Nada está uma maravilha, mas entramos 2017 com otimismo realista
Eliane Cantanhêde
Depois de tanto sofrimento e tanto sobressalto em 2016, que tal iniciarmos 2017 com alguma esperança e um otimismo realista? Não custa nada tentar, já que, como diria o Tiririca, pior do está não fica. Os sustos ainda serão muitos, porque a Lava Jato segue em frente, o Congresso que aí está continuará aí e a recuperação da economia vai continuar sendo um processo lento. Mas há algumas indicações de que, devagar e sempre, a coisa agora vai. Oremos!
A Lava Jato está completando três anos, com vários troféus inéditos: 24 peixes graudíssimos presos, 14 deles já condenados e dez na fila esperando sua vez, e a expectativa é de retorno de R$ 10 bilhões desviados para bolsos (e bolsas) criminosas. Mas o melhor nem é isso, é que a Justiça, o MP, a PF e a Receita conseguiram desvendar e seguir a trilha inteira de um esquema monumental de corrupção que atravessou continentes.
Como escreveu Fernando Gabeira, “os líderes comunistas do passado criaram internacionais para marcar posições políticas diferentes. A decadência chegou ao ponto de se criar a partir do Brasil uma internacional da corrupção” – e com o BNDES no centro do esquema. Se capitaneava essa “internacional da corrupção”, o Brasil passa a capitanear o combate à corrupção. Da vergonha, hoje, ao orgulho nacional, amanhã.
No Congresso, as coisas são como são. Eleitores de todo o País votaram naqueles partidos, deputados e senadores e, na nossa busca de otimismo realista, a sorte é que, pelo menos, o presidente Michel Temer já presidiu três vezes a Câmara. A situação política e econômica não virou uma maravilha da noite do impeachment para o dia da sua posse e a sua popularidade é abaixo do razoável, mas uma coisa é certa: se o X da questão é aprovar reformas no Congresso, como a PEC do Teto dos Gastos, arrisca-se dizer que Temer é o homem certo na hora certa.
Por fim, a economia. Está uma maravilha? Longe disso. Ficará uma maravilha em 2017? Longe disso. Os empregos jorrarão? Longe disso. Mas... já há sinais de luz no fim do túnel. Ainda tênue, tremelicando, mas indicando que o viés rumo ao abismo começa a ser revertido.
Numa comparação do Boletim Focus, do BC, a previsão de inflação de 2015 para 2016 era de 6,8%, acima da meta de 4,5% e até mesmo do teto da meta, de 6,5%. A de 2016 para 2017 é de 4,85%, bem próxima da meta real. Pode-se alegar que não há motivos para fogos e brindes, pois, com recessão, a inflação cai mesmo, de madura. Mas outros indicadores essenciais vão na mesma linha.
A previsão do dólar para 2016 era de R$ 4,21; a dos juros, de 15,25%; a do crescimento do PIB, de 2,95% negativos. Para 2017, é de dólar a R$ 3,50; juros a 10,50%; PIB de 0,50 positivos. Ou seja: as perspectivas parecem bem melhores do que já foram, o que projeta um 2017 ainda periclitante, mas mais animador.
Outra ressalva é que previsões nem sempre se confirmam, e aí mesmo tem-se o dólar (para ficar num único exemplo), que o Focus previa fechar R$ 4,21 em 2016 e fechou quase R$ 1 menos que isso. O importante no confronto entre as projeções para 2016 e para 2107, portanto, não é o número a número, mas a reversão de expectativas, de confiança, de potencialidades. As lentes veem um 2017 menos sombrio do que viram 2016. Ah! E o valor de mercado da combalida Petrobrás mais que dobrou em 2016. São sinais de alento.
Logo, deixo aqui votos de que o mundo esteja melhor em 2017, apesar da troca de Obama por Trump, que o Brasil atravesse bem a pinguela, apesar dos inevitáveis solavancos, que os 12 milhões de desempregados tenham melhor chance, apesar das dificuldades das empresas, e que o senhor, a senhora e todos nós possamos ser mais alegres e ter mais otimismo. Adeus, 2016! Feliz 2017!
Estadão