segunda-feira, 1 de julho de 2019

Sob chuva, ato reúne manifestantes pró-Moro e reforma da Previdência em Porto Alegre

Faixa da avenida Goethe foi bloqueada para um caminhão de som

Por Cláudio Isaías


  • Manifestantes demonstram apoio ao governo Bolsonaro e a Sergio Moro em Porto Alegre

    Manifestantes demonstram apoio ao governo Bolsonaro e a Sergio Moro em Porto Alegre | Foto: Fabiano do Amaral

    Nem a chuva impediu que manifestantes pessoas participassem, neste domingo, em Porto Alegre, do ato em apoio à reforma da Previdência, ao ministro da Justiça, Sergio Moro, à Operação Lava Jato, ao pacote anticrime e também ao decreto do armamento. Os manifestantes bloquearam uma faixa da avenida Goethe, no bairro Moinhos de Vento, no sentido do Centro para o bairro, com um caminhão de som para demonstrar apoio ao governo do presidente da República, Jair Bolsonaro.

    Entre discursos e cânticos, o público vaiou os representantes dos partidos de esquerda, principalmente o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, preso em Curitiba, o Supremo Tribunal Federal (STF) e o The Intercept Brasil, site que revelou supostos diálogos entre Moro e procuradores da Lava Jato. A coordenadora do ato, Paula Cassol, destacou a importância da reforma da Previdência e disse que o povo brasileiro viu o que aconteceu na Grécia e em outros países que não tiveram responsabilidade fiscal e um planejamento.

    "As contas no Brasil não fecham. O nosso país tem um problema relacionado a diversas categorias que ganham um valor muito alto e se aposentam com R$ 20 mil ou R$ 30 mil e quem está pagando essas conta é o cidadão que contribui com um ou dois salários mínimos. São elas que mais sofrem no sistema", ressaltou. Paula afirmou que é preciso equalizar essas contas e ter estabilidade para que o mercado financeiro possa confiar no Brasil e só assim o país terá condições de se desenvolver. 

    A funcionária pública Maria de Lourdes Santos, moradora do bairro Partenon, na zona Leste da cidade, afirmou que veio apoiar o governo de Jair Bolsonaro, mas principalmente o ministro da Justiça, Sérgio Moro. Maria de Lourdes carregava um cartaz com a foto do ministro com a mensagem "# Eu Apoio Moro" e foi muito fotografada pelo público.

    A aposentada Janice da Silveira, residente no bairro Petrópolis, destacou que o Brasil tem pressa para crescer e por isso é fundamental a aprovação da reforma da Previdência. Os apoiadores levaram cartazes com as fotos do presidente Jair Bolsonaro e do vice-presidente Hamilton Mourão onde estava escrito "Brasil de Direita", "Jovens de Direita" e "Mulheres de Direita".

    Os secretários municipais de Serviços Urbanos, Ramiro Rosário, e do Desenvolvimento Social e Esporte, Comandante Nádia, participaram do ato no Parque Moinhos de Vento. Os apoiadores do presidente desfilavam com camisetas da Seleção Brasileira e bandeiras do Brasil.

    Os manifestantes foram animados pela Banda Loka Liberal que estava em cima do caminhão do som. Algumas pessoas carregavam cartazes em que pediam aos motoristas que passavam no sentido contrário da avenida Goethe que buzinassem por "um Brasil melhor".

    Ato reuniu apoiadores do ministro Sergio Moro    Foto: Fabiano do Amaral


    Correio do Povo

    Eclipse solar total ocorre nesta terça na América do Sul

    Fenômeno será melhor observado no Chile, onde ficam principais telescópios do mundo

    Por Cleni Dombroski Leal, Mauricio Pasian e Steven Beggs / USP

    Fenômeno se repete em ciclos de aproximadamente 18 anos

    Fenômeno se repete em ciclos de aproximadamente 18 anos | Foto: Kazuhiro Nogi / AFP / CP

    Na próxima terça feira, a América do Sul será privilegiada com a passagem de um eclipse solar total, sendo o local previsto em terra com o melhor avistamento, o Chile, mais especificamente na cidade de La Serena. Coincidentemente, o ponto fica bem em cima de onde se concentram os principais telescópios do Chile (de uma certa forma do mundo), a 500 quilômetros ao norte de Santiago. No próximo ano, em 14 de dezembro, haverá outro, no sul do Chile e Argentina.

    Um fenômeno mesmo que conhecido, ainda fascina, e dependendo do evento, chega a atrair multidões. Dificilmente haverá pessoas que não deem uma espiadinha no céu, nem que seja somente para matar a curiosidade.Caso um dia você tenha a curiosidade de ver um ao vivo e a cores, se prepare, pois terá de colocar a mão no bolso, uma vez que os preços de passagem, hospedagem e restaurantes ficam estratosféricos nos locais aonde ocorrem, e as reservas têm de ser feitas com pelo menos um ano de antecedência.

    A região norte do Chile é considerada um dos melhores pontos de observação estelar de nosso planeta, não apenas por conta da baixa umidade do ar (baixa difração da luz), mas também pelo grande número de noites limpas do ano, pela altitude de mais de 2000 m acima do nível do mar (baixo nível de poeira) e pela pouquíssima iluminação artificial, já que é uma região de baixa ocupação humana.

    O tempo total de escuridão da sombra de um Eclipse Solar Total é de poucos minutos, é muito rápido, não passando de 7 minutos e dependendo do local e do ponto do trajeto do Eclipse que você estiver, esse tempo varia. No caso especifico do Eclipse no Chile, no dia 2 de julho, o tempo da sombra prevista não atingirá 2 minutos. Se você pretende fotografar o evento, tudo deverá estar milimetricamente cronometrado: os equipamentos fotográficos têm de estar a mão e testados, pois se errar, só em outro local para ter outra oportunidade.

    Raridade

    O fascínio pelos eclipses está ligado ao baixo número de ocorrências a cada 365 dias do ano. Isto porque a órbita da Terra em torno do Sol e a órbita da Lua em torno da Terra não estão alinhadas no mesmo plano. Caso estivessem, teríamos um eclipse solar a cada Lunação (Lua Nova) ou seja a cada 29,5 dias. A quantidade de eclipses por ano pode variar de no mínimo quatro (dois eclipses da lua e dois do sol), podendo excepcionalmente chegar a 7 por ano (em 1982, tivemos quatro eclipses solares e três lunares).

    Essa variação de quantidades ocorre devido a simples razão de o ciclo dos eclipses ocorrerem aproximadamente a cada 177 dias, ou seja, dois ciclos de eclipses ocorrem a cada 354 dias um pouco menos dos 365 dias de um ano. Caso um ciclo de eclipses ocorra no mês de janeiro, além de ocorrer um segundo ciclo em junho ou julho, poderá ocorrer um terceiro ciclo no mês de dezembro, fornecendo assim esse número mágico de sete por ano.

    Ciclos definidos

    Por mais incrível que possa parecer, os tipos e formatos dos eclipses se repetem em ciclos definidos. Devidos aos movimentos e padrões harmônicos e repetitivos dos corpos celestes, desde os tempos da Babilônia se observou que os eclipses se repetiam em determinados ciclos, formando séries por um determinado intervalo de tempo.

    O caso conhecidíssimo na astronomia é o “Ciclo de Saros”, que resulta em uma repetição de um eclipse solar ou lunar a cada 6.585,3 dias, (18 anos, 11 dias e 8 horas). O número de dias não é inteiro, mas pode-se prever quando os eclipses praticamente idênticos irão ocorrer no futuro.

    Ou seja, um eclipse observado hoje irá repetir o seu tipo e formato daqui a 18 anos, com um detalhe, ele só não irá ocorrer próximo ao mesmo local, devido o seu ciclo, além dos dias, ter cerca de 8 horas adicionais no dia. No caso de um eclipse solar, isso significa que a região de ocorrência do eclipse solar irá se deslocar a cerca de 120º a oeste, em razão da terra ter girado em 8 horas, 1/3 de seu percurso de rotação de um dia.

    O interessante é que pode-se dizer que o “Ciclo de Saros”, contem em torno de 70 ciclos “ativos”, já que, com o passar dos milênios, alguns ciclos deixam de existir, ou seja, um mesmo eclipse, que ocorria a cada 6 585,3 dias, deixa de ocorrer para dar lugar a novos ciclos.



    Correio do Povo


    TRÂNSITO

    RS terá sol e forte queda de temperatura nesta segunda-feira

    UE-MERCOSUL

    França "exige" que Brasil permaneça no Acordo de Paris

    Trump subiu um degrau de cimento, com alguns centímetros de altura, que representam a fronteira mais hermética do mundo

    MUNDO

    "Você quer que eu cruze a linha?", perguntou Trump a Kim Jong Un

    Cocaína estava sendo transportada na bagagem pessoal do estrangeiro

    POLÍCIA

    Letão é preso por tráfico de drogas no aeroporto Salgado Filho

    POLÍCIA

    Idosa é morta com uma facada no Norte do RS

    O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), voltará a se reunir com governadores nesta terça-feira, em Brasília, para tratar da reforma da Previdência

    REFORMA DA PREVIDÊNCIA

    Câmara terá negociação para reincluir estados e municípios na reforma

    Gabriel Jesus contou ter ficado frustrado após ter atuado em cinco jogos e não ter feito gols na última Copa do Mundo

    COPA AMÉRICA

    Após Copa, Gabriel Jesus contrata personal trainer e analisa números

    Jogadores desembarcaram em Minas com pouco contato com a torcida

    Argentina chega a Belo Horizonte e interage pouco com a torcida

    Brasil se prepara para encarar a Argentina pela semifinal da Copa América

    Fã da Chape, árbitro equatoriano vai apitar Brasil x Argentina

    Cavani fez um dos três gols do Uruguai anulados pelo VAR

    "Espero que gols anulados tenham sido impedimento", afirma Cavani

    Meia Patrick, de 20 anos, deu entrevista coletiva após o treino

    GRÊMIO

    Sob chuva, Grêmio treina ataque e transições no CT Luiz Carvalho

    Inter é tricampeão gaúcho Sub-20

    INTER

    Inter volta a vencer o São José e conquista o Gauchão Sub-20

    Ministro Dias Toffoli é o presidente do CNJ

    POLÍTICA

    Promotores se insurgem contra proposta que mina atuação de juízes nas redes sociais

    Grupos formados na recepção do Palácio Piratini faziam visitas guiadas de cerca de 15 minutos por parte do local

    Palácio Piratini abre as portas para a população

    Carro ficou destruído com força do impacto

    GERAL

    Prefeito de Alpestre sofre ferimentos graves em acidente no Norte do RS

    Popular na região, bar sediava apresentação de samba no momento dos disparos

    Quatro pessoas são mortas e 13 ficam feridas em chacina em bar no Rio

    Onda de calor na Espanha

    MUNDO

    Temperaturas começam a cair na Europa

    Trump já tinha mencionado no sábado um possível afrouxamento das restrições americanas à gigante chinesa das telecomunicações

    JORNAL COM TECNOLOGIA

    EUA podem retomar vendas de produtos para Huawei

    Acordos foram assinados e Hanoi

    ECONOMIA

    UE assina ambicioso acordo de Livre Comércio com o Vietnã

    Equipe grená chegou a anotar gol, mas jogada acabou anulada

    SÉRIE D

    Caxias empata com o Cianorte e definirá vaga nas quartas no Paraná

    Holandês foi no ombro a ombro com monegasco e levou a melhor

    PITLANE

    Verstappen faz corrida lendária na Áustria e dá vitória à Honda

    Brasil conseguiu virar sobre os adversários

    ESPORTES

    Brasil vence a Itália e classifica como líder na Liga das Nações de vôlei

    Estilo

    CINEMA

    Novo filme de "RoboCop" vai utilizar armadura original do personagem

    Francis Ford Coppola, Alfonso Cuarón, Keanu Reeves, Willem Dafoe, Guillermo del Toro e Spike Lee assinaram carta apoiando o projeto

    ARTE & AGENDA

    Atores e diretores condenam ataque neofascista em cinema em Roma

    Papel de Isabél Zuaa tem a missão de defender Raul, personagem de Amaurih Oliveira

    SÉRIE

    "O Complexo" traz debate sobre racismo e justiça em Porto Alegre

    Criadores dos efeitos visuais da aventura se reuniram nessa semana em Beverly Hills

    ARTE & AGENDA

    Criadores de "Star Wars" revelam desafios dos efeitos visuais da saga

    domingo, 30 de junho de 2019

    Monique não é Monique

    O Intercept atribuiu à procuradora Monique Cheker uma conversa vazada com Angelo Goulart Villela.

    Assim como Angelo não é Angelo, porém, Monique também não é Monique.

    A verdadeira Monique Cheker enviou a seguinte nota para O Antagonista, que desmonta mais essa farsa do site pirata:

    “Sobre a parte em que o The Intercept diz que escrevi: ‘Desde que eu estava no Paraná, em 2008, ele (Sergio Moro) já atuava assim. Alguns colegas do MPF do PR diziam que gostavam da pro atividade dele, que inclusive aprendiam com isso’, esclareço que, conforme pode ser obtido publicamente dos meus assentos funcionais, durante praticamente todo o ano de 2008 eu trabalhei como procuradora de contas do Ministério Publico junto ao TCE do Rio de Janeiro, cargo que assumi em 2006. Nunca tinha ouvido falar do ex-juiz Sergio Moro, muito menos tive contato com alguém do MPF/PR. Tomei posse no MPF em dezembro de 2008, com lotação numa cidade do interior do Paraná. Da posse, seguiu-se logo o curso de ingresso e vitaliciamente em Brasília, e o recesso judicial, e só fui conhecer alguém do MPF/PR que já tinha trabalhado com o ex-juiz Sergio Moro, ou menção a esse nome, tempos depois.

    Não reconheço os registros remetidos pelo The Intercept, com menção a minha pessoa, mas posso assegurar que possui dados errados e alterações de conteúdo, pelos motivos expostos acima.”

    O Antagonista


    Negócios da China - https://www.tercalivre.com.br/?p=108924


    Parabéns pelo seu excepcional trabalho, ministro @rsallesmma !

    Bia Kicis adicionou,

    Ricardo Salles MMAConta verificada @rsallesmma

    Resumo da Reserva Chico Mendes: 900 mil hectares. Milhares de pessoas quase na miséria. A farsa da “florestania”. Não conseguem, nem querem, sobreviver da seringueira, do açaí e da castanha do pará. Querem criar gado, plantar café e produzir peixe em… https://twitter.com/Biakicis/status/1144827055223320579?cn=ZmxleGlibGVfcmVjc18y&refsrc=email

    A origem da vida na Terra (e fora dela)

    Pesquisas recentes mostram como uma molécula inanimada e muita seleção natural podem ter dado origem à vida no planeta. E indicam onde buscá-la no Universo.

    Por Bruno Vaiano, com ilustrações de Yasmin Ayumi e edição de Alexandre Versignassi access_time4 jan 2019, 17h16 - Atualizado em 7 jan 2019, 11h05

    Da praia, dá para ver dois horizontes. O que você conhece é a fronteira entre o mar e o céu. O outro, mais sutil, é o próprio céu. Os astrônomos que estudam grandes distâncias se deparam com o seguinte problema: mesmo considerando a possibilidade de que o Universo não seja infinito, ele ainda é bastante grande. De modo que há muitas estrelas que ficam mais longe do que a distância que a luz foi capaz de percorrer desde que o Universo nasceu. Essas estrelas são invisíveis. Não só para os seus olhos, mas para qualquer equipamento. Mesmo um telescópio de nitidez infinita seria incapaz de enxergá-las. O nome dessa fronteira entre o visível e o além é horizonte cósmico.

    Ainda bem que não faltam coisas para ver dentro do Universo observável: ele contém algo entre 4,2 trilhões e 5,3 trilhões de planetas em zonas habitáveis. Isso dá entre 600 e 700 planetas para cada habitante da Terra. Desses planetas, 300 bilhões (cerca de 5%) estão na órbita de estrelas como o Sol. Um planeta em zona habitável é o que está nem tão próximo de sua estrela que a água evapore, nem tão longe que ela congele.

    Isso é porque água líquida é imprescindível para a vida como a conhecemos. A molécula de H2O tem uma extremidade com carga negativa – que atrai moléculas e íons positivos. E outra com carga positiva – que atrai os negativos. Assim, consegue diluir e transportar quase qualquer substância.

    A uma distância relativamente curta da Terra – 10 parsecs, ou o que a luz é capaz de percorrer em 33 anos e uns meses – há mais de 160 planetas que podem conter água em estado líquido; destes, nove estão em estrelas similares à nossa. Conclusão? É muito improvável que estejamos sozinhos. Dado que a Terra tem 4,5 bilhões de anos de idade e a vida emergiu assim que houve condições, há cerca de 4 bilhões de anos, é bem mais lógico supor que a origem da vida seja um processo que se repete por aí, várias e várias vezes.

    Para encontrar vida – e reconhecê-la como tal –, precisamos saber o que exatamente ela é, e em que condições ela surge. São perguntas difíceis. Para respondê-las, só há um ponto de partida possível: a origem e a definição da vida no nosso planeta, a Terra. Vamos nessa.

    O que é vida?

    O fogo é semelhante à vida. Corte seu suprimento de oxigênio e ele cessa. Ele deve ser alimentado, e apaga quando o combustível se esvai. Como um animal faminto, um incêndio florestal se satisfaz ao consumir seres vivos. Nas palavras do biólogo Richard Dawkins, “Como faziam com os lobos, nossos ancestrais podiam capturar um filhote de fogo e domesticá-lo como um útil animal de estimação, alimentá-lo regularmente e limpar suas excreções de cinza”.

    Por que, então, sabemos intuitivamente que o fogo não está vivo? Há uma lista de pré-requisitos que define se algo pertence ao mundo inanimado? De certa forma, há. Seres vivos, por exemplo, são capazes de se reproduzir. Em princípio, seria possível encarar uma fagulha como uma semente de fogo, que inicia um novo foco em outro fardo de capim seco. Mas não é suficiente: um ser vivo, quando se reproduz, gera filhotes com as mesmas características que ele. O nome disso é hereditariedade.

    O fogo não contém nem transmite informação hereditária. Não há nada que torne um fogo intrinsecamente diferente de outro. Mude a substância química que serve de combustível à chama e ela assume qualquer cor. Um incêndio também cresce indefinidamente quando é estimulado. Já um dálmata não muda de cor quando mudamos seu alimento, nem cresce 50 metros se lhe dermos comida suficiente. Mesmo que lhe cortem a cauda ou lhe pintem de azul, suas crias ainda nascerão com bolinhas pretas e rabo.

    Há algo em um cão que o impede de ser algo além de um cão, e este algo é a coleção de genes que está guardada no núcleo de suas células. O genoma. Seres vivos, por definição, transmitem algo à prole. Na origem da vida, portanto, está a hereditariedade. O primeiro gene não precisava respirar ou liberar excrementos de forma reconhecível para nós, usuários de oxigênio e privadas. Na verdade, ele só precisava ser capaz de criar cópias de si mesmo. Cópias que, diferentemente do fogo, fossem elas mesmas em quaisquer circunstâncias.

    A hereditariedade é sujeita a falhas – e essa talvez seja sua característica mais importante. O primeiro gene às vezes sofria erros de cópia. Em geral, esses erros eram deletérios para esses filhotinhos de molécula. Mas, volta e meia, um erro, por acaso, conferia uma vantagem reprodutiva, e aumentava a eficiência daquela entidade rudimentar, na fronteira entre a vida e não-vida. Com erros, há variação, e com variação, há seleção natural. Assim, de pouco em pouco, na base da tentativa e erro, a complexidade aumenta. É por isso que a definição de vida oficial da Nasa é “sistema químico autossustentável capaz de passar por seleção darwiniana”.

    A vida de Schrödinger

    O que, exatamente, a Nasa quer dizer com “sistema químico autossustentável?” O seguinte: um corpo é uma máquina capaz de coletar recursos do ambiente – água, oxigênio etc. – e usá-los para produzir mais de si mesmo. Ele se reconstrói constantemente. Células morrem e são repostas a toque da caixa. Para fazer isso – para se manter vivo –, um corpo precisa combater algo que os físicos chamam de entropia. Entropia é o grau de desorganização de um sistema. Um número que mede a bagunça. A entropia de tudo no Universo tende sempre a aumentar – isso é uma lei, a 2a Lei da Termodinâmica. Um copo cai no chão e a água não volta a seu interior. O ovo se quebra e sua casca não se refaz.

    Você, ser humano, é muito organizado. Ou seja: tem entropia baixa. E só está vivo porque consegue evitar que tudo descambe para a bagunça. Sem notar, você mantém uma temperatura de 36,5 °C, controla o nível de açúcar no sangue e a pressão arterial e dilui na medida certa sódio e potássio. Você faz isso negociando entropia com as coisas: um bife entra no seu corpo organizado, com entropia baixa. Sai em forma de um amorfo cocô, com entropia alta. Você pegou os nutrientes dele e transformou em mais de você. Assim, sua entropia é mantida sob controle. A essa luta contra entropia damos o nome de vida.

    Quem rege o combate à entropia, no seu corpo, é algo chamado informação. Do tipo que se mede em megabytes, mesmo. Se o seu corpo fosse um arquivo de computador, seria um arquivo grande, pois coisas muito organizadas exigem muitos megabytes. Os seus megabytes estão armazenados em um HD que se preserva de geração em geração: o DNA. É o DNA que orquestra os processos metabólicos que te mantêm vivo. E, depois que você se reproduz e morre, ele, que é imortal, fica de herança para os seus filhos.

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    (Yasmin Ayumi/Superinteressante)

    Em 1943, quando as propriedades do DNA ainda não eram conhecidas, o físico Erwin Schrödinger – o do gato de Schrödinger – deu uma série de palestras para leigos no Trinity College, em Dublin, em que especulava sobre vida, entropia e informação – e propunha que precisava haver uma molécula capaz de armazenar dados.

    Em 1944, um ano depois, Oswald Avery descobriu que essa molécula era o DNA. E, em 1953, Francis Crick e James Watson decifraram a intrincada forma como ele guarda o manual de instruções do seu corpo – em uma parceria conturbada com Rosalind Franklin e Maurice Wilkins. Começava uma revolução na biologia, em que se descobriu que todos os seres vivos compartilham um maquinário microscópico único, com três moléculas mutuamente dependentes: o DNA, o RNA e as proteínas. Hora de conhecê-las – e entender como elas elucidam a origem da vida.

    Três suspeitos de um crime: DNA, RNA e proteínas

    Por um lado, a origem da vida está em uma molécula replicadora, capaz de armazenar e transmitir informação hereditária. Por outro lado, sabemos quais são as moléculas mais importantes em qualquer ser vivo: DNA, RNA e proteínas. Este é, portanto, um mistério de detetive. É preciso analisar as capacidades, funções e defeitos das três num ser vivo contemporâneo para entender qual delas é a suspeita mais provável de ser a replicadora original. Um “crime” longínquo, que ocorreu há não mais que 4,2 bilhões de anos.

    Vamos dar uma de Agatha Christie. Começando com as proteínas, os burros de carga da vida. Seus músculos são feitos de proteínas (actina e miosina). Suas unhas (queratina) também. São proteínas que digerem os carboidratos que você come (amilase) no momento em que eles tocam a saliva. Na verdade, a função do DNA é armazenar instruções para a fabricação das nossas 92 mil proteínas. Só isso. Uma vez fabricadas, elas cuidam do resto. A favor das proteínas, portanto, temos que elas fazem tudo.

    E contra? Bem, proteínas são cadeias de componentes químicos menores chamados aminoácidos. Os aminoácidos têm nomes que soam como uma reunião de idosas psicodélicas: lisina, alanina, leucina… São 20, ao todo. A ordem em que eles são enfileirados é essencial. Precisa ser perfeita. Um único aminoácido fora do lugar e você terá uma proteína inútil em mãos. É que proteínas se dobram, como novelos de lã embaraçados, e é a dobra que define a função. O colágeno, por exemplo, contém 1.055 aminoácidos, dobrados com precisão de origami.

    A origem da vida requer que uma molécula razoavelmente funcional surja de condições simples. E esperar uma proteína brotar do nada é como escrever Dom Casmurro dando com a testa no teclado. Esquece. É o tipo de milagre que não acontece. Se você tivesse jogado na loteria todo ano, da formação da Terra até hoje, já teria dado para ganhar 77 vezes – é uma obrigação estatística. Não teria dado tempo, porém, de formar algo como o colágeno. A chance de uma proteína como o colágeno se formar espontaneamente em uma piscina de aminoácidos é de uma em 20 seguido de 1.055 zeros.

    “Legal”, você dirá, “é óbvio que nenhuma obra começa com os tijolos se empilhando sozinhos. Ela começa com o arquiteto. A primeira molécula, então, foi o DNA”. Para avaliar o palpite, é essencial entender como, exatamente, uma molécula de DNA é capaz de dar instruções.

    Imagine o DNA como um colar de miçangas químico. Há uma miçanga chamada adenina (A). Outra chamada guanina (G). Ao todo, são quatro miçangas: A, T, C e G. Elas se chamam nucleotídeos, e ficam penduradas numa espécie de cordão, assim: ATGGCTCTAGG… A parte mágica é que cada aminoácido tem um encaixe químico perfeito com um grupo de três letrinhas do DNA. A lisina, por exemplo, só adere às sequências AAA e AAG. Já a leucina gosta de CTA ou CTG. E assim, de três em três letras, o DNA anota a receita das proteínas.

    O problema é que o DNA só serve para anotar as receitas, mesmo. Ele é incapaz de executá-las. Há aqui um problema de ovo e galinha: o DNA é o manual para produzir proteínas, mas não consegue, de fato, produzi- -las. As proteínas, por sua vez, são complexas demais para terem simplesmente surgido – e não têm uma estrutura boa para armazenar informação.

    Hora de ir para o terceiro suspeito, o RNA. Dá para imaginar cada célula viva (você é composto de 37,2 trilhões delas) como uma minúscula cidade, em que os executivos ficam no centro, e os operários, na zona industrial. Por isso, há um grupo de moléculas especializado em ligar os bairros: ir até o DNA, coletar as receitas de proteínas e levá-las para a fábrica. Depois, no interior dessas fábricas (chamadas ribossomos), são essas mesmas moléculas que montam as proteínas, tijolo por tijolo.

    O nome dessas moléculas de função logística é RNA. Para “ler” o código do DNA, elas precisam ser estruturadas como ele: uma sequência de miçangas químicas. Há só uma letrinha diferente: A, U, C e G (a letra U equivale ao T). Por outro lado, o RNA consegue se dobrar sobre si próprio em formas complexas e catalisar reações químicas, exatamente como as proteínas. Bingo. É o meio-termo que a vida precisa para surgir. Cérebro e músculo em um lugar só.

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    (Yasmin Ayumi/Superinteressante)

    O mundo RNA

    Em 2003, em um instituto de bioquímica chamado Scripps, na Califórnia, Gerald Joyce e Tracey Lincoln criaram uma molécula de RNA chamada R3C. O código dela é tão simples que cabe aqui: NNNNNNUGCUCGAUUGGUAACAGUUUGAAUGGGUUGAAGUAU – GAGACCGNNNNNN (a letra N aparece quando o nucleotídeo que ocupa uma determinada posição é indiferente).

    Antes de entender por que R3C é importante, algo precisa ser dito sobre as letrinhas de RNA: elas formam pares. O nucleotídeo G só gruda em C, o nucleotídeo A só gruda em U. Essas duplas se atraem feito ímãs de polaridades opostas. Assim, quando você sacode um tubo de ensaio de R3C, algumas das suas letrinhas se encaixam, ele se dobra e fica com a forma de um grampo de cabelo.

    O resultado é uma habilidade peculiar: R3C começa a catalisar uma reação química cujo resultado é mais dele mesmo. Ele vira uma máquina de xerox que só faz mais R3C. Isso o torna um exemplo perfeito de molécula inanimada que faz uma malandragem de coisa viva: se reproduzir. Ele pode não ser a origem da vida na Terra, mas tem currículo para assumir o cargo.

    O mundo RNA: como uma molécula inanimada pode se reproduzir, ainda que de maneira rudimentar. É impossível recriar a exata sequência de passou que levou à origem da vida, pois este é um fato histórico. Mas é possível imaginar – e depois criar em laboratório – cenários bastante plausíveis.

    O mundo RNA: como uma molécula inanimada pode se reproduzir, ainda que de maneira rudimentar. É impossível recriar a exata sequência de passou que levou à origem da vida, pois este é um fato histórico. Mas é possível imaginar – e depois criar em laboratório – cenários bastante plausíveis. (Yasmin Ayumi/Superinteressante)

    Outros RNAs, com outras dobras, exercem outras funções. Juntam aminoácidos, produzem membranas… E aí a união faz a força. “Se você dá tempo ao tempo, moléculas começam a se juntar ao acaso; depois, se juntam porque outras moléculas ajudaram. Assim, elas ganham mais habilidades. Elas estavam submetidas à seleção natural”, explica Carlos Menck, geneticista da USP.

    É por causa do sucesso de experimentos como esse que hoje o pioneirismo do RNA é praticamente consenso entre cientistas. Se os primeiros seres vivos não foram moléculas de RNA, é difícil imaginar o que eles possam ter sido. Essa hipótese – de que a vida na Terra é resultado de uma criativa start-up de RNAs fundada há 4,2 bilhões de anos – tem o nome de “mundo RNA”.

    RNA: origens

    Então dá para fazer vida a partir de RNA. Mas como fazer RNA? O fato mais notável sobre os ingredientes do seu corpo é que eles não têm absolutamente nada de notável. Pegue, por exemplo, o cianeto de hidrogênio (HCN). Ele se forma aos montes na poeira interestelar. É tóxico para qualquer forma de vida que respira oxigênio. Foi usado extensivamente como arma química na 1a Guerra Mundial. Mesmo assim, junte cinco moléculas de HCN e você consegue uma molécula de H5C5N5 – vulgo adenina, peça central do DNA, do RNA e do ATP (tão importante para você quanto uma bateria de lítio é para um celular). Em outras palavras, seu código genético e seu metabolismo dependem de um hardware cujas peças, encaixadas de outra forma, são um meio eficiente de te matar.

    Em 1953, Stanley Miller, pós-graduando da Universidade de Chicago, tentou, pela primeira vez, gerar algo vivo a partir de ingredientes inanimados. Ele sabia que a atmosfera da Terra primitiva continha substâncias extremamente comuns no cosmos, como hidrogênio, metano (CH4) e amônia (NH3). Miller passou vapor de água por essas substâncias e adicionou energia elétrica – simulando uma chuva pré-histórica e a radiação ultravioleta do Sol. Assim, esses compostos básicos se juntaram para formar aminoácidos, que formam as proteínas.

    Hoje, há muitos Millers por aí. Eles já sabem que proteínas não são o caminho, então tentam criar RNA. Em 2009, uma equipe da Universidade de Cambridge encontrou um caminho convincente para fabricar citosina (C ) e uracila (U). Mais recentemente, em 2016, Thomas Carell, da Universidade Ludwig Maximilian, chegou a uma receita igualmente plausível para a adenina (A) e a guanina (G). Neste ano, Carell juntou os dois processos em um: com oxigênio, nitrogênio, metano, amônia, água e cianeto de hidrogênio (nosso amigo HCN), fez os quatro nucleotídeos aparecerem na mesma mistura.

    Ou seja: o que define a vida não são os tijolos que ela usa (eles são banais), mas a maneira como eles se encaixam e interagem. Assim, um bom ponto de partida para encontrar vida fora da Terra é ir atrás de lugares em que os tijolos são abundantes.

    Luas e micróbios

    Titã, a maior das 62 luas de Saturno, é uma espécie de gêmea má (e menor) da Terra. Imagine o seguinte: na superfície, onde a temperatura média é de 179,5°C negativos, há cordilheiras, ilhas, planaltos e planícies como as nossas. Que, em vez de rocha, são feitos de gelo. Até a areia é granizo. Para completar a paisagem exótica, o metano, que conhecemos como um gás, fica em estado líquido no frio de Titã. Há rios, lagos, nuvens e chuva de metano. Um ciclo hidrológico completo.

    Por causa disso, Titã é um teste para a onipresença da vida no Universo. Se alguma molécula de função análoga ao RNA se formasse usando metano como solvente, em vez de água, seria a prova de que há mais de um jeito de criar, nas palavras da Nasa, “sistemas químicos autossustentáveis”. Outras químicas exóticas – como moléculas baseadas em silício, em vez de carbono, em uma solução de nitrogênio líquido – também já foram consideradas para astros extremamente frios.

    1.
    A atmosfera é espessa, opaca e repleta de nitrogênio. Vista de longe, a Lua aparenta ser uma enorme almofada lisa, sem nada de interessante.

    2.
    Debaixo da espessa atmosfera, há um relevo rico e variado como o da Terra – mas feito de gelo, em vez de rocha. A sonda Huygens pousou lá em 2005.

    3.
    Montanhas e vales de gelo abrigam um “ciclo do metano”: lagos, rios, nuvens e chuvas da substância. Embora as chances sejam baixas, eles poderiam, pelo menos em teoria, sustentar alguma forma de vida exótica (com moléculas baseadas em silício em vez de carbono, por exemplo).

    4.
    Entre as duas camadas de gelo, há um oceano oculto. Como não há uma superfície mineral aquecida em contato com a água (caso da lua Europa, que você vê mais abaixo), a vida torna-se uma possibilidade remota no subterrâneo.

    5.
    O núcleo rochoso é revestido por uma camada de gelo sob pressão.

    Já Europa, lua de Júpiter, está mais próxima de um oásis de vida como a conhecemos. Debaixo da crosta de gelo de 15 km que envolve o planeta, há um oceano de 100 km de profundidade – nove vezes mais fundo que o local mais fundo da Terra, a Fossa das Marianas, no leito do Pacífico. O fundo desse oceano oculto entra em contato direto com o núcleo rochoso. O calor é fornecido por algo chamado força de maré: a maneira como a gravidade deJúpiter puxa e repuxa a lua em sua órbita. Com o calor, a água se aquece. Muito. Às vezes, um jato d’água perfura a camada de gelo e emerge na superfície. É expelido no espaço aberto como um vulcão.

    Em 2012, o telescópio Hubble fotografou uma dessas erupções: ela tinha 20 vezes a altura do Everest. Dado o que já sabemos da Terra, uma fonte de calor, uma superfície mineral e uma coleção de moléculas orgânicas são uma combinação propícia à vida.

    1.
    Em 2023, a sonda Europa Clipper tentará coletar amostras d’água ao longo de 45 rasantes.

    2.
    A água aquecida fura o gelo e é expelida na forma de imensos geysers.

    3.
    Manchas cor de ferrugem na superfície podem conter sais minerais – e material orgânico que foi exposto à radiação de Júpiter.

    4.
    O interior rochoso, aquecido pela força de maré gerada de Júpiter, contém fontes hidrotermais. Ambiente ideal para a vida.

    5.
    A camada de gelo de 15 km talvez seja dividida em placas tectônicas como as da Terra.

    O que espera-se encontrar em lugares como Titã e Europa? Com muita sorte, micróbios. Nas palavras de Edward O. Wilson, de Harvard, “qualquer que seja a condição da vida alienígena, quer ela floresça na terra firme e no mar, quer ela apareça apenas em pequenos oásis, ela consistirá majoritária ou inteiramente em micróbios”. Wilson se baseia, é claro, no fato de que a vida na Terra consiste majoritariamente em micróbios. O planeta é deles. Cada centímetro cúbico de esponja de pia suja contém 54 bilhões de bactérias de 362 espécies. As que não gostam de pia podem viver em lagos de soda cáustica, na água fervente de chaminés submarinas e até no caldo ácido de rejeitos de mineração.

    Por 3,5 bilhões de anos, toda a vida na Terra foi unicelular, e não há um ambiente a que bactérias não se adaptem. Um dos pilares do estudo da vida alienígena são justamente esses bichinhos sem frescura – que, de semelhantes a nós, não têm muito mais que o DNA. Eles mostram o caminho para sobreviver em praticamente qualquer situação. Se uma sonda enviada a Europa – caso da Europa Clipper, planejada pela Agência Espacial Europeia (ESA) para 2023 – analisasse amostras de material orgânico ejetadas pelos vulcões d’água, teríamos uma oportunidade única de detectar indícios de vida microscópica.

    Os exoplanetas

    Luas são uma coisa. Mas e os planetas de outras estrelas – os exoplanetas? Bem: coletar material de análise in loco ainda é uma meta utópica. Não há uma tecnologia de propulsão que dê conta sequer de alcançar Proxima Centauri – a estrela mais próxima do Sol, que abriga um planeta com potencial para ter água líquida. Também não há nada que nos permita observar diretamente um exoplaneta: eles não emitem luz própria, e a quantidade de luz refletida não é suficiente para alcançar nossos olhos.

    Na verdade, telescópios caçadores como o recém-aposentado Kepler usam truques bem mais sutis para detectar exoplanetas. Da sombra que o planeta faz quando passa na frente de sua estrela, é possível deduzir seu tamanho. Da maneira como a estrela oscila, sai a massa – pois estrelas “dançam” um pouquinho em resposta à gravidade de seus planetas. Tendo em mãos tamanho e massa, calcula-se a densidade – que diz, por exemplo, se o planeta é sólido ou gasoso. Por último, caso o planeta tenha atmosfera (como o nosso), a luz da estrela que atravessa a atmosfera antes de nos alcançar carrega consigo informações sobre o coquetel de gases que a compõem.

    A imagem acima ilustra a queda sutil na luminosidade de uma estrela (2) quando um planeta passa em sua frente – em comparação à luminosidade quando o planeta está ao lado ou atrás dela (1 e 3). É por meio desta técnica, chamada “método de trânsito”, que telescópios como aposentado Kepler detectam exoplanetas.

    A imagem acima ilustra a queda sutil na luminosidade de uma estrela (2) quando um planeta passa em sua frente – em comparação à luminosidade quando o planeta está ao lado ou atrás dela (1 e 3). É por meio desta técnica, chamada “método de trânsito”, que telescópios como aposentado Kepler detectam exoplanetas. (Yasmin Ayumi/Superinteressante)

    Esse coquetel, por si só, é uma pista. Por exemplo: a Terra, no início, praticamente não tinha oxigênio na atmosfera. O gás só passou a predominar graças à invenção da fotossíntese (feita inicialmente por cianobactérias; hoje, também pelas plantas). Atmosferas com anomalias desse tipo podem ser indício de ambientes fora de equilíbrio, alterados por seres vivos.

    “Oxigênio e metano juntos na atmosfera de um planeta são bons indicadores de um processo biológico”, diz Abel Méndez, diretor do Laboratório de Habitabilidade Planetária da Universidade de Porto Rico, em Arecibo. “Qualquer um dos dois poderia ser produzido sozinho por um processo não biológico, mas se são produzidos juntos, um reage com o outro e ambos somem. Precisa haver um processo biológico fazendo a reposição constantemente.”

    As muitas Terras que há no céu

    No gráfico, conheça alguns exoplanetas – isto é, planetas de outras estrelas – com potencial para abrigar vida

    1.
    Para abrigar vida dependente de água líquida, como a nossa, um exoplaneta não pode ficar nem tão longe de sua estrela que ela congele, nem tão perto que ela evapore. O nome dessa região é zona habitável. No gráfico, a zona habitável é a área laranja listrada.

    2.
    Estrelas são classificadas por temperatura. Cada faixa de temperatura é chamada por uma letra, e tem cor e tamanho característicos – veja o gráfico. Quanto mais quente é uma estrela, mais longe fica a sua zona habitável.

    3.
    Para ler o gráfico, é preciso saber que a distância entre um planeta e sua estrela é medida em UAs – a distância entre o Sol e a Terra (149 milhões de km). Planetas de estrelas frias precisam ficar bem mais perto delas para receber o mesmo calor que a Terra.

    Proxima B
    Distância da estrela: 0,05 UA
    Tamanho: não pôde ser calculado, mas deve ter aproximadamente o mesmo tamanho que a Terra
    Duração do ano: 11,2 dias
    Distância de nós: 4,2 anos-luz

    É o mais próximo de nós, e também um dos mais similares à Terra. Talvez sofra do mesmo fenômeno que a Lua: o acoplamento de maré, em que há um lado claro, constantemente virado para a estrela, e um lado escuro, extremamente frio. Ou seja: um lado em que sempre é dia, e outro que é sempre noite. Nesse caso, a vida só seria possível na faixa intermediária, de temperatura mais amena.

    Kepler-442B
    Distância da estrela: 0,4 UA
    Tamanho: 60% da Terra
    Duração do ano: 112 dias
    Distância de nós: 1206 anos-luz

    Recebe 70% da luz da Terra e tem uma gravidade uns 30% maior. Ou seja: é friozinho e pesado.

    Sistema Trappist-1
    Distância da estrela: entre 0,029 UA e 0,037 UA
    Tamanho: igual à Terra
    Duração do ano: entre 2 e 6 dias
    Distância de nós: 39,6 anos-luz

    Não é um planeta: são oito, parecidos com a Terra em tamanho e composição química e apertadinhos a uma distância bem pequena de sua estrela (que é do tipo M, bem menor e mais fria que o Sol). Quatro deles, D, E, F e G, podem ser habitáveis.

    Kepler-186f
    Distância da estrela: 0,43 UA
    Tamanho: 17% maior que a Terra
    Duração do ano: 129 dias
    Distância de nós: 582 anos-luz

    Foi o primeiro exoplaneta parecido com a Terra encontrado pelo Kepler, em 2014. Continua promisor, apesar da distância.

    Kepler-452b
    Distância da estrela: 1 UA
    Tamanho: 50% maior que a Terra
    Duração do ano: 384 dias
    Distância de nós: 1.830 anos-luz

    Ele é quase igual à Terra, e orbita uma estrela quase igual ao Sol. Até seu ano tem duração parecida com o nosso.

    A equação de Drake

    A equação abaixo foi rabiscada pelo astrônomo Frank Drake em 1961 (reza a lenda, num boteco), e depois apresentada em uma reunião com 11 cientistas interessados no tema da vida extraterrestre inteligente. Ela serve para calcular quantas civilizações inteligentes há na Via Láctea – o valor N.

    A equação de Drake

    “N”, o resultado, é o número de civilizações inteligentes na Via Láctea. Para calculá-lo, multiplique os números abaixo:

    “R*” é a taxa anual de produção de estrelas na Via Láctea.
    São 7 por ano, segundo um estudo de 2006.

    “fp” é fração de estrelas que têm planetas.
    Este número é comprovadamente próximo de 100%: quase toda estrela tem um planeta. Portanto, fp = 1.

    “ne” é fração de estrelas com planetas habitáveis.
    A estimativa mais recente é 40%. Logo, ne = 0,4.

    “fl” é a fração de planetas habitáveis com vida.
    A reunião de 1961 estimou que, onde quer que a vida possa surgir, ela vai surgir: 100% Portanto, 1.

    “fi” é a fração de planetas com vida inteligente.
    Vida inteligente é um negócio raro. Vamos supor que só surja em 0,1% dos casos – uma previsão ligeiramente otimista. O biólogo evolutivo Ernst Mayr lembra que já existiram 50 bilhões de espécies na Terra, e só uma (nós) é inteligente.

    “fc” é a fração de planetas com vida inteligente que alcançam o estágio tecnológico necessário para se comunicar com ondas eletromagnéticas.
    O chute do Drake foi 20%. Mas aqui já estamos entrando no território da ficção científica.

    “L” é o tempo de vida de uma civilização capaz de se comunicar por ondas de rádio.
    Pura especulação. Vale qualquer número.

    A solução da SUPER deu 56. Ou seja: temos companhia! Mas vale uma advertência: a equação de Drake não é feita para ser resolvida, e sim contemplada. Coloque os valores que quiser. E divirta-se!

    É difícil, claro, cravar um valor preciso para essas variáveis. Conforme o otimismo de quem atribui os números, dá para concluir que há 20 ou 50 milhões de civilizações compartilhando a galáxia conosco.

    Um pessimista diria que a vida inteligente, na verdade, é algo estúpida. E, por isso, rara. Faz pouco mais de um século que aprendemos a nos comunicar por longas distâncias via rádio; mesmo assim, estamos à beira da autodestruição: bombas nucleares, aquecimento global, ecossistemas desequilibrados… Se todas as civilizações forem tão danosas para si próprias quanto a nossa, elas podem ser como bolhas que emergem e desaparecem por aí constantemente, sem nunca alcançar um estágio tecnológico realmente avançado. Essa seria a explicação para o silêncio aterrador do cosmos.

    Um otimista em excesso, por outro lado, talvez não ficasse tão feliz assim em encontrar ETs mais inteligentes que nós. Na biologia, há um conceito chamado fenótipo estendido. Ele consiste no raciocínio de que não há diferença entre a concha produzida pelo corpo de um caracol e o dique que um castor constrói entrelaçando madeira: ambos são manifestações visíveis de um instinto, gravado nos genes.

    Uma cidade iluminada à noite não é bem um exemplo de fenótipo estendido: nossa inteligência e cultura atingiram um estágio tal que erguer construções não é mais uma mera resposta automática ao instinto de se abrigar. Resta saber se um ET inteligente entenderia isso – ou veria Londres ou Rio de Janeiro como meros formigueiros. Arthur Clark resumiu: “Só existem duas possibilidades: ou estamos sozinhos no Universo ou não estamos. Ambas são igualmente assustadoras”.

    Saiba mais

    Os dados sobre número e natureza dos exoplanetas potencialmente habitáveis são da Nasa e do Planetary Habitability Observatory (PHO), da Universidade de Porto Rico em Arecibo (link). Agradecemos Abel Méndez.

    Sobre o a analogia entre fogo e vida: A Grande História da Evolução, Richard Dawkins. Cia. das Letras, 2009.
    Sobre vida, entropia e as palestras de Schrödinger: O Que é Vida, Erwin Schrödinger. Editora Unesp, 1997.
    Sobre a história da descoberta do DNA: The Double Helix, James Watson. Touchstone, 2001.
    Sobre a dificuldade de formar uma proteína: Breve História de Quase Tudo, Bill Bryson. Cia. das Letras, 2004.
    Sobre a origem e a infância da vida: Microcosmos, Lynn Margulis e Dorion Sagan. University of California Press, 1997.
    Sobre o mundo RNA, mais especificamente: Criação: a Origem da Vida, Adam Rutherford. Zahar, 2014.

    A SUPER agradece a química Fernanda Almeida, o biólogo Nelson Caldini Junior, e o físico Hugo Carneiro Reis, professores do colégio Móbile, por uma conversa de duas horas sobre origem da vida – sem a qual a matéria não teria sido possível.

    O primeiro artigo científico de química pré-biótica, de Stanley Miller:
    A production of amino acids under possible primitive Earth conditions, 1953.

    Os três artigos científicos citados que descrevem a síntese de RNA a partir de condições pré-bióticas:
    Synthesis of activated pyrimidine ribonucleotides in prebiotically plausible conditions, 2009.
    A high-yielding, strictly regioselective prebiotic purine nucleoside formation pathway, 2016.
    Chemists find a recipe that may have jump-started life on Earth, revista Science, 2018.

    Dois dos melhores entre vários artigos especulativos sobre a química da vida em outros corpos celestes:
    A química da vida como não conhecemos, Pabulo Henrique Rampelotto, 2012.
    Saturn’s Titan: A Strict Test for Life’s Cosmic Ubiquity, 2009 (link).

    Sobre como detectar exoplanetas:
    Transit Light Curve Tutorial, de Andrew Vanderburg, Universidade Harvard (link).
    Doppler spectroscopy as a path to the detection of Earth-like planets, 2014 (link).


    Superinteressante

    O que havia antes do Big Bang?

    Antes do Big Bang, não havia o que chamar de antes. Ou era o que todo mundo pensava...

    Por Rodrigo Rezende

    (pixelparticle/iStock)

    A rápida expansão que deu origem ao Universo aconteceu bem aí, no lugar onde você está agora. Exato: no momento do Big Bang, todos os lugares estavam no mesmo lugar, ocupando um espaço bem menor que o pingo deste i. Fora desse minipingo não havia nada. E ainda não há.

    O Universo continua sendo só a parte interna do Big Bang. Não há nada lá fora. Nem tempo: passado, presente e futuro só existem aqui dentro. Difícil de imaginar, mas é a verdade: o dia do seu nascimento, do seu casamento e do seu funeral já estavam de alguma forma impressos naquele pingo de i. E continuam, em algum lugar do tecido cósmico. Fora dele é o “antes do Big Bang” – um limbo fora do alcance da ciência, ou da imaginação. Até por isso a maior parte dos cientistas acha perda de tempo pensar nesse limbo.

    Mas não faltam pesquisadores com ótimas teorias sobre o que existe lá fora, sobre o que teria acontecido antes de o próprio tempo existir. E essas ideias vêm com um bônus: uma revolução filosófica, capaz de mudar tudo o que você pensava sobre a existência. Seja lá o que for que você pensava.

    (pixelparticle/iStock)

    1. Um outro Universo

    No início, tudo estava tão espremido, mas tão espremido, que não tinha tamanho nenhum. O embrião do Universo tinha dimensão zero. É o que chamam de “singularidade”. E além da singularidade a ciência não consegue enxergar. O momento em que este ponto começou a se expandir ficou conhecido como Big Bang.

    Na verdade, você pode esquecer a parte do bang, porque a expansão não fez barulho. Não existe som no vácuo. E mesmo que existisse, não adiantaria nada, porque o Big Bang não aconteceu no vácuo, e sim em lugar nenhum. Nós estamos dentro do Big Bang agorinha mesmo. Desde lá o Universo se propaga como se fosse uma bexiga enchendo num ambiente além da imaginação. Um lugar ao contrário aonde não dá para você ir, porque não existe espaço para o acolher. Um lugar onde tempo também não existe. Seu relógio ficaria congelado. É o nada total. Absoluto. Rua do Bobos, número zero.

    Essa história de um ponto tão pequeno que sequer tem dimensões parece só uma abstração sem sentido. Mas não é. Para começo de conversa, as singularidades, segundo a hipótese mais aceita, existem hoje mesmo. E são mais comuns do que parecem. Há um monte delas acima de nós agora mesmo. Dez milhões só na nossa galáxia. É que você as conhece por outro nome: buracos negros. Esses ralos cósmicos são basicamente pontos de densidade infinitamente grande e dimensões infinitamente pequenas. Em resumo: são como o Universo era na época do Big Bang. A diferença é que eles estão dentro do Universo, em vez de serem o Universo.

    Para entender melhor um buraco negro, o melhor jeito é aprender a receita para construir um. Primeira parte: pegue 1 milhão de planetas Terra e funda todos eles até formar uma bolona, com massa equivalente à de 3 estrelas iguais ao Sol. Quanto maior a massa de alguma coisa, maior a gravidade. No caso da nossa bola, ela teria uma força gravitacional tão poderosa que nada teria como ficar em sua superfície sem começar a ser tragado para dentro do solo. Até a própria superfície começaria a ser engolida.

    Isso realmente acontece com as estrelas gigantes, bem maiores que o Sol, quando elas morrem. Uma estrela gigante só se mantém de pé porque a energia liberada pela fusão de átomos no seu centro compensa a gravidade. Quando acaba o combustível, acaba a festa.

    A bola que um dia foi uma estrela vai diminuindo de tamanho e fica cada vez mais densa. A força gravitacional também se concentra, puxando ainda mais a matéria para o centro da bola. É um astro esmagado pela própria gravidade, esmagado até o ponto em que não mais o que esmagar. Ele não deixa de existir, mas se torna um ponto desprovido de largura, altura ou comprimento. Uma singularidade. Além daí, a ciência não consegue enxergar – até porque a luz é engolida pelo buraco negro. Não dá para saber o que acontece no centro do dito cujo. Até porque não acontece nada.

    Perguntar isso é tão absurdo quanto questionar o que havia antes do Big Bang. Por causa do seguinte: grosso modo, quanto maior é a gravidade, menor é a velocidade com que o tempo passa para você. E no buraco negro a gravidade é infinita. Se você pudesse ficar ao lado de um buraco negro sem ser estraçalhado, um segundo ali equivaleria a zilhões de anos para quem ficou na Terra. Caso você entrasse em um e pudesse sair, veria que, lá fora, o Universo já teria acabado, mesmo que tivesse durado para sempre. Um buraco negro é o fim do tempo. Olhe para o céu e fite o centro da galáxia, onde vive mesmo um buraco negro gigante. Você estará vendo um ponto onde o tempo não existe mais.

    A semelhança entre o interior de um buraco negro e o Big Bang é tão violenta que qualquer criança se sentiria tentada a dizer que, no fundo, eles são a mesma coisa. Alguns físicos também. É o caso de Lee Smolin, do Perimeter Institute, no Canadá. Diante de tantas coincidências, ele propôs o seguinte no final dos anos 90: que a singularidade de onde viemos era nada menos que a singularidade de um buraco negro de outro Universo. O Big Bang foi o começo do tempo e do espaço, certo? No interior de um buraco negro o tempo e o espaço acabam. A ideia de Smolin, então, é que estamos do outro lado de um buraco que existe em outro Universo. Sendo assim, nosso Cosmos tem um pai, um avô… E filhos, nascidos de seus próprios buracos negros.

    Segundo Smolin, os universos-filho herdam as características cosmológicas dos universos-pai, mas com pequenas variações. Ele não tirou isso da imaginação, mas da Teoria da Evolução. Darwin mostrou que seres vivos nascem com mutações que podem melhorar ou piorar suas chances de deixar descendentes. Essas variações podem fazer surgir mais buracos negros ou menos dentro do universo-filho. Nisso, os universos mais aptos – ou seja, os que criam mais buracos negros – se reproduzem mais. E compõem a maior parte da população de universos.

    Se Smolin estiver certo, quem olhasse esse conjunto de Universos do lado de fora veria uma grande árvore da vida. Uma boa teoria para o que havia antes do Big Bang. Mas ela não responde o que teria dado origem ao suposto “primeiro universo”. Para isso, temos que ir mais longe. Ao item 2.

    (Atypeek/iStock)

    2. Choque de titãs

    Com vocês, a Teoria das Supercordas. Resumindo bem, ela diz o seguinte: todas as partículas fundamentais – as indivisíveis, menores que um átomo – são, na verdade, cordinhas vibrantes. Se vibram em um certo “tom”, dão origem a um tipo de partícula – um elétron, por exemplo. Em outro tom, geram um quark… (que compõe os prótons e nêutrons). E por aí vai. Até compor o punhado de partículas que forma todo tipo de matéria e energia que há por aí.

    Para que isso aconteça, segundo a teoria, as cordas precisam vibrar em mais dimensões do que as 3 de espaço que conhecemos, caso contrário não atingem os tons que eles imaginam. E esse é o ponto: a teoria das cordas abre as portas para dimensões extras. No finalzinho do século 20, cientistas partidários da teoria propuseram um novo modelo para o Big Bang com base nessa ideia de outras dimensões.

    Funciona assim: antes da grande explosão, o que havia eram espaços tridimensionais vagando sem nada dentro numa 4ª dimensão. Para conceber esses espaços, imagine dados. Esses dados vivem uns ao lado dos outros, no condomínio tranquilo da 4ª dimensão. Ninguém interfere na vida de ninguém, já que todos têm seu espaço tridimensional próprio. (cada um no seu cubo, hehe). Mas, de tempos em tempos, acontece um evento de dimensões cósmicas: esses espaços se trombam. A batida enche de energia o ponto da colisão. E ele explode em todas as direções dentro de uma das membranas 3D. Seria basicamente o que conhecemos como Big Bang.

    Mas nesse caso ele não teria vindo do nada. Seria o filhote de um choque de titãs cósmicos. Isso torna a origem de tudo um evento tão banal quanto um tropeção, possível de acontecer a qualquer momento. O problema: comprovar a existência das dimensões extras é hoje tão impossível quanto saber o que acontece dentro de um buraco negro. Como diz o físico Paul Davies: “Talvez os teóricos das cordas tenham tropeçado no Santo Graal da ciência. Mas talvez eles estejam todos perdidos para sempre na Terra do Nunca”. Hora de ir para uma terra ainda mais misteriosa.

    (Atypeek/iStock)

    3. País das maravilhas

    Há chances de um evento bizarro acontecer neste momento: seu celular atravessar o seu crânio. Isso é uma afirmação séria, da teoria científica mais comprovada – e mais difícil de entender – de todos os tempos: a física quântica. Apesar de ostentar o título de teoria mais esquisita e anti-intuitiva já concebida pela ciência, a física quântica ganha em exatidão de qualquer outra.

    Se o objetivo é descrever o comportamento de uma quantidade ridiculamente grande de partículas subatômicas fervilhando freneticamente a uma temperatura 10 trilhões de trilhões de vezes superior à do Sol, é quase impossível não usá-la. Ela funciona como uma espécie de superzoom em espaços menores que o núcleo de um átomo.

    Pena que, às vezes, a teoria quântica tem um efeito tão devastador quanto uma câmera de alta definição em um rosto cheio de rugas: revela todos os detalhes “deselegantes” que se escondem no interior da matéria. No mundo quântico, partículas surgem do nada e desaparecem. Esse micromundo é oscilante, assimétrico, caótico, descontínuo, imprevisível. Uma terra sem lei. Ou melhor, uma terra com uma única lei: a da probabilidade.

    Por isso, existe uma probabilidade não apenas do celular atravessar sua cabeça mas de qualquer coisa acontecer. Um elefante aparecer na sua cozinha, por exemplo. Elefantes só não se materializam em cozinhas porque os efeitos quânticos acabam diluídos no mundo macroscópico. Muitas partículas teriam que surgir do nada, e em sincronia, para formar um elefante! É algo tão improvável que não merece consideração.

    Mas imagine o seguinte: o Universo inteiro é um megacassino onde cada partícula subatômica é uma roleta girando. Para ganhar algo no cassino, é preciso que, em um pedacinho do Cosmos, todas as roletas – e haja roleta: há 10000000000000000000000000000000000000000000000000000000000000000000000000000000000 partículas no Universo observável – tirem o mesmo número.

    Completamente impossível, não? A resposta seria sim, não fosse um detalhe importante: estamos tratando de escalas de tempo bem maiores que os 13,7 bilhões de anos do nosso Universo. Segundo os teóricos da física quântica, dependendo do tempo que se passa jogando, é possível que o resultado das roletas da flutuação quântica gere algo surreal: uma bolha de matéria e espaço que se expande rapidamente até se desprender do tecido original.

    Ou seja, acontece um Big Bang. Se as roletas quânticas derem sorte no novo Universo, nasce outro dentro dele. E assim, basicamente ao acaso, vão pipocando Universos, cada um confinado às próprias dimensões de tempo e espaço. Tudo isso soa esquizofrênico, é fato. Como assim partículas que somem, reaparecem e oscilam sem parar? O que causa isso nelas? Com a palavra, o físico David Deutsche: “Infinitos universos paralelos”.

    Segundo ele, a interação com partículas de outros Universos na escala subatômica é a única explicação plausível para a espécie de chilique eterno que assola o mundo quântico. O que havia antes do chilique? Deutsche não arrisca uma resposta. O que ele e outros físicos fazem é buscar sentido para a ideia dos Universos paralelos. E chegaram a uma hipótese insana: a de que vivemos neles.

    Assim: neste Universo você continuará lendo este texto daqui a um minuto. Num Universo paralelo, você achará melhor ir tomar um café. Aí, no momento que você decide se vai se levantar ou continuar lendo, sua consciência vai para o Universo que contém a realidade escolhida. Uau. Bom, só esperamos que, em algum lugar, exista um Universo com a resposta definitiva para o que havia antes do Big Bang. Mas cuidado: ela pode ser aterradora também. Como a do item 4.

    (Atypeek/iStock)

    4. Uma máquina

    O Universo tem prazo de validade. Em alguns trilhões de anos, todas as estrelas vão ter se apagado. E tudo será um breu. Isso coloca uma questão: o que nossos descendentes vão fazer para escapar desse fim? A única resposta: construir um novo Universo, artificial. Uma simulação estilo Matrix, em outro tempo e outro espaço. Mas espera aí: e se já estivermos num Universo artificial agora?

    É que de duas uma: ou somos a primeira civilização inteligente e vamos construir nosso simulador de Universo um dia ou já estamos em um, feito em algum Cosmos que precedeu o nosso. “A probabilidade de estarmos vivendo dentro de uma simulação é próxima de 100%”, diz o filósofo Nick Bostrom, da Universidade de Oxford. Mas fica o conselho dele: “Qualquer um que mude a vida por causa disso se tornará um maluco solitário”. Tão maluco e solitário quanto este sujeito, o nosso Universo.

    Para saber mais

    Mundos Paralelos
    Mitchio Kaku, editora Rocco, 2009.

    O Tecido do Cosmos
    Brian Greene, editora Companhia das Letras, 2007.


    Superinteressante

    O estranho equipamento que a Nasa vai construir para fotografar planetas alienígenas

    Projeto prevê um telescópio espacial e uma enorme estrutura com pétalas a dezenas de milhares de quilômetros um do outro. Estudos confirmam a que tecnologia é viável

    Por A. J. Oliveira

    (NASA/JPL/Caltech/Reprodução)

    Sabe aquela expressão “tapar o Sol com a peneira”? É literalmente isso que a Nasa pensa em fazer com uma de suas novas e mais ambiciosas ideias para futuras missões.

    Só que não é o nosso sol que será tapado, mas sim estrelas distantes. Batizada de “Starshade”, a tecnologia é complexa: envolve um telescópio espacial e um gigante “girassol” a 40 mil quilômetros um do outro. E eles têm de estar extremamente sincronizados.

    Pense na dificuldade que é manter duas espaçonaves a uma distância dessas alinhadas com uma precisão de um metro.

    Flutuando no espaço, qualquer perturbação leve causada por efeitos gravitacionais ou outras forças pode arruinar uma observação. A técnica é muito engenhosa: a starshade tapa o sol distante (com pétalas que funcionam como a peneira) e permite que o telescópio veja mundos tão pequenos como a Terra. Em condições normais, estariam ofuscados pelo brilho.

    Por isso a técnica é considerada uma das mais promissoras para fazer imageamento direto de exoplanetas e caracterizá-los. Não há como negar que o design da starshade é incrível. Essas pétalas literalmente “florescem” no espaço, já que a montagem é automatizada. Este é um conceito ainda em desenvolvimento pela Nasa e, até agora, pesquisadores não sabiam se daria para manter o sistema funcionando diante de tamanha complexidade.

    Estudos conduzidos pelo Laboratório de Propulsão a Jato (JPL), na Califórnia, chegaram à conclusão de que sim — a estrutura é viável.

    A chave para o bom funcionamento da dupla caçadora de planetas alienígenas é uma câmera instalada dentro do telescópio espacial. Quando ele começar a ficar levemente desalinhado com a “peneira”, o sensor detecta esse deslocamento no padrão da luz estelar que está entrando.

    Michael Bottom, um engenheiro do JPL, desenvolveu um programa de computador para verificar se esse método de fato funcionava. E os resultados foram promissores. “Podemos detectar uma mudança de até 2,5 centímetros na posição do starshade, mesmo com essas distâncias enormes”, disse em comunicado. Isso resolvido, só faltava se certificar se teria como corrigir o problema na outra ponta. Colegas do JPL cuidaram dessa parte.

    Engenheiros criaram algoritmos que atuam em conjunto com o programa de Bottom para descobrir o momento exato em que o starshade deve acionar seus motores para preservar o alinhamento. Ambos os trabalhos mostraram que o telescópio espacial e o girassol são capazes de se manter ajustados, mesmo separados por distâncias ainda maiores, de até 74 mil quilômetros. Tapar o sol com a peneira promete ser muito produtivo para os astrônomos.


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    Quem será a primeira mulher a pisar na Lua?


    Conheça um pouco sobre as 12 astronautas da Nasa que têm chances de entrar para a história em 2024

    Por A. J. Oliveira

    (Edgar D. Mitchell/NASA)

    Estamos nos aproximando do aniversário de 50 anos do pouso da Apollo 11 na superfície lunar, que marcou a primeira vez que humanos pisaram na Lua. E, conforme 20 de julho se aproxima, a Nasa se empenha cada vez mais em consolidar o programa Ártemis – que tem a meta de mandar astronautas de volta ao satélite natural em apenas cinco anos. Desta vez, não serão apenas homens que caminharão por lá: a agência prometeu que, pela primeira vez, uma mulher pisará na Lua.

    Até o nome do novo programa foi pensado para dar destaque ao fato: Ártemis era a irmã gêmea de Apolo na mitologia grega. Sendo assim, é muito pouco provável que a Nasa dê para trás com os planos. Mas, afinal, quem será a sortuda que fará a viagem até a Lua – e ganhará, de quebra, um lugar garantido nos livros de história ao lado de Neil Armstrong? É impossível dar um palpite certeiro, já que o projeto ainda dá seus primeiros passos. Apesar da incerteza, especialistas arriscam palpites.

    É quase certo que a eleita virá do grupo de 12 astronautas mulheres que já estão em atividade na agência. Elas estão na meia-idade, entre seus 40 e 53 anos, e tem carreiras e habilidades bem variadas. Antes de realizarem o sonho de qualquer criança, elas eram pilotas da força aérea, médicas e cientistas. Foram escolhidas em meio a milhares de pessoas que tentaram entrar para o corpo de viajantes espaciais da NASA desde o final dos anos 1990.

    De acordo com antigos astronautas e especialistas no assunto ouvidos pela AFP, a experiência deve falar mais alto nessa escolha. Entre uma novata e alguém que já esteve no espaço, a agência deve priorizar a segunda opção, até por que tempo é curto. Por isso as cinco mulheres que entraram para o programa de astronautas na última turma de 2017 têm bem menos chances de estar nessa primeira viagem. Dentre as 12 candidatas, duas se destacam.

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    São Anne McClain e Christina Koch, ambas veteranas de voos espaciais. McClain pilotou helicópteros no exército e estará a bordo da ISS – a Estação Espacial Internacional – até o final de junho. Bem-articulada, com olhar convicto, ela evoca algumas das características clássicas dos recrutas da agência. Já Koch, engenheira aficionada por escalar montanhas, está prestes a bater o recorde de mulher com mais tempo em órbita: 11 meses.

    As duas ficaram famosas em março após quase terem protagonizado a primeira caminhada espacial totalmente feminina – mas a Nasa deu uma bela gafe: não tinha duas roupas de astronauta nas medidas adequadas e teve de cancelar.

    Duas colegas da mesma turma que elas, a de 2013, também devem concluir seus treinamentos em breve e fazer seu primeiro voo para a ISS. Jessica Meir é bióloga marinha especializada em pinguins, e Nicole Mann foi pilota de caça no Iraque a no Afeganistão. Qualificação elas também têm de sobra. Em entrevista de 2016, as quatro declararam estar prontas para ir a Marte caso a oportunidade surgisse. Dificilmente diriam um não na cara da Lua.

    Como não existe limite de idade para ir ao espaço, outra grande candidata para a missão é Sunita Williams, que completará 58 anos em 2024 e agora se prepara para seu terceiro voo espacial. Apelidada de Suni, ela já pilotou cerca de 30 aeronaves diferentes em seus tempos de carreira militar. Serena Aunon-Chancellor e Kate Rubins também estiveram em órbita recentemente.

    Além dessas sete mulheres, as outras cinco continuam na ativa, mas não voam desde 2010. No final das contas, o processo de escolha é meio turvo e nem sempre é fácil saber o que se passa na cabeça da Nasa nessas horas. É difícil prever quem será a primeira mulher a pisar na Lua em 2024. Mas uma coisa é certa: quem quer que ela seja, jamais será esquecida.


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