sábado, 6 de junho de 2015

Aleijadinho e o Esplendor Barroco

Vila Rica não é Florença, pedra – sabão não é mármore e Aleijadinho não foi Michelangelo. Ainda assim, o esplendor e o requinte, as sutilezas e as suntuosidade das dezenas de estátuas, pias batismais, púlpitos, brasões, portais, fontes e crucifixos permitem supor que o Brasil teve um gênio renascentista desgarrado em plena efervescência de Minas colonial, esculpindo e talhado com o espírito, o fulgor e a grandiosidade dos artistas iluminados. O legado do Aleijadinho – eternizado no interior e nas fachadas de meia dúzia de igrejas de Minas Gerais – refulge mais que os minérios que saíram dali para fazer o fausto de nações além-mar. Na prática, foram elas – estátuas, lavabos e esculturas – a herança que restou para recordar o Brasil de seus tempos áureos. A obra monumental do Aleijadinho é um patrimônio superior a qualquer conforto que o ouro possa comprar.
Embora tenha sido um dos maiores artistas do Brasil, da vida de Aleijadinho restam apenas fragmentos biográficos dispersos, a maioria deles envolta na sombra mitificadora das lendas baratas. Sabe-se que se chamava Antônio Francisco Lisboa e era filho bastardo do “juiz do ofício de carpinteiro” Manuel Francisco Lisboa com a escrava de nome Isabel (embora documento algum o comprove. Quando nasceu? Em 1738, talvez, embora a “data oficial” seja 29 de agosto de 1730. Quem foram seus mestres? O pai e o tio, Antônio Francisco Pombal, embora alguns preferiam filiá-lo à escola do desenhista João Gomes Batista e à do entalhador José Coelho de Noronha, portugueses com “oficinas” em Vila Rica. Quais suas fontes de inspiração? Os livros da biblioteca do poeta Cláudio Manuel da Costa e “gravuras” bíblicas góticas bizantinas” da Bíblia Pauperum.
As dúvidas são muitas porque, quase tudo o que se sabe sobre Aleijadinho provém de Traços Bibliográficos Relativos ao Finado Antônio Francisco Lisboa, publicados por Rodrigo Bretas em 1958. Embora tenha escrito apenas 44 anos depois da morte do artista, os esboços de Bretas estão repletos de impropriedades. Apesar da biografia referente ao Aleijadinho superar, atualmente, mil títulos (entre livros e artigos), o estofo da lenda nasceu dos mitos forjados por Bretas. De qualquer forma, parece certo que, antes da misteriosa doença que o acometeu, em 1777, Antônio Francisco, além de artista maduro – cujo primeiro projeto fora a igreja da Ordem Terceira de São Francisco - , era também “grandemente dado aos vinhos, às mulheres e aos folguedos”. Seu biógrafo sugere que a enfermidade surgiu dos “excessos venéreos”. Em fins de 77, o escultor já perdera os dedos dos pés, “do que resultou não poder andar senão de joelhos”, e os dedos das mãos se atrofiaram de tal forma que o artista teria decidido “cortá-los, servindo-se do formão com que trabalhava”. Não foi só: “perdeu quase todos os dentes e a boca entortou-se como se sucede ao estuporado; o queixo e o lábio inferior abateram-se e o olhar do infeliz adquiriu a expressão sinistra de ferocidade (…) que o deixou de um aspecto asqueroso e medonho”.
O Aleijadinho passou a evitar o contato público: ia para o trabalho de madrugada e só voltava para casa com a noite alta. “Ia sempre a cavalo, embuçado em ampla capa, chapéu desabatado, fugindo a encontros e saudações”, escreveu Manuel Bandeira. “No próprio sítio da obra, ficava a coberto de uma espécie de tenda, e não gostava de mirones”.
Grandes artistas brasileiros escreveram sobre o maior dos escultores do país. Mário de Andrade foi dos primeiros a notar que a “doença dividiu em duas fases nítidas a obra do Aleijadinho. A fase sã, de Ouro Preto, se caracteriza pela serenidade equilibrada e pela clareza magistral. Na fase do enfermo, desaparece aquele sentimento renascente da fase sã, surge um sentimento muito mais gótico e expressionista”. De fato, foi em Congonhas, no santuário de Bom Jesus de Matosinho, já doente e a partir de 1796, que o Aleijadinho iria consagrar 10 anos àquela que seria a maior obra de sua vida: os Passos da Paixão (66 monumentais estátuas de cedro representando a paixão de Cristo) e os 12 Profetas, que “monumentalizam a paisagem” e são uma “Bíblia de pedra-sabão, banhada no ouro das Minas”, conforme Oswald de Andrade.
Essas inigualáveis obras-primas do barroco teriam sido esculpidas com os formões atados às mãos sem dedos de Aleijadinho, com a ajuda de seus auxiliares e de seus três escravos (os fiéis Maurício Januário e Agostinho, que, em crises de dor e fúria, o artista espancava frequentemente). Embora seus clientes fossem ricos, o Aleijadinho nunca ganhou muito: seu salário era 1,2 grama de ouro por dia e ele o dividia com sua equipe, além de ser pródigo em esmolas. Sua revolta contra os poderosos – a obra de Congonhas foi iniciada quatro anos após o martírio de Tiradentes – parece evidente. As razões dela, porém, não eram pessoais. “No Aleijadinho, o ressentimento tomou a expressão de revolta social, de vingança de sub-raça oprimida”, escreveu, em 1936, o sociólogo Gilberto Freyre. “Em sua escultura, as figuras de 'brancos', 'senhores' e 'capitães romanos' parecem deformadas, menos por devoção a Jesus Cristo e sua raiva de ser mulato e doente (mais) por sua revolta contra os dominadores da colônia”.

Já houve quem diagnosticasse no orgulho despertado pela suntuosidade das obras de Aleijadinho as raízes da revolta da colônia contra a exploração da metrópole. O gênio coja obra ainda inspira tantas interpretações, porém, nunca veria um Brasil independente. Depois de dois anos rolando, aos gritos, sobre um estrado de madeira, com um dos lados do corpo “horrivelmente chagado”, o Aleijadinho foi, enfim poupado da agonia no dia 18 de novembro de 1814.



Não se conhecem as feições verdadeiras do homem que criou os mais expressivos rostos da estatuária brasileira. Apesar de uma absurda lei municipal ter decretado, em julho de 1971, que o quadro acima é o “retrato oficial” do Aleijadinho, não existem provas concretas de que a obra seja autêntica. Achado em 1916, o retrato não condiz com as descrições feitas anteriormente.


Passados mais de 150 anos da morte de Aleijadinho, pesquisadores ainda discutem qual a doença que acabou com a saúde e o humor do maior dos escultores brasileiros. Nenhum, porém, teve iniciativa, disposição ou verba para empreender a investigação que incluísse a única possibilidade definitiva: a exumação do cadáver do Aleijadinho. Por enquanto, existem apenas hipóteses sobre a terrível enfermidade deformante que, a partir de 1777, foi carcomendo pés e mãos do gênio barroco brasileiro. Em 1929, o médico Rene Laclette optou por “lera nervosa” como diagnóstico “menos improvável”, visto que no quadro clínico de Antônio Francisco se encontravam vários sintomas do mal de Hansen (atrofia dos músculos das mãos, nevralgias, atrofia do orbicular das pálpebras, paralisia facial, queda dos dentes). Outra hipótese citada com frequência é a da zamparina (doença advinda de um surto gripal que irrompeu no Rio em 1780, responsável por alterações no sistema nervoso). As demais especulações, citadas em mais de 30 estudos, incluem escorbuto, encefalite e sífilis. O fato é que, além da dor, a doença tornou o Aleijadinho quase um monstro. Diz a lenda que, depois de ser chamado de “homem feio” por José Romão, ajudante de ordens do governador Bernardo Lorena, o artista se vingou esculpindo uma estátua de São Jorge com a cara “bestificada” de seu desafeto.


O Ouro na Balança

Total de ouro extraído de Minas: 874 toneladas em 80 anos (1700 a 1780).

Outras descobertas: Em Goiás, em 1727, pelo Anhanguera (essas minas renderam 160 toneladas) e em Mato Grosso, por Moreira Cabral, em 1729 (renderam 60 toneladas)

Consequências no Brasil: A mudança da capital de Salvador para o Rio, a ocupação de Minas, Goiás e Mato Grosso e a fermentação da independência.

Consequências em Portugal: A Coroa deixou de depender dos favores da corte, aumentando, seu poder e independência internas. Externamente, após o tratado de Methuen (1703), Portugal se tornou totalmente dependente da Inglaterra. Proibido de ter indústrias, o país cederia todo seu ouro em troca de bens manufaturados.

Quem mais lucrou no Brasil: O padre Guilherme Pompeu, “que às minas jamais foi ter”, virou magnata ao se tornar fornecedor e banqueiro dos bandeirantes.

Quem mais lucrou em Portugal: Embora a riqueza das minas fizesse que D. João V fosse chamado de Rei Sol português, foi depois da morte dele, em 1750, e a consequente ascensão de D. José I, que chegou ao poder o homem que politicamente, mais se beneficiou com o ouro brasileiro: o todo-poderoso Marquês do Pombal.

Fonte: História do Brasil (1996), páginas 70 e 71.

Água para comer, por João Rebequi*

Segundo a FAO-ONU, o mundo tem um grande desafio pela frente. Produzir alimentos para 9 bilhões de pessoas até 2050 e, ao mesmo tempo, ser sustentável. Unidos, podemos conquistar esse objetivo: alimentar e preservar o planeta. Mas isso só é possível quando consideramos a utilização da irrigação na agricultura e entendemos o seu papel.
Neste ano, diante da gravidade da crise hídrica que vive o país, a população urbana, por falta de conhecimento, acabou condenando a irrigação agrícola como a grande vilã. Entretanto, é fundamental que a sociedade saiba que, sem áreas irrigadas, não há como fazer crescer a produção, principalmente, sem aumentar as áreas de cultivo. Só podemos fazer mais com o mesmo (ou menos) usando irrigação.
Além disso, o desenvolvimento técnico dos equipamentos nos últimos anos comprova ser possível utilizar água na agricultura com racionalidade e sem desperdício. O que podemos discutir, a partir daí, é a eficiência de aplicação hídrica para cada cultura.
Um diferencial é a utilização das boas práticas do manejo agrícola. Com elas, é possível racionalizar a água utilizada nas fazendas. Essa racionalização depende das culturas nas quais será utilizada irrigação, e passa, também, pelos métodos utilizados para tal. É importante usufruir da infraestrutura e tecnologias já disponíveis no mercado, para utilizar somente a quantidade de água que a cultura necessita ou até menos.
A irrigação por pivôs, por exemplo, é uma alternativa econômica e rentável, que aplica a água de maneira uniforme, evitando o desperdício. A água é aplicada na hora certa e na exata quantidade que a planta necessita. Tanto o pivô central quanto outros métodos de irrigação têm excelentes níveis de eficiência de aplicação, alcançando índices que variam entre 95% e 98%.
O foco profissional do setor, desta forma, deve recair sobre um triângulo agronômico de eficiência na produção (fazer mais com menos), atender à planta em sua necessidade hídrica e escolher o método adequado de irrigação. Entendendo esse processo, é incorreto atribuir ao agronegócio e à irrigação a vilania da crise hídrica nacional.


*Vice-presidente da Abimaq

A violência no Brasil está alarmante, por Lúcio Machado Borges*

O que eu estou dizendo neste momento não é nenhuma novidade, mas infelizmente é a mais pura verdade: os níveis de violência estão alarmante e o pior é que não estamos enxergando nenhuma luz no fim do túnel.
No dia de ontem, um sargento da reserva da Brigada Militar (a polícia militar aqui do Rio Grande do Sul), morreu com um tiro na cabeça e uma outra cliente de um mercado da cidade de Gravataí (região metropolitana de Porto Alegre), também morreu durante um assalto em um supermercado desta cidade. Na semana passada, tivemos mais um caso revelado de taxista que cometeu crime aqui em Porto Alegre. Sabemos que a maioria dos taxistas são pessoas honestas e trabalhadoras, mas seguidamente tem ocorrido de taxista envolvido em casos de estupros. Como se apenas isso não bastasse, está aumentando a frequência de ataques a caixas eletrônicos com dinamites. Quase todos os dias temos um novo caso deste tipo aqui no Rio Grande do Sul.
Sabemos que o estado do Rio Grande do Sul está passando por dificuldades financeiras. Sabemos que está faltando dinheiro para a saúde, educação, segurança e saneamento básico. Também não é nenhuma novidade que o governo anterior de Tarso Genro, do PT deixou inúmeras dívidas para o atual governo pagar, mas precisamos dar um jeito nesta situação, não podemos mais viver deste jeito. Como se faz isso eu confesso que não sei, mas o estado do Rio Grande do Sul está passando por sérias dificuldades e precisa de um socorro urgente.
A população gaúcha, assim como os demais habitantes dos demais estados do Brasil não aguentam mais este caos que tomou conta do Brasil, tanto na área da segurança pública, como as áreas da educação, saúde, etc. Poderia ir bem mais adiante, falando da inflação alta que está assolando o pais, o alto preço dos alimentos, a estagnação da economia, do desemprego que deve começar a crescer, já que a economia brasileira está travada, mas a população brasileira quer que os governantes tomem as devidas providências para que possamos conseguir sair desta inércia. Do jeito que estão as coisas não estão dando mais para aguentar!


*Editor do site RS Notícias


Artigo escrito no dia 2 de junho de 2015.

A Tragédia do Desterro

Numa das passagens mais sangrentas e aviltantes da história, a capital de Santa Catarina teve seu nome alterado de Desterro para Florianópolis

Em 16 de abril de 1894 chegava ao fim o revolucionário Governo Provisório da República dos Estados Unidos do Brasil, que havia se insurgido numa guerra civil contra o governo central do marechal Floriano Peixoto.
Por seis meses, a cidade de Desterro, capital de Santa Catarina, foi sede dessa república independente formada pela união dos revolucionários federalistas dos três estados do sul do país com os também rebelados militares da Marinha Brasileira. Após a derrota, Desterro seria rebatizada como Florianópolis – em homenagem a Floriano – e dezenas de revoltosos seriam perseguidos, presos e sumariamente executados, em um dos capítulos mais sangrentos da história brasileira.
O episódio decisivo para o fim da revolta foi o combate naval travado na madrugada daquele 16 de abril entre uma frota de 11 embarcações legalistas e o temido encouraçado Aquidaban. Líder da Revolta da Armada, como era então denominada a Marinha do Brasil, aquela embarcação representava o último elo de resistência contra o governo de Floriano. Passava das 11 horas da noite quando a frota legalista bombardeou a Fortaleza de Santa Cruz de Anhatomirim, ao norte da cidade de Desterro.

Aquidaban

Fundeado um pouco ao sul de Fortaleza, o Aquidaban preparou-se para o combate. Às duas e meia da madrugada, o caça torpedeira Gustavo Sampaio e outras três embarcações da frota legal iniciaram as manobras de ataque. O encouraçado só tomou conhecimento das torpedeiras inimigas quando distinguiu um vulto pela proa, a pouco mais de 200 metros. Ao reconhecê-las, o Aquidaban abriu fogo com seus poderosos canhões e suas metralhadoras. Porém, devido à proximidade do inimigo, os tiros de canhões passaram alto, errando o alvo, e os disparos das metralhadoras causaram apenas um leve ferimento em um de seus oponentes.
As embarcações legalistas revidaram o ataque lançando três torpedos que, no entanto, também erraram o alvo. Vendo falhar os disparos, o Gustavo Sampaio deu a volta pela popa do adversário, lançando um quarto torpedo, desta vez atingindo de forma certeira a proa do Aquidaban. O impacto do torpedo foi bastante forte, alagando os compartimentos da proa. O Aquidaban ainda tentou seguir para mar aberto, mas teve de retornar para o local mais raso, onde pôde descansar o casco no fundo.
O comandante e toda sua tripulação logo abandonaram a embarcação avariada, buscando abrigo e retirada por terra. A utilização de torpedos em um combate naval só havia ocorrido em outras duas ocasiões, sendo aquela primeira na história militar brasileira.
Naquela manhã de 16 de abril de 1894, o Aquidaban, a melhor embarcação da Marinha Brasileira, ia a pique e com ele a Revolução Federalista e a Revolta Armada em Santa Catarina. Assim que em Desterro souberam do resultado do combate, os membros do governo revolucionário instalado na ilha catarinense fugiram para o continente. No dia 19 de abril, chegaria à cidade o coronel Antonio Moreira César, promovendo um sangrento “ajuste de contas” com os revoltosos vencidos.

O Autoritarismo de Floriano

As causas desse turbilhão de acontecimentos, no entanto, começaram a fermentar alguns anos antes, com a Proclamação da República, em 1889. No Império, o poder militar do país concentrava-se na monarquia e nobiliárquica Marinha de Guerra. Com o novo regime, essa hegemonia transferiu-se para o Exército, composto em boa parte pela pequena burguesia.
Desde 1891 no comando da República, após a renúncia forçada de Deodoro da Fonseca, o vice-presidente Floriano Peixoto tomara uma série de medidas autoritárias: demitiria governadores, aposentara e rebaixara militares, intimidara o poder judiciário e censurara a imprensa. As forças econômicas e políticas do sul do Brasil, por sua vez, continuavam se sentindo preteridas no cenário nacional. Existiam ainda os monarquistas, saudosos do antigo regime, e até republicanos e positivistas descontentes com os rumos militaristas assumidos pela República.
O repúdio aos atos de de centralismo e autoritarismo praticados pelo governo era quase uma unanimidade nacional, unindo várias insatisfações políticas, militares e econômicas contra o governo ditatorial de Floriano.
Esse clima de tensão imperava no país quando, em 2 de fevereiro de 1893, iniciou-se no Rio Grande do Sul a Revolução Federalista, alguns dias depois da eleição, escandalosamente fraudulenta, de Júlio de Castilhos à presidência do estado. Em um dos lados, estavam os federalistas, também chamados “maragatos”. Liderados por silveira Martins, tinham Gumercindo Saraiva como seu verdadeiro chefe militar. Já os castilhistas, conhecido como “pica-paus”, contavam com o apoio de Floriano. A guerra civil espalhou-se pelos três estados do sul, perdurou por 31 meses e foi marcada por atrocidades contra civis e militares.
As “sangras” ou degolas, e os fuzilamentos – execuções sumárias praticadas com requintes de crueldades por ambos os lados – vitimaram aproximadamente 10 mil pessoas, mortandade sem paralelo na história do Brasil.
Por sua vez, no Rio de Janeiro, o almirante Custódio José de Melo, ex-ministro da Marinha, descontente com os atos de Floriano e contando com o apoio dos monarquistas e partidários de Deodoro, exigiu a renúncia do vice-presidente. Como o marechal não cedeu, parte da esquadra sob liderança de Custódio de Melo rebelou-se, bombardeando a capital federal, em 6 de setembro de 1893, e dando início à Revolta Armada. Logo depois, seguiu para o sul do país uma força-tarefa rebelde sob o comando do capitão mar e guerra Frederico Guilherme de Lorena.
A intenção era estabelecer contato com as tropas federalistas que também s batiam contra o governo da União. Protegida pelo costado do encouraçado Aquidaban, a frota do comandante Lorena escapou da batalha de Guanabara sob o fogo das fortalezas de Santa Cruz, São João e Lage, chegando à Ilha de Santa Catarina em 26 de setembro. A decisão do comandante Lorena de seguir para Desterro, mesmo sem ordens superiores expressas para isso é creditada ao fato de o governo estadual haver já se declarado contrário a Floriano. Outro motivo seria a posição estratégica da Ilha de Santa Catarina, porto abrigado e próximo aos conflitos do sul. O fato de Lorena ter passado a maior parte de sua infância em Desterro deve também ter pesado nessa decisão que em breve selaria de forma drástica o seu próprio destino e o da cidade na qual crescera.

Uma Nova República no Sul

Embora o governo civil de Santa Catarina fosse simpático aos federalistas, a Guarnição Militar permanece fiel a Floriano. Assim, na manhã do dia 27 de setembro, os disparos da artilharia legalista, que havia se deslocado para o norte da Ilha de Santa Catarina, fizeram a frota rebelde recuar. Contornando a ilha e entrando pela baía sul a bordo do cruzador República, Lorena fundeou sua força-tarefa em frente à cidade de Desterro, de onde intimou a resistência legalista à rendição.
Com exceção do pequeno Forte de Santana, que contava com dois canhões Krupp, e a Capitania dos Portos, com um canhão Bange, as demais fortificações estavam guarnecidas apenas com o velho armamento do século XVIII, sem eficiência contra os modernos canhões das embarcações rebeldes. O comandante do Forte de Santana ainda fez reunir diversos canhões de ferro fundido, imprestáveis, que jaziam havia anos enterrados pela metade, enfeitando os logradouros públicos da cidade. Era uma tentativa desesperada de simular um poderio bélico de que não dispunha.
Mesmo inferiorizado, Santana trocou tiros com o cruzador República, que, fora, do alcance daquela precária munição, bombardeou o forte com eficácia, forçando-o a um imediato cessar-fogo. No dia 29, reuniram-se 46 oficiais de diferentes patentes do Exército e da Armada que se achavam no Desterro. Assinaram os amistosos e honrosos termos do acordo de rendição da guarnição do Desterro. Aquele documento seria posteriormente, a sentença de morte de muitos daqueles oficiais, fuzilados em Anhatomirim no ano seguinte.
A pacata cidade de Desterro, agora em poder dos revoltosos da Armada, seria proclamada capital daquela nova república. Em 14 de outubro de 1893, na frente do Palácio do Governo do Estado, o comandante Frederico de Lorena declarou instalado o Governo Provisório da República dos Estados Unidos do Brasil. O novo governo considerava-se separado da União, enquanto Floriano Peixoto não fosse deposto. Esse Governo Provisório almejava unir os rebeldes da Armada aos federalistas do Sul, com o objetivo comum de derrubar Floriano. Pretendia também justificar, perante outras nações, a solicitação do reconhecimento do estado de beligerância. Isso as obrigaria à neutralidade, impedindo o livre fornecimento de armas e munições ao governo legal.
Pouco tempo depois, essa suposta unidade se mostraria extremamente frágil e começaram a aflorar os desentendimentos entre os líderes da Revolta da Armada e os federalistas, em luta no Paraná e no Rio Grande do Sul. Estes últimos, na verdade, nunca se consideraram parte efetiva daquele militarizado Governo Provisório. As várias correntes de pensamento, contrárias ao Governo Central, careciam de uma unidade ideológica compondo u amálgama de interesses muitas vezes conflitantes. Eram separatistas, federalistas, republicanos “históricos” preteridos no poder, parlamentaristas, positivistas, militaristas, civilistas e monarquistas.
Junte-se a isso o surgimento de disputas por poder, conflitos entre lideranças locais, vaidades e ambições pessoais e políticas, além de falta de recursos para financiar a revolução. Esse conjunto de causas levou a desintegração do sonho de um governo revolucionário único. Na realidade, a oposição a Floriano era talvez o único ponto de convergência entre esses vários ideais. Fora motivo bastante para deflagrar uma revolta mas insuficiente para sustentar um movimento coeso.
Em março de 1894, Frederico de Lorena entregou o Governo Provisório para uma junta governativa, e Floriano Peixoto conseguiu reorganizar suas forças navais e retomar o porto do Rio de Janeiro. Ingenuamente, os revoltosos consideravam a queda do marechal apenas uma questão de tempo. Por isso menosprezaram a aquisição das novas embarcações europeias e americanas pelo Governo Central, denominando jocosamente a frota florianista de “esquadra de papelão”.
Com o insucesso da tomada de Rio Grande por Custódio de Melo, e a posterior entrega dos navios da frota rebelde ao governo argentino, ficaram em Desterro apenas o encouraçado Aquibadan e mais três pequenos vapores. Todos sob a frágil proteção das fortalezas da barra. Foi quando a esquadra legal partiu do Rio de Janeiro para a retomada do Sul.
Com a derrota do navio rebelde Aquibadan, no combate de 16 de abril de 1894, o movimento foi debelado em Santa Catarina e Desterro, retomada pelas tropas federais. Braço direito de Floriano Peixoto, o temido coronel Antônio Moreira César – cuja perversidade lhe valeria o apelido de corta cabeças – chegou à cidade no dia 19. Com a função de delegado do governo federal, assumiu o governo militar do estado no dia 22 de abril. Chefiando com mão de ferro as forças de intervenção em Santa Catarina, e contando com o das lideranças republicanas locais. Moreira César iniciou uma violenta represália aos vencidos. Tão sangrenta como foram as degolas praticadas no Rio Grande do Sul e no Paraná pelos dois lados em luta.
Na caça aos revoltosos, ele e seu auxiliares praticaram saques, estupros, incêndios e morticínio de cidadãos indefesos. Foi um tempo de terror, silêncio e traições, quando foram utilizadas as mais cruéis formas de coação e tortura. A fortaleza de Anhatomirim, foi o principal palco desses acontecimentos servindo de prisão e local de massacre para dezenas de revoltosos, que lá foram sumariamente fuzilados. Um contemporâneo daqueles dias de violenta repressão aos federalistas foi o escritor e jornalista Duarte Schutel, que registrou: “Encheu-se de presos tudo o que podia servir de prisão.
Os calabouços e solitárias da cadeia comum, as salas da Câmara, o Quartel de Polícia, o de Linha e até Teatro, tudo foi pouco, e foi preciso remeter para os navios de guerra os presos à medida que se enchia uma prisão, para fazer lugar aos que chegavam. Esses que embarcam levam destino da Fortaleza de Santa Cruz; deles bem poucos voltaram (…) o maior número, os outros, nunca mais regressaram dessa viagem porque uns não chegaram e muitos ali jazem para sempre (…). A capital catarinense viveu dias de terror, com a população temendo sair às ruas. O silêncio, o recolhimento, o andar soturno dos habitantes horrorizados faziam contraste lúgubre com a algazarra e o desmando, com as petulantes maneiras e sinistras ameaças dos selvagens soldados, que enchiam as ruas e as praças”.
Os prisioneiros eram encaminhadas à Anhatomirim e ficavam encarcerados nos calabouços no Paiol da Pólvora, na Casa do Comandante e no Quartel da Tropa. A recomendação de Moreira César ao comandante da Fortaleza para pô-los “em risão segura” era uma senha previamente combinada para o fuzilamentos. As execuções foram comunicadas a Floriano em telegrama de 8 de maio de 1894, que diz “Marechal Floriano – Rio – Romualdo, Caldeira, Freitas e outros, fuzilados segundo vossas ordens – Antônio Moreira César”. No entanto, nunca se conseguiu de fato provar a autenticidade desse telegrama.
Embora não se conheça o local exato das execuções, a Árvore dos Enforcados, um velho araçazeiro localizado no lado sudeste da ilha, teria sido, segundo a tradição oral, o local do enforcamento e fuzilamento de dezenas de prisioneiros. Ao contrário do fuzilamento, o enforcamento era considerado uma morte sem honra, destinada a criminosa comuns. O “ajuste de contas” de Moreira César promoveu prisões e execuções sumárias, atingindo tanto militares quanto civis, sem nenhum tipo de julgamento ou processo.
Por isso, o número exato de mortos nunca pôde ser levantado. Dentre as vítimas chacinadas na fortaleza constam o barão de Batovi, herói da Guerra do Paraguai, vários outros oficiais que haviam assinado a ata de rendição de Desterro e Frederico Guilherme de Lorena, presidente do Governo Provisório. Dependendo do historiador consultado, o número de mortos oscila entre 34 e 185 vítimas.
Muitos foram sepultados numa área gramada, no alto da Ilha de Anhatomirim, próximo ao farolete ainda existente na fortaleza. Outros podem ter sido jogados ao mar ou enterrados em covas rasas em algumas praias do continente em frente à fortaleza. Em 1913, os restos mortais de alguns dos fuzilados em Anhatomirim foram trazidos para o cemitério de Florianópolis e, em 1934, transladados para o Rio de Janeiro. Na lista de vítimas, encaminhada ao Ministério da Marinha pelo capitão dos portos Lucas Boiteau constavam 43 nomes. No entanto, nunca foi revelada a fonte em que se baseou esta lista.
A culpa desse massacre não pode recair única e exclusivamente sobre Moreira César e seus principais auxiliares diretos, nem mesmo apenas sobre Floriano, mandatário maior do país. Ela deve ser compartilhada também com a classe política local e as demais instituições organizadas da época. Quando não compactuaram diretamente com os atos sanguinários de Moreira César, foram, na melhor da hipótese,inertes e omissas aos seus desmandos arbitrários.

Homenagem ou Bajulação

Como golpe final na revolução, a cidade de esterro mudaria seu nome para Florianópolis, numa controversa homenagem a Floriano Peixoto. Na verdade, o nome do “Desterro” não agradava aos habitantes locais. Tanto que, em 1888, apresentara-se, na Assembleia Provincial, uma sugestão para que “Ondina” fosse adotado como nome da cidade, sem obter, no entanto, maioria para aprovação. Em 1892, Virgílio Várzea reapresentou o mesmo projeto, que não chegou a ser votado.
Outras denominações foram ainda propostas à época: Nossa Senhora da Baía Dupla, Boa Vista, Ponta Alegre e Redenção, entre outros. Finda a revolução, coube ao desembargador Vidal Capistrano, liderou os republicanos catarinenses, propor a mudança do nome para “Florianópolis”, num ato público em 17 de maio de 1894. Levado à consideração de Moreira César, o assunto foi entendido como de competência do Congresso Legislativo, pois sendo delegado do governo da União, tinha escrúpulos de decretar “o que tanto se almejava, para não passar o menor vislumbre de dúvida sobre a manifestação espontânea do povo”. A proposta foi aprovada por unanimidade pelo Legislativo e efetivada pela Lei no 111 de 1º de outubro de 1894, sancionada já pelo novo governador, Hercílio Luz. O artigo primeiro da lei trazia a sucinta redação “A actual Capital do Estado fica, desde já, denominada Florianópolis”.
Como vemos, a mudança do nome da cidade ocorreu, não por imposição direta de Floriano ou Moreira César, mas por uma decisão consciente e soberana das elites políticas catarinenses – apesar de duvidosamente democrática, em função do clima de “caça às bruxas” ainda vigente naqueles meses.
Pode-se as motivações dessa mudança de nome se explicam pelas intenções bajulatórias e apressadas para homenagear a figura do dito “consolidador da República”, ou pela necessidade de abrandar a sede de vingança de Moreira César, ou o mesmo apenas pelo sádico prazer de eternizar naquele topônimo o golpe final sobre os federalistas vencidos. Independentemente de tomar partido daqueles que hoje defendem aquele batismo como uma homenagem consolidada, merecida ou não, daqueles que refutam como uma humilhação, a ser ainda reparada, o que importa, sem dúvida, é ter consciência e clareza histórica dos fatos que culminaram naqueles acontecimentos.

Torpedos utilizados pela primeira vez no Brasil

O uso de torpedos em combate havia ocorrido somente na Guerra da Crimeia, em 1854, e na Revolta Chilena, em 1891. Foram utilizados com êxito pela terceira vez na história do mundo e primeira no Brasil no combate naval travado ao largo da Fortaleza de Anhatomirim, na baía ao norte da Ilha de Santa Catarina. Entre os quatro torpedos de 135 milímetros disparados pela esquadra legalista do marechal Floriano Peixoto, todos os modelos B-57, de fabricação alemã, três deles não atingiram o encouraçado Aquibadan nem nenhum outro alvo. Um desses artefatos foi encontrado por pescadores há alguns anos e levados para o Museu Naval da Marinha, no Rio de Janeiro, onde se encontra até hoje exposto no pátio daquela instituição. Dois outros torpedos ainda permanecem no fundo do mar, em Santa Catarina, à espera de um resgate arqueológico.

As melhores embarcações da Armada Brasileira

As duas embarcações mais notáveis da Armada, como era chamada no século XIX a Marinha Brasileira lutaram em lados opostos durante a revolta de 1893/94. O caça- torpedeira Gustavo Sampaio, de fabricação em aço pelos ingleses, em 1893, era o melhor navio adquirido pela esquadra legal. Pesava aproximadamente 498 toneladas, media em torno de 62 metros de comprimento, chegando a desenvolver velocidade de 18 nós. Era armado com dois canhões de 120 milímetros, e outros quatro de 47 milímetros. Possuía três tubos lança-torpedos de 135 milímetros. O encouraçado Aquidaban, também fabricado em aço, foi adquirido da Inglaterra em 1896. Era a principal embarcação da Marinha quando liderou a frota revoltosa contra o governo de Floriano Peixoto. Pesava aproximadamente 5 mil toneladas, media em torno de 93 metros de comprimento por 17 metros de largura, chegando a desenvolver velocidade de 16 nós. Era armado com oito canhões de 225 e 140 milímetros, 11 metralhadoras de 25 milímetros, outras cinco de 11 milímetros, além de cinco tubos de lança-torpedos. Depois de ir a pique no combate de abril de 1894, ocorrido junto à Fortaleza de Anhatomirim, em Santa Catarina, o Aquibadan seria recuerado e reformado na Alemanha e Inglaterra. Em janeiro de 1906, explodiria acidentalmente numa missão de rotina., naufragando na Ponta de Jacuacanga, em Andra dos Reis (RJ), e levando 112 pessoas à morte.

PARA SABER MAIS

CALDAS, Cândido. História Militar da Ilha de Santa Catarina: Notas. Florianópolis: Editora Lunardelli.
MARTINS, Hélio Leôncio. História Naval Brasileira: quinto volume. Tomo IA. Rio de Janeiro: Ministério da Marinha/Serviço de Documentação da Marinha, 1995.
SCHUTEL, Duarte Paranhos. A República Vista do Meu Canto. Florianópolis: Instituto Histórico e Geográfico de Santa Catarina, 2002.
TONERA, Roberto. Fortalezas Multimídia. Florianópolis, Editora da UFSC, Projeto Fortalezas Multimídia 2001 (CD-ROM)


Fonte: História Viva

A Revolução Francesa

Tempo: 1789-1799

Local: França

Antecedentes:
  • A França estava marcada pelo atraso de suas instituições e por uma grave crise econômica e social, buscava, então amenizar as pressões;
  • A Composição social era:
  • 1º Estado Clero
  • 2º Estado Nobreza
  • 3º Estado Povo: Burguesia, trabalhadores, desempregados e camponeses (sans-cullotes);
  • A burguesia depois de acumular capitais, vê que não precisa mais do rei e começa a buscar poder como na Revolução Gloriosa. O povo é formado pela burguesia, trabalhadores, camponeses e desempregados. Na França os camponeses são chamados de sans-cullotes (sem calça). Quem sustenta o clero e a nobreza através dos impostos é o povo;
  • A França sofreu um aumento demográfico, mas não teve um respectivo avanço tecnológico, então surge a inflação;
  • A França em crise e o rei Luís XVI (1774-1792) começa a distribuir alimentos à população para amenizar a situação. No entanto, os alimentos são insuficientes, então o rei nomeia ministros para cobrar mais impostos, o que a nobreza não tolera;
  • A única alternativa que restou foi dar a responsabilidade do problema para a Assembleia. O povo, assim como os ministros, queriam aumentar os impostos sobre a nobreza e o clero, porém a nobreza se opunha;
  • O rei, então, institui voto por Estado, onde o povo fica em desvantagem (nobreza e clero detinham dois votos e o povo apenas um);
  • O povo então sai dos Estados Gerais e forma uma Assembleia.

Assembleia Nacional (1789-1792):

  • Paralelamente a elaboração da Constituição foi elaborada também a declaração dos direitos do homem e do cidadão, além de ter iniciado o processo de expropriação das terras da Igreja;
  • A Constituição promulgada nessa fase determinava a instauração de uma monarquia constitucional, do voto censitário e a eleição de uma assembleia legislativa. Essa assembleia foi composta basicamente de girondinos (maioria) e jacobinos;
  • Todo o povo (3º Estado) na França tinha interesse em transformar a sociedade;
  • A Revolução Francesa foi uma revolução burguesa, pois foi a burguesia que conduziu a revolução e procurou mudá-la favorecendo-a. Mas, para efetivar a Revolução a burguesia precisa da ajuda dos trabalhadores e dos camponeses;
  • A revolução se inicia quando o 3º Estado discorda da manobra do rei e forma uma outra assembleia nacional constituinte, que quer criar uma nova constituição. Essa constituição promulgada quer limitar o poder do rei Luís XVI;
  • Na prática, quem vai defender essa nova constituição são os sans-cullotes;
  • O rei tenta impedir a revolução, mas não consegue;
  • Diante da possibilidade do Rei dissolver a constituição, os sans-culotes começam a fazer “barricadas” (proteções nas ruas) e com isso nasce o símbolo da Revolução Francesa. A Tomada da Bastilha – libertando assim pessoas que haviam sido presas por causa da Revolução Francesa. Conseguindo assim, provar que o rei não detinha mais autoridade;
  • Logo em seguida, foi instituído a declaração dos homens e do cidadão, na qual todos os homens são iguais perante a lei;
  • A constituição elaborada diz que o governo deve ser uma monarquia constitucional, o voto vai ser censitário e elegeu uma Assembleia Legislativa para criar leis para o rei cumprir.

Convenção Nacional (1792-1795): eleita por sufrágio universal, a convenção acabou sendo ocupada por uma maioria de jacobinos que promovem medidas populares como tabelamento de preços (Edito Máximo – Lei do preço máximo) e a abolição da escravidão nas colônias;
  • Nessa fase, a traiçao da nobreza e do clero impede os jacobinos, sob a liderança de Robespierre a adotar a política do terror, que executa nobres, dentre eles o próprio rei Luís XVI;
  • O descontrole do terror contribui para o enfraquecimento dos jacobinos levando os girondinos a promoverem o golpe do Termidor que executa Robespierre;

Diretório (1795-1799): dominado por cinco girondinos, essa fase marca a supremacia dos girondinos, a extinção das conquistas populares e as pressões da nobreza restauradora.
  • Ocorreu em 1795 e 1797, golpes realistas (queriam o retorno dos Bousbons, à direita);
  • Em 1796, ocorreu a Conspiração dos Iguais, um movimento dos sans-cullotes, liderados por “Graco” Babeuf;
  • Externamente, o exército francês acumulava vitórias, onde se destacou a figura e Napoleão Bonaparte, militar brilhante e habilidoso;
  • Necessitando garantir-se e consolidar a República burguesa contra as ameaças internas, os girondinos desfecham um golpe contra o Diretório, com Bonaparte na liderança. Foi o golpe de 18 de Brumário (9 de novembro de 1799);
  • O Diretório foi substituído pelo Consulado representado por três elementos: Napoleão, o abade Sieyes e Roger Ducos. Sendo que o poder na verdade se acumulou na mão de Napoleão, que ajudou a consolidar as conquistas burguesas da Revolução. Dando assim o início à Era Napoleônica.



Fonte: Fich@rio On-Line

A Revolução Francesa e a Educação

O homem livre que se conduz por si mesmo necessita de mais luzes do que o escravo que abandona sua conduta a um outro.” Condorcet,1792

Um dos temas mais fascinantes colocados pela revolução de 1789 foi a questão da educação popular. De certa forma até hoje ainda se tenta, particularmente nos países do Terceiro Mundo, levar adiante o programa dos revolucionários franceses, especialmente o do filósofo Condorcet.

A Declaração e a educação

É bom lembrar que a ideia de que todos nós, independentemente de sexo, religião, raça, nascimento ou situação social, devemos ter acesso à mesma educação foi um dos mais significativos e duradouros legados da Revolução Francesa de 1789. Chegar a ela, a essa conquista, realmente não tem sido fácil, mas o primeiro passo foi inquestionavelmente dado pela proclamação da Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, de 26 de agosto de 1789, e reafirmado por uma outra declaração de dirietos, a de 1793, em seu artigo 22.

O fim dos jesuítas

A discussão dos destinos e raio da abrangência da instrução pública deu-se de forma extremamente polêmica, bem antes dos acontecimentos de 1789,. Remontou há trinta anos antes, aos tempos em que se dera a batalha entre os que defendiam a expansão da autoridade real e os inacianos, fazendo com que os primeiros conseguissem com que a Companhia de Jesus fosse finalmente proibida de possuir escolas na França. Em 1762, um decreto real interditou seus colégios, fazendo com que mais de 600 prédios administrados pelos padres jesuítas passassem ao controle dos notáveis locais.

Rousseau e La Chalotais

Como que prenunciando o vigoroso debate que se seguiria, naquele mesmo ano Jean-Jacques Rousseau fizera publicar seu ensaio pedagógico – Emílio – em que se propunha, além do abrandamento dos castigos físicos nas escolas, um retorno às chamadas virtudes naturais. Mas o que causou mais sensação na época foi um livro de La Chalotais, um pedagogo que há anos vinha lutando para tornar o ensino uma atividade exclusivamente secular. La Chalotais, no entanto, não desejava estendê-lo ao povo inteiro. Ensino estatal sim, mas apenas para as classes abandonadas, chegando até condenar os Frèves Ignorantins, integrantes do baixo clero francês, que ensinavam os rudimentos do alfabeto aos trabalhadores e aos pobres em geral.

Reações contra o ensino público

Segundo ele, ensinar as letras aos operários e camponeses seria desviá-los das tarefas que a natureza e a ordem social haviam determinado para eles! … Foi o que bastou para que ninguém menos do que Voltaire, um elitista assumido, se congratulasse com o pedagogo, pois, para o grande escritor, as luzes não eram para “alfaiates e bodegueiros”, mas sim um apanágio da aristocracia pensante.
Mais radical ainda foi o cura de Lisieux, o padre Réguis que em seus sermões arengava contra a inutilidade de esclarecer os trabalhadores; “saber ler e escrever”, dizia ele do seu púlpito, “não os ensinará a melhor lavrar a terra, não irá lhes melhorar os costumes, nem lhes tirar a malícia […] nem os torna mais dóceis ao seu pastor, nem os torna mais virtuosos e mais cristãos”. Louvem-se, no entanto, alguns professores jansenistas (dissidência católica), como Jean-Baptiste Crévier, que contra-argumentava terem sido os “Evangelhos escritos para serem lidos” e que a fé seria reforçada por aqueles que tinham o domínio dos princípios cristãos expressos nos livros.



A Revolução Francesa de 1789


Cronologia

Em seis anos a Revolução Francesa teve muitos avanços e recuos. Nessa cronologia estão os fatos mais marcantes desde a convocação dos Estados Gerais (1789) até o golpe do 9 Termidor (1794):

1789

  • Março: os camponeses se revoltam nos departamentos de Provença, Picardia e Cambresis;
  • 5 de maio: sessão de abertura dos Estados Gerais, que foram convocados pelo Rei Luís XVI, para resolver a crise;
  • 17 de junho: o Terceiro Estado (povo e burguesia), um dos três grupos dos Estados Gerais, se proclama Assembleia Nacional;
  • 9 de julho: a Assembleia Nacional proclama-se Constituinte;
  • 11 de julho: demitido o ministro das Finanças, Jacques Necker, um progressista; o descontentamento cresce;
  • 12 de julho: vários amotinamentos, incêndios e refregas;
  • 13 de julho: formada uma milícia burguesa;
  • 14 de julho: o povo toma a Bastilha – o símbolo do absolutismo francês;
  • 20 de julho: inicia o chamado “grande medo”, pânico geral e mais revoltas;
  • 4 de agosto: a Assembleia vota a abolição parcial de privilégios feudais;
  • 26 de agosto: votação da Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão;
  • 5 e 6 de outubro: as mulheres marcham a Versalhes e trazem Luís XVI para Paris;


1790

  • Maio: discutidos os direitos de paz e guerra. O conde de Mirabeau vende seus serviços ao Rei;
  • 31 de agosto: massacre dos soldados suíços que estavam amotinados em Nancy.

1791

  • 20 a 21 de junho: Rei Luís XVI e sua família fogem de Paris, mas são detidos em Varennes;
  • 15 de julho: a Assembleia Constituinte desculpa a fuga do Rei;
  • 17 de julho: La Fayette é acusado de tirar contra os grupos que exigiam a deposição do Rei, no Campo de Marte;
  • 14 de setembro: Luís XVI jura fidelidade à Constituição;
  • dezembro: a França se prepara para enfrentar os exércitos estrangeiros.

1792

  • 23 de janeiro: agitações contra a falta de café e açúcar;
  • 15 de março: formado o ministério girondino;
  • 24 de abril: Rouget de Lisle compõe a Marselhesa;
  • 13 de junho: cai o ministério girondino;
  • 11 de julho: a Assembleia Legislativa (eleita após a dissolução da Constiuinte) declara: “A pátria está em perigo”;
  • 10 de agosto: mais insurreições; o povo assalta o palácio das Tulherias, massacrando os guardas suíços do Rei; é convocada a Convenção Nacional – o órgão máximo;
  • 2 a 6 de setembro: o povo massacra os contrarrevolucionários que estão nas prisões;
  • 20 de setembro: o Estado rompe com a Igreja Católica; fica instituído o divórcio;
  • 21 de setembro: abolição da monarquia;
  • 11 de dezembro: inicia o processo de acusação contra Luís XVI.

1793

  • 21 de janeiro: guilhotinamento de Luís XVI;
  • 10 de março: instituído o Tribunal Revolucionário, Danton é o ministro de Justiça;
  • 5 de abril: instalado o Comitê de Salvação Pública – um dos braços de Convenção Nacional;
  • 31 de maio a 2 de junho: 27 deputados girondinos são presos em Paris, acusados de conspiração;
  • 10 de julho: reforma do Comitê de Salvação Pública; Danton é afastado;
  • 13 de julho: Marat é apunhalado dentro de uma banheira;
  • 17 de julho: abolição definitiva, sem indenizações, dos privilégios feudais;
  • 27 de julho: Robespierre assume o Comitê de Salvação Pública;
  • 4 e 5 de setembro: o “Terror” entra na ordem do dia;
  • 17 de setembro: aprovada lei que permite executar suspeitos;
  • 5 de outubro: entra em vigor o calendário republicano;
  • 16 de outubro: execução da Rainha Maria Antonieta;
  • 31 de outubro: execução dos girondinos.

1794

  • 24 de março: executados os seguidores de Jacques Hébert;
  • 30 de março: guilhotinamento dos dantonistas;
  • 10 de junho: reorganização do Tribunal Revolucionário; início do “Grande Terros”;
  • 22 e 23 de junho: falham as tentativas de conciliação;
  • 27 de julho: Golpe do 9 Termidor. Robespierre é acusado de tirania e guilhotinado, com 22 de seus partidários, no dia seguinte.



A Revolução Francesa de 1789 Parte II

A queda da monarquia e a República revolucionária

Somente na aparência as coisas se acalmaram depois da formação da Assembleia Nacional, da aprovação dos direitos e de uma Constituição monárquica. A partir de 1791 a Coroa, a Assembleia e as ruas iriam se envolver em um redemoinho que as levariam à guerra civil e ao terror revolucionário.

A fuga do rei

O que restava do prestígio de Luís XVI, de resto um homem afável e avesso aos gestos violentos, se desfez em razão de uma desastrada e desesperada tentativa de fuga, ocorrida em 20 de julho de 1791. Antes, o rei já havia passado por outras humilhações. A cinco de outubro de 1789, por exemplo, uma multidão de mulheres marchara de Paris até Versalhes. No dia seis elas invadiram o Palácio de Versalhes e obrigaram-no a voltar, ele e sua família, para o Palácio das Tulherias, em Paris, onde seria colocado sob vigilância popular. O monarca e os seus passaram a morar nas Tulherias, como se fossem prisioneiros de fato.
Na noite de 20 para 21 de junho de 1791, numa trama arquitetada por Axel de Fersen, um aristocrata estrangeiro muito próximo à rainha Maria Antonieta, rei Luís XVI tentou escapar da França, acompanhado pela esposa e seus quatro filhos e um grupo reduzido de cortesãos. Sua Majestade escapuliu do Palácio das Tulherias secretamente numa carruagem rumo à Bélgica. Preparada às pessoas a tentativa malogrou em Varennes, na fronteira da Bélgica. Justo ali, depois de parar numa taverna, Luís XVI foi reconhecido, detido pela milícia local e recambiado para Paris.

O plano contra revolucionário

A fuga de Luís XVI fazia parte de um plano contra revolucionário. Muitos nobres que se exilaram logo após a tomada da Bastilha queriam que Luís XVI comandasse uma invasão da França apoiado pelos exércitos dos reis estrangeiros. Para tanto, para proteger-se a ele e aos seus, era preciso sair a qualquer custo de Paris. Provas desse plano forma posteriormente encontradas nos papéis do rei existentes dentro de um armário de ferro nas Tulherias. E também de que a rainha tivera diversos encontros com Mirabeau (morto pouco antes da fuga real)que, exatamente como Marat e Alexandre Lameth, em momentos diferentes denunciaram, desejava conciliar a revolução com a monarquia. A Coroa pagara regiamente o tribuno da revolução.
Em seu retorno à capital, escoltado, o rei e sua família foi acolhido por uma imensa multidão que, aqui e ali, o injuriava como traidor. De certa forma aquele desfile tétrico pelas ruas de Paris, a maior parte dele envolto num silêncio sepulcral, foi a antecipação do percurso que Luís XVI e sua mulher tiveram que cumprir uns meses depois rumo ao cadafalso da Praça da Guilhotina (ironicamente situada na Praça Concórdia!). Politicamente, o rei morreu naquele dia.

A invasão da França

As turbulências persistiram em 1792, ano em que a França passou da monarquia à república. Os revolucionários estavam cercados pelos reis estrangeiros que, como os documentos aprendidos revelaram, pretendiam invadir a França e restabelecer o poder absolutista. A 25 de julho, o duque Brunswick, comandante das tropas austro prussianas encvadas em socorro do monarca preso pelo seu próprio povo nas Tulherias, depois de adentrar em território francês, lançou uma intimação sobre Paris: quem não se submetesse à autoridade real seria punido exemplarmente por meio de tribunais militares de exceção.


A reunificação Sui-Tang

Durante o período de desunião, a falta de ortodoxia central permitiu que as Seis Dinastias do Sul, a maior parte com capital em Nanjing, e os Dezesseis Reinos do Norte se diferenciassem e inovassem. O budismo e o daoísmo inspiravam artistas, filósofos e escritores. Muitas histórias dinásticas referem-se às efêmeras pequenas dinastias dessa era.
Os três séculos das dinastias Sui-Tang (589-907) finalmente restabeleceram o ideal chinês de unidade desenvolvido sob os Han. O Norte da China fora devastado pelas invasões nômades, enquanto o Sul do país ao longo do Yangzi tinha prosperado de forma relativamente pacífica. Os sessenta milhões de pessoas estimados sob a dinastia Han no ano 2 d.C. (principalmente no Norte da China) tinham sido reduzidos em números, mas a migração de famílias Han para o Sul começara a mudar o centro da gravidade da China. Na época moderna, o Sul da China abrigaria dois terços da população chinesa. Porém, do século VI ao X a grande massa popular da China ainda habitava a planície do Norte, facilmente unificada, onde foi constatada uma grande quantidade de prefeituras, cada uma com cem mil moradias (digamos, quinhentas mil pessoas). Conforme assinalado por Mark Elvin (Bluden e Elvin, 1983), ao Império Romano “faltou uma região dominante e consolidada que se comparasse”. A centralidade do Norte da China e a enorme população eram um fator de união. Quem quer que a controlasse poderia facilmente subjugar as demais áreas, incluindo o Sul da China.
Os fundadores das dinastias Sul e Tang tinham se casado com famílias de tribos nômades achinesadas. Agora eram as famílias aristocráticas do Noroeste da China, localizando-se especialmente na atual província de Shanxi e na região da antiga capital que ia do vale Wei, passando pelo lado sul do rio Amarelo, até a planície do Norte da China. Assim como os Zhous e os Qin, essa área ao noroeste obtinha sua força militar dos povos nômades. Dos pastores das pradarias, os chineses compravam cavalos para batalhas de cavalarias, calças para montar com as pernas separadas, selas e, depois, estribos, além de arreios e, por fim, a coleira, que seria cópia do Ocidente. As relações desses clãs com a Ásia Central no comércio e na dilomacia eram próximas e influentes muito antes da reunificação Sui-Tang dentro da China.
O fundador dos Sui permanecia a uma família Yang parcialmente nômade com a residência a meio caminho entre as duas antigas capitais dos Zhou e dosHan, Chang'an e Luoyang. O fundador da dinastia Tang era, da mesma forma, um descendente de uma família Li de origens militares turcas e status aristocrático. Esses aristocratas militares tinham se casado tanto com os chineses como com familiares um do outro, formando um grande grupo homogêneo de hindus à altura das empreitadas dispendiosas de conquistas e administração. Os reis nômades do Norte da China adotaram de forma tão zelosa maneiras chinesas, incluindo idioma, vestimentas e métodos de governo, que seus estados híbridos pareciam ser, nos registros históricos, propriamente chineses.
O último dos Dezesseis Reinos já haviam unificado o Norte da China quando o fundador dos Sui Tomou o poder em 581. Elaborou rapidamente um novo código judicial com quinhentos artigos, impôs a ordem do governo local e deu continuidade a diversas instituições iniciadas por reinos anteriores. Entre estas estava o sistema de “Campo igualitário” que deveria, a cada ano, reservar vários acres de terra cultivável a cada homem adulto. Ele também continuou com o sistema de responsabilidade coletiva por grupos de residências, as milícias com administração territorial e as colônias agrícolas militares na fronteira. A burocracia unificada resultou no recebimento de impostos; silos de ajuste de preços compravam grãos nos tempos de fatura e os vendiam barato em tempos de carestia. Nesse ínterim, os monastérios budistas tornavam-se grandes latifundiários de influência crescente. A devotada patronagem do imperador criou (nas palavras de Arthur Wright) um “budismo imperial”.
A conquista do Sul pelos Sui ao longo do Yangzi não foi muito destrutiva, e o segundo imperador, Sui Yangdi, conseguiu mobilizar os recursos do império para grandes projetos. Um foi a ampliação do Grande Canal desde o norte de Hangzhou, e então até o noroeste na região Luoyang. Em 609, ele foi estendido em direção ao nordeste, para a região de Tiajin e Beijing, Utilizando os riachos e lagos locais, o transporte de balsa podia levar mantimentos e mercadorias do baixo Yangzi até o Norte da China para fortalecer a fronteira norte, além de alimentar a área da capital. Foram construídos grandes silos (cada um podia armazenar 33 milhões de alqueires).
Essa desordenada explosão de energia sob um imperador com visões de grandeza já inspirou comparações entre os reinos de vida efêmera de Sui Yngdi e Qin Shihuang, dois que excederam. A tentativa de conquista da Coreia por Yangdi esgotou seus recursos, e essa derrota contribuiu para desanimar a rebelião e ocasionar sua perda do mandato.
Os fundadores da dinastia Tang foram mais prudentes. Herdaram as conquistas dos Sui, incluindo a enorme capital de oito por nove quilômetros. Chang'an, e a capital secundária, Luoyang. Enquanto os departamentos administrativos da dinastia Han tinham coordenado os assuntos palacianos e dinásticos familiares lado a lado com os assuntos de interesse geral da nação, os Sui e os Tang estabeleceram seis ministérios – administração pessoal, fazenda, ritos, exércitos, justiça e obras públicas – que formariam as principais divisões do governo chinês até 1900. Outros órgãos incluíam a censura, que analisava relatórios sobre a conduta oficial e até mesmo a imperial, e uma versão primitiva do sistema de exames oficiais.
No governo do segundo imperador, os exércitos Tang espelharam-se pelo exterior em todas as direções, derrotando os coreanos, expandindo-se ao sul pelo norte do Vietnã e, principalmente, forçando seu domínio na Ásia Central até que houvesse prefeituras chinesas funcionando a oeste dos Pamirs. Essa expansão dos Tang pelas cidades comerciais dos Oásis da Rota da Seda abriu caminho para um maior contato com a Ásia Ocidental. A capital dos Tang em Chang'an tornou-se uma grande metrópole internacional, um marco do mundo eurasiano. Entre 600 e 900, nenhuma capital ocidental ganhava dela em tamanho e esplendor.
A destreza militar dos Tang equiparava-se às conquistas nas belas-artes e na literatura. A poesia Tang tornou-se modelo para períodos posteriores o vigor criativo dos Tang permitiu-lhes ser uma sociedade mais aberta, aceitando estrangeiros do Japão, Coreia e Vietnã em sua vida urbana, bem como da Pérsia e da Ásia Ocidental. O budismo tinha acrescentado uma outra dimensão à herança Tang dos Han. Os estados mais recentes que emergiram na Ásia Central baseavam suas instituições nos Tang.


Fonte: China – Uma Nova História, páginas 85, 86 e 87.

A reunificação na era budista

À medida que a unidade da China sobre os Han se desintegrava, a fé budista, que tinha sido importada da Índia na metade do século I d.C., foi ganhando adeptos, enquanto o confucionismo estatal entrava em declínio. O barbarismo e a religião seguiram-se ao colapso do Império Han, como aconteceu ao Império Romano. Mas os resultados na China foram diferentes dos da Europa.
O mecanismo básico do declínio da dinastia Han foi o de sempre: o surgimento de poderes locais ou regionais que eclipsaram os da dinastia central. A fraqueza do centro adveio de diversas causas: a sucessão de Imperadores Han incompetentes, sua dominação pela família da imperatriz, a usurpação de poder por eunucos e muitas outras rivalidades entre facções na corte. O favoritismo e a corrupção resultaram na nomeação de pessoal inadequado, exploração do povo, desconsideração dos interesses das famílias de comerciantes e magnatas e um enfraquecimento da capacidade militar da dinastia.
Essas fraquezas internas interagiram com o crescimento do poder local e regional nas mãos das famílias aristocráticas donas de latifúndios e cidades muradas, bem como das indústrias dentro delas.
O desastre definitivo foi em 220, com uma revolta de famílias aristocráticas ex-nômades do Norte da China e seus servos, que tinham se estabelecido dentro da Muralha, mas mantido suas habilidades e propensões bélicas.
À época dessas rebelião, estavam em marcha dois processos que acarretariam mais três séculos de desunião entre o Norte e o Sul da China – primeiro, a incursão recorrente de povos nômades ao norte da China, e segundo (em parte como consequência disso), a migração dos chineses da dinastia Han para áreas mais amenas e férteis do vale Yangzi, mas para o sul. Isso foi a base para um duplo do desenvolvimento de pequenas dinastias regionais ao norte e ao sul. Após a era conhecida como a dos Três Reinos, de 220 a 265 d.C., e uma reunificação temporária do país entre 280 e 304, seguiu-se, nos séculos de 317 a 589, uma sucessão conhecida como as Ses Dinastias no Sul da China ao longo e abaixo do Yangzi e, no Norte da China, basicamente uma arena de disputa entre todos os Dezesseis Reinos.
Os principais invasores ao norte já não eram Xiongnu turcos, cuja confederação se tinha rompido, mas um povo nômade protomongol conhecido como os Xianbei, que organizava estados em Gansu, ao oeste, e Hebei e Shandong ao leste. Em vez de barbarizarem a cultura chinesa local, esses invasores menos civilizados logo se entrosaram com as características chinesas, casaram-se com gente do povo Han da região e constituíram cortes ao estilo chinês. Os mais proeminentes eram os turcos de Toba, que constituiram sua dinastia ao norte de Wei do Norte (386-535), primeiro em Datong, no norte de Shanxi, e depois (quando tinham conquistado e reunificado o Norte da China) em sua segunda capital, Luoyang, logo ao sul do rio Amarelo, que fora a capital dos Han posteriores. Outras das grandes conquistas dos Wei no Norte era sua devoção ao budismo e os grandes entalhes em pedra que fizeram próximo às suas duas capitais.
O budismo espalhou-se rapidamente não só no Norte como também entre as Seis Dinastias do Sul. Na época áurea do budismo na China, do século V ao IX, o confucionismo foi eclipsado, e os ensinamentos budistas, assim como a arte budista, tiveram um efeito profundo na cultura chinesa, tanto ao norte como ao sul.


Fonte: China – Uma Nova História, página 83.