terça-feira, 16 de junho de 2015

Estado do RS quer agilizar licenças ambientais

Atendimento integrado visa a reduzir processos de 944 para até 180 dias

A Secretaria do Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (Sema) quer diminuir de 944 dias para até 180 dias o prazo de espera para que os empresários recebam respostas sobre os pedidos de licenciamento ambiental. A nova proposta para concessão das autorizações foi apresentada ontem pela secretaria Ana Pellini, durante a inauguração da Sala de Atendimento Integrado, que foi criada para unir os trabalhos dos técnicos da Sema, da Fundação Estadual de Proteção Ambiental (Fepam) e da Fundação Zoobotânica (FZB).

O governador José Ivo Sartori, que participou da solenidade de inauguração, disse que não faz sentido um empreendedor esperar quase três ano para ter a resposta sobre um projeto.

A Sala de Atendimento Integrado começa a funcionar a partir de hoje na sede da secretaria, localizada na avenida Borges de Medeiros, 261, no Centro de Porto Alegre. No espaço, será oferecido atendimento ao empreendedor que procurar os técnicos da Sema para dúvidas referentes a casos de licenciamento ambiental.

Segundo Ana Pellini, a proposta do Estado foi unificar as análises dos pedidos para que o sistema de liberação possa ser ágil. “A unificação reduz o tempo de análise, que fica mais consistente. Porque é uma única diretriz, e não três órgãos com análises diferentes”, disse.

O serviço vai funcionar por agendamento, que poderá ser feito pelos sites www.sema.rs.gov.br e www.fepam.rs.gov.br.

Hoje existem 10.588 pedidos de licenciamento ambiental em análise pela Sema. Ana Pellini garantiu que não existe falta de funcionários para o serviço.

O horário de atendimento na sala será marcado através da informação do número do processo. Os empreendedores serão recebidos por técnicos responsáveis pelo licenciamento solicitado. Na ocasião, o processo será colocado à disposição para vistas, cópias, esclarecimento de dúvidas e obtenção de todas as orientações necessárias.

A instalação da sala ocorreu no mês em que a Fepam comemora 25 anos. Uma galeria de fotos de ex-presidentes da fundação foi instalada no local.

Fonte: Correio do Povo, página 15 de 16 de junho de 2015.

GM paralisa sua produção

Outros 5,2 mil entraram em férias coletivas no país

São Paulo – A General Motors (GM) interrompeu ontem a produção de veículos no país, com início das férias coletivas para outros 6,2 mil funcionários das linhas de montagem nas unidades de Gravataí (RS) e São José dos Campos (SP). A sede da GM, em São Caetano do Sul (SP), já estava com a produção suspensa desde o início do mês, para adequar a produção à queda da demanda.

A montadora é a segunda a parar a produção neste ano. Na semana passada, a Fiat deixou em casa os 19 mil trabalhadores da fábrica de Betim (MG). Eles retornaram as atividades ontem. A GM não confirma oficialmente o número de trabalhadores parados, mas ele se aproxima dos 19 mil, entre os que estão em férias coletivas ou tiveram os seus contratos suspensos temporariamente, segundo os sindicatos.

Em Gravataí, as férias coletivas para 10 mil funcionários se estenderão até 29 de junho. A fábrica era a única das três unidades da multinacional que não tinha adotado medidas para reduzir a sua produção neste ano. Em São José dos Campos, 1,7 mil empregados também entraram em férias coletivas ontem e ficam em casa até o dia 30. Segundo o sindicato local, as duas linhas de montagem dos modelos S10 e Trailblazer estão paradas. Além das férias, a GM mantém suspensos os contratos de 778 empregados em março.

Conforme a Anfavea, o setor empregava em maio 138.200 pessoas, contração de 1% em relação a abril e de 9,2% em comparação com maio de 2014. Cerca de 35 mil funcionários do setor estavam em casa, de licença ou com o contrato provisoriamente suspenso na última semana.

Fonte: Correio do Povo, página 5 de 16 de junho de 2015.

Metroviários de Porto Alegre em estado de greve

Preocupados pela falta de uma proposta em relação às reivindicações financeiras da categoria, os metroviários de Porto Alegre decidiram, em assembleia geral, na tarde de ontem, entrar em estado de greve. Uma proposta da Trensurb é aguardada até quinta-feira. Até a próxima assembleia, marcada para sexta-feira, os metroviários realizarão várias ações, como a distribuição de uma “Carta Aberta à População”. Segundo o presidente do Sindimetrô, Luiz Henrique Chagas, a categoria quer informar os usuários do trem sobre as condições precárias de trabalho na empresa, a falta de efetivo e campanha salarial.

“Entregamos nossa pauta de reivindicações em março e ainda não tivemos uma proposta concreta da Trensurb”, disse Chagas. Os metroviários reivindicam um reajuste salarial de 23,8%.

Fonte: Correio do Povo, página 15 de 16 de junho de 2015.

Menor e mais fragilizado do que antes por Taline Oppitz

O PT começa a semana em situação ainda mais fragilizada politicamente com o desfecho de seu 5° Congresso Nacional, que aconteceu em Salvador ao longo de três dias. Na prática, o partido saiu menor do que entrou. A opção de ala majoritária, representada pela Construindo um Novo Brasil, foi a de segurar resoluções mais fortes – contra a condução da área econômica, o ajuste fiscal, e a aliança com o PMDB, por exemplo –, para não desgastar ainda mais o Planalto e meio a um já delicado cenário. Ao decidir poupar o governo, no entanto, o PT assumiu parcela pessoal de responsabilidade e de desgaste, e colocou o próprio discurso em xeque. Ao flexibilizar as críticas em relação a temas e cobranças prioritários partidariamente: o PT evidenciou que o Planalto está cada vez mais refém do PMDB, aliado considerado essencial e ao mesmo tempo um dos principais adversários no Congresso Nacional. Mais preocupante do que a relação com o PMDB, no entanto, foi o fato de o PT, com o resultado, ter ainda desestimulado a militância, que esperava posturas mais críticas, e se afastado ainda mais das tradicionais bases do partido. Entre elas, centrais sindicais e CUT – que esperam aval às críticas ao ajuste fiscal, que atinge direitos dos trabalhadores – e que, a partir de agora, ficarão ainda mais constrangidas para fazer a defesa do governo.

Fonte: Correio do Povo, página 3 de 16 de junho de 2015.

Licença-Prêmio – Sartori regulamenta benefício

O governador José Ivo Sartori regulamentou, em decreto publicado ontem no Diário Oficial, a licença-prêmio dos servidores do Executivo estadual. Além de definir um modelo de pagamento parcelado do benefício, o texto estabelece o regramento para a aquisição, trâmite e resposta ao pedido da licença-prêmio, que deverá ser comunicado oficialmente para a chefia responsável pelo setor de lotação do servidor.

Com a medida, o governo Sartori tenta conter o impacto da judicialização dos pedidos de usufruto da licença-prêmio, o que tem atingido os cofres do Estado com ordens judiciais para pagar o benefício, acrescido de indenizações.

Na avaliação da vice-presidente do Cpers, Solange Carvalho, a proposta do governador é ruim para os professores e funcionários de escola. “Há dois pontos de discordância: primeiro, o Estado pode interromper a licença por que quer. O outo ponto é a sugestão de usufruto em julho, que corresponde ao período de férias escolares e não interessa para gozo da licença”, explica.

Fonte: Correio do Povo, página 3 de 16 de junho de 2015.

Extintor ABC – Novo adiamento

O ministro das Cidade,s Gilberto Kassab, apresentou ao Departamento Nacional de trânsito (Denatran) pedido para adiar por mais 90 dias o início da obrigatoriedade dos extintores de incêndio veicular com carga ABC. A prorrogação é para que os técnicos possam concluir as avaliações que estão sendo realizadas. O objetivo da troca dos extintores é garantir maior segurança para os motoristas e passageiros. Os extintores ABC são modernos e atendem a todas as classes de incêndio.

O último prazo da Resolução 521/2015 para os motoristas se adequarem à norma era 1º de julho. O Conselho Nacional de Trânsito (Contran) publicará nova resolução que prorrogará este prazo. Quando entrar em vigor, a falta de extintor ABC acarretará multa de R$ 127,69, além de cinco pontos na carteira de habilitação.

Fonte: Correio do Povo, página 15 de 16 de junho de 2015.

Crédito habitacional eleva endividamento

Famílias comprometem 46% da renda com financiamento da casa própria

Brasília – Mesmo com o desaquecimento da economia, as famílias estão determinadas a adquirir imóveis por meio de financiamentos. A busca pelo crédito habitacional puxou o endividamento para cima de abril, fazendo com que o total de dívidas equivalesse a 46,3% da renda acumulada em 12 meses. O percentual de dívidas com o sistema financeiro foi o maior dos últimos 10 anos, segundo o Banco Central. Quando os dados começaram a ser divulgados, em janeiro de 2005, essa relação era bem menor: 18,42%.

De forma geral, a disposição de endividamento está relacionada com o crescimento econômico. Por isso, a perspectiva agora é de diminuição dessa taxa ou de manutenção, como praticamente já ocorreu em abril. Em março, a taxa era de 46,2%.

É possível identificar o setor habitacional ainda como o trampolim dos financiamentos porque o BC também copila o valor total de endividamento das famílias, excluindo dívidas com imóveis. Neste caso, houve leve baixa de março (27,73%) para abril (27,61%).

De maneira geral, o crédito imobiliário é visto com bons olhos por economistas por se tratar de uma modalidade com prazos mais longos e com baixa inadimplência se comparada com outras linhas de crédito. Além disso, é avaliado como “empréstimo do bem”, já que tem como base a formação de patrimônio. Na última nota de crédito do BC, divulgada há pouco mais de 15 dias, a instituição revelou que o volume de financiamentos do sistema financeiro equivalia a 54,% do Produto Interno Bruto (PIB) em abril.

Ainda segundo os números do BC, o comprometimento de renda das famílias com o Sistema Financeiro Nacional está praticamente estável no último trimestre encerrado em abril: ficou em 21,98% em fevereiro, cedeu levemente para 21,97% em março e voltou a 21,98% no mês seguinte. Isso significa que embora o total de dívidas esteja aumentando, ainda que levemente, o brasileiro consegue equilíbrio entre os gastos com empréstimos e sua renda. Para resolver a questão de falta de recursos para o crédito da casa própria, recentemente o governo decidiu liberar os bancos para usar R$ 22, 5 bilhões dos depósitos da poupança que são obrigados a manter no BC para desembolsos nas operações de financiamento.

Fonte: Correio do Povo, página 4 de 16 de junho de 2015.

Constituição britânica completa 800 anos

Festejos lembram a assinatura da Carta Magna, ocorrida em 1215

Runnymede – A rainha Elizabeth II e o primeiro-ministro britânico, David Cameron, lideraram nesta segunda-feira as celebrações do 800º aniversário da constituição britânica – que assentou as bases da democracia parlamentar no Ocidente. A cerimônia principal ocorreu em Runnymede, no Sul da Inglaterra, onde um antecessor distante de Elizabeth II, o rei John – mais conhecido como “João Sem Terra” porque perdeu suas posses na França –, assinou em 15 de junho de 1215, este documento que colocava pela primeira vez lei acima do monarca.

Uma réplica do texto viajou sábado pelo rio Tâmisa a bordo da barcaça real. “Gloriana”, à frente de uma flotilha de 200 barcos. A Carta Magna tem apenas 3.500 palavras, mas é amplamente reconhecida como o primeiro texto ocidental que protege os direitos individuais e as liberdades, e serviu de inspiração a Constituições como a americana. Um de seus principais artigos dizia “que nenhum homem livre pode ser detido ou privado de seus direitos ou de seus bens, banido, exilado ou privado do seu posto (…), exceto em virtude de sentença judicial de seus pares e sob a lei do reino”. A Carta Magna foi assinada pelo rei John em tentativa de aplacar a fúria da nobreza por sua incompetência e seus abusos. Sobrevivem quatro cópias da época.

Fonte: Correio do Povo, página 6 de 16 de junho de 2015.

segunda-feira, 15 de junho de 2015

A Guerra dos Canudos e ''Sertões''

Introdução

Para entendermos a Guerra dos Canudos e a violência com que foi esmagada a revolta camponesa é preciso restabelecer o cenário histórico em que ela ocorreu. Não pode-se entender Canudos isoladamente, sem conhecer as circunstâncias históricas e políticas que a provocaram.
O Brasil estava em permanente ebulição, desde 13 de maio de 1888 com a assinatura da Lei Áurea pela princesa Isabel, acontecimentos espetaculares e traumáticos se sucediam um ao outro. A Questão Militar que vinha se arrastando desde 1883, com o debate em torno da doutrina do soldado cidadão, que defendia a participação dos oficiais nas questões políticas e sociais do país, teve uma condução repentina, com o golpe militar republicano de 15 de novembro de 1889.
A derrubada da Monarquia, que de imediato foi sem derramamento de sangue, terminou por provocar reações antirrepublicanas. Uma nova constituição foi aprovada em 1891, tornando o Brasil uma república federativa e presidencialista no modelo norte-americano. Separou-se o estado da Igreja ( o que vai provocar a indignação de Antônio Conselheiro) e ampliou-se o direito de voto (aboliu-se o sistema censitário existente no Império e permitiu-se que todo o cidadão alfabetizado pudesse tornar-se cidadão).
As dificuldades políticas da implantação da República se aceleraram com a crise inflacionária provocada pelo Encilhamento, quando o Ministro da Fazenda, Rui Barbosa, autorizou um aumento de 75% na emissão de papel moeda nacional. Houve muito desgaste do novo regime devido ao clima de especulação e de multiplicação de empresas sem lastro (mais de 300 em um ano apenas). O presidente da República, Mal. Deodoro da Fonseca chegou a fechar o Congresso, o que serviu de pretexto para a Marinha de Guerra rebelar-se exigindo e conseguindo sua renúncia, o que ocorreu em 23 de novembro de 1891. Deodoro doente retirou-se, sendo substituído pelo vice-presidente Mal. Floriano Peixoto.
Em fevereiro de 1893 estoura no Rio Grande do Sul a revolução federalista, quando maragatos insurgem-se contra o governo de Júlio de Castilhos, conduzindo o estado a uma dolorosa guerra civil. Neste mesmo ano em setembro, ocorre o segundo levante da Armada, novamente liderado pelo A. Custódio de Melo, seguida pela adesão do Al. Saldanha da Gama, que chega a bombardear o Rio de Janeiro, Floriano Peixoto mobiliza a população para a defesa da capital e Custódio de Melo resolve abandonar a baía de Guanabara para juntar-se aos maragatos que haviam ocupado Desterro (em Santa Catarina). A guerra no sul militarmente se encerra com a morte de Gumercindo Saraiva o guerrilheiro maragato em 1894, e com a derrota da incursão do Al. Saldanha da Gama na fronteira do Rio Grande do Sul com o Uruguai em 1895. A guerra tinha produzido mais de 12 mil mortos em uma parte deles havia sido vítima de degolas de parte a parte. Coube ao novo presidente, Prudente de Morais, alcançar a pacificação que é assinada em Pelotas em agosto de 1895.
Foi nesse pano de fundo turbulento, marcado por transformações repentinas e radicais, pela abolição da escravidão, pelo golpe republicano, pelo fechamento do Congresso, pelo estado de sítio, por dois levantes da Armada e por uma cruel Guerra Civil, que a população urbana ouviu com espanto a notícia, em novembro de 1896, de que uma expedição de 100 soldados havia sido derrotada pelos jagunços do interior da Bahia. Começava então a Guerra dos Canudos.



A Guerra de Canudos
(1896-1897)

Provavelmente se o quadro político brasileiro dos primeiros anos de República não fosse tão conturbado talvez os episódios de Canudos tivessem outro desenlace. Mas a notícia de que tropas regulares haviam sido desbaratadas pelos fiéis do Conselheiro fez com que as autoridades e a própria população dos grandes centros urbanos, particularmente do Rio de Janeiro, visse naquilo a mão ardilosa dos monarquistas.
Se por um lado era evidente que o Conselheiro regava contra a república, estimulando a que não se lhe pagassem tributos e até espantasse os funcionários que representavam a justiça e o casamento civil, não pode-se negar seu conteúdo religioso. Canudos assemelha-se às incontáveis rebeliões religiosas, lideradas por fanáticos, chamados de profetas, que se dizem enviados ou mensageiros do céus. Reúnem ao seu redor um bando de crentes aos quais pe assegurada não só a salvação como muitas vezes a imortalidade.
Repudiam todo mundo ao seu redor, denunciando como corrupto e de estar a serviço das forças demoníacas. Só os justos se salvarão. Só aqueles que se dedicam inteiramente as rezas e a comunidade dos crentes serão eleitos. Seu comportamento erradio e agressivo para com os outros e seu fanatismo militante faz com que se indisponham com o resto da sociedade. Os atritos daí decorrentes, fazem com que a polícia ou a milícia termine por se envolver com eles. As tentativas de apaziguamento fracassam. Eles resistem a qualquer de dispensar. Ao contrário, a presença das autoridades faz com que se aglutinem com maior fervor em torno do profeta. Armam-se. O profeta lhe assegura que caso morreram na defesa da Nova Jerusalém, Jesus lhes garantirá a vida por mais mil anos ainda.

Antônio Conselheiro e Nova Jerusalém

Antônio Conselheiro já era uma figura bastante conhecida nos sertões nordestinos desde a década de 1870. Era caixeiro de loja e graças a uma infelicidade pessoal – foi abandonado pela mulher – partiu para uma vida de eremita, cruzando o sertão de cima a baixo. Por onde andava procurava consertar os cemitérios e melhorar as igrejas. A fama de suas prédicas começou a se espalhar e gente miserável começou a segui-lo. Sua aparência assemelhava-se aos profetas bíblicos, com uma vasta cabeleira que lhe caia pelos ombros e vestido com um brim comprido que lhe chegava aos pés e um cajado nas mãos. Parecia um personagem saído diretamente das Velhas Escrituras.
Hostilizado pela maioria dos padres do interior que não lhe suportavam a concorrência e a crescente popularidade, o Conselheiro resolveu, em 1893, isolar-se em Canudos, um lugarejo paupérrimo, nas margens do rio Vaza-barris, no sertão baiano. Rebatizou-a de Monte Santo. Em pouco tempo um fluxo constante de romeiros para lá se dirigiu. O Conselheiro rejeitava a república. Considerava-a coisa satânica por ter instituído o casamento civil. Como a Igreja Católica acomodou-se com a nova ordem, coube a ele liderar a rebeldia. Tratava-se de constituir uma outra sociedade, onde os princípios dogmáticos da religião seriam estritamente obedecidos. Não se bebia em Canudos, e o maior delito era não comparecer as rezas coletivas. Também serviu de abrigo a marginais e bandidos que lá procuravam refúgio e de onde saíam para novos barbarismos.
Em pouco tempo o Conselheiro formou uma espécie de pequeno estado dentro do estado. As autoridades fizeram então uma frente. Coronéis assustados com a fuga de mão de obra e com o surgimento de uma outra liderança aproximava-se da igreja que via nele um herético. Um desentendimento com um lugarejo vizinho foi o pretexto que as autoridades aguardavam para mandar intervir militarmente. No início de novembro de 1896 uma força de 100 praças, sob o comando do Ten. Manuel Ferreira, foi enviada para Juazeiro e depois para Uauá onde é destroçada pelo ataque dos jagunços em 21 de novembro.
Foram necessárias mais três expedições militares, a última com quase 5 mil homens e artilharia para submeter a “Tróia de taipa”. A população lutou até o fim. Umas 300 mulheres, velhos e crianças se renderam. Os homens sobreviventes foram degolados e os que resistiram até o fim foram baionetados numa luta corpo a corpo que se travou dentro do arraial, no dia do assalto final, em 5 de outubro de 1897. antônio Conselheiro, morto em 22 de setembro, teve seu corpo exumado e sua cabeça decepada para estudos frenológicos. O Gen. Artur Oscar determinou que os 5.200 casebres fossem pulverizados a dinamite. E assim, onze meses depois do entrevero de Uauá, terminou Canudos.


As quatro campanhas contra Canudos

Campanhas
Acontecimentos
1ª Campanha: 4 a 21 de novembro de 1896
Governador da Bahia ordena expedição para defesa de Juazeiro ameaçada pelos jagunços de Antônio Conselheiro. Expedição com 100 praças comandada pelo ten. Manuel Ferreira. Segue até Uauá onde é derrotada na madrugada pelos jagunços no dia 21 de outubro. O médico enlouquece. Retirada para Juazeiro.
2ª Campanha: 25 de outubro de 1896 a 20 de janeiro de 1897
Comandada pelo Major Frebônio de Brito, com 543 praças e 14 oficiais e 3 médicos. Travessia do Cambaio, primeiro e segundo combate. Mais de 400 jagunços mortos. Retirada em frente a Canudos, para Monte Santo. Militares vaiados. Debandada geral.
3ª Campanha: 8 de fevereiro a 3 de março de 1897
Expedição Moreira César. Chega a Queimadas com 1.300 homens. Chega a Monte Santo e dali para Canudos. Assalto ao arraial em 2 de março. Morte de Moreira César. Expedição dissolvida bate em retirada.
4ª Campanha: 16 de junho a 5 de outubro de 1897
Expedição comandada pelo Ge. Artur Oscar, dividida em duas colunas (gen. João Barbosa e Amaral Savaget), uma com 1.933 homens e outra com 2.350. Combate de Cocorobó. Duas colunas chegam a Canudos. Assalto ao arraial: 947 baixas. Chegam esforços de 2 brigadas da Bahia. Bombardeio sobre Canudos. Combate de Coxomongo. Morre Antônio Conselheiro no dia 22. No dia 24 de setembro Canudos encontra-se sitiada. Assalto final em 1º de outubro: 567 baixas. 300 prisioneiros (mulheres, velhos e crianças), dia 5 morrem os 4 últimos resistentes. As 5.200 casas são dinamitadas.


A Guerra dos Canudos e “Sertões”

Os Sertões”

Nenhum outro episódio da história nacional até então ocorrido (Inconfidência mineira, independência, Revolta dos Cabanos, a Sabinada, a Praieira, a Revolução Farroupilha, etc...) gerou um relato literário e épico da dimensão de “Os Sertões” de Euclides da Cunha, publicado em 1902. Euclides havia sido enviado em setembro de 1897 para cobrir pelo jornal “O Estado de São Paulo” os acontecimentos de Canudos. Lá chegando resolveu torná-lo tema de um livro. Sua ideia era inserir aquele conflito nos fins de mundo do Brasil no cenário dos grandes enfrentamentos históricos. Numa luta titânica de raças, num combate entre o progresso e o atraso. Percebeu o conflito primeiramente como uma Vendeia (“a nossa Vendeia”), aquela rebelião reacionária – de padres, nobres e camponeses católicos – que eclodiu na Bretanha em 1793, contra o governo republicano jacobino durante a Revolução Francesa.
Mas viu também a oportunidade de estudar e conhecer o Brasil. Concentrou sua atenção em revelar o conflito entre o litoral brasileiro, urbano, pré-industrial, semi-capitalista, europeizado, predominantemente branco e racionalista, contra o sertão mestiço, povoado por uma sub-raça miserável – devido as inclemências do clima – às influências do fanatismo religioso, vivendo num universo místico enfeitiçado por superstições atávicas, crentes em milagres e em espantosos taumaturgos, Euclides achava que a campanha contra Canudos simbolizava de certa forma a tentativa de civilizar o sertão ainda que fosse “a pranchaços”.
Na primeira parte do livro – a Terra – ele procura descrever o cenário geográfico em que surge o sertanejo. Faz uma erudita exposição dos elementos geoclimáticos que compõe o sertão. Profundamente influenciado pelo historiador positivista Hippolyte Taine (1828-1893), que propunha uma abordagem do comportamento humano condicionado pela raça, pelo meio e pelas circunstâncias (la race, le milieu et le moment), Euclides acredita – na sua segunda parte, dedicada ao Homem – que a intensa miscigenação é a principal responsável pelo atraso e pelo fanatismo do sertanejo, na medida em que termina por produzir uma subraça. Mas mesmo assim ele não poupa louvores a bravura da gente do sertão em conseguir sobreviver numa região tão inóspita, flagelada pela fome e pela seca - “o sertanejo antes de tudo é um forte!”
Na terceira parte – a Luta – dedicada ao combate entre as forças regulares do exército e as hordas dos jagunços é que brota a espantosa prosa épica de Euclides. O relato dos enfrentamentos, dos entreveros, os sítios, o combate corpo a corpo, a valentia e a covardia, os sofrimentos e a incrível narrativa final da destruição de Canudos, tornam-se páginas dignas de figurar entre a melhor literatura do mundo, no mesmo nível de Homero ou do “Guerra e paz” de Tolstoi.

Características gerais

Em primeiro lugar “Os Sertões” é uma obra de arte literária. Apesar dos esforços de Euclides em se tornar o primeiro pensador do país, seu livro perdura nos tempos por ser geográfico e racial, hoje estão desacreditados. Restou, portanto, a qualidade narrativa e o estilo ímpar dele. É uma obra fechada. Euclides não fez uma escola como Machado de Assis. Sua prosa foi esculpida exatamente para escrever aquele tipo de livro e nenhum outro mais. Também os críticos debatem sobre que tipo de livro e nenhum outro mais. Também os críticos debatem sobre que tipo de gênero literário classifica-se “Os Sertões”. Pode ser lido como uma grande crônica, um diário de guerra, um tratado histórico, um ensaio antropológico sociológico, uma peça literária e até como um discurso forense. Nele encontramos todos os elementos literários – a lírica, a epopeia e a dramática – onde palavras desusadas e arcaicas encontram-se misturadas com o linguajar popular e com expressões científicas.
Ele tentou olhar o sertão e seu habitantes com as lunetas de um cientista mas recorreu a um estilo dramático para exprimir sua emoção. Eu clides é o nosso Homero. Realizou o grande épico nacional. Mas não é popular como Homero o foi. E a razão é de que ele não dirigiu-se ao povo, mas sim as elites. Seu livro aos poucos vai tomando a forma de uma denúncia. Do absurdo da guerra (“Além disso a guerra é uma coisa monstruosa e ilógica em tudo”) em si até indignar-se com os barbarismos cometidos pelas tropas conta aqueles pobres-diabos (“Ademais entalhava-se o cerne da nacionalidade. Atacava-se cerne da nacionalidade. Atacava-se a fundo a rocha vida da nossa raça. Vinha de molde a dinamite. Era uma consagração”).
Seu objetivo era apelar às elites brasileiras para que tivessem uma compreensão melhor dos sertanejos. Ao descrever seu espaço e seus costumes, ao relatar suas dificuldades e seu infeliz destino biológico, ele espera atenuar o preconceito contra os bárbaros interioranos, isolados do mundo a trezentos anos. Da mesma maneira que Cesare Lombroso (1836-1909) encontrara nos traços fisionômicos dos marginais os sinais de delinquência e de degenerescência moral, Euclides, ao descrever o sertanejo como resultado da seca, do solo áspero e esturrado, de fome endêmica e da excessiva miscigenação, queria demonstrar que o resultado final não poderia ser outro.
Conforme o livro vai se aproximando do final, cresce nele a sensação de que a guerra contra os jagunços foi um grande equivoco, que afinal de contas era uma guerra fratricida e que de certa forma o litoral – civilizado e racional – apunhalava a própria essência do país ao destruir com o arraial e seus moradores.
A obra, no entanto, não teve consequências políticas. Foi vista mais como uma obra-prima do que um manifesto a favor da tolerância para com os desgraçados do campo.



O Messianismo

O movimento sertanejo ao redor de Antônio Conselheiro em Canudos teve uma forte conotação messiânica. Esse tipo de fenômeno sócio religioso ocorre geralmente
em situações de grave crise política (ameaça, invasões, bruca mudança de regime, etc...) e reflete um desespero e um temor crescente e insuportável, uma crença nas proximidades do Juízo Final e na necessidad da chegada de um salvador (messias) para resgatar a comunidade em erigo de morte.
O messias é alguém enviado por uma divindade para trazer a vitória do Bem sobre o Mal, ou para corrigir a imperfeição do mundo, permitindo o advento do Paraíso Terrestre, tratando-se pois de um líder religioso e social” (Maria Isaura, p. 27). Obviamente que esse líder não é uma pessoa qualquer, mas sim alguém que revelou ter “qualidades pessoais extraordinárias, provadas por meio de faculdades mágicas que lhe dão autoridade; trata-se pois de um líder essencialmente carismático”. (idem, p. 27).
O referencial mais remoto que anuncia a chegada desse salvador encontra-se numa passagem de Isaias: “O povo que andava nas trevas viu uma grande luz, e uma luz brilhou para os que habitavam o país tenebroso. Multiplicaste o povo, aumentaste o teu prazer. Vão alegrar-se de ti, como na laegria da colheita, como no prazer dos que repartem despojos de guerra. Porque como no dia de Madjiã, quebraste a canga de suas cargas, a vara que batiam em suas costas e o bastão do capataz de trabalhos foçados. Porque toda a bota que pisa com barulho e toda capa empatada de sangue serão queimadas, devoradas pelas chamas.
Porque nasceu para nós um menino, um filho foi dado: sobre seu ombro está o manto real, e eles se chamam: “Conselheiro Maravilhoso” … Grande será seu domínio, e a paz não terá fim sobre o trono de Davi e seu reino, firmado e reforçado com direito e a justiça, desde agora e sempre. O zelo de Javé dos exércitos é que realizará isso”. (Isaias, 9).
A isso juntam-se as passagens do Apocalipse que relatam o retorno de Jesus como um vingador do povo humilhado, como um guerreiro que vem formar um novo exército de santos e que garantirá a todos que atenderem a sua mensagem de salvação a imortalidade por mil anos: “... parecia um filho do Homem, vestindo uma longa túnica; no peito, um cinto de ouro; nos cabelos brancos como lã, como neve; os olhos pareciam uma chama de fogo; os pés eram como bronze de forno, cor de brasa; a voz era como um estrondo de águas torrenciais; na mão tinha sete estrelas; de uma boca saía uma espada afiada, de dois cortes; seu rosto era como um sol brilhando ao meio-dia.
Não tenha medo eu sou o Primeiro e o Último. Sou o Vivente. Estive morto, mas estou vivo para sempre. Tenho as chaves da morte e da morada dos mortos”. (Apocalipse, 1)
Formado o grupo de fiéis em torno do novo messias eles passam a sentir-se perseguidos pelas autoridades a quem consideram como o Anticristo ou de estar a serviço do próprio demônio. Refugiam-se em algum lugar – a Nova Jerusalém – e preparam-se para resistir ao Mal. Ali se dará a batalha final. Não se importam em morrer porque o messias lhes garante vida eterna caso sejam atingidos. Viverão ao lado do senhor por outros mil anos: “Esse louco – o Anticristo – na sua cólera implacável conduzirá um exército e cercará a montanha onde os justos procurarão refúgio. E quando esses se sentirem cercados, clamarão pelo Senhor por auxílio e Deus há de ouvi-los e enviar-lhes-á um libertador (…) e toda a multidão de ateus será aniquilada e correrão rios de sangue”. (Lactâncio, século IV).
O Sebastianismo

O Sebastianismo foi um movimento místico secular que ocorreu em Portugal na segunda metade do século XVI como consequência da morte do rei D. Sebastião na batalha de AlcacerQuibir, em 1758. Por falta de herdeiros, o trono português terminou nas mãos do rei espanhol Felipe II. Apesar do corpo do rei ter sido removido para Belém o povo nunca aceitou o fato divulgado a lenda de que o rei encontrava-se ainda vivo, apenas esperando o momento certo para volver o trono e afastar o domínio estrangeiro. Se mais popular divulgador foi o poeta Bandarra que produziu incansáveis versos clamando pelo retorno do Desejado. Explorando a crendice popular vários oportunistas se apresentavam como o rei oculto na tentativa de obter benefícios pessoais. O maior intelectual e aderir ao movimento foi o Padre Vieira. Finalmente em 1640, pelo golpe restauracionista liderado pelos Braganças, no Porto, Portugal voltou a ser independente e o movimento começou a arrefecer no interior do Nordeste, também ser motivo da crença na chegada de um “rei bom”. Basicamente é um messianismo adaptado às lusas e depois nordestinas. Traduz uma inconformidade com a situação política vigente e uma expectativa de salvação, ainda que miraculosa, através da ressurreição de um morto ilustre.

O Conselheiro

(trechos selecionados da obra de Euclides da Cunha)

As fases singulares da sua existência não são talvez, períodos sucessivos de uma moléstia grave, mas são com certeza, resumo abreviado dos aspectos predominantes de mal gravíssimo. Por isso o infeliz, destinado à solicitude dos médicos, veio, impelido por uma potência superior, bater de encontro a uma civilização, indo para a História como poderia ter ido para o hospício.” (p. 111)
(,,,) “Todas as crenças ingênuas, do fetichismo bárbaro às aberrações católicas, todas as tendências impulsivas das raças inferiores, livremente exercitadas na vida sertaneja, se condensaram no seu misticismo feroz e extravagante.” (p. 111)

Antônio Conselheiro foi um gnóstico bronco” (p. 113)

A sua frágil consciência oscilava … entre o bom senso e a insônia. Paroi aí indefinidamente, nas fronteiras oscilantes da loucura, nessa zona mental onde se confundem facínoras e heróis, reformadores brilhantes e aleijões tacanhos e se acotovelam gênios e degenerados. Não transpôs.” (p. 114).

No seio de uma sociedade primitiva, que pelas qualidades étnicas e influxo das santas missões malévolas compreendidas melhor a vida pelo incompreendido dos milagres, o seu viver misterioso rodeou-o logo de não vulgar prestígio, agravando-lhe, talvez o temperamento delirante.” (p. 121).

As prédicas do Conselheiro

Ele ali subia e pregava. Era assombroso... Uma oratória bárbara e arrepiadora, feita de excertos truncados das Horas Marianas, desconexa, obstrusa, agravada, às vezes, pela ousadia extrema das citações latinas; transcorrendo em frase sacudidas; misto inextricável e confuso de conselhos dogmáticos, preceitos vulgares da moral cristã e de profecias esdrúxulas...
Era truanesco e era pavoroso.
Imagine-se um bufão arrebatado numa visão do Apocalipse...
(…) A multidão sucumbida abaixava, por sua vez, as visitas, fascinada, sob estranho hipnotismo daquela insânia formidável.
E o grande desventurado realizava, nesta ocasião, o seu único milagre:
conseguia não se tornar ridículo... (p. 126)
Antônio Conselheiro

Espécie de grande homem pelo avesso, Antônio Conselheiro reunia no misticismo doentio todos os erros e superstições que formam o coeficiente doentio de nossa nacionalidade. Arrastava o povo sertanejo não porque dominasse, mas porque o dominavam as aberrações daquele. Favorecia-o o meio e ele realizava, às vezes, como vimos, o absurdo de ser útil” (p.132).

Anti-republicano

Viu a república com maus olhos e pregou, coerente, a rebeldia contra as novas leis. Assumiu desde 1893 uma feição de combate inteiramente nova (…) Ao surgir essa novidade (editais para a cobrança de impostos que visavam a autonomia municipal) Antônio Conselheiro estava em Bom Conselho. Irritou-o a imposição: e planeou revide imediato. Reuniu o povo num dia de feira e, entre gritos sediciosos e estrepitar de foguetes, mandou queimar as tábuas numa fogueira, no largo … pregou abertamente a insurreição contra as leis.” (p. 133).

Canudos

Era um lugar sagrado, cingido de montanhas, onde não penetraria a ação do governo maldito” (p. 35).

A urbs monstruosa, de barro, definia bem as civitas sinistras do erro. O novo povoado surgia, dentro de algumas semanas já feito ruínas. Nascia velho. Visto de longe, desdobrado pelo cômoros, atulhando as canhadas, cobrindo área enorme, truncado nas quebradas, revolto nos pendores – tinha o aspecto perfeito de uma cidade cujo solo houvesse sido sacudido e brutalmente dobrado por um terremoto” (p. 136)

Não distinguiam as ruas. Substituía-as dédalo desesperador de becos estreitíssimos, mal separando o baralhamento caótico dos casebres feitos ao acaso, testadas volvidas para todos os pontos, cumeeiras orientando-se para todos os rumos, como se tudo aquilo fosse construídos, febrilmente, numa noite, por uma multidão de loucos … (p. 138).

“[os casebres] Cobertas de camadas espessas de vinte centímetros de barro, sobre ramos de iço, lembravam as choupanas dos gauleses de César. Traiam a fase transitória entre a caverna primitiva e a casa. (…). O mesmo desconforto e, sobretudo, a mesma pobreza repugnante, traduzindo de certo modo, mais do que a miséria do homem, a decrepitude da raça.” (p. 138).

Canudos, imunda ante sala do Paraíso” (p. 147)

O jagunço

Na falta de uma irmandade de sangue, a consanguinidade moral dera-lhe a forma exata de um clã, em que as leis era o arbítrio do chefe e a justiça as suas decisões, irrevogáveis. Canudos estereotipava o fácies dúbio dos primeiros agrupamentos bárbaros. O sertanejo simples transmudava-se penetrando-o, no fanático destemeroso e bruto. Absorvia-o a psicose coletiva. E adotava, ao cabo, o nome até então consagrado aos turbulentos de feira, aos valentões de refregas eleitorais e saqueadores de cidades – jagunços.” (p. 141).

Os jagunços errantes ali armavam (em Canudos) pela derradeira vez as tendas, na romaria miraculosa para os céus...” (p. 142).

A nossa civilização de empréstimo arregimentava, como sempre fez, o banditismo sertanejo.” (p. 145).

Delineara-a o próprio Conselheiro, velho arquiteto de igrejas, requintara no monumento que lhe cerraria a carreira. Levantava, volvida para o levante, aquela fachada estupenda, sem módulos, sem proporções, sem regras; estilo indecifrável, mascarada de frisos grosseiros e volutas impossíveis cabriolando num delírio de curvas incorretas; rasgada de ogivas horrorosas, esburacada de troneiras; informe brutal, feito a testada de um hipogue desenterrado; como se tentasse objetivar, a pedra e cal, a própria desordem do espírito delirante”. (p. 147)

O Coronel Moreira César (comandante da 3ª expedição)

Surpreendiam-se igualmente ao vê-lo admiradores e adversários. O aspecto reduzia-lhe a fama, de figura diminuta – um tórax desfriado sobre pernas arcadas em parêntesis – era organicamente inapto a carreira que abraçara” (p.222).

(…) Tinha o temperamento desigual e bizarro de um epilético provado, encobrindo a instabilidade nervosa de doente grava em placidez enganadora.” (p.223).

(*) Todos esses trechos foram extraídos da 27ª edição de “Os Sertões” da Livraria Francisco Alves, Rio de Janeiro, 1968.

Bibliografia

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CARONE, Edgard. A República Velha. Difusão Europeia do Livro, São Paulo, 1971.

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GALVÃO, Eunice Nogueira. No Calor da Hora. Editora Ática, São Paulo, 1974.

GUIMARÃES, Alberto Passos. Quatro Séculos de Latifúndio. Editora Paz e Terra, Rio de Janeiro, 1968.

MARTINS, Wilson. História da Inteligência Brasileira, (1897-1914). Editora Cultrix, São Paulo, 1978, v. V.

NOGUEIRA, Ataliba, Antônio Conselheiro e Canudos. Cia. Editora Nacional, São Paulo, 1974.

QUEIROZ, Maria Isaura P. de. O Messianismo no Brasil e no Mundo. Editora Alfa Omega, São aulo, 1977.

RABELLO, Sylvio. Euclides da Cunha. Editora Civilização Brasileira, Rio de Janeiro, 1966, 2ª ed.

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ZILLY, Bertold. Um depoimento brasileiro para a História Universal. Revista Humbolt, n. 72, Internationes, Bonn.






Fonte: História por Voltaire Schilling

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