domingo, 21 de junho de 2015

Apesar do frio, público lota a Virada Cultural em SP

México e Brasil, por Jurandir Soares

Passei esta semana na Cidade do México vendo e revendo pessoas e lugares. Em termos de rever, o principal é o Museu Nacional de Antropologia. Ali está contada não só a rica história das civilizações pré-colombianas no México, mas toda a história da humanidade. A revolução do homem, passo a passo, é mostrada em nichos que reproduzem o modo de vida de cada época. E chega-se ao esplendor da civilização asteca e sua destruição pelos espanhóis.

Mas o México é um país de contrastes – como o Brasil. Tem corrupção, tem a violência do narcotráfico e tem crescimento econômico. A violência deixou a sua marca mais recentemente com o assassinato de 43 estudantes pelo narcotráfico no estado Guerrero. Ao passear pelo Paseo de La Reforma, a mais importante e charmosa avenida da Cidade do México, deparei-me com uma barraca montada pelos familiares, com as fotos dos estudantes que foram mortos e queimados, exigindo uma explicação do governo – algo que ainda não houve. As gangues de narcotraficantes infernizam o país e matam-se entre si. A disputa é pelo fértil mercado norte-americano. São famosos os cartéis Golfo e Los Zetas.

A corrupção é outro mal endêmico do país. Não há negócio que envolva governantes, políticos e empresários que não tenha propina. A senadora Laura Rojas, do PAN, Partido de Aliança Nacional, em atenção aos clamores populares, iniciou um movimento com vistas a criar cinco leis básicas de combate à corrupção. Pretende que seja uma ação integrada entre o parlamento e organizações da sociedade civil. A repercussão do anúncio foi boa, resta ver se irá se concretizar.

De concreto, o México tem a sua economia que, apesar da crise mundial, segue com números positivos. Em 2014, o crescimento do PIB foi de 2,4% e para este ano a projeção é de crescimento de 4%. Esses índices são puxados pelo petróleo, que está em baixa, e pela indústria automobilística, que cresce cada vez mais. E o mercado é o mundo. O México é o quarto maior exportador de automóveis. Cerca de 80% de sua produção é vendida ao exterior, sendo que dois terços vão para o mercado americano. Ou seja, a indústria automobilística mexicana já passou para trás suas concorrentes do Brasil e dos EUA. Mais um detalhe deste país de contrates, muito parecido com o Brasil.

Fonte: Correio do Povo, página 8 de 21 de junho de 2015.

Violência custa US$ 255 bi ao país

Os custos do Brasil com violência somaram 255 bilhões de dólares em 2014, o equivalente a 8% do PIB nacional, estima o Institute for Economics and Peace (IEP)m instituto de pesquisa australiano que estuda o impacto econômico da violência desde 2008. Em relação a outros 161 países, o Brasil ocupa a quinta posição no ranking dos que mais gastam com violência, atrás de EUA, China, Rússia e Índia.

Fonte: Correio do Povo, página 6 de 21 de junho de 2015.

Leite e queijo. Só eles?, por Rogério Mendelski

Em qualquer país deste planeta, quem adultera alimentos vendidos para a população visando ao lucro demasiado é enquadrado na lei como criminoso que atenta contra a vida. Contra a vida de todos os que consomem esses produtos criminosamente acrescentados de produtos químicos e de outras porcarias que, se ingeridos isoladamente, ameaçam a saúde dos consumidores.

Aqui no RS, desde maio de 2013, o Ministério Público Estadual (MPE) assumiu o comando das investigações sobre o leite adulterado e em dois anos de trabalho oito operações foram realizadas em diversos municípios com muitas prisões em todas elas com poucos danos pessoais dos responsáveis, considerando-se que o risco e o lucro compensam uma breve privação da liberdade.

Tanto isso é verdade que, se os fraudadores tivessem medo da prisão e dos prejuízos materiais (confisco de bens, por exemplo), nossas autoridades sequer teriam realizado uma segunda operação. No entanto, estamos na oitava Operação Leite Compen$ado e agora ingressamos na investigação de um dos mais importantes derivados do leite, o nosso velho e bom queijo tão importante como alimento na mesa de todos nós – pobres e ricos – que não dispensamos um sanduíche, uma pizza ou uma lasanha.

E por que oito operações no leite e a primeira para o queijo e sabe-se lá se já não consumimos iogurte, leite em pó, doce de leite? Porque a lei favorece essa bandidagem disfarçada pela fisionomia quase inocente dos adulteradores que não assustam os consumidores, vítimas de outros bandidos que usam moletom com capuz, boné com a aba para trás e um 38 na cintura.

Vender alimentos adulterados para a população é terrorismo sem sequestros, cabeças decapitadas e/ou bombas em mercados públicos. Muda a intensidade do impacto, mas o efeito moral tem semelhanças proporcionais. Talvez as porcarias acrescentadas no leite e no queijo não tenham efeitos danosos em adultos saudáveis, mas quem garante a qualidade de vida de bebês, crianças e idosos que tenham consumido?

Pensando nisso, o deputado federal Heitor Schuch (PSB) quer modificar o artigo 272 do Código Penal aumentando a pena para os fraudadores de alimentos. Na China, quem adultera alimentos recebe pena de morte. Por aqui, uma cadeia prolongada talvez mude a mentalidade desses canalhas.

Ação das autoridades

Neste caso do leite e do queijo adulterados, a ação de nossas autoridades foi rápida – MPE, Judiciário e Polícia –, mas tudo esbarra na legislação generosa e cheia de brechas para dar uma sensação de impunidade aos fraudadores.

Vale a pena

Convém não esquecer que os fraudadores têm posses e todos ganharam muito dinheiro com os produtos adulterados com três fontes de renda extra: baixo custo na fraude e lucro alto na venda. Além, é claro, da sonegação de tributos.

Heitor Schuch (1)

O deputado socialista gaúcho conhece o assunto porque sempre esteve à frente da Fetag e se ducvidarem ele entra num estábulo ordenha as vacas e sabe que ração se dá para um suíno. E ele fala da impunidade que protege os adulteradores de leite.

Heitor Schuch (2)

“Os fraudadores continuam agindo, infelizmente pela quase certeza da impunidade e sabedores das baixas penas que lhe são imputadas. Prova disso é a Operação Queijo Compen$sado deflagrada pelo MPE, em sequência às sucessivas operações contra o leite adulterado.”

O projeto

O deputado Heitor Schuch no seu projeto de modificação do artigo 272 do CPB aumenta a pena para oito a 12 anos de reclusão, além de multa, equiparando-o ao artigo 273, que trata da punição sobre adulteração de produtos destinados a fins terapêuticos ou medicinais.

Fonte: Correio do Povo, página 6 de 21 de junho de 2015.

sábado, 20 de junho de 2015

Ministro da Justiça rebate sugestão de proibir contratos com empreiteiras investigadas

Segundo ministro, proposta do juiz Sergio Moro pode prejudicar a economia brasileira: http://glo.bo/1QJrSoM
José Eduardo Cardozo disse que qualquer punição às empresas, em relação ao projeto de concessões, seria ilegal e ofensivo à Constituição.
G1.GLOBO.COM

Comunista adora dinheiro, dos outros...(Luciana Genro) Que vergonha‏

Date: Sun, 17 May 2015 23:39:51 +0000
From
Subject: Enc: Comunista adora dinheiro, dos outros...(Luciana Genro) Que vergonha


Em Domingo, 17 de Maio de 2015 20:01, Miguel Netto Armando <miguelne@uai.com.br> escreveu:


 
 Comunista adora dinheiro,  dos outros...
Sem concurso!!!
PROFESSORINHA LUCIANA GENRO CONSEGUE
'BOQUINHA' NA ASSEMBLEIA GAÚCHA!!!
Descrição:  https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiif6Ro3Z4GyO4Mple74sYIHRCR4aRmK8AD_w2LpRS55w9m6Aq7l6FyvX2Ljh8g3wlzI-AlktDBiUEvDrPibgzH52BNCzKGTNV15begh5Wvil1Tt_FDfjAh1iDVamUeFBvbjkJbmdjKVqU/s1600/luciana+boquinha.jpg
Ela mesma, a rainha da esquerda brasileira Luciana Genro.
Desde ontem é a coordenadora-geral da bancada do PSOL na Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul,
Vai receber R$ 16,9 mil mensais.
Já estou com pena da Professorinha Luciana. Vai fazer a coordenação-geral de toda a bancada do PSOL.
Sabe quantos deputados têm o partido tri-de-esquerda?


UM. PEDRO RUAS.
   (Marido da Luciana)
Não, não é Piadinha. 
Comunista espertinha!  E com o dinheiro dos impostos cobrados do brasileiro. 
Muito bom, para ela. 
Divulgue, é o mínimo que podemos fazer.

PÁTRIA NÃO EDUCADORA

Ernesto Caruso

       As trapalhadas dos governos petistas de Lula e Dilma são de morrer de rir, misto de indignação e gozação para não enfartar, e poderiam compor quadros de humor do “Zorra total” ou “A Praça é nossa”. As duas figuras estão presentes nas charges de toda a ordem com autores e atores profissionais e amadores. Vídeos em profusão. Humor negro.
       Do apoio a Zelaia que pretendia se perpetuar no poder em desacordo com a Lei Magna de Honduras, fiasco da diplomacia ao transformar a Embaixada do Brasil em palanque do “companheiro”, ao livro do Mujica com destaque na confissão de Lula sobre o mensalão. Do gesto obsceno do assessor Marco Aurélio, face ao desastre da TAM, que lhe valeu o apelido de TOP TOP, à devolução dospugilistas cubanos ao ditador Castro, perpassando pelo asilo ao terrorista italiano Cesare Battisti, pela declaração do “vamos expulsar do partido os petistas corruptos”, pela ação da Petrobrás a pretender indenização face aos prejuízos provocados pelas empreiteiras, etc.
       A penúltima trapalhada vem da expressão jeitinho brasileiro como incentivo e criatividade aos mais de 11 mil brasileiros participantes do programa Ciências sem Fronteiras nos Estados Unidos. Não é que o Institute of International Education parceiro do Governo brasileiro no intercâmbio sugere que os alunos se virem como puderem enquanto não chega a verba destinada ao transporte, estada e alimentação que lhes é destinada como suporte fundamental à permanência naquele país.
       Claro que reina descontentamento e revolta entre os estudantes. O Ministério da Educação pediu que se desconsiderasse a nota anterior e que a verba já foi depositada. Mas, não deixa de ser uma trapalhada no planejamento e por em risco os estudantes que podem dispor ou não de recursos para tais fins.
       As famílias reclamam dos desagradáveis avisos de cobrança enviados pelas Universidades, alegando que as mensalidades não estão em dia, que a responsabilidade é do Governo Federal além do baixo valor da bolsa, questionando como alguém de baixo poder aquisitivo poder fazer uso do programa.
       O mais grave, no entanto é a absorção da expressão “jeitinho brasileiro” como meio de resolver qualquer dificuldade momentânea mesmo empregando desvios de conduta. Já tão corriqueiros nas atividades governamentais a tal ponto que um político da base de apoio, ex-ministro do Lula e Dilma, Carlos Lupi, presidente do PDT, disse que os petistas roubaram demais, que o PT esgotou-se, que o PT não inventou a corrupção, mas roubaram demais...
        Em se tratando do esforço no mote Pátria Educadora, os exemplos das cúpulas administrativas do país não são bons. Dar “jeitinho” soa remendo, falta de escrúpulo e desrespeito como no balanço ajeitado da Petrobrás.
       Criatividade como incentivo ao crescimento, vencer a rotina e ultrapassar obstáculos, sim, burlar normas, não.
       O fiasco do FIES demonstra a falta de planejamento no longo prazo a considerar que sustentar um curso superior custa caro e o abandono no meio do caminho sem condições financeiras de prosseguir às próprias expensas deixou milhares de estudantes frustrados.
       Pior, desiludidos com as instituições e esquecidos por suas entidades estudantis que no passado engrossavam os protestos nas ruas a lembrar contra o aumento do preço na refeição do restaurante do Calabouço. Nos dias atuais a falta de higiene geral em uma das maiores universidades públicas do país, a UFRJ, não incomoda as entidades estaduais e nacional dos estudantes. 
Hoje,
​ a UNE
​ 
é governo. Foi tempo que significou o esforço maior no impeachment do Collor pelo Fiat Elba à frente dos caras pintadas.

Reprovação do governo Dilma chega a 65%, segundo o Datafolha

Avaliação é a pior dos últimos anos: http://glo.bo/1Ne2FNL
Levantamento apurou que 10% dos brasileiros classificam o governo como 'bom' ou 'ótimo'.
G1.GLOBO.COM

Destruição econômica e social

Adriano Benayon * - 15.05.2015

Foi muito divulgada esta asserção do professor Wanderley Guilherme dos Santos: "Depois de criado, o Estado liberal transforma-se no estado em que a hegemonia burguesa não é seriamente desafiada. Trata-se de um estado cuja intervenção em assuntos sociais e econômicos tem por fim garantir a operação do mercado como o mais importante mecanismo de extração e alocação de valores e bens."

2. Esse cientista político destaca a óbvia natureza intervencionista (não-admitida) do Estado dito liberal, sem, porém, propor uma denominação que saia dessa contradição em termos.

3. De resto, os muitos que repetem o termo (neo)liberal, mesmo sabendo-o falso, colaboram com a enganosa comunicação social do capitalismo.

4. O mesmo cientista afirma: “O Estado liberal não é de modo algum um Estado não intervencionista. Muito pelo contrário, o Estado liberal está sempre intervindo, a fim de afastar qualquer obstáculo ao funcionamento 'natural' e 'automático' do mercado."

5. Aí está um engano sério. O mercado, nas mãos dos oligopólios e carteis, não funciona natural nem automaticamente: ele é controlado e manipulado por eles, e lhes serve de álibi, ao usarem o termo impessoal “mercado” em relação a ações praticadas por pessoas físicas, a serviço de grupos concentradores de poder econômico e financeiro.

6. Isso é exatamente o contrário do funcionamento 'natural' e 'automático' do mercado e também do que teorizaram os clássicos da economia sobre mercados livres, com participantes igualmente submetidos à concorrência.  Na realidade, a intervenção do Estado capitalista:

1) afasta a aplicação dos mecanismos de defesa econômica do Estado, coibidora dos abusos praticados pelos concentradores;
2) promove o aumento da concentração do poder da oligarquia financeira, através de subsídios governamentais e das políticas fiscal e monetária, entre outras.

7. Portanto, capitalismo é o sistema político e econômico que não admite restrições à concentração dos meios de produção e financeiros, ademais de a fomentar, nas mãos da oligarquia, por menor que seja o número das pessoas que a compõem.
8. Nos países centrais ou imperiais, o Estado liderou o desenvolvimento econômico e nunca abandonou o fomento ao setor privado. À medida que este ganhou corpo, o Estado passou a apresentar-se como liberal, a fazer concessões no campo social e a adotar, na política, formas exteriormente democráticas.

9.  Nos períodos de crescimento e bem mais nos de crises,  a concentração foi crescendo,  e regrediram os avanços, surgindo o fascismo (antes da 2ª Guerra Mundial). E o fascismo não-declarado, como nos EUA, desde antes do inside job de setembro de 2001 (destruição das Torres Gêmeas e míssil lançado no Pentágono).
10. A concentração do poder financeiro mundial alcançou  o incrível grau presente (147 corporações transnacionais, vinculadas a apenas 50 grupos financeiros, detendo mais de 40% da riqueza mundial). 
11. Isso se foi intensificando por mais de 100 anos após se terem os concentradores tornado bastante  fortes, para que o Estado capitalista os protegesse adicionalmente. Os setores mais aquinhoados foram o das armas e a finança.
12. O grande impulso recente deu-se  através da financeirização da economia, abusando os bancos dos privilégios de criar moeda e títulos de toda sorte. Seus acionistas e executivos locupletaram-se assim, beneficiados pela desregulamentação dos mercados financeiros, a qual lhes proporcionou abusar da alavancagem e de fraudes diversas.
13. Ilustrativa da subordinação do Estado capitalista, falsamente dito liberal, à oligarquia financeira foi a resposta ao colapso financeiro de 2007/2008, provendo mais de 20 trilhões de dólares em ajuda aos banqueiros delinquentes, ao invés de realizar as correções estruturais necessárias ao bem da economia e da justiça.
14. De há muito,  as intervenções imperiais  - militares ou não - recrudescem em todos os continentes, gerando sistemas políticos pró-imperiais e Estados vassalos, como se tornou o Brasil, à raiz do golpe de Estado de agosto de 1954, passando a partir das Instruções 113 da SUMOC e seguintes (janeiro de 1955) a subsidiar os investimentos estrangeiros diretos, de modo absurdo.

15. Não há como falar em capitalismo periférico. Há somente indivíduos riquíssimos originários das periferias, como muitos outros dos países centrais, subordinados à oligarquia capitalista mundial.

16. À medida que essa oligarquia se foi apropriando, no Brasil, da estrutura econômica, foi também promovendo sucessivas intervenções e manobras, no campo das instituições políticas, que propiciaram intensificar ainda mais essa apropriação.

17. Temos agora mais uma crise. Nesta, a baixa resiliência – devida à desindustrialização e à desnacionalização – combina-se com o déficit das transações correntes exteriores, mais os  déficits das contas públicas nos três níveis da Federação, resultando em grande salto qualitativo para nova degradação econômica e social.

18. Consideremos as taxas básicas dos juros dos títulos públicos, uma das mega-fontes de agravamento do caos decorrente do “ajuste”  em curso.

19. Nos últimos cinco meses, a taxa SELIC foi elevada várias vezes. Era 11,25%, em novembro de 2014, e chegou a 13,25%, em 30.04.2015, o que significa taxa efetiva em torno de 16,25% aa.

20. Em artigo anterior, comparei a aplicação das taxas de 12% aa. e de 18% aa., durante 30 anos, sobre o atual montante da dívida mobiliária interna, de cerca de R$ 3 trilhões:  a primeira resultaria em R$ 90 trilhões, e a segunda em incríveis R$ 430 trilhões, quantia igual ao dobro da soma dos PIBs de todos os países do mundo.

21. A taxa atual alçaria o estoque da dívida para R$ 274,73 trilhões de reais.

22. Tal como as letais taxas de juros, as demais políticas  do “ajuste” só podem ter por objetivo concluir a desestruturação (destruição) econômica e social do País.

23. Em função dos estratosféricos juros da dívida e também da intenção restritiva do “ajuste”, os investimentos públicos sofrem enormes cortes. Do mesmo modo, a demolição de direitos sociais, incluindo generalizar a terceirização, significa extrair sangue de organismos anêmicos.

24. É inútil esperar resultados positivos de tais medidas, porque, na atual estrutura, dominada pelos carteis transnacionais, e dada a infra-estrutura existente, nenhum “ajuste” levará a diminuir significativamente o “custo Brasil”, qualquer que seja a taxa de câmbio.

25. Até mesmo as subsidiárias das transnacionais, que poderiam apresentar custos competitivos, inclusive por não precisarem do crédito local, absurdamente caro, preferem, em vez disso, auferir lucros fabulosos no País, reforçados pelos incríveis subsídios que lhes dão a União, Estados e municípios.

26. Elas remetem esses lucros ao exterior, disfarçados em despesas por serviços, superfaturamento de importações (dos equipamentos, máquinas e insumos)  e subfaturamento de exportações. Assim, seus custos são forçosamente altos.

27. Já as empresas de capital nacional vêm sendo alijadas do mercado, desde 1954.  Além de não contarem com as vantagens dos incentivos e subsídios, que só as transnacionais estão em condições de aproveitar, elas foram desfavorecidas pelas políticas públicas e deixadas à mercê das práticas monopolistas dos carteis multinacionais.

28. A política de crédito as afeta de modo especialmente agudo, pois os juros que despendem -  são múltiplos da taxa dos títulos públicos. Já as transnacionais, além de não necessitarem de crédito, bastando-lhes reinvestir pequena parcela dos lucros, têm acesso a crédito barato no exterior.

29. A partir dos anos 90 e após a devastação produzida pela dívida externa, passou-se às indecentes privatizações, já que a classe dominante eram os controladores das transnacionais, cujos  governos impõem suas vontades, diretamente e através de agentes, cooptados e corrompidos.

30. Sob o modelo dependente, o País carece de poder armado e financeiro para fazer valer seus interesses na esfera mundial, e sua inserção externa  é a pior possível, pois os segmentos de maior valor agregado e maior emprego de tecnologia são controlados pelos carteis mundiais.

31. A própria infra-estrutura, como a dos transportes, inclusive em sua orientação geográfica,  foi desenhada para servir o interesse das corporações estrangeiras, tal como a escolha dos investimentos, priorizando a extração de minérios em escalas imensas, com pouco ou nenhum processamento no País.

32. Também na agricultura, privilegia-se a grande escala, segundo as regras dos carteis mundiais do agronegócio e suas tradings, abusando-se dos agrotóxicos, transgênicos e fertilizantes químicos, para grande dano dos solos e da saúde pública.

33. Entre os grandes escárnios ilustrativos da submissão do Brasil à condição de periferia imperial é a Lei Kandir, que isenta de tributos as exportações primárias.  A Inglaterra entendeu, já no Século XIII, que era vital sair dessa condição, quando a lã de seus carneiros ia para as indústrias de Flandres e da Itália.


* - Adriano Benayon é doutor em economia pela Universidade de Hamburgo e autor do livro Globalização versus Desenvolvimento.

1914 e a Primeira Guerra Mundial: o suicídio da Europa

Agosto de 1914, o continente europeu, pelo menos na sua parte Ocidental, era um lugar invejado em todos os cantos da terra. Países como a Grã-Bretanha, a França, o Império Alemão e o Reino da Itália, além do padrão de vida, concentravam o maior número de invenções e de descobertas feitas até hoje, a maioria delas nos laboratórios onde trabalhavam parte significativa dos cientistas existentes no mundo daquela época, ao tempo em que celebravam a excelência das suas artes e o avanço tecnológico e civilizatório que atingiram.




"Ofensiva de soldados com máscara contra gás", do pintor Otto Dix: retrato do horror da Primeira Grande GuerraFoto: Wikimedia / Reprodução

Repentinamente, uma crise na região dos Bálcãs, envolvendo a pequena Sérvia e o Império Austro-húngaro, jogou a Europa e depois os demais continentes nos braços da morte. A guerra que aparecia inicialmente limitar-se ao Bálcãs espalhou-se como um campo em fogo pelo restante do globo. Declarada a guerra, que não tardou a ser denominada como a Grande Guerra, milhões de jovens da Europa, da América, da África e da Ásia e até da Austrália e Nova Zelândia entraram em combate (ao todo 50 milhões foram convocados).

Cegos pelo patriotismo e obedientes à Máquina de Extermínio dos seus respectivos impérios ou países a quem serviam, marcharam para o desastre, como se fizessem parte de um mortífero ritual de suicídio coletivo, sem que ninguém pudesse mais detê-los.

O historiador Christopher Clark chamou os responsáveis pela catástrofe de ‘Os sonâmbulos’, e o romancista vienense Hermann Bloch, na trilogia do mesmo título, registrou os filhos daquela época como ‘seres que vivem em estado letárgico, entre a agonia e a emergência de sistemas éticos’.

A contabilidade funesta
"Será razoável supormos que toda a civilização elevada desenvolve tensões implosivas e movimentos de autodestruição?", escreveu George Steiner no livro "No castelo do barba azul" (1971). "Será a fenomenologia do tédio e do anseio pela dissolução violenta uma constante na história das formas sociais e intelectuais a partir do momento em que ultrapassam um certo limiar de complexidade?”

“Armistício! Armistício!” A notícia varou o mundo. Os telégrafos enlouqueceram. O marechal Ludendorff, o supremo comandante da Reichwehr, o exército da Alemanha Imperial, encaminhara a solicitação de um armistício aos aliados. O II Reich tinha exaurido todas as suas forças.

Em novembro de 1918, a Grande Guerra chegara finalmente ao término. Em instantes as ruas e praças de Nova Iorque, Paris, Londres, Roma e tantas outras mais, encheram-se com as multidões exultantes com o fim da matança. Quatros anos antes, em 1914, as mesmas multidões inconscientes do vinha pela gente atiçaram com clarins marciais, gritos patrióticos e ramadas de flores, os soldados a partir para o fronte.


Naquele momento, em novembro de 1918, quando se anunciou que o mundo voltava à paz - contabilizando 8.5 milhões de mortos e um incalculável número de mutilados e feridos -, as ruas celebravam a sobrevivência.



Perplexidade
Para os historiadores do futuro certamente causará assombro a arrogante cegueira demonstrada pelas elites europeias: seus estadistas, seus generais e diplomatas, seus políticos, seus jornais, seus professores que enfatizaram "como era doce morrer pela pátria" no empenho que tiveram para alcançar a sua autodestruição.

Até o malfadado ano de 1914, era inquestionável o domínio europeu sobre o restante do mundo. Na Ásia, na África, na América Latina, na Austrália ou na Polinésia, tudo girava em função das necessidades e lucros dos interesses financeiros e estratégicos sediados no Velho Continente. Nenhuma ponte era erguida, nem um poste era instalado, nem estrada-de-ferro era estendida, nem fábrica inaugurada, que não tivesse nelas a presença de capitais europeus. E, em apenas quatro anos de morticínio, os estadistas europeus conseguiram desbarataram quase tudo.

A favor do Império Romano pode-se ainda dizer que a sua dissolução pelo menos foi consequência involuntária da chegada da maré bárbara que, inexorável, transbordou o Danúbio e o Reno, levou tudo de roldão. Mas qual a justificativa dos chefes de estado europeus para lançar sua juventude numa guerra de extermínio?

Previsões sombrias
É certo que Marx e, depois dele, Nietzsche, por motivações ideológicas diversas, previam catástrofes para os anos vindouros. Épocas onde o “proletariado” ou a “besta-loura” agiriam como o dissolvente “bárbaro interno”. E, tal como os dois pensadores, inúmeros outros artistas e poetas espelharam sentimentos incrivelmente destrutivos e ruinosos sobre as possibilidades futuras do Velho Mundo mergulhar no sangue. Ninguém, porém, imaginou que atingissem as dimensões trágicas das batalhas de Verdum (714 mil baixas), de Chemin des Dames, do Somme, de Ypres, de Tannenberg, de Caporetto ou de Galípoli.

Somente nas duas primeiras, o exército francês perdeu mais gente do que Napoleão em vinte anos de campanhas! Quase toda a riqueza acumulada em séculos de exploração do globo esvaiu-se num piscar de olhos. E, com ela vieram abaixo dinastias centenárias (Hohenzoller, Habsburgo, Romanov, e outras menores).

Freud, em Viena, chocado com o entusiasmo que a guerra provocara nos austríacos, forçou-se a rever suas teorias da civilização. Percebeu, estarrecido, que por de trás do mais sisudo e empertigado europeu batia o tantã de um selvagem. A cultura deles pareceu-lhe um falso verniz, bastando arranhá-lo para que a selvageria viesse fosse exposta à vista. Na guerra, Eros o deus do Amor foi destronado por Thanatos, o da destruição e morte visto ter ‘o coração de ferro e as entranha de bronze’.


Fronte de batalha durante a Primeira Guerra MundialFoto: Lieutenant W. I. Castle, Canadian Official photographer / Wikimedia / Reprodução



O horror nas trincheiras
O pior ainda estava para surgir. Passada a febre inicial da euforia patrioteira, os soldados foram convencidos a continuar lutando no fronte por quatro anos seguidos, enfiados em labirintos de lama, nauseabundos e tifosos, em razão dos generais e dos políticos lhes dizerem que aquela seria a “última das guerras”.

No entanto, mal as noticias da capitulação alemã, assinada em Compiège em 11 de novembro de 1918, se espalharam, um surdo furor vingativo instalou-se no espirito de muitos dos sobreviventes, do lado dos vitoriosos ou dos derrotados.

Entre eles, no estafeta do regimento List, Adolf Hitler que maldizia estar acamado, semicego, no hospital militar de Pasewal recuperando-se de um envenenamento por gás: no futuro, disse ele, “seremos desumanos, se for preciso!”

O enigma continua
A quem, afinal, pode-se responsabilizar pelo suicídio daquela civilização? Lenin e outros socialistas apontaram os imperialistas, os capitalistas, os oligopolistas, ou os militaristas, e até mesmo, como fizeram os antissemitas, os judeus.

George Steiner, o grande crítico, percebeu a grande tragédia resultar de uma sensação denunciada anteriormente por Baudelaire: o tédio! Desde a derrota de Napoleão em 1815, os europeus teriam mergulhado numa perigosa mistura de tédio - a “grosse Langeweile” de Shopenhauer; “l’ennui atroce” de Flaubert; o “spleen” de Baudelaire - com uma paixão nostálgica pela heroicidade, de volúpia pelo desastre e pelas ruínas, que os conduziu à morte na paisagem lunar provocada pelas explosões em Verdum e de tantos outros campos de guerra.


Na verdade, nunca se encontrou uma causa única comum aos que se envolveram na matança, todas as respostas são parciais com marcado compromisso ideológico que pouco satisfaço. A responsabilidade sobre a deflagração da Grande Guerra continuará sendo um dos enigmas a desafiar os séculos vindouros: por que os Europeus, continente mais civilizado do planeta, entraram em guerra em 1914 e não souberam mais pará-la?
Fonte:
Voltaire Schilling

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