O
terceiro imperador Tang era, infelizmente, um fraco, embora a
imperatriz Wu tenha compensado esse fato controlando o poder
autocrático por meio século (de cerca de 654 a 705), primeiro por
intermédio dele, depois por meio de seus jovens sucessores e
finalmente, durante algum tempo, como imperatriz de uma dinastia
recém-declarada. Única governante mulher que a China já teve, a
imperatriz Wu era sempre uma política impecavelmente talentosa e
hábil, mas seus métodos assassinos e ilícitos de conservação do
poder arruinaram sua reputação junto aos burocratas do sexo
masculino. Também incentivou o excesso de pessoal no funcionalismo e
diversas modalidades de corrupção. Em 657, o governo Tang usava
apenas 13,5 mil oficiais para controlar uma população estimada em
cinquenta milhões. Obtendo uma milícia local (fubing)
de fazendas autossuficientes e exigindo que elas cumprissem trabalhos
em cada localidade, o governo cortou seus gastos. A administração
ainda queria ver os fazendeiros independentes e donos legítimos de
suas terras, e portanto, sob o sistema de campos igualitários
(juntian),
redistribuía periodicamente a terra segundo os registros
populacionais. Mas ao passo que o segundo imperador governou por um
método prático e ativo, trabalhando com seus conselheiros todos os
dias, as manipulação da imperatriz Wu fizeram do poder imperial
algo mais remoto, conspiratório e despótico. Ela rompeu o poder dos
clãs aristocráticos do Noroeste e deu à planície do Norte da Chin
maiores oportunidades de representação no governo. Os aprovados no
exame tornaram-se uma pequena elite na oficialidade. O legado da
imperatriz anda está em debate.
Sob
o governo do imperador Xuangzong (que reinou de 713 a 755), os Tang
atingiram o auge de sua prosperidade e esplendor, mas as falhas se
acumulavam. Primeiro havia a exagerada expansão militar,
terrivelmente custosa. As forças da dinastia Tang estavam em guerra
nas fronteiras do Sudoeste da China e também se estenderam
excessivamente ao oeste dos Pamirs. Lá foram derrotadas por
exércitos árabes em 751, próximo a Samarkand. Nesse ínterim, a
milicia fubing fora
gradualmente transformada em uma força de guerra profissional
organizada em nove divisões, em especial nas fronteiras sob o
comando de um general com plenos poderes para rechaçar ataques.
Alguns generais poderosos envolveram-se com a política da corte. À
medida que a Corte Externa subordinada aos Seis Ministérios foi-se
tornando mais ritualizada e sobrecarregada, os altos funcionários
que a chefiavam como os chanceles – na verdade, delegados do
imperador, governando em seu nome – foram se envolvendo cada vez
mais em partidarismos mesquinhos, enquanto o imperador usava eunucos
para sustentar seu controle da Corte Interna. Então, em sua velhice,
Xuanzong apaixonou-se por uma bela concubina, Yang Guifei, e deixou o
poder central decompor-se. Ela adotou como filho o seu general
preferido, An Lushan, que se rebelou e tomou as capitais em 755. De
755 a 763, uma rebelião altamente destrutiva assolou o país. Quando
o imperador abandonou sua capital e suas tropas exigiram a execução
de Yang, a história de amor imperial chegou a um trágico (e
eternamente) fim. O reino Tang foi restaurado nominalmente após oito
anos, mas durante o próximo século e meio o poder dos Tang não
voltou renascer de fato.
A derrota da rebelião de An Lushan resultou no estabelecimento de
comandos militares regionais que depois se tornaram a base para um
novo estrato regional da administração. Enquanto o controle sobre
as regiões externas se evaporava, o regime Tang dentro da China teve
de ceder poder aos militares. Não era mais capaz de governar a
partir do centro com leis e instituições uniformes. A elite
burocrática não conseguia sustentar procedimentos para toda a
nação. Venceram o localismo e o particularismo, ea unidade nominal
do Estado chinês tornou-se uma fachada sem substância.
Fonte: China – Uma Nova História, páginas 90 e 91.