraram no eixo de novo", disse.
O objetivo das discussões, disse, é atender 8 milhões de pessoasdesassistidas atualmente. Hoje, o Bolsa Família atende mais de 14 milhões de beneficiários e a expansão mencionada pelo senador faria o total de recebedores chegar a 22 milhões.
"O presidente [da República] tem a legitimidade. Ele é o chefe da nação e diz que tem hoje 8 milhões de brasileiros detectados agora na pandemia e que a partir de janeiro, se não criarmos um programa, não têm como se alimentar. Então temos que resolver esse problema", disse.
"Assim como todos os ministros têm direito de querer mais recurso para mostrar mais serviço. Agora, toda demanda tem que passar por um filtro, por um carimbo da equipe do ministro Paulo Guedes. É isso que estou fazendo hoje", afirmou Bittar. 
"Talvez meu papel seja apenas de um jogador mais descansado, entrando no jogo mais agora, e ajudar a insistir com as partes", disse.
Bittar disse que pediu ajuda na semana passada ao presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), sobre a criação do programa. E que Maia concorda integralmente com a visão da equipe econômica.
O senador, no entanto, não comentou se a proposta dos precatórios foi abandonada. "Vou pedir desculpas [e não comentar]. O que posso dizer é que é dentro do teto. Todos estamos estudando para que a gente apresente a proposta. A ideia é apresentar na quarta pela manhã dizendo dentro do Orçamento de onde vamos tirar", disse.
"É uma decisão de todo mundo, liderado pela equipe econômica, pelo ministro Paulo Guedes. Quaisquer que sejam elas [soluções], será dentro do teto", disse o senador. "Todos nós temos uma responsabilidade, um compromisso, de fazer o Brasil retomar a economia e retomar a agenda vitoriosa em 2018. Uma agenda que claramente aponta para a austeridade fiscal", afirmou.
Guedes, que estava ao lado do senador durante as declarações, não fez comentários. Apenas brincou, ao final, retirando Bittar do púlpito. "Vou fazer que nem fazem comigo", e o retirou da frente dos jornalistas.
Fonte: Folha Online - 05/10/2020 e SOS Consumidor

Empresa de depilação a laser deve indenizar cliente por lesões após procedimento


Juíza titular do 4° Juizado Especial Cível condenou a Dyelcorp Serviços Estéticos a indenizar cliente por danos morais e devolver parte do valor pago por serviços de depilação a laser, em virtude de queimaduras ocasionadas pelo procedimento. A empresa foi condenada ainda a rescindir o contrato.
A autora contratou dez sessões de depilação a laser na empresa ré no valor de R$3.641,00. As oito primeiras sessões transcorreram dentro da normalidade, no entanto, após a nona sessão, a consumidora passou a sentir dor extrema, provocada por queimaduras advindas da referida sessão de depilação.
Logo, contatou a empresa, onde havia realizado o procedimento, e lhe foi prescrita uma pomada para utilização local, mas como não obteve resultado satisfatório, a cliente procurou uma dermatologista, que constatou as lesões e prescreveu novo medicamento.
Para a autora, houve falha na prestação dos serviços, já que o equipamento utilizado foi interditado na mesma semana em que as queimaduras foram provocadas em seu corpo. Assim, solicitou a rescisão do contrato com a devolução de duas das dez parcelas pagas, além de indenização por danos morais.
Em contestação, a empresa ré pugnou pela improcedência dos pedidos autorais e afirmou que não há qualquer comprovação de que tenha ocorrido problema com o equipamento utilizado na época dos fatos. Segundo a empresa, no dia da sessão reclamada pela cliente, foi utilizada potência menor do que as utilizadas nas sessões anteriores. Para a ré, não houve falha na prestação dos serviços.
Após análise dos autos e das provas juntadas, a magistrada verificou a veracidade da existência de lesões na região, na qual foi realizado o procedimento de depilação a laser, e acrescentou que a própria prescrição de pomada para queimaduras feita pela empresa à cliente, nos dias seguintes ao atendimento, reforçam que as lesões provocadas foram decorrentes do serviço realizado pela ré.
“O fato de a autora ter assinado um termo de responsabilidade não exime a empresa ré de prestar os seus serviços com excelência. No entanto, ao gerar as lesões na autora, demonstradas por fotos nos autos, a empresa ré revelou intensa crassa falha na prestação de serviços, violando expectativas de segurança legitimamente esperadas pela autora”, afirmou a juíza.
Segundo a magistrada, não houve a necessária e zelosa atenção no procedimento estético realizado, o que gerou evidente prejuízo moral à autora, que sofreu intensos sentimentos negativos de angústia e dor.
Devido aos fatos apresentados, a magistrada condenou a empresa ré a rescindir o contrato, a devolver para a autora dois décimos do valor pago pelos serviços contratados, além do pagamento da quantia de R$ 5.000,00, a título de danos morais.
Cabe recurso à sentença.
PJe: 0705839-47.2020.8.07.0016
Fonte: TJDF - Tribunal de Justiça do Distrito Federal - 05/10/2020 e SOS Consumidor

As mães demitidas durante a pandemia: 'Tentei conciliar trabalho com meu bebê, mas perdi o emprego'

por Paula Adamo Idoeta
Crise escancara o desequilíbrio nos cuidados com as crianças e a invisibilidade dessas tarefas perante o mercado de trabalho
A pandemia chegou quando a advogada Nádia Silva, de Goiás, estava em seu segundo mês de licença-maternidade. Mãe solo (embora receba pensão do pai da criança), ela pretendia juntar um mês de férias à licença e aproveitar o período para encontrar um berçário para deixar o bebê quando voltasse ao trabalho. O plano não deu certo: os berçários continuam fechados, e a empresa exigiu a volta dela sem conceder as férias.

A analista de contratos tentou equilibrar tudo —cuidados com o bebê, trabalho em tempo integral em home office e cuidados com a casa—, mas a situação ficou insustentável.
"Às vezes eu acordava às 4h da manhã para terminar meu trabalho antes de o bebê acordar. E também fazia todo o trabalho doméstico", conta à BBC News Brasil. "Dois meses depois, pedi para a empresa um novo arranjo e um aumento, para eu poder pagar uma babá. Acho que eles acharam que eu não valia tudo isso. A generosidade deles foi de me demitir, o que pelo menos me deu uma indenização."
No momento, Nádia não enxerga formas de voltar ao mercado de trabalho. "Não tenho muito apoio na família para cuidar do bebê, não tenho perspectivas de haver creche e berçário com segurança agora. É difícil, porque eu me esforcei bastante, trabalhava dia e noite, com uma sobrecarga emocional enorme. Você se sente desvalorizada como mulher e como mãe."
Em Santa Catarina, Taís (os sobrenomes de algumas entrevistadas serão omitidos para proteger sua identidade) está há um mês em seu novo emprego, que aceitou por lhe permitir trabalhar remotamente enquanto cuida dos filhos menores, de 8 e 12 anos. Mas agora a empresa planeja voltar ao trabalho presencial, colocando Taís —que também é mãe solo— em uma sinuca de bico. 
"O que eu vou fazer com as crianças? Passei por todo o treinamento no trabalho, mas neste mês não tenho como voltar (para um escritório)", diz à BBC News Brasil, temendo ser forçada a abrir mão do novo emprego em plena pandemia —e poucos meses depois de ter sido demitida de um cargo anterior em outra empresa. O motivo da demissão: os chefes viram mensagens de texto que ela havia mandado a colegas, questionando a política da empresa de não migrar para o teletrabalho no início da quarentena.
Agora, diz ela, "as minhas dívidas estão crescendo, e o valor da pensão das crianças é baixo. Dá o nervosismo de precisar trabalhar, mas como vou deixar as crianças? Não posso botar a responsabilidade em cima do meu filho mais velho. Óbvio que vou escolher ficar com eles em vez do emprego".
Marcella, moradora da grande São Paulo, não tem filhos, mas se comoveu, ainda em março, ao descobrir que uma colega de trabalho estava tendo de deixar os filhos de 5 e 7 anos sozinhos em casa porque a empresa delas, uma multinacional de prestação de serviços, não criou uma política de teletrabalho em um momento em que as escolas já haviam fechado as portas. Mas, quando Marcella discutiu o caso com uma superior, ouviu apenas: "não posso fazer nada".
"Fiquei desesperada com aquilo. Eu estava em uma situação privilegiada porque não tinha filhos, mas pensei nas mulheres mães. Comecei a ficar muito mal, sem conseguir dormir", conta.
Ao denunciar o caso ao setor de compliance da empresa e questionar seu chefe a respeito do caso, Marcella diz que foi demitida, sob a justificativa de "corte de gastos na pandemia".
"Estou procurando emprego remotamente, tentando encontrar um lugar menos pior no mundo corporativo", afirma.
A colega mãe, Marcella soube mais tarde, continuou trabalhando presencialmente e precisou contratar uma pessoa para cuidar dos filhos.
'RETROCESSO DE 30 ANOS NA PARTICIPAÇÃO FEMININA'
Os exemplos acima encontram respaldo nos números: embora a pandemia tenha provocado desemprego em massa e bagunçado arranjos profissionais de modo generalizado, as mulheres —e as mães de crianças pequenas, em especial— estão entre os grupos mais afetados, ao serem colocadas em situações-limite nas empresas ou por simplesmente não encontrarem formas de conciliar o trabalho com o cuidado com os filhos.
No segundo trimestre de 2020, o desemprego medido pela pesquisa Pnad Contínua, do IBGE, foi de 12% entre homens e 14,9% entre mulheres. A mesma pesquisa mostrou, em junho, que 7 milhões de mulheres haviam deixado o mercado de trabalho na última quinzena de março, contra 5 milhões de homens.
E análises mais detalhadas dos dados históricos mostram um retrocesso de três décadas da presença profissional feminina, segundo o pesquisador do Ipea Marcos Hecksher.
Em dados cedidos inicialmente para o G1, ele identificou que, durante a pandemia, a participação das mulheres no mercado de trabalho, que vinha aumentando gradativamente, voltou para o nível observado em 1990.
Só no subgrupo de mulheres com filhos de até dez anos, a participação delas no mercado caiu de 58,3% no segundo trimestre de 2019, para 50,6% no segundo trimestre de 2020. Na prática, só a metade delas, portanto, está no mercado profissional.
"Historicamente, o nível de desemprego é maior e a participação no mercado é menor entre as mulheres, mas vinha ocorrendo uma lenta convergência para o nível dos homens", explica Hecksher à BBC News Brasil.
"Só que a pandemia os afastou de novo. Os homens foram impactados, mas elas foram ainda mais. Demos um salto de 30 anos para trás na participação feminina. Não levaremos outros 30 anos para recuperar isso, mas tampouco será algo rápido."
Os custos disso não serão sentidos apenas por elas, mas por toda a economia brasileira, prossegue o pesquisador.
Isso porque a entrada das mulheres no mercado foi crucial para aumentar o PIB (Produto Interno Bruto) - o somatório dos bens e serviços produzidos no país.
INVISIBILIDADE DO TRABALHO NÃO REMUNERADO
E por que elas estão sendo mais afetadas do que os homens?
As diferenças são estruturais e em grande parte ligadas ao trabalho não remunerado de cuidados com os filhos, diz Hecksher. "Temos estudos no Ipea que mostram que, quando a mulher fica grávida, ela muitas vezes para de trabalhar e também de estudar. E com o pai não acontece nada. Quando o filho nasce, as mães em geral voltam aos poucos ao mercado de trabalho, mas ficam mais do que eles na informalidade. Isso é histórico, porque se atribui muito mais os cuidados dos filhos às mulheres".
É o caso, por exemplo, de Vânia Suster Sampaio, de Santo André (SP), mãe solo de três filhos. Ela já sabe que sua área de trabalho —produção de eventos— será uma das últimas a voltar à normalidade presencial quando a pandemia arrefecer.
Sem renda fixa desde março, ela não conta com pensão alimentícia regular. O fato de uma das filhas estar finalizando o tratamento de câncer (e portanto, ser do grupo de risco) também dificulta que ela saia de casa para procurar outros tipos de emprego.
"Preciso voltar ao ritmo de antes, ao meu valor de salário, ou não sei o que vai ser", conta Vânia, que tem contado com o auxílio emergencialdo governo, com trabalhos freelance e com a ajuda de conhecidos. "Além da tensão de não ter emprego, é o dia inteiro recebendo ligação de cobrança (de pagamentos atrasados)."
'SITUAÇÃO INSUSTENTÁVEL E DESUMANA'
O problema não se limita ao Brasil. Um levantamento da Universidade de Cambridge com dados do mercado de trabalho de EUA, Reino Unido e Alemanha durante a pandemia apontou que "mulheres e trabalhadores sem diploma têm chance significativamente maior de ter perdido seu emprego" em relação a outros grupos. O estudo nota que "entre a população que trabalha de casa, as mulheres passam significativamente mais tempo (ocupando-se) da educação e dos cuidados das crianças".
A pandemia escancarou um problema que antes era individual: o desequilíbrio nos cuidados com as crianças e a invisibilidade dessas tarefas perante o mercado de trabalho, afirma Maíra Liguori, diretora da Think Eva, organização de defesa dos direitos femininos que presta consultoria a empresas na promoção da igualdade de gênero.
"Existe uma situação insustentável e desumana para as mulheres com crianças, com efeitos duradouros", diz Liguori, uma vez que a interação de qualidade com adultos é crucial para a formação do cérebro e das habilidades emocionais das crianças, sobretudo as pequenas.
"Muitos dizem 'ah, não tenho culpa que ela quis engravidar'. Mas imagine como seria um mundo em que as mulheres não cuidassem mais das crianças? A gente esquece da importância desse trabalho de construir o futuro (da sociedade). Se queremos adultos saudáveis, precisamos que essa conversa saia do âmbito individual e vá para o coletivo."
Para Nádia Silva, a advogada que perdeu o emprego por não conseguir conciliá-lo com o filho pequeno, a sensação é de que "as pessoas não veem o papel social da mãe".
"Vigora um discurso de que a mulher vale menos", opina. "A empresa poderia ter negociado comigo. Seria o papel social dela. A gente acha importante não maltratar animal e reciclar lixo, mas não acha importante ajudar uma mãe a criar um filho?"
MAIS EMPREGOS COM MENORES JORNADAS?
Ao mesmo tempo, como trazer de volta mais mulheres para o mercado? Hecksher, do Ipea, defende que essa questão seja incluída no debate em torno de quanto imposto os empregadores devem pagar ao contratar funcionários em regime CLT.
Vigora, até o fim deste ano, a desoneração da folha em 17 setores da economia, e a prorrogação desse benefício é motivo de disputa entre o governo federal e o Congresso.
Hecksher é parte de um grupo de estudiosos que propõe que essa desoneração seja estendida para outros setores (no caso de novas contratações, e não de contratos já vigentes), mas aplicada apenas para jornadas de trabalho mais curtas.
"O objetivo é tornar mais barato que um empregador contrate duas pessoas por 20 horas semanais do que um funcionário por 40 horas semanais", diz ele.
"Com isso, conectamos mais gente ao mercado de trabalho formal. Isso tende a beneficiar mais as mulheres, que com mais frequência do que os homens (aderem) a jornadas parciais. Com isso, também daríamos um benefício às empresas por chamar alguém que está sem trabalho, em vez de concentrar mais trabalho em menos gente."
Fonte: Folha Online - 05/10/2020 e SOS Consumidor

Entenda porque a esquerda e a Rede Globo não gostam de Jir Bolsonaro


Home office e covid-19: cinco modelos de 'escritório do futuro' antecipados pela pandemia


A pandemia é 'uma grande oportunidade' para mudar o design dos escritórios do futuro, acreditam alguns especialistas.
Como nossos espaços de trabalho estão se transformando?  O escritório de trabalho, como o conhecíamos até agora, é uma relíquia do passado?  
David Mott, um investidor de risco, fez essa pergunta a si mesmo ao refletir sobre a pandemia. Ele acredita que o coronavírus nos deu uma "grande oportunidade para uma mudança histórica real" e "reinventar o conceito de escritório".
Mott, sócio fundador da Oxford Capital, uma firma de investimento imobiliário em Londres, afirma que, em muitas de suas reuniões nos últimos meses, ele discutiu com sua equipe como serão os espaços de trabalho daqui para frente.
"E não só a minha empresa, mas muitos de nossos clientes — empresas de todos os tipos, dentro e fora do Reino Unido — estão pensando no futuro do trabalho", disse ele à BBC News Mundo, serviço em espanhol da BBC.
Para ele, a covid-19 "mudou as regras (do trabalho)".
O escritório, diz Mott, "não é mais o lugar onde se espera que passemos turnos fixos com horários de reuniões rígidos. A maioria de nós que trabalhava em um escritório pode trabalhar em casa, em um café, na casa de um amigo ou em um coworking."
"É claro que, para algumas profissões, a localização é importante. Mas os funcionários de escritório estão vendo uma página em branco. Temos uma oportunidade incrível de redefinir a forma como trabalhamos e reescrever as regras."
Mas temos que tomar cuidado para acertar o "novo normal", diz ele. "Precisamos de ferramentas digitais para nos ajudar com isso."
Mott, apaixonado pelo assunto, fez sua própria pesquisa e concluiu que existem pelo menos cinco novos modelos de escritórios que estão surgindo no mundo. "E mais pode surgir."
A BBC explicou alguns deles.
1. O escritório totalmente remoto
"Abrimos nossos olhos para as maravilhas do trabalho remoto. O Zoom e outras plataformas de videochamada não são perfeitos, mas nos libertaram do escritório. Os nômades digitais já faziam isso e agora aprendemos com suas experiências. Eu mesmo viajei pela Ásia e me senti confiante de que esse sistema pode funcionar", explica Mott.
"O home office é uma possibilidade real para muitos negócios, mas exige muito trabalho e muita tecnologia para funcionar bem", explica o especialista, que sugere opções como Slack ou Facebook Workplace.
"Trata-se de buscar ferramentas sociais para que as pessoas possam interagir."
"Uma das minhas empresas começou a trabalhar remotamente e criou um 'comitê social', um pequeno grupo encarregado de tornar o trabalho mais humano, próximo e divertido, organizar noites de pizza online e experiências reais em que as pessoas possam compartilhar".
"Eu mesmo participei de uma degustação de chocolate através do Zoom. Todos recebemos o chocolate pelo correio e conectamos - cerca de 20 pessoas - com um especialista que nos fornecia as explicações. Foi uma experiência incrível"
Mott acredita que o principal desafio desse modelo é a falta de contato com a equipe.
Por outro lado, ele explica que uma das principais vantagens é a possibilidade de novas contratações em lugares distantes, "para expandir talentos", além de economia de custos.
"Todos esses modelos de escritório têm prós e contras", acrescenta. 
2. O modelo híbrido
Esse modelo consiste em trabalhar um ou dois dias por semana no escritório e o restante à distância.
"É o que decidimos aplicar na minha empresa", diz Mott.
A empresa tem 18 escritórios espalhados pelo Reino Unido, nos quais foram concebidos alguns espaços comuns e outros individuais, adaptados às circunstâncias da pandemia.
É um modelo no qual Marco Minervini, pesquisador de design organizacional da escola de negócios Insead, em Singapura, também aposta. Trata-se de combinar trabalho remoto com trabalho de escritório, diz ele.
Embora ele ressalte que o modelo pode acentuar algumas desigualdades entre os trabalhadores, como a qualidade da conexão de internet e situação familiar.
Nicholas Bloom, professor de economia da Universidade de Stanford e especializado em trabalho remoto, disse à BBC que dois dias de trabalho em casa por semana é o modelo ideal para alcançar um equilíbrio entre a vida pessoal e profissional, reduzindo o estresse e o tempo de deslocamento entre caso e escritório.
Porém, ele pode não funcionar para todos, principalmente aqueles que preferem uma rotina mais estabelecida.
3. Modelo remoto 'plus'
Uma semana no escritório, seguida de três semanas trabalhando remotamente.
"Esse modelo permite que as pessoas fiquem longe, mas façam o esforço de passar o tempo trabalhando ao lado de sua equipe uma vez por mês", diz Mott.
Não é o modelo mais difundido, mas algumas grandes empresas, como a Estée Lauder, decidiram aplicá-lo em breve depois de deliberarem com os funcionários.
"A empresa nos perguntou qual modelo nós preferíamos e no final qual era a opção", conta Carolina Salvador, coordenadora de comércio eletrônico da sede londrina da multinacional Estée Lauder.
"Em novembro esperamos reabrir o escritório de Londres, mas apenas dois andares, com sala de jantar e cozinha fechadas e sem espaços compartilhados. O uso de máscara será obrigatório e teremos que reservar uma vaga no escritório antes de ir. O número máximo de vagas é 100 pessoas ".
Ela diz que considera que trabalhar de casa "tem muitas vantagens, mas estar no escritório e em contato com os colegas também têm. Não sou menos produtiva para trabalhar três semanas de casa, mas é verdade que ir para o escritório nessa semana pode ser bom para o trabalho em equipe." 4. Hub e Spoke
Este modelo leva o nome de um paradigma de distribuição radial, que se expande a partir do centro, como uma espécie de "raios" de sol.
Consiste na "expansão da empresa, com escritórios remotos em outras cidades ou países, para aproveitar as competências locais", explica Mott.
"Se, por exemplo, 10 colegas morarem na mesma área, eles podem se socializar com mais frequência nesses espaços ou colocar em prática o conceito WFA (trabalhe de onde quiser pelo tempo que quiser)".
Ou seja, ele é uma variante do escritório híbrido com mais opções locais, dependendo do layout da equipe.
5. Tempo de qualidade
Este quinto modelo diz respeito a empresas que priorizam a qualidade da produção, sem fiscalizar tanto o horário de trabalho: não importa que os funcionários trabalhem das 9h às 17h; cada pessoa é diferente e tem seus compromissos. O importante é o resultado do trabalho.
"Há flexibilidade para adaptar o trabalho a outros compromissos, ao invés de subordinar a vida familiar aos compromissos de trabalho", resume Mott.
"O outro lado da moeda de trabalho flexível é que realmente temos que confiar em nossos colegas e funcionários. Quando as pessoas estão em casa, não sabemos o que estão fazendo o tempo todo. É por isso que este modelo requer um alto nível de confiança".
"Mas quem não gosta de confiança no trabalho? Eu não ficaria feliz na minha organização se as pessoas não confiassem em mim."
Mas e o escritório 'do passado'?
"Quando comecei a refletir sobre isso, me perguntei: o que é um escritório?", explica Mott à BBC.
Se olharmos para trás, vemos que o primeiro escritório foi criado em 31 de dezembro de 1600 pela British East India Company. Nele, filas de funcionários faziam a contabilidade e a administração da empresa.
"O modelo não mudou muito", diz Mott. "Centenas de anos se passaram e vemos como tudo permaneceu praticamente igual."
As novas tecnologias impulsionaram mudanças na forma de trabalhar e na produtividade, mas não tanto nos espaços de trabalho. Primeiro vieram as máquinas de escrever e fotocopiadoras, depois vieram os computadores.
Mas a rotina no escritório permaneceu mais ou menos a mesma.
Mott diz que seu avô trabalhava na IBM quando máquinas de escrever eletrônicas começaram a ser trocadas por computadores. E ele próprio começou sua carreira adicionando colunas de números escritos à mão com uma calculadora, antes que as tabelas do Excel e os computadores chegassem.
Então veio a internet.
"É claro que a revolução digital mudou muito nos últimos 10 ou 20 anos. Algumas empresas como Google, Facebook ou Bloomberg investiram em escritórios realmente modernos e inovadores — há quem diga que isso era para as pessoas ficarem mais tempo em escritório —, mas isso é coisa do passado ", pondera o investidor.
A verdadeira mudança, segundo ele e outros especialistas da área, está chegando agora, com a pandemia.
"O hábito de ir trabalhar todos os dias em um escritório foi alterado, e, quando um hábito se quebra, você pode criar um novo. A era da mesa permanente acabou", resume Mott.
O Chartered Institute of Personnel and Development, uma associação de recursos humanos com sede em Londres, prevê que a maioria das empresas manterá seus escritórios físicos.
Mas isso não significa que a forma de trabalhar não mudará, disse recentemente à BBC Peter Cheese, diretor da organização: "A pandemia está forçando os empregadores a pensar de forma diferente sobre a viabilidade de permitir que seus funcionários trabalhem com flexibilidade."
"Vivemos um momento de mudanças reais no mundo do trabalho impulsionadas por uma crise existencial", explica Cheese.
E essa mudança coloca os funcionários no centro das decisões estratégicas como nunca antes havia ocorrido.

Fonte: BBC - Brasil - 05/10/2020 e SOS Consumidor