sábado, 6 de junho de 2015

A inércia e a incompetência do judiciário brasileiro, por Lúcio Machado Borges*

Todos nós ficamos estarrecidos com o que acontece no Brasil. Aliás, segundo um jurista italiano “o Brasil é famoso pelas suas prostitutas, não pelo seus juristas”. Infelizmente isso é a mais pura verdade! A justiça brasileira, além de inerte é incompetente. O que eu falo agora é por experiência própria: se você tem um processo contra o Estado, este processo demora demais. Até porque o judiciário, assim como o legislativo e o executivo, ele representa os três poderes constitucionais do país. Ou seja, são parceiros e por isso um não interfere na esfera do outro. Um processo que você tem para receber, seja precatório, seja trabalhista, ele demora muito, já que são “poderes irmãos”. Agora o outro lado: se você deve para o governo água, luz, telefone ou se você tiver que pagar uma pensão alimentícia, ou você paga ou “leva ferro”. Nestes casos não tem choro e nem vela. A mesma coisa é o usucapião. Ele só vale para terras particulares. As terras públicas é inconstitucional.
Vejamos agora o que anda acontecendo no Brasil: é curioso que desde o Mensalão, passando agora pelo Petrolão, não vimos nenhuma manifestação da OAB e da CNBB. Eu tenho certeza que se estes escândalos tivessem acontecidos no governo FHC estariam nas ruas se manifestando até agora. A presidente Dilma Rousseff disse que as operações do BNDES são “segredo” e nem assim a CNBB e a OAB se manifestaram contra. O BNDES é um banco que opera com os recursos dos impostos pagas pelo povo brasileiro. É lógico que tem que haver transparência nisso e o povo brasileiro precisa saber como é que está sendo investido o seu dinheiro. Não é preciso ser muito inteligente para ver que a presidente Dilma não quer abrir a caixa preta do BNDES porque ela tem a plena ciência que fizeram operações ilegais e que tem muita corrupção com este dinheiro que deve ter sido desviado do BNDES.
Outra coisa que eu acho extremamente revoltante é que o judiciário “chora de barriga cheia”. No ano passado, em uma entrevista na TV Cultura, um determinado juiz estava sendo entrevistado sobre qual a sua opinião sobre o auxílio moradia que começava a ser pago naquele momento para o judiciário. Pois ele teve a coragem de dizer o seguinte: “ainda bem que estão começando a pagar o auxílio moradia, já que o nosso salário está tão defasado que não dá nem para is a Miami nos finais de semana para comprar um terno novo”. Que duvidar disso, por procurar na internet. Tem um vídeo sobre isso no YouTube.
Além do auxílio moradia que o judiciário está recebendo desde o ano passado, eles agora estão pleiteando auxílio creche, auxílio transporte e redução de carga horária de oito para sete horas semanais. É impressionante: são privilegiados, são os servidores que mais ganham, os que mais tem folga e ainda assim acham ruim. Ora, se é tão ruim assim, por que não largam o osso? Por que não vão trabalhar na iniciativa privada? Por que não montam um escritório de advocacia e trabalham por conta própria.
Mesmo com toda essa vergonha eu acredito que um dia a coisa muda. Isso não é para sempre. Um dia esta mamata vai acabar!

*Editor do site RS Notícias


Artigo escrito no dia 24 de maio de 2015.

A imprensa gaúcha e o complexo de inferioridade da torcida gremista, por Lúcio Machado Borges*

É gritante a má vontade da maior parte da imprensa gaúcha em relação ao time do Grêmio. Seguidamente vivem falando que o Grêmio não tem time, que o Grêmio não tem plantel. Esta mensagem subliminar é tão forte, que até o ex-técnico gremista, Luiz Felipe Scolari vivia repetindo isso. Essa foi uma das causas que acabou perdendo o comando do time no vestiário.
O Grêmio, a exemplo do próprio Internacional, a maioria dos seus jogadores são meninos que são pratas da casa. Pois bem, então qual a diferença? Por que os meninos do Inter estavam dando bons resultados e os do Grêmio não? A resposta é simples: o que estava faltando ao time do Grêmio era autoestima. Os jogadores estavam com a autoestima muito baixa. A imprensa esportiva colorada gaúcha vivia criticando os meninos do Grêmio e ao mesmo tempo, vivia elogiando os garotos do Internacional. Os jogadores do Grêmio não tinham o apoio nem a confiança do seu ex-treinador Luiz Felipe Scolari, que a todo o instante vivia pedindo reforços para a direção.
Com a chegada de Roger Machado para comandar o Grêmio, ele foi um brilhante lateral-esquerdo de zagueiro muito sucesso com a camisa do Grêmio, também é um estudioso do futebol. Roger é formado em Educação Física e já fez vários cursos de especialização no futebol. O maior problema do Grêmio era a baixo estima.
Com a chegada de Roger, o Grêmio empatou na sua primeira partida contra Goiás no Serra Dourada em 1 X 1 e ganhou com autoridade do Corinthians na Arena, por 3 X 1. O mais curioso foi que eu vi um torcedor gremista, dizendo na televisão que quase não acreditou que aquele fosse o time do Grêmio. Ele disse que parecia o time do Inter pelo bom futebol apresentado. Aqui fica uma dica: parem de ouvir os programas esportivos das rádios Guaíba e Gaúcha. Pelo que eu noto, nestas duas emissoras, tem jornalistas muito rancorosos que detestam o time do Grêmio.
Tem um ex-jogador de futebol de Grêmio e Internacional que é comentarista de uma emissora que transmite os jogos do Campeonato Gaúcho e do Campeonato Brasileiro. É impressionante a má vontade que este cidadão tem contra o Grêmio em seus comentários durante as partidas. Acredito que isso deveria ser estudado pelas Faculdades de Psicologia do Rio Grande do Sul. Gostaria de entender a razão de tanto ódio deste cidadão.

*Editor do site RS Notícias


Artigo escrito no dia 5 de junho de 2015.

A História da Lapa

  1. Primórdios
Não obstante a falta de elementos positivos, admite-se que os primeiros civilizados a realizarem incursões na região dos Campos Gerais foram Aleixo Garcia, que comandou a primeira bandeira paulista, em 1526 e, mais tarde, em 1531, as bandeiras de Pero Lobo e Francisco Chaves.
O terceiro expedicionário a penetrar a região foi Alvaro Nuñes Cabeza de Vaca, em 1541, na viagem que realizou da Espanha ao Paraguai, na qualidade de “adelantado” (governador) daquela província espanhola na América do Sul.
Trazendo a missão de tomar posse para a coroa de Castels das terras situadas ao ocidente da linha limítrofe com as de Portugal, na América, Cabeza de Vaca apontou em Cananeia, que considerava pôrto espanhol e em São Francisco, desembarcando a 29 de março de 1541 na Ilha de Santa Catarina. O 'adelantado' castelhano tomou posse, em nome do rei de sua pátria, das três localidades visitadas.
Acompanhado de um contingente de 250 homens de armas, 36 cavalos e alguns índios “vaqueanos”, Cabeza de Vaca subiu o Itapocu, atravessou à Serra do Mar, à margem oriental do Campo do Tenente e o rio Iguaçu, nas proximidades da atual cidade de Araucária.
Trazendo a missão de tomar posse para a coroa de Castela das terras situadas ao ocidente da linha limítrofe com as de Portugal, na América, Cabeza de Vaca aportou em Cananeia, que considerava porto espanhol e em são Francisco, desembarcando a 29 de março de 1541 ria ilha de Santa Catarina. O 'adelantado' castelhano tomou posse, em nome do rei de sua pátria, das três localidades visitadas. Acompanhado de um contingente de 250 homens de armas, 36 cavalos e alguns índios “vaqueanos”, Cabeza de Vaca subiu o rio Itapocu, atravessou à Serra do Mar, à margem oriental do Campo do Tenente e o ria Iguaçu, nas proximidades da atual cidade Araucária.
Antonio Raposo Tavares, no segundo ataque que levou a efeito aos 'pueblos' espanhóis de Vila Rica do Espirito Santo e Ciudad Real del Guaira, transpôs o rio Paraná, atingindo o 'pueblo' de Santiago Xéres. Em 1636, o mesmo aguerrido bandeirante, chefiando uma bandeira de 120 paulistas e mais 1.000 índios tupis, atingiu a localidade de Tapes, em São Pedro do Rio Grande do Sul. Diz Ellis Júnior que “tomou a bandeira o caminho do Guaíra, passando pelo Açungui e sertão dos Carijós.
Em que pese a falta de referência, é livre de dúvida que Raposo Tavares passou pelos Campos Gerais, na região onde se encontra a legendária cidade da Lapa. No ano de 1720 Zacarias Dias Côrtes organizou uma expedição levada aos Campos de Palmas, com resultados satisfatórios e promissores, tendo feito importantes descobrimentos, com que se entusiasmou o governo da Capitania de São Paulo, a determinar uma verificação no caminho para o Rio Grande do Sul. Aliás, a abertura de uma via de comunicação dessa natureza já havia sido sugerida pelo sertanista Bartolomeu Paes. Preciso lhes corrigir as “diretrizes”. Nova bandeira foi levantada, para proceder à retificaçao, e Manoel Rodrigues da Mota manteve-se no sertão à sua custa. Deve-se, portanto, a abertura da Estrada do Mota, que tantos serviços prestou ao povoamento dos Campos Gerais de Curitiba e do Rio Grande do Sul, ao bravo bandeirante curitibano Manoel Rodrigues da Mota. Esta denominação foi facilmente alterada, mais tarde, para “Estrada da Mata”; isso porque, do Rio Negro para o sul, o caminho atravessava uma região de intensa floresta virgem. A abertura do caminho foi iniciada em 1730 e concluídas em 1731. O trecho que aqui recebeu a denominação de Estrada da Mata era apenas uma parte do histórico Caminho de Sorocaba-Viamão.
Ao longo dessa estrada foram surgindo os “pouso” ou “invernadas” dos tropeiros e comerciantes de gado com a famosa feira de Sorocaba. Um desses “pousos” recebeu a denominação de Capão Alto. Co ma abertura da Estrada da Mata, em 1731, o governo da Capitania de São Paulo resolveu criar um Registro para cobrança do pedágio do gado que transitava por aquele caminho, o qual foi instalado à margem do rio Iguaçu que, por esse motivo, ficou sendo conhecido por rio do Registro.

II Vila Nova do Príncipe

O Capão Alto estava localizado no ponto em que a lenda, um século depois, veio consagrar a um famoso asceta, quando então passou a chamar-se Gruta do Monge. Era ali o final da etapa diária para aqueles, que , pela manhã, deixavam as margens do rio Negro e que, ao anoitecer, buscavam local próprio para o repouso mereceido. Em torno do Registro, que outra coisa não era senão um Posto fiscal, foram paulatinamente se estabelecendo alguns moradores. João Pereira Braga e sua mulher, D. Josefa Gonçalves da Silva, forma os primeiros a se estabelecerem na localidade de Capão Alto.
Os primitivos moradores dedicaram-se às atividades agrícolas, o que contribuiu para o desenvolvimento da localidade. Em consequência, o antigo pouso de Capão Alto, em meados do século XVIII, já contava com regular número de habitantes. Já existia uma capelinha tosca sob a invocação de Nossa Senhora do Capão Alto, erigida pelos Padres Carmelitas do Tamanduá, e que teve por primeiro vigário o padre João da Silva Reis, filho do primeiro casal que chegou à localidade. A povoação foi elevada à categoria de freguesia no dia 13 de junho de 1797, tendo como padroeiro Santo Antônio. Nessa época chegou ali o capitão Francisco Teixeira Coelho, de nacionalidade portuguesa, que se interessou pela localidade, prestando reais serviços ao seu progresso.
Por ocasião das expedições para descoberta dos sertões do Tibagi, levadas a efeito por determinação do tenente-coronel Afonso Botelho de Sampaio e Souza, estacionou na povoação uma companhia de auxiliares, que recebeu a inspeção daquele militar a 10 de fevereiro de 1771, tendo o mesmo providenciado “o mais que era preciso para aumento de nova Freguesia”. O progresso da freguesia era cada vez mais empolgante, despertando, por isso, nos povoadores, a esperança de conseguirem a sua elevação a vila.
Contava já com “trezentos e tantos fogos”, apresentando aspecto agradável à vista, com suas ruas bem alinhadas quando, em 1806, o seu comandante mandou edificar o prédio que deveria servir de Câmara e Cadeia. Nessa altura, os habitantes do lugar, 'tendo à frente o capitão Francisco Teixeira Coelho, comandante das funções da freguesia, passaram procuração ao coronel José de Carvalho e capitão José de Andrade e Vasconcelos, para que qualquer deles solicitasse ao governador-geral da Capitania de São Paulo a elevação da freguesia à categoria de vila, com Justiça Ordinária e Juiz de Órfãos”.
Desempenhando-se da missão que lhe foi confiada, o coronel José Vaz de Carvalho, como procurador dos habitantes da freguesia do Capitão Alto, requereu a graça da ereção da vila no dia 26 de fevereiro de 1806. Em sua petição alegava, entre outras coisas, a circunstâncias de achar-se a referida freguesia muito distante da vila de Curitiba, o que dificultava sobremaneira os negócios forenses.
Lembrava ainda, o requerente, os limites para o distrito da nova vila, que seriam o rio do Registro (Iguaçu), com os distritos de Curitiba e Lages, o rio da Estiva, hoje catarinense. A petição teve despacho favorável, chegando a notícia da criação da vila à florescente povoação no dia 6 de junho de 1806.
Em regozijo pelo auspicioso acontecimento, realizaram-se nesse dia solenes festas populares procedendo-se, na casa da Câmara Municipal, a eleição dos juízes de paz e vereadores, que deveriam exercer o mandato na primeira legislatura. Foram eleitos Gabriel da Silva Sampaio, juiz Presidente; José França, José Vieira e Manoel Maciel, vereadores; e, João Ferrasores, procurador do Conselho. A povoação tomou então a denominação de Vila Nova do Príncipe.
Em carta datada de 20 de junho de 1806, o capitão Francisco Teixeira Coelho comunicava ao Governador de São Paulo a satisfação de que se achava possuído o povo da vila, pelo atendimento as suas aspirações. Em 1829 chegaram ao Paraná os primeiros imigrantes alemães, em número de 60 pessoas, que se estabeleceram na antiga Estrada da Mata, dando início à fundação do Senhor Bom Jesus do Rio Negro, núcleo colonial que contribuiu de forma notável para o progresso do Paraná. Os colonos tedescos se compunham de 12 famílias e chegaram à Capela da Estrada da Mata no dia 6 de fevereiro de 1829.
Durante o seu governo, Catarina II, da Rússia, que era de origem germânica, promoveu o desenvolvimento de uma colonização alemã de grandes proporções, às margens poéticas do Volga. A grande Czarina deu todo o paoio a essa colonização, porém, em 1877, o novo Czar revogou as disposições de Catarina II, passando a oprimir os alemães com impostos e serviço militar obrigatório.
Foi assim que naquele ano, da população alemã do Volga, que atingia vinte mil habitantes, partiu a primeiro grupo de imigrantes, com destino às terras livres do Brasil. Em aqui chegando, esses colonos escolheram para seu estabelecimento um lugar no planalto paranaense, nas proximidades da então Vila Nova do Príncipe.
Os núcleos coloniais fundados pelos alemães do Volga, em território do atual município da Lapa, foram denominados Mariental, Johannisdorf, Wirmond e outros. Esse núcleos progrediram rapidamente e, dentro em breve, surgiram diversos outros localizados no planalto paranaense. Documentos históricos merecedores de fé informam que já em 1829, à época da fundação do núcleo alemão da Estrada da Mata, alguns imigrantes se estabeleceram na Vila Nova do Príncipe, dedicando-se aos trabalhos da construção da estrada. Aos poucos esse número foi aumentando. O patriarca da família alemã da Lapa foi Eugênio Westphalen, farmacêutico, natural de Berlim, que chegou ali em 1830. Homem culto e trabalhador, chefe de família numerosa, Eugênio Wetphalen deu notável contribuição ao progresso e desenvolvimento da vila.


  1. Guerra dos Farrapos

Durante a Guerra dos Farrapos, a Lapa constituiu-se em ponto de concentração das forças legais, principalmente, quando José Garibaldi invadiu Santa Catarina, em 1843.
Com a criação da Província do Paraná, em 1853, e sua consequente organização judiciária, a Vila do Príncipe passou a ser o 5º termo judiciário e policial da comarca de Capital, sendo-lhe jurisdicionada a freguesia do Rio Negro, que já contava com 421 fogos, uma população de 1884 habitantes e dois eleitores para o colégio da Vila do Príncipe.
Por decreto nº 1.418, de 16 de agosto de 1854, foi criado o juízo Municipal e de órfãos da vila, sendo nomeado primeiro o juiz o Dr. Manoel de Barros Wanderley Lins que, ao que tudo indica, não assumiu o cargo.
A 30 de maio de 1870, Vila Nova do Príncipe foi elevada à cabeça de comarca, deixando, assim, de ser termo judiciário de Curitiba. A instalação da nova comarca ocorreu a 11 de junho de 1871, pelo seu primeiro juiz de Direito, Dr. Antônio Cândido Ferreira de Abreu.
Em 1872, Vila Nova do Príncipe recebeu foros da cidade, passando a denominar-se cidade da Lapa, nome por que era conhecida a povoação desde os princípios de sua história, mas que não era adotado oficialmente.
Após a proclamação da República, por Decreto número 28, do Governo do Estado do Paraná, foi instalada a primeira Intendência Municipal e a Câmara, que ficou constituída pelos senhores Eduardo Alberto de Andrade Wirmond, Presidente; Francisco Manoel da Silva Braga, Vice-Presidente; e Olympio Westphalen, Tobias Cardoso Moreira, João Pacheco dos Santos Lima. Dr. Cândido Ferreira e Américo Pereira de Rezende, vogais.

  1. Revolução Federalista

A cidade da Lapa tem uma página épica de sua história, nas lutas que ali se desenrolaram por ocasião da Revolução Federalista, no ano de 1894.
No início daquele ano, a parte sul do município foi invadida pelas tropas revolucionárias rio-grandenses. Então, de um momento para outro, a pacífica e calma cidade campesina foi transformada em autêntica praça de guerra, onde, por vários dias seguidos, se verificaram sangrentos acontecimentos. Os exércitos revolucionários sob o comando de Gumercindo Saraiva, vitoriosos nas campinas do Rio Grande do Sul, depois de haverem conquistado grande parte do território catarinense, tencionavam apoderar-se das unidades legalistas, apossando-se de Curitiba. E já no dia 27 de dezembro de 1893, vários piquetes do inimigo apareciam nas proximidades de Lapa, que contava com uma guarnição de pouco mais de 700 homens.
Visando obstar a marcha vitoriosa do inimigo, a general Argolo organizou uma Divisão do Exército de 1800 homens, para defender o Paraná, lutando contra as hostes de Gumercindo e Aparício Saraiva. Essa Divisão ficou constituída de quatro brigadas mistas, ficando a primeira, segunda e quarta na cidade de Lapa, e a terceira em Tijucas, na encruzilhada, sob o comando do coronel Adriano Pimentel. Em virtude de ordens do Comando Geral, alguns dias depois, o grosso das tropas governistas era desfalcado. Diversos efetivos partiram para Tijucas, Ambrósios e Paranaguá, a fim de reforçar as guarnições dessas cidades. Outros destacamentos guerrilhavam o inimigo no Campo do Tenente, Várzea e Rio Negro.
Finalmente, a 15 de janeiro de 1894, apresentaram-se frente à cidade de Lapa, as hostes federalistas, compostas por um efetivo de cerca de 1200 homens, surgindo pela estrada do Rio Negro.
As forças legais, sob o comando do bravo general Antonio Ernesto Gomes Carneiro, logo que os revolucionários se aproximaram numa distância de quatro quilômetros, romperam fogo de artilharia. Imediatamente os exércitos inimigos estenderam as linhas de atiradores, flanqueada por numerosa cavalaria e responderam à saudação com tiros de quatro canhões Krup.
Poucas horas após cessava o primeiro combate e, de lado a lado apresentava-se os contentadores para a batalha que seria travada no dia seguinte. Ainda durante esse dia, os atacantes canhonearam por diversas vezes os legalistas, que não puderam responder ao fogo inimigo, dando pouca distância em que se achavam da Praça e por medida de economia. No dia 17 de janeiro, pela manhã, partiu para Curitiba o capitão Lauro Müller, a fim de se entender com o comandante do Distrito sobre o concerto de um novo plano de defesa.
Logo após a partida do trem, que se movimentou com grande velocidade, os revolucionários romperam cerrado fogo contra a praça, realizando, imediatamente, um ataque pela retaguarda, pois durante a noite haviam contornado a cidade, ocupando posições no alto da Gruta do Monge. A peleja foi renhida durante todo o dia, sendo mantidas pelos defensores todas as posições que ocupavam. Do dia 18 a 21 continuou o ataque de lado a lado, tendo os legalistas, construído trincheiras em diversas ruas da cidade, que se achava completamente sitiada.
A 22 continuou o combate, tendo os revolucionários descido para as matas entre a Gruta do Monge e a cidade, ocupando posições também atrás do Cemitério. As 7 horas da manhã desse dia, três cavaleiros desceram do Monge, exibindo uma bandeira branca, para parlamentarem. Intimados a pararem à distância, não atenderam, recebendo, por isso, uma saraivada de balas que os obrigou a regressar.
Em represália, romperam os atacantes cerrada fuzilaria contra a Praça. Mas, como a demora do sítio roubava aos revolucionários o tempo de que tanto precisavam para outras conquistas, cessaram eles o fogo por alguns instantes, enquanto José Loureiro e Artur Balster, negociantes em Curitiba, procuravam servir de intermediários, evitando o derramamento de sangue. O general Gomes Carneiro, comandante da Praça, porém, não os recebeu, fazendo-os retornar ao local de origem.
Novamente recomeçou a renhida peleja, ocupando os sitiantes à Estação Ferroviária, o Cemitério Municipal e o Engenho Lacerda, enquanto os sitiados se recolhiam às trincheiras. Mas não puderam ainda os revolucionários contar com a vitória. Os sitiados, encorajados pelo admirável valor do seu comandante, iniciaram a reconquista dos pontos tomados pelo inimigo. Clementino Paraná, à frente das forças do Regimento de Segurança, assaltou e conquistou a Estação; Inacio Costa expulsou os sitiantes das matas da direita. O número de baixas foi elevado de parte a parte.
De 23 a 26 foi diário e de sol a sol o bombardeio de Lapa pelos quatro canhões Krup dos atacantes. A defesa foi reduzida em seu raio e limitada às zonas de trincheiras. O inimigo ocupou a Rua das Tropas e o Alto da Lapa.
De 28 de janeiro a 1º de fevereiro, a cidade, exposta aos tiros dos sitiantes, foi inclementemente batida. Em qualquer das ruas o trânsito se tornou perigoso. “Não raro viam-se caírem feridos ou mortos aqueles que, por necessidade do serviço ou por atos comuns de imprudência, transitavam por elas”.
De 2 a 6 de fevereiro, os atacantes consolidaram suas posições e mantiveram seguido tiroteio. A 7, já o inimigo tiroteava dos quintais da Rua da Boa Vista, e as forças, muito numerosas, atacavam todos os flancos da cidade.
“Trava-se então renhido e mortífero combate, no qual os contendores, se não chegaram ao uso da arma branca, fuzilavam-se, entretanto, apenas separados por cercas de tábuas que dividiam os quintais ou fechavam os lances de rua onde não existiam casas”.
Serra Martins dirigia os setores de um lado da cidade e Joaquim Lacerda, os de outro lado: Gomes Carneiro, a cavalo, estava em toda a parte, dando o exemplo e animando a resistência. Foi assim que apareceu na trincheira erguida no cruzamento da Rua das Tropas com a da Boa Vista entre as casas de Francisco de Paula e do coronel João Pacheco, onde a fuzilaria estava dizimando a guarnição. Apenas chegara, uma bala de fuzil inimigo o prostrou gravemente ferido. Foi recolhido à casa próxima, do professor Pedro Fortunato de Souza Magalhães, onde ficou em tratamento, aos cuidados do Dr. João Cândido Ferreira, médico da segunda Brigada.
O duelo entre a trincheira e os atacantes recrudesceu. Os patriotas lapeanos, do Batalhão Floriano Peixoto, Henrique José dos Santos e alferes Fidêncio Guimarães, comandante e subcomandante desse setor, quase que ao mesmo tempo caíram mortos. O alferes aluno Gustavo Leblon Régis, que manobrava, com eficiência, um canhão Krup, era posto fora de combate, gravemente ferido.
Mortos ou feridos, caíram todos os defensores da heróica e fatídica trincheira. Calou-se, finalmente, o canhão. Emudeceram as carabinas. Pela trincheira, defendida agora pelos mortos, ia passar triufante o inimigo. Mas, num supremo instante apareceram para combater ao lado deles, o coronel Lacerda, o major Menandro Barreto e o capitão Sisson, com reforços de patriotas lapeanos e do 17º de Infantaria de Linha.
E o canhão rimbombou de novo. E as carabinas estalaram outra vez, no ritmo agônico dos tiroteios, num suremo esforço de defesa da praça e da legalidade. As casas da Rua Boa Vista começaram a ser invadidas pelo inimigo. Numa luta fratricida e feroz, caíam de parte a parte, dezenas de combatentes.
No fragor de um desses assaltos, tombou, atingindo por uma bala, o Dr. José Amintas de Barros, Comandante do Batalhão Floriano Peixoto e que havia sido promovido ao posto de tenente-coronel na véspera desse dia aziago.
Noutro setor é mortalmente ferido pelo coronel Cândido Dulcídio Pereira, ídolo dos seus soldados e comandante do Regimento de Segurança. A luta foi por todos os lados árdua e mortífera. Mas a vitória era das armas inimigas. Daí resultaram, desânimos e deserções. A causa da defesa perdia entusiasmo e esperanças. Reinava o fatalismo quase em desalento.
No dia 8 de fevereiro os soldados do Regimento de Segurança foram informados da morte do seu bravo comandante, coronel Dulcídio Pereira. Foi preciso antecipar o seu enterramento, para que os soldados voltassem aos seus postos.
Findava-se, também, quase à mesma hora, o general Gomes Carneiro, comandante-geral da Praça.
A situação era extremamente grave. Havia, contudo munição e víveres para mais alguns dias. Diante disso, reunidos todos os comandantes de unidades, o coronel Lacerda propôs que assumissem todos o compromisso da honra, de defender a cidade, até que se esgotassem os últimos recursos.”De pé, braços estendidos e mão sobrepostas, - foi essa promessa solenemente feita”.
No dia 10, a notícia da morte do general Gomes Carneiro era conhecida de todos. A desolação foi geral. O cadáver do grande herói, envolto na bandeira do 17º Batalhão de Infantaria, foi sepultado na sacristia da Matriz de Lapa. Na manhã do dia 11, um emissário dos sitiantes trouxe um ofício do general Laurentino Pinto Filho, comandante do 2º Corpo do Exército Revolucionário, dirigido ao coronel Joaquim Lacerda, propondo a capitulação. Já então a impressão geral era a de que, a resistência se tornara impossível e a derrota rondava as fortificações da cidade. O ofício foi assinado. Terminou assim a histórica resistência que à pequenina e pacífica cidade de Lapa trouxe o galardão de heroica e legendária.

  1. Século XX

Em 1895, foi fundada a colônia Antônio Olinto, na fertilíssima região compreendida entre as águas dos rios Negro e Iguaçu, próximo a sua confluência.
Com a criação do município de Rio Negro, foram alterados os limites do município, que perdeu a zona compreendida entre os rios Várzea e Negro, passando a servir de divisa uma linha que partindo do rio Palmito, pelas fraldas orientais da serra do Quicé, vai alcançar as cabeceiras do ribeirão Vermelho, por onde segue até a sua confluência com o rio Várzea.
Depois do acordo que dirimiu as questões de limites entre os Estados do Paraná e Santa Catarina, ficando o município de Rio Negro com uma pequena área, foi ainda desmembrado do município de Lapa extenso território de 1.000 quilômetros quadrados que foi incorporado ao município de Rio Negro.
Em 1955, o distrito de Contenda, uma de suas mais antigas colônias formada quase que exclusivamente por imigrantes polacos, foi elevado à categoria de município, motivo por que foi Lapa ainda uma vez desmembrada.

Fonte: Lapa – Cidade Histórica



A Guerra dos Emboabas

 Apesar da fome que assolou as minas em 1697/98 ter sido terrível, uma crise de desabastecimento ainda mais devastadora se abateria sobre a região em 1700. Três anos depois da descoberta das primeiras jazidas, cerca de 6 mil pessoas tinham chegado às minas. Na virada do século 18, esse número quintuplicara: 30 mil mineiros já perambulavam pela área. Simplesmente não havia o que comer: qualquer animal ou vegetal que pudesse ser consumido já o fora. “Chegou a necessidade a tal externo que se aproveitavam dos mais imundos animais e, faltando-lhes esses poderem alimentar a vida, largaram as minas e fugiram para os matos para comerem cascas e raízes”, relatou o governador Artur de Sá à corte, em 1701. Foram devorados cobras, içás, sapos e “bichos mui alvos criados em paus podres”, cuja ingestão às vezes era fatal aos famintos. Formigas tostadas viraram uma iguaria comparada à “melhor manteiga de Flandres”. Os preços de qualquer comestível que chegava à região se tornaram exorbitantes: quando os baianos abriram o caminho que, pelas margens de São Francisco, conduzia ao pólo minerador, um boi, que em Salvador valia 4 mil-réis, era ali revendido por 96 mil-réis. No Caetê, uma galinha galinha valia 14 gramas de ouro.
O pior estava por vir. “Morreu muita gente naquele tempo, de doença e necessidades e outros que matavam para os roubar, na volta, que levavam ouro (…) matavam uns aos outros pela ambição de ficarem com ele, como aconteceu em muitos casos”, relatou um contemporâneo. Em 1707, o previsível aconteceu: rebentou a guerra nas Minas Gerais. De um lado, os paulistas; de outro, os “forasteiros”, chamados de emboabas.
A Guerra dos Emboabas prolongou-se por quase três anos e deixou duas centenas de mortos. Seus episódios são confusos e contraditórios e os relatos da época eram redigidos por partidários ou inimigos de uma facção ou de outra. A seguir, o resumo do conflito e seus desdobramentos:
O que foi: A Guerra dos Emboabas foi o confronto entre os paulistas – descobridores das minas e dos caminhos que levavam até elas – e os “forasteiros” (especialmente os portugueses), que chegaram depois e se apoderaram (pela força das armas ou do dinheiro) de algumas das melhores lavras. Os queriam exclusividade na mineração.
Quanto durou: O primeiro confronto deu-se em maio de 1707, quando um paulista matou o português dono de uma estalagem em Ponta do Morro (vilarejo próximo a São João del Rei). O último combate ocorreu a 22 de novembro de 1709, quando, depois de oito dias de luta, os paulistas desistiram de tentar tomar o arraial onde os emboabas estavam entrincheirados.
Como começou: Depois do incidente em Ponta do Morro, três episódios semelhantes ocorreram em menos de um semestre. Em todos eles, um paulista matou um “emboaba” por motivo fútil. Sob a liderança de Manuel Nunes Viana, os emboabas reagiram, incendiaram Sabará e expulsaram boa parte dos paulistas das minas. Viana se tornou “governador” da região, no lugar do paulista Borba Gato. Diz a lenda que, ao chegarem em casa derrotados, os paulistas foram forçados por suas mulheres a retornar ao campo de batalha. Apesar de matarem 80 emboabas, durante o sítio ao Arraial Novo, não conseguiram a vitória.
Palavra emboaba: Vem do tupi amô-obá e significa “estrangeiro”.
Consequências: Na prática, os paulistas perderam o controle das minas mas, em 1710, São Paulo acabou se tornando uma capitania independente.


Fonte: História do Brasil (1996), página 67.

Jovem de Cabo Frio é o primeiro bailarino brasileiro a se formar no balé Bolshoi, na Rússia

Conheça a história de David Motta Soares: http://glo.bo/1eU2UlJ
O rapaz deixou a vida simples em Cabo Frio, no Rio de Janeiro, para dançar nos principais palcos do mundo.
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A Guerra de Tróia

A Guerra de Tróia realmente aconteceu? A extensão do apelo que a estória tem exercido sobre sucessivas gerações é demonstrada pelos esforços de incontáveis historiadores, arqueólogos e românticos entusiastas para estabelecer a base histórica para a guerra de Tróia. Atualmente, é geralmente aceito que o local foi corretamente identificado no final do século XIX por Heinrich Schliemann no monte Hissarlik, na planície dos Dardanelos, na costa noroeste da Turquia. Entretanto, a afirmação de Schliemann de ter descoberto a Tróia da guerra de Tróia é nos dias de hoje largamente desacreditada. O monte Hissarlik contém numerosos níveis sucessivos de habitação, e foi um dos mais recentes que Schliemann afirmava ter descoberto o maravilhosos tesouro: esta posição é agora considerada como sendo nova demais da ordem de mil anos, para ter sido destruída pelos gregos dos palácios de Micenas do continente grego. Estes podem ter sido o instrumento de destruição de um dos mais antigos níveis de Hissarlik, o qual parece ter sido queimado até o chão, possivelmente após um cerco, ao redor do período correto (por volta de 1.200 a.C.). Esta Tróia mais antiga apresentava características bastante humildes, mas na sua destruição deve estar a semente da realidade histórica ao redor da qual a lenda surgiu. Entretanto, o desenvolvimento da lenda permanece um mistério com poucas possibilidades de ser solucionado pelos arqueólogos, assim estão não havendo perigo que o romântico enigma de Tróia seja destruído.
Seja qual for a base histórica, a guerra de Tróia é o episódio isolado mais importante, ou complexo de episódios, que sobreviveram na mitologia e nas lendas gregas. Os eventos que causaram a guerra e aqueles que se seguiram estão combinados num grupo de estórias conhecidas como o Ciclo Troiano: algumas são conhecidas a partir dos dois grandes poemas Homéricos, a Ilíada e a Odisséia, mas outras partes da estória devem ser reunidas de numerosas outras fontes, indo desde os dramaturgos gregos do século V a.C., até autores romanos mais recentes. A estória como um todo pode ser comparada a uma ópera wagneriana na sua riqueza e complexidade ao entrelaçar personagens e temas; é bastante romântica e de grande apelo humano, pois, como todos os mitos gregos, trata-se da estória fundamental do homem e sua luta para existir em face do destino e dos deuses.
Um dos primeiros elos da cadeia de eventos que formaram o prelúdio da guerra de Tróia foi forjado por Ptolomeu, o grande benfeitos da humanidade. Prometeu, um primo de Zeus, tinha dado o fogo aos homens, um elemento cujos benefícios tinham tão somente sido desfrutados pelos deuses. Tinha também ensinado os homens para oferecer aos deuses apenas a gordura e os ossos em sacrifícios de animais, mantendo as melhores partes para eles próprios. Para punir Prometeu, Zeus o acorrentou num alto penhasco nas montanhas e diariamente enviava uma águia para comer seu fígado, o qual voltava a crescer à noite.
De acordo com algumas fontes, Prometeu acabou sendo libertado or Hércules, mas outras dizem que foi libertado por Zeus, quando finalmente concordou em contar-lhes um importante segredo. Este segredo relacionava-se à ninfa do mar Tétis, que era tão bela que contava com vários deuses entre seus admiradores, incluindo Posidon e o próprio Zeus; entretanto uma profecia conhecida apenas por Prometeu predisse que o filho de Tétis estava destinado a ser mais importante que seu pai. Ao saber disso, Zeus rapidamente abandonou a ideia de ser o pai de um filho de Tétis, decidindo ao invés, que deveria se casar com o mortal Peleu; o filho nascido deles seria Aquiles, o maior dos heróis gregos em Tróia.
Tétis, inicialmente resistiu aos avanços de Peleu, assumindo a forma de fogo, serpentes, monstros e outras formas, mas ele a segurava fortemente apesar de todas as suas transformações, acabando por se submeter. Todos os deuses e deusas do Olimpo, menos uma, foram convidados para o magnífico casamento de Peleu e Tétis; no meio da festa. Éris, a única deusa que não tinha sido convidada, entrou abruptamente no local e atirou entre os convidados o Pomo da Discórdia, com a inscrição “a mais formosa”. Esta maça foi requisitada por três deusas, Hera, Atena e Afrodite. Como elas não conseguiram chegar a um acordo, e Zeus estava compreensivamente relutante em resolver a disputa, enviou as deusas para terem suas belezas julgadas pelo pastor Páris, no Monte Ida, fora da cidade de Tróia, na orla oriental do Mediterrâneo.
Páris era filho de Príamo, rei de Tróia, mas quando a esposa de Príamo, Hécuba, estava grávida de Páris, sonhou que estava dando à luz a uma tocha donde surgiram serpentes sibilantes, assim, quando o bebê nasceu, foi entregue a uam criada com as ordens de levá-lo ao Monte Ida e matá-lo. A criada, entretanto, ao invés de matá-lo, simplesmente o deixou na montanha para morrer; ele foi salvo por pastores, sendo criado para também se transformar em um deles. Enquanto Páris estava vigiando seu rebanho, Hermes levou as três deusas para que as julgasse. Cada uma ofereceu uma recompensa se fosse a escolhida; Hera ofereceu riqueza e poder, Atena ofereceu habilidade militar e sabedoria e Afrodite ofereceu o amor da mais bela mulher do mundo. Conferindo a vitória a Afrodite, acabou incorrendo na ira das outras duas, as quais se tornaram daí para a frente inimigas implacáveis de Tróia. Logo depois, Páris retornou por acaso a Tróia, onde sua habilidade nas competições atléticas e sua surpreendente bela aparência causaram interesse nos seus pais, que rapidamente estabeleceram sua identidade e o receberam de volta com entusiasmo.
A mais bela mulher do mundo era Helena, a filha de Zeus e Leda,. Muitos reis e nobres desejaram desposá-la, e antes que seu pai mortal, Tindaro, anunciasse o nome do feliz escolhido, fez todos jurarem respeitar a escolha de Helena e virem em ajuda de seu marido se fosse raptada. Helena casou com Menelau, rei de Esparta, e na época que Páris veio visitá-los tinham uma filha, Hermoníone. Menelau recebeu Páris muito bem em sua casa, mas Páris pagou esta hospitalidade raptando Helena e fugindo com ela de volta a Tróia. A participação de Helena nesta situação é explicada de diferentes maneiras nas várias fontes: foi raptada contra a sua vontade, ou Afrodite deixou-a louca de desejo por Páris ou, a mais elaborada de todas, nunca foi para Tróia, e foi por causa de um fantasma que os gregos gastaram dez longos anos em guerra.

Expedição Parte

Menelau convocou todos só outros pretendentes anteriores de Helena, e todos os outros reis e nobres da Grécia, para ajudá-lo a montar uma expedição contra Tróia, de modo a recobrar sua esposa. O líder da força grega era Agamenon, rei de Micenas e irmão mais velho de Menelau. Os heróis gregos afluíram de todos os cantos do continente e das ilhas para o porto de Áulis, o ponto de reunião a partir do qual planejavam velejar através do Egeu até Tróia. Suas origens e os nomes de seus líderes estão listados no grande Catálogo de Navios próximo ao início da Ilíada.
As tribos (de guerreiros) vieram como as incontáveis revoadas de pássaros garças azuis ou cisnes de longos pescoços – que se reúnem nas campinas da Ásia nas correntes de Cayster, e movimentando-se com gritos agudos ao chegarem ao chão, numa frente avançada. Assim, tribo após tribo surgiram de barcos e cabanas.. inumeráveis como as folhas e flores em suas estações”.
Alguns dos heróis viera a Áulis mais facilmente do que outros. Ulisses, rei de Ítaca conhecia a profecia que se fosse a Tróia não retornaria por vinte anos e então fingiu loucura quando o passageiro Palamedes chegou a convocá-lo, atrelando duas mulas a um arado e movendo-as para cima e para baixo na praia; mas a farsa de Ulisses foi revelada quando Palamedes colocou o filho pequeno Ulisses, Telêmaco, na frente das mulas, e Ulisses imediatamente voltou ao normal. Os pais de Aquiles, Peleu e Tétis estavam relutantes em deixar seu jovem filho se juntar à expedição pois eles sabiam estavam predestinado que se fosse morreria em Tróia Numa tentativa de evitar o destino, o enviaram para Ciros, onde, disfarçado como uma moça, se juntou às filhas do rei Licomedes. Durante esta estada se casou com uma das filhas, Deidaméia, que lhe rendeu um filho, Neoptólemo.
Ulisses, entretanto, descobriu que os gregos nunca conseguiram capturar Tróia sem a ajuda de Aquiles; assim foi até Ciros para buscá-lo. De acordo com uma das versões da estória, Ulisses disfarçou-se de mascate, conseguiu entrar no palácio e espalhou suas mercadorias à frente das mulheres; entre as jóias e os tecidos havia as quais o jovem Aquiles demonstrou um interesse revelador. Outra fonte descreve como Ulisses arranjou para que osasse uma trombeta nos aposentos das mulheres: enquanto as filhas genuínas se espalhavam em confusão. Aquiles ficou no seu lugar e empunhou suas armas. Tendo abandonado seu disfarce, Aquiles foi facilmente persuadido a acompanhar Ulisses de volta a Áulis, onde a frota estava se preparando para zarpar.
A grande força grega, cujos maiores heróis eram Agamenon, Menelau, Ulisses Ájax, Diomedes e Aquiles, estava pronta para partir, mas o vento teimosamente ficou contra eles. Eventualmente, o profeta Calcas revelou que a deusa Ártemis exigia o sacrifício da filha de Agamenon, Ifigênia, antes que o vento mudasse. Agamenon ficou horrorizado pela profecia, mas a opinião pública o obrigou a obedecer: Ifigênia, chamada sob o pretexto de casar com Aquiles, foi, ao contrário, morta sobre o altar. Algumas fontes dizem que Ártemis ficou com pena dela no último momento e a substituiu por um cervo; de qualquer maneira, o vento mudou de direção e os barcos zarparam.

A Ira de Aquiles

Algumas vezes se considera que a Ilíada é a estória da guerra de Tróia. De fato, apesar de ela se estender largamente sobre toda a estória, seu objetivo ostensivo, como anunciado nas primeiras linhas, é mais restrito:
Canto de ira, deusa, a destruidora ira de Aquiles, filho de Peleu, que trouxe incontáveis dores aos Aqueus, e mandou muitas almas valiosas de heróis a Hades enquanto seus corpos serviam de alimento para os cães e pássaros, e a vontade de Zeus foi feita...”
A estória da Ilíada é, então, a estória de Aquiles, e sua disputa com Agamenon. Ao início da Ilíada os gregos já estavam em Tróia por nove anos. Eles tinham saqueado uma grande parte dos campos ao redor e tinham escaramuças esporádicas com quaisquer troianos que saíssem de trás de suas maciças fortificações. Os gregos estavam ficando cansados da campanha e irritados por sua falta de habilidade em conseguir uma vitória decisiva sobre a própria Tróia, quando Aquiles se desentendeu com Agamenon sobre um assunto de honra.
Agamenon, como parte do saque de um ataque o qual Aquiles desempenhou a parte principal, recebeu uma moça chamada Criseida, filha de Crisos, sacerdote do Apolo. Crisos ofereceu a Agamenon um bom resgate para a libertação da moça, porém Agamenon se recusou a libertá-la. Assim Crisos orou a Apolo, que mandou uma praga sobre o acampamento grego, e o profeta Calcas revelou que esta seria retirada apenas se Agamenon devolvesse Criseida. Aquiles estava completamente a favor de fazer isso, mas Agamenon estava relutante. Eles discutiram, e Agamenon acabou por concordar a fazer o que estava sendo ordenado, mas para reafirmar sua autoridade sobre Aquiles da maneira mais insultuosa que podia, e simultaneamente compensar-se pela perda de Criseida (a qual ele declarou preferir à sua própria esposa Clitemnestra), tomou Aquiles sua escrava, tomou Aquiles sua escrava, Briseida. Aquiles ficou justificadamente enraivecido. Não apenas foi um insulto à sua honra, mas também foi grandemente injusto, pois ele, Aquiles, tinha conduzido a maior parte de sua luta necessária a produzir os tesouros e o saque que Agamenon considerava no direito de usufruir. Assim, Aquiles se retirou para sua tenda, e não tomou mais parte nos combates ou nas reuniões do conselho. A luta se tornou mais dura, com ataques mais diretos feitos a Tróia e aos troianos. Mas os gregos estavam numa situação difícil sem seu maior guerreiro, e mesmo Agamenon tentou fazer contatos com Aquiles, oferecendo-lhe riquezas de todos os tipos, justamente com a devolução de Briseida. Aquiles, entretanto, rejeitou todos os apelos, declarando mesmo que se as ofertas de Agamenon fossem “tantas como os grãos de areia ou as partículas de pó” nunca se curvaria.
Nesta ocasião, Ulisses e Diomedes empreenderam uma expedição noturna para espionar os troianos. Não sabendo disso, um troiano de nome Dolon estava tentando fazer a mesma coisa: os gregos o surpreenderam e o forçaram a contar as disposições do acampamento troiano. Seguindo sua orientação, terminaram sua expedição noturna com um ataque ao acampamento de Reso, rei da Trácia, em cujos belos cavalos escaparam de volta para o acampamento grego.
Apesar do sucesso desta temerária ação, o geral da luta os gregos estavam sendo empurrados de volta a seus navios pelos troianos e estavam ficando desesperados, quando o amigo de Aquiles, Pétroclo, veio até ele rogou a permissão de liderar as tropas de Aquiles, os Mirmidões, em batalha. Pediu também se poderia emprestar a armadura de Aquiles, de modo a espalhar o terror nas linhas troianas, que poderiam tomá-lo por Aquiles. Aquiles concordou, e Pátroclo foi e lutou longa e gloriosamente, antes de, previsivelmente, ser morto por Heitor, filho de Príamo e o melhor guerreiro do lado troiano.
Aquiles foi tomado pela dor. Sua ma~e, a ninfa do mar Tétis, veio até ele e prometeu-lhe uma nova armadura para substituir a que tinha sido perdida com Pátroclo. A nova armadura, feita pelo deus ferreiro Hefesto, incluía um bonito escudo coberto com cenas figuradas, cidades em guerra e em paz, cenas da vida rural com rebanhos, pastores e danças rústicas, e ao redor da borda do escudo corria o Rio de Oceano. Aquiles e Agamenon e reconciliaram e Aquiles retornou ao campo de batalha, onde matou um troiano após outro com sua lança “como um vento impetuoso que revolve as chamas, quando um incêndio graça nas ravinas das bases secas pelo sol das montanhas, e a grande floresta é consumida” Após ter matado muitos troianos e sobreviventes mesmo ao ataque do Rio Escamandro, o qual tentou afogá-lo nas suas grandes ondas. Aquiles estava finalmente pronto a enfrentar seu principal adversário, Heitor.
O restante dos troianos tinha fugido da matança de Aquiles e buscado refúgio atrás de suas muralhas, mas Heitor permaneceu fora dos portões, deliberadamente esperando pelo duelo que sabia ter de enfrentar. Mas quando Aquiles finalmente surgiu, Heitor foi tomado de compreensível terror e virou-se para fugir. Percorreram três voltas ao redor das muralhas de Tróia antes que Heitor parasse e destemidamente enfrentasse seu bravo oponente. A lança de Aquiles alojou-se na garganta de Heitor, caindo este ao chão. Mal podendo falar, Heitor pediu a Aquiles que permitisse que o seu corpo fosse resgatado após sua morte, mas Aquiles, furioso com o homem que tinha morto Pátroclo, negou seu apelo e começou a sujeitar seu corpo a grandes indignidades. Primeiro arrastou pelos calcanhares atrás de sua carruagem ao redor das muralhas da cidade, para que toda Tróia pudesse ver. A seguir levou o corpo de volta ao acampamento grego, onde este ficou jogado sem cuidados em suas choupanas.
Aquiles preparou então um elaborado funeral para Pátroclo. Uma grande pira foi construída; sobre ela várias ovelhas e bois foram sacrificados e suas carcaças empilhadas ao lado do corpo de heróis morto. Jarros de mel e óleo foram adicionados à pira, a seguir quatro cavalos e dois dos cachorros de Pátroclo. Doze prisioneiros troianos mortos sobre a pira, a qual então foi deixada acesa. Ardeu toda a noite, e durante toda a noite, Aquiles colocou libações com vinho e pranteou Pátroclo bem alto. No dia seguinte os ossos de Pátroclo foram coletados e colocados numa urna dourada, e um grande monte foi erguido no local da pira. Jogos funerários com prêmios magníficos foram feitos, com competições entre carruagens, luta de boxe, pugilato, corridas, lutas armadas, arremesso do disco e tiros com arco e flecha. E todo dia ao amanhecer, por doze dias. Aquiles arrastou o corpo de Heitor três vezes ao redor do monte, até que mesmo os deuses, que tinham previsto e arranjado tudo isso, ficaram chocados; Zeus enviou Íris, mensageiro dos deuses, para Tróia em visita a Príamo e o instruiu a ir secretamente ao acampamento troiano com um bom resgate, que Aquiles aceitaria em troca da libertação do corpo do filho de Príamo.
Assim Príamo, escoltado por um simles mensageiro, se dirigiu ao acampamento grego, sendo encontrado ao escurecer, quando se aproximava dos navios gregos, por Hermes disfarçado como um seguidor de Aquiles. Hermes guiou Príamo pelo acampamento grego, de modo que chegou sem ser percebido à tenda de Aquiles. Príamo entrou diretamente e jogou-se aos pés de Aquiles: ele pediu que o herói pensasse no seu próprio pai Peleu e tivesse mercê com um pai que tinha perdido tantos seus bons filhos nas mãos dos gregos; pediu que fosse permitido levar o corpo de seu maior filho de volta a Tróia com ele, de modo que pudesse ser adequadamente pranteado e enterrado pelos seus parentes. Aquiles ficou tocado pelo apelo: choraram juntos, e o pedido de Príamo foi aceito. Assim, o corpo de Heitor foi devolvido a Tróia, onde foi velado e sepultado com os ritos adequados.
Aqui acaba a Ilíada mas não é de forma nenhuma o fim da estória de Tróia. O restante da estória é recontada parcialmente na Odisseia e em parte pelos dramaturgos, mas também por autores romanos posteriores, principalmente Cirílico na Emelia e por uma miscelânea de poetas como Quintus de Smirna. Após a morte de Heitor, um grande número de aliados vieram auxiliar os troianos, incluindo as Amazonas com sua rainha, Pentesiléia, e os Etíopes liderados por Mêmnon, um filho de Éos, deusa da aurora. Tanto Pentesiléia como Mêmnon foram mortos por Aquiles. Mas Aquiles sempre soube que estava destinado a morrer em Tróia, longe de sua terra natal, onde acabou sendo morto por uma flecha, lançada pelo arco de Páris. A ma~e de Aquiles, Tétis, quis tornar seu filho imortal, e, quando este era ainda bebê, levou-o ao Mundo Inferior e o imergiu nas águas do rio Estige; isto tornou seu corpo imune aos ferimentos, exceto pelo calcanhar, o qual ela utilizou para segurá-lo, sendo lá que a flecha o acertou.


A febre do ouro

Ainda que a literatura e o cinema brasileiros pouco tenham utilizado a corrida do ouro de Minas Gerais como matéria-prima para um romance ou filme, a auri saca fames que inflamou espíritos foi admiravelmente descrita pelo jesuíta italiano João Antônio Andreoni em seu extraordinário Cultura e Opulência do Brasil por suas Drogas e Minas, escrito sob o pseudônimo André João Antonil. Embora não tratasse apenas das minas (que só ocupam um quarto do livro e onde Antonil nunca esteve), o livro faz sua mais vívida descrição delas. Lançado em 6 de março de 1711, foi proibido 10 dias depois e teve sua primeira edição destruída. O livro só voltou a ser publicado em 1898, depois de Capistrano de Abreu ter descoberto que Antonil e Andreoni (nascido em Luca em 1649 e morto em 1716) eram a mesma pessoa. Quando Cultura e Opulência do Brasil foi lançado, as autoridades perceberam que o texto aumentaria o já controlável fluxo de migrantes. Pelo que escreveu, Andreoni sabia disso:
“A sede insaciável do ouro estimulou a tantos a deixarem suas terras e a manterem-se por caminhos tão ásperos, como são os das minas, que dificultosamente se poderá dar conta do mínimo das pessoas que atualmente lá estão. (…) Dizem que mais de 30 mil almas se ocupam, umas em catar, outras em mandar catar nos ribeiros do ouro; outras em negociar, vendendo e comprando o que se há mister não só para a vida, mas para regalo, mais que nos postos de mar. Cada ano vêm nas frotas quantidades de portugueses e estrangeiros. Das cidades, vilas recôncavos e sertões do Brasil vão brancos, pardos e pretos, e muitos índios de que os paulistas se servem. A mistura é de toda a condição de pessoas: homens e mulheres, moços e velhos, pobres e ricos, nobres e plebeus, padres e clérigos”.
Graças ao relato minucioso de Andreoni (Antonil, sabe-se também como eram exploradas e distribuídas as minas. O ouro descoberto estava, de fato, quase à flor da terra – em sua maior parte, foi explorado em aluviões, nas areias e cascalhos dos rios, “numa autêntica catagem, que só necessitava braço humano, sem jeito especial ou inteligência amestrada”. A legislação real estabeleça que os descobridores de cada jazida cabiam duas datas (pequenas extensões de terra aurífera à beira dos rios) de 900 braças (4.356 metros quadrados). Uma data do mesmo tamanho seria reservada à Coroa. As demais datas (de igual dimensão) seriam repetidas entre os mineradores que possuíssem pelo menos 12 escravos. Aos mineiros com menos numero de escravos eram entregues datas de 25 braças por escravo. Dispositivos legais posteriores dispunham sobre o direito dos mineradores ao corte de madeira e à repartição das águas. Quando a exploração iniciava, os cursos dos rios eram desviados, separando-se trechos de seus leitos por uma ensecadeira. Cavadeira e almo cafre eram os utensílios mais utilizados no desprendimento do cascalho, mas eram as bateias, as gamelas e os pratos os instrumentos finais para a “apuração” do ouro. De início, o grosso dos escravos levados às minas era de índios “domésticos” capturados pelos paulistas. Eles logo se finaram. Em março de 1709, D. João V assinou um alvará “franqueando” o tráfico de africanos aos paulistas (até então limitado a 200 por ano). Em 1738, já 101.477 escravos labutavam nas minas.
“O trabalho da bateia e do carumbé, do almocafre e dá pá foram operações que converteram o Brasil das minas em um super inferno de negros, perto do qual o dos engenhos e fornalhas de açúcar, por Antonil apontado, não passou de indulgente purgatório, escreveu Afonso Taunay.


Fonte: História do Brasil (1996), página 68.

A Expulsão dos Holandeses

 Em 6 de maio de 1644, depois de vários meses em choque com os dirigentes da Companhia das Índias Ocidentais, João Maurício de Nassau renunciou ao governo do Brasil holandês. Sua decisão causou comoção em Recife e demais zonas sob o domínio batavo(na época) mil quilômetros de costa, desde São Luís do Maranhão até Sergipe). Numa última tentativa conciliatória, alguns dos mais proeminentes lusos brasileiros de Recife – entre os quais João Fernandes Vieira, o mais rico de todos e, mais tarde, um dos grandes líderes da Insurreição de 1645 – enviaram uma carta profética à WIC na qual diziam: “Se ele (Nassau) se ausenta deste Estado, muito em breve há de tornar a aniquilar tudo o que com sua presença floresceu e se alcançou”. Pois foi justamente o que aconteceu. Antes do fim de maio, pranteado por índios, negros e europeus de muitos países, Nassau partiu. Em menos de um ano, a guerra rebentou.
Desde junho de 1641, lusos e holandeses viviam uma trégua assinada logo depois que Portugal recuperou sua independência, separando-se da Espanha. Ainda assim, sem a presença de Nassau, grandes senhores de engenho decidiram rebelar-se:muitos deles estavam atolados em dívidas com a Cia. Das Índias Ocidentais.
Libertar o Brasil implicava libertar-se também das dívidas. As últimas safras haviam sido ruins (houve inundações, seca, incêndios e epidemias entre 1641 e 1644), o preço internacional do açúcar desabara, a tolerância religiosa dos tempos de Nassau acabara. Tudo isso levou à eclosão do primeiro combate: no dia 3 de agosto de 1645 foi travada a batalha de Tabocas. Embora no exército luso-brasileiro muitos lutassem com foices e paus, os holandeses foram batidos. Em breve, estariam completamente encurralados em Recife. Ainda assim, a guerra logo entraria num longo impasse: os lusos brasileiros dominavam o interior, mas Recife permanecia inabalável. Assim por três anos.
No dia 19 de abril de 1648, os rivais se defrontaram nos montes Guararapes, nos arredores de Recife. Mais de 5 mil holandeses, comandados pelo general alemão Siegmundt von Schokoppe, foram vencidos por cerca de 2.500 lusos brasileiros, chefiados por Fernandes Vieira, Vidal de Negreiros, Felipe Camarão e Henrique Dias. O combate, conhecido como primeira batalha dos Guararapes, aumento u muito o moral dos insurretos. Quase um ano depois, e no mesmo lugar, só dois exércitos voltaram a se enfrentar. Chefiados por Johann van den Bricken, os holandeses perderam mil homens. Entre os brasileiros, morreram 47 brancos e 60 índios e negros, entre os quais Henrique Dias. O cronista alemão Johann Nienhoff escreveu: “O dia 19 de fevereiro de 1649 foi o pior de quantos no Brasil experimentamos em muitos anos, pois, apesar da bravura com que o nosso exército atacou (…), o adversário, animado pelos últimos sucessos e confiante na sua superioridade numerica, conseguiu (…) (fazer) o Exército holandês bater em retirada”. Os comandantes holandeses foram todos mortos. A segunda batalha dos Guararapes foi um confronto decisivo. Mesmo assim, a capitulação dos holandeses levaria cinco anos. Sitiados em Recife, eles resistiram até 26 de janeiro de 1654. Mas, então, em guerra com a Inglaterra, em permanente conflito interno com a Zelândia e precisando do sal de Setúbal para salgar os peixes, a Holanda desistiu da Guerra do Açúcar e abandonou o Brasil. Em 1661, depois de receber dos portugueses uma compensação de 4 milhões de cruzados, a Holanda abdicou oficialmente de suas pretensões no Brasil. A essa altura, os palácios e jardins de Nassau já haviam sido “consumidos na voragem do fogo e sangue dos anos de guerra”. E o conde era governador da província de Kleve, na Alemanha, onde em 1679, morreu aos 75 anos, empobrecido, com sua monumental “Brasiliana” dispersa por vários palácios da Europa.


Fonte: História do Brasil (1996), página 62.

Estudantes burlam inscrição do Enem para não pagar taxa

Paulo Maluf recebeu informações sobre a saúde de Tancredo Neves

A entrevista a Geneton Moraes Neto vai ao ar hoje, às 21h, na GloboNews.
Deputado diz que votou contra as diretas a pedido de José Sarney.
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