Lembram quando o então deputado Roberto Jefferson, na CPI dos Correios, denunciando o mensalão deu um recado direto para José Dirceu, o poderoso ministro-chefe da Casa Civil de Lula, em maio de 2005? “Sai já daí, Zé!” E o “Zé”, 48 horas depois, estava fora do cargo e o Brasil tomava conhecimento do maior escândalo de corrupção envolvendo a compra de parlamentares para dar apoio ao governo Lula
Pois a renúncia de Joseph Blatter da presidência da Fifa tem características semelhantes, com a diferença de que o recado foi dado pelo FBI e Blatter sabe que se comportar como Lula (“não sei de nada”) pode dar certo no Brasil, mas com essa turma de mocinhos americanos foi ele quem levou um chute no traseiro.
Ele ainda vai ficar no cargo para preparar uma nova eleição, mas por que tanto tempo para a escolha – quatro meses? O mundo atual garante condições (comunicação instantânea e jatinhos executivos) para outra eleição já neste próximo fim de semana, ainda mais com as mordomias oferecidas pela Fifa aos seus eleitores, as quais brindam boca livre para os presidentes das confederações e suas respectivas mulheres e/ou namoradas.
Na presidência da Fifa desde 1998, Blatter vai para a planície e sentirá falta dos salamaleques que os poderosos do Terceiro Mundo lhe proporcionavam em troca de selfies e de algum joguinho caça-níquel em seus respectivos países. Blatter já é um homem riquíssimo graças ao futebol e talvez agradeça a Deus em não ser preso e enviado para uma cadeia nos EUA.
Que baita delação premiada teríamos se Blatter resolvesse falar para o FBI em troca de um tornozeleira, mas em prisão domiciliar, podendo olhar a magnífica paisagem do lago de Zurich.
A fortuna de Blatter
O ainda presidente da Fifa está entre os homens públicos mais bem pagos do mundo. Seu salário é um segredo, mas investigações jornalísticas da Europa garantem que ele ganha US$ 200 mil mensais, além de todas as despesas pessoais pagas com cartão de crédito corporativo da Fifa.
Já foi pobre
Blatter é filho de um mecânico de automóveis e viveu em Visp (cantão suíço de Wallis) antes de se formar em Economia e Administração de Empresas na Universidade de Lauseanne. Até os 39 anos trabalhou numa agência de turismo de Wallis e numa fábrica de relógios.
Na Fifa
Quem o levou para a Fifa foi João Havelange dando-lhe o cargo de diretor dos programas de desenvolvimento, sendo o responsável pelas campeonatos de juniores, entre outras atividades.
Protegido da Adidas (1)
Blatter sempre teve como padrinho, além de Havelange, o herdeiro da Adidas, Horst Dassler, cujo pai, Adolf Dassler, fundou a conhecida empresa de material esportivo. O nome Adidas vem de seu apelido. “Adi”, que, acoplado à primeira sílaba de seu sobrenome, formou a famosa sigla.
Protegido da Adidas (2)
Foi Host Dassler, com sua influência na Fifa, quem colocou Blatter de secretário-geral da entidade, sendo o encarregado de negociar os direitos de transmissão dos eventos mundiais de futebol e todos os contratos de publicidade.
Parceira mundial
A Adidas é parceira mundial da Fifa assim como a Coca-Cola, a Hyundai/Kia, a Emirates e a Sony. São os mais importantes parceiros da entidade e suas logomarcas figuram em todos os eventos da entidade. No caso da Adidas, vale dizer que é dando que se recebe.
Fonte: Correio do Povo, página 6 de 4 de junho de 2015.