sexta-feira, 19 de agosto de 2016

Indústria continua demitindo apesar de sinais de retomada na economia

por MARIANA CARNEIRO

A indústria segue cortando postos de trabalho, apesar da aparente estabilidade da produção nas fábricas.
Segundo dados divulgados nesta quarta (17) pelo IBGE, o número de trabalhadores empregados no setor encolheu em 1,4 milhão entre o segundo trimestre de 2015 e o mesmo período deste ano. Em relação aos três primeiros meses de 2016, o desemprego industrial aumentou 0,5%.
Desde março, a produção industrial vem aumentando gradualmente. A aparente estabilização, porém, não está sendo acompanhada pelo estancamento do desemprego.
Segundo Rafael Cagnin, economista do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento da Indústria (Iedi), após um ano segurando a abertura de vagas, em 2015, o setor passou a fazer demissões com mais força neste ano.

"O fechamento de postos é um movimento mais recente. Nenhuma empresa demite se pretende recontratar daqui a seis meses. Por isso, a reação do mercado de trabalho deverá ser posterior à recuperação do setor."
Um dos fatores que ajudam a explicar a melhora da produção junto com o aumento do desemprego é que a reativação nas fábricas ocorre num momento em que a indústria está com os motores abaixo de sua capacidade.
Em julho, segundo sondagem da FGV, a utilização da capacidade instalada estava a 73%, abaixo do nível de julho de 2015 e ainda muito inferior aos padrões históricos do setor (acima de 80%).
Como parte de uma base tão baixa, a indústria tem capacidade a consumir até chegar ao ponto de contratar novamente pessoal.
Cagnin aponta outro efeito, mais estrutural, que joga contra o emprego em uma recuperação do setor. Empresários têm relatado ao Iedi que pretendem investir na modernização de suas linhas de produção, como forma de cortar custos operacionais de maneira permanente. Isso teria como efeito adverso a menor demanda por pessoal.

"Todo movimento conjuntural deixa um rastro estrutural. A indústria que entrou na crise não será a mesma que sairá da crise", afirma.
Os dados do IBGE já indicam que o setor vem perdendo importância na geração de empregos, como consequência da recessão e da crise do setor, que é anterior ao mergulho da economia, em 2014.
Terceiro principal empregador, atrás apenas do comércio e da administração pública, o setor encolheu de 14,2% para 12,8% em sua participação na ocupação. O recuo ocorreu no último ano, entre o segundo trimestre de 2015 e o mesmo período de 2016.
A maior queda ocorreu em São Paulo, onde a indústria, então o principal empregador, perdeu o posto para o comércio em 2016. No Estado, a participação do setor na ocupação caiu de 18,6% para 16%.

PERSPECTIVA
Cagnin afirma, porém, que a redução do número de ocupados entrou num ritmo mais lento no segundo trimestre deste ano, o que poderia sugerir uma estabilização do desemprego. No primeiro trimestre, o número de trabalhadores ocupados no setor recuara mais: 1,5 milhão.
Fernando de Holanda Barbosa Filho, economista da FGV, prevê, contudo, que poderá ser pela indústria a recuperação do emprego, quando ele retornar, no ano que vem.
"Há alguns sinais de que a indústria estancou, mas a atividade econômica não está evoluindo ainda. Se isso se concretizar, a tendência é que o emprego retorne antes no Sudeste e no Sul", afirma, referindo-se às regiões onde estão localizados os principais parques industriais do país.
Ele prevê que a ocupação volte a aumentar em 2017.
Espalhado pelo país, o desemprego já afeta mais de 10% da força de trabalho em 18 Estados e no Distrito Federal. Há um ano atrás, o problema estava localizado em apenas quatro Estados.
Fonte: Folha Online - 18/08/2016 e Endividado

TRUMP VOLTA A REFORÇAR O DISCURSO ANTI-ESTABLISHMENT!

(MS) 1. As nomeações de Stephen Bannon e Kellyanne Conway para chefe executivo e gerente de campanha, respectivamente, estão sendo apontadas pela mídia como uma desistência em dar um tom mais moderado a Trump, que pretendia o Partido Republicano e o chefe de campanha Paul Manafort, após quedas nas pesquisas nacionais e nos estados indecisos (Swing States ou Battleground states). Segundo analistas do Wall Street Journal, Washington Post, Real Clear Politics, Politico e USA Today, a tendência é a volta do discurso anti-establishment (contra as instituições oficiais) e um tom mais agressivo que fizeram sucesso durante as primárias.
2. Bannon é ligado à família Mercer, importante família conservadora e que se espera ser agora a principal doadora. As matérias apontam que o rebaixamento de Manafort é a "destruição da última ponte" que ligava Trump aos doadores republicanos mais tradicionais e, portanto, um novo caminho também com relação ao financiamento, já que Trump continua correndo atrás de Clinton na área.
3. Porém, as mudanças, principalmente o nome de Stephen Bannon, dono do site super conservador Breitbart News, têm gerado críticas mesmo de dentro do universo conservador. O site RedState, referência entre os sites conservadores, diz que "Trump julga o caráter e a competência das pessoas somente pelo quão boas elas são com ele. Se a pessoa o elogia, ela faz um ótimo trabalho". "Se você conhece Bannon você sabe quão desesperada essa jogada é. Ou isso, ou ele já sabe que perdeu e quer recompensar aqueles que o ajudaram a chegar até aqui".
4. Segundo Rick Tyler, ex-porta-voz da campanha de Ted Cruz, Stephen Bannon tem uma personalidade extremamente volátil e nunca trabalhou em campanhas.

 

Ex-Blog do Cesar Maia

A SITUAÇÃO DO MERCOSUL! ENTREVISTA AO ESTADO DE S. PAULO (13) DO ESPECIALISTA EM RELAÇÕES ECONÔMICAS INTERNACIONAIS FELIX PEÑA, QUE AJUDOU A REDIGIR OS ARTIGOS DO TRATADO DE ASSUNÇÃO!

Professor da Universidade Tres de Febrero, Peña estuda a ligação entre os dois maiores países do bloco, Brasil e Argentina, desde a década de 70, quando o temor de um conflito entre ambos plantou a semente do bloco regional. Em entrevista ao Estado, Peña sugere que os integrantes do Mercosul deveriam se indispor por temas mais importantes do que a presidência do bloco.
1) P- Por que o Mercosul chegou a este estágio? R- Para entender o Mercosul é preciso combinar dimensões política, econômica e legal. Sabíamos que começávamos como um mercado comum cuja meta era articular o sistema produtivo. // P- É a pior crise do bloco? R- Já houve outras. O fundamental é ter as regras do jogo claras e o Mercosul muitas vezes foi fraco nisso. Tendo isso em vista, vai se repetir de novo. // P- Qual é a saída? R- Quando se senta para negociar, se você é Brasil e eu sou Argentina, é óbvio que blefamos no começo. Por isso é preciso um terceiro, alguém que faça o que faz o diretor da Organização Mundial do Comércio, escute as partes e largue um papelzinho com uma posição intermediária. Não temos isso hoje e os presidentes e ministros ficam expostos.
2) P- A presidência do Mercosul ganhou importância repentina? R- Não existe a presidência do Mercosul. Alguém já ouviu falar em presidência da ONU? Existe o presidente da Assembleia. O que diz o Protocolo de Ouro Preto é: o Conselho de Ministros tem uma presidência que muda a cada seis meses, não diz que esse país é o presidente do Mercosul. A cada seis meses se passa a presidência do Conselho, que, para isso, precisa se reunir. // P- Brasil e Paraguai dizem que Caracas não cumpriu as normas. A Venezuela diz que a norma manda trocar a cada seis meses. Quem tem razão? R- Sempre na norma internacional há vazios, os espaços para a política. Eu recomendaria consultar o sistema de resolução de controvérsia, que pode levar um, dois ou três meses pra se manifestar. Quando há um conflito desse tipo não importa a preferência ideológica, ganhar tempo é um bom caminho. Não devemos colocar mais fogo nisso.
3)  P- Esse grupo pode avaliar o que fazer se Caracas não cumpriu as normas de adesão ao bloco? R- Se não cumpriu no prazo o processo de adaptação do ordenamento jurídico nacional, há um bom argumento contra. A resposta da Venezuela, ao questionar não ser o único a descumprir, também é interessante. A única maneira é perguntar aos que sabem. Escutemos os integrantes do órgão consultivo. // P- O Uruguai diz que está colocando o jurídico sobre o político ao defender a posse da Venezuela. Em relações internacionais, o importante é manter o equilíbrio. O problema não é a diferença de opinião, mas se existem formas de arbitragem. Precisamos impedir que a situação agrave problemas entre os países e dentro deles. Talvez isso explique a posição do Uruguai. Tudo indica que na Frente Ampla (coalizão governista de esquerda uruguaia) não haja 100% de acordo sobre o tema.
4)  P- A circunstância em que a Venezuela entrou no bloco tem a ver com a confusão atual? R- Provavelmente. A suspensão do Paraguai, em 2012, causou um ressentimento, uma lembrança da Guerra do Paraguai (Brasil, Argentina e Uruguai se uniram para punir Assunção). Por isso, a Venezuela fez há pouco uma referência à Tríplice Aliança, sabia que é um tema de impacto para os paraguaios. // P- A entrada da Venezuela mais ajudou ou atrapalhou? R- A situação interna se complicou e alguns dizem que há efeitos de contágio. Do ponto estritamente econômico, é um sócio atraente, um bom comprador e poderia produzir grãos como outro sul-americano. Há ainda o tema energia. Foi uma boa decisão incluir o país.
5)  P- O Mercosul resiste à entrada de países com perfil diferente? R- O Mercosul foi concebido como Mercado do Cone Sul. Deveria ser Brasil, Argentina, Paraguai, Uruguai e Chile. Os chilenos não quiseram. Uma curiosidade é que um minuto antes de fecharmos o acordo, o Celso Amorim (ex-chanceler brasileiro) levantou o braço e propôs modificar um artigo e pediu para mudar o nome, tirar a palavra cone. Aceitamos. // P- O sr. quer dizer que o Brasil já imaginava incluir a Venezuela? P- Sim, era óbvio do ponto de vista brasileiro. Se formos fazer algo, que seja toda a América do Sul. // P- A Venezuela já presidiu o bloco por um ano. O que mudou? R- É preciso perguntar a quem argumenta isso. Tenho impressão que se criou um problema político complicado.
6)  P- O bloco corre risco de divisão? R- A adesão é voluntária, ninguém é obrigado a ficar no Mercosul, são nações soberanas. Isso vale para o Brexit ou para o Mercosul. Agora, se não quer sair ou não tem um plano B, senta e negocia. // P- O conceito dos grandes blocos está em discussão? R- No caso da União Europeia, a razão para a iniciativa britânica foi a guerra. No caso do Mercosul, havia um claro sinal de colisão. E existiam indícios claros de que os EUA entravam para negociar preferencialmente com países da América Latina. Portanto, era claro para Brasil e Argentina que em alguns setores era essencial acertar preferências entre nós.
7) P- Especialistas insistem que o Mercosul está travado. A figura que se imaginou no início segue válida, o trabalho por meio de acordos setoriais. Juntos, podemos sair ao mundo. Não há país que não queira negociar agricultura com Argentina e Brasil.

 

Ex-Blog do Cesar Maia

TSE lança aplicativo para que eleitor faça denúncias

O presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), ministro Gilmar Mendes, participou nesta quinta-feira (18) do lançamento de um aplicativo que vai permitir que cidadãos façam denúncias sobre irregularidades cometidas tanto por candidatos como por partidos durante as campanhas eleitorais.

Brasília - TSE lança o aplicativo Pardal para as eleições municipais de 2016. O aplicativo será mais um mecanismo da Justiça Eleitoral para coibir abusos e práticas irregulares durant

Pardal vai permitir que cidadãos façam denúncias sobre irregularidades cometidas por candidatos e por partidosJosé Cruz/Agência Brasil

Chamado de Pardal, o aplicativo foi desenvolvido pelo Tribunal Regional Eleitoral do Espírito Santo (TRE-ES) com a colaboração do Tribunal Regional Eleitoral da Paraíba (TRE-PB) em 2012 e agora poderá ser usado nacionalmente.

Para o ministro, o aplicativo vai ajudar a Justiça Eleitoral a identificar as irregularidades que forem percebidas pela população e fazer com que as pessoas se informem sobre as regras válidas para as campanhas. “Certamente vai contribuir para que o cidadão se informe sobre como deve ser de forma regular a campanha e também,  naqueles casos em que ele perceber ou se indignar com algum tipo de abuso, usar esse software, mandar informação que chegará ao Ministério Público e este fará a devida avaliação, inclusive para tomar as providências judiciais que devem ser requeridas”, disse.

De acordo com o ministro, entre as denúncias que podem ser feitas estão as sobre propagandas irregulares. “Em geral, abuso de poder econômico manifestado nas propagandas irregulares, certamente isso pode subsidiar depois questões que vem ao tribunal como ação de impugnação de mandato eletivo ou mesmo ações de investigações judiciais. Podemos ter fenômenos de compra de voto de alguma forma, portanto tudo isso pode ser detectado por esse tipo de constatação”, disse o ministro.

Outros aplicativos

Além do Pardal, o TSE está disponibilizando outros aplicativos que podem ser baixados pela população. Um deles é o Candidaturas 2016. Com este aplicativo o eleitor terá informações dos candidatos que vão concorrer às eleições deste ano. Estarão disponíveis, por exemplo, dados pessoais e informações sobre a prestação de contas dos candidatos.

Outro aplicativo que já está disponível, segundo o TSE, é o Agenda JE que traz o calendário eleitoral e o JE Processos, que vai permitir que o eleitor acompanhe o trâmite de processos. De acordo com o tribunal, ao todo serão lançados 11 aplicativos relacionados às eleições deste ano. 

 

Agência Brasil

 

Comitê Olímpico dos EUA pede desculpas

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Claro, ELE cobrirá

Ontem, segundo a Folha, João Doria "voltou a dizer que cobrirá o que não arrecadar em fundos para bancar a campanha, orçada em R$ 20 milhões, mas não disse...” [veja mais


Por enquanto

Depois de concluir o relatório da Operação Triplo X, a PF indiciou Neici Warken, suposta dona de um triplex no Solaris, e o empresário Ademir Auada. Cinco funcionários da Mossack Fonseca... [leia mais


Sobraram ao menos 4.849. Assim não dá

Um levantamento obtido pelo Estadão concluiu que "4.849 políticos que tentam concorrer nas eleições municipais deste ano no País podem ter os registros de candidatura impugnados... [veja mais


Um legado para lá de legal

"Os oito diretores-executivos do Comitê Organizador dos Jogos Olímpicos tiveram sucessivos aumentos de pagamentos que totalizam R$ 26,8 milhões entre 2011 e 2015. Os valores incluem...” [leia mais

 

Recessão arrefece peso da carga tributária

Por causa da forte recessão, o quanto é pago de impostos no Brasil em relação ao PIB caminha para registrar, este ano, seu nível mais baixo desde 2001, informa o Estadão. Não é motivo para comemoração. 

- O rolê internacional de Temer
- Superpoderes para Moreira Franco
- Preocupação em excesso
- A crise tem nome
- O pódio das construtoras
- O batismo de fogo

 

Juiz transformou vítima em culpado, diz fotógrafo que levou tiro da PM no olho

 

Camila Boehm - Repórter da Agência Brasil

“O juiz está assinando embaixo e atestando o direito da Polícia Militar atirar na cara de qualquer pessoa em uma manifestação pacífica”, disse hoje (18) o fotógrafo Sérgio Andrade da Silva sobre a decisão da Justiça que negou seu pedido de indenização por danos morais e físicos após perder o olho esquerdo por conta de um disparo de bala de borracha da PM em manifestação ocorrida em junho de 2013. Silva vai recorrer da decisão.

A decisão do juiz Olavo Zampol Júnior, que saiu em 10 de agosto, culpa o próprio fotógrafo pelo ferimento, alegando que ele estava conscientemente localizado entre a polícia e os manifestantes, e julga improcedente o pedido de indenização mesmo sem ouvir Silva nem suas testemunhas.

“No caso, ao se colocar o autor entre os manifestantes e a polícia, permanecendo em linha de tiro, para fotografar, colocou-se em situação de risco, assumindo, com isso, as possíveis consequências do que pudesse acontecer, exsurgindo desse comportamento causa excludente de responsabilidade, onde, por culpa exclusiva do autor, ao se colocar na linha de confronto entre a polícia e os manifestantes, voluntária e conscientemente assumiu o risco de ser alvejado por alguns dos grupos em confronto”, disse o juiz na decisão.

Para Silva, a interpretação é absurda. “Além de ele transformar a vítima em culpado, a decisão desse juiz foi feita sem a presença de testemunhas. Ele não me convocou, não convocou nenhuma das minhas testemunhas. Simplesmente assinou aquilo que ele acredita ser verdadeiro e obviamente se utilizando da falácia de transformar vítima em culpado”, disse o fotógrafo.

Confronto

Sobre a noite da ocorrência, o fotógrafo contou que era o quarto ato contra o aumento da tarifa daquele ano e que a manifestação era pacífica até que os policiais bloquearam a Rua da Consolação, por onde os manifestantes pretendiam passar. A medida provocou discussão e bate-boca entre a polícia e os manifestantes e o clima ficou tenso, segundo Silva. “Até que a polícia que estava ali, mal preparada, não aguentou a pressão da multidão que estava na rua e começou a atirar bomba de efeito moral, bomba de gás lacrimogêneo, bala de borracha”, lembrou.

“Eu não pulei na frente da bala, em nenhum momento eu procurei enfrentar a polícia, enfrentar aquela situação”, destacou. “Eles usaram mais de 500 artefatos de armas menos letais só naquela noite. Isso é zona de guerra. Contra pessoas que estavam ali discutindo, falando alto e com um cartaz na mão. Ninguém estava partindo para cima da polícia.”

Para o fotógrafo, a decisão do juiz Zampol protege a ação violenta da polícia e do Estado, já que atirar com bala de borracha na altura da cabeça de alguém não condiz com o protocolo de atuação policial. “Isso [atirar na cabeça] só reforça o despreparo [da polícia], porque conseguimos provar também que o protocolo de manuseio do armamento, da bala de borracha e da própria bomba de efeito moral, tem toda uma lógica de uso, o qual a polícia militar não segue”, argumentou. A regra prevê o uso desses instrumentos apontados para baixo.

“São eles mesmos [polícia] que escreveram essa instrução, não é a sociedade que fala 'olha, você tem que atirar no meu joelho', são eles que dizem isso. A empresa que vende essa arma é quem diz isso e eles mesmos [policiais] não seguem à risca a própria forma de conduta que eles se colocam. É absurdo em cima de absurdo”, acrescentou.

Morte do cinegrafista Santiago

Silva lembrou outro caso de jornalista atingido durante manifestações, o do cinegrafista da TV Bandeirantes Santiago Andrade – que morreu após ser atingido por um explosivo disparado por um manifestante em 2014 –  e disse que o colega não foi culpabilizado pelo incidente. A Justiça recebeu denúncia contra duas pessoas pela morte de Santiago.

“O Santiago como vítima não foi culpabilizado pela sua própria morte. Você olha para o meu caso e para o caso do Alex [Silveira], essa lógica não funcionou”. O fotógrafo Alex Silveira também perdeu um olho por ferimento de bala de borracha em 2000, porém, apenas em 2014 seu processo foi julgado e ele também foi considerado culpado pela Justiça.

“O pior dessa situação é que isso está virando precedente, o que eles chamam de jurisprudência. O que aconteceu comigo não é uma novidade. Porque já aconteceu com o Alex, então estou sendo a segunda vítima dessa história e vai ter a terceira. Se não lutarmos agora para derrubar isso [a decisão], com o próximo fotógrafo, o próximo jornalista, o próximo cinegrafista, vai acontecer”, lamentou.

 

Agência Brasil