Autoridades conheceram ontem o projeto que vai gerar energia a partir do lixo de aterro sanitário
MAUREN XAVIER
Foi apresentada ontem a primeira usina do Estado de geração de energia a partir do gás de aterro sanitário. Localizada no município de Minas do Leão, a termelétrica a biogás é resultado de investimento de R$ 30 milhões do Grupo Solví e Copelmi Mineração, com financiamento do BNDES. Para o presidente da Solví Infraestrutura, Lucas Radel, a usina reforça o compromisso da empresa com o Estado, onde atua há mais de três décadas. Ao todo, o grupo projeta aplicar R$ 300 milhões nos próximos anos. Os valores servirão, entre outros, para mais duas usinas de biogás e três aterros. “Temos certeza que o Rio Grande do Sul será o primeiro estado a atender a Política Nacional de Resíduos Sólidos dando destinação correta ao lixo”, ressaltou o executivo.
Ao visitar a usina, dentro do aterro da Companhia Rio-grandense de Valorização de Resíduos (CRVR), em Minas do Leão, o governador José Ivo Sartori, enfatizou importância do empreendimento e seu impacto social. “O lixo é um produto e, se for bem utilizado, pode ser fonte de riquezas”, afirmou. O prefeito de Porto Alegre, José Fortunati, também enalteceu o projeto. A capital gaúcha é responsável por enviar mais de 2 mil toneladas de resíduos diariamente para o aterro de Minas do Leão, o que representa 57% do total que o espaço recebe. “É um salto de qualidade na destinação do lixo”, afirmou.
A prefeita de Minas do Leão, Silvia Maria Lasek Nunes, lembrou que os municípios têm até 2018 para resolver os problemas dos lixões, mas reconheceu que a maioria deles não está em condições de executar essa tarefa sozinhos. “Pesquisas mostram que cresce a consciência da população com o lixo, mas ainda existe um abismo entre preocupação e efetivo avanço”, comentou a prefeita.
Efetivamente a usina ainda não está operando. A expectativa é de que a autorização final seja concedida em 15 dias. O último passo iniciar as operações é um teste da emissão de gases, que será acompanhado pela Fepam. Em operação, a termelétrica terá condições de produzir 8,55 MW. Na potência máxima, chegará a 15 MW. A energia produzida terá capacidade de atender a uma cidade com 200 mil habitantes, o que representa quase a totalidade dos municípios gaúchos (apenas nove têm população superior a isso, segundo o Censo 2010). Parte da energia será leiloada, e outra terá livre comercialização. Esse é o primeiro projeto no mundo certificado pela ONU para créditos de carbono de usina térmica.
Saiba como funciona a unidade biotérmica
O lixo recolhido na Capital e 130 cidades é transportado até o aterro.
São utilizadas cavas de mineração do carvão, onde é feita a impermeabilização do solo e, em seguida o depósito dos resíduos.
O depósito é feito em camadas e coberto.
Tubos instalados dentro e no entorno captam o gás metano, produzido pela decomposição do lixo.
O gás normalmente é queimado e lançado na atmosfera, provocando emissão de CO².
Com a usina, o gás se torna energia limpa, reduzindo o efeito estufa.
A usina evitará que 170 mil toneladas de CO² sejam jogadas no ar por ano.
Além disso, não afetará a flora e fauna e não poluirá mananciais.
Após a retirada do gás e decomposição, o aterro é consolidado com a recuperação ambiental.
Três aterros já foram fechados
A problemática da destinação do lixo é tão grande que Porto Alegre optou por transportar mais de 2 toneladas de resíduos por dia para Minas do Leão, a uma distância de 80 quilômetros. Diariamente são realizadas 87 viagens de caminhão para transportar esse volume de lixo. Mensalmente são gastos R$ 4 milhões por mês neste serviço. A Capital produz cerca de 2,2 mil toneladas de lixo por dia, sendo que 110 são de resíduos reciclados (usados nas Unidades de Triagem) e o restante vai para o aterro.
Pelo grande volume de lixo produzido, Porto Alegre já fechou três aterros. O primeiro utilizado estava localizado no 4º distrito, junto à região do aeroporto Salgado Filho. O prefeito de Porto Alegre, José Fortunati, reconheceu que até hoje há dificuldades na ocupação da área em função dos gases existentes.
Outro foi construído na zona Sul da cidade, que rapidamente se esgotou. Uma alternativa foi firmar um convênio com o município de Gravataí no aterro Santa Tecla, mas aconteceu o mesmo. Assim, desde 2001, passou a ser levado a Minas do Leão. “É o único capaz de receber a quantidade de lixo gerada diariamente”, explicou o diretor do DMLU, André Carús.
Mais duas usinas a caminho do RS
O Grupo Solví quer inaugurar mais duas usinas de biogás no Estado, nos aterros sanitários de São Leopoldo e Santa Maria. Em ambos os casos, a empresa já possui as licenças prévias. Cada uma terá investimento em torno de R$ 15 milhões e capacidade para produzir 1,5 MW. Além disso, está em formatação o projeto da unidade de Pelotas. No aterro, além do gas do lixo, será produzida energia com a queima de casca de arroz.
Deverão ser instalados ainda outros três aterros no RS, em Viamão, Victor Graeff e Pelotas. “Estamos fazendo os estudos ambientais e falta ainda uma audiência pública, após isso recebemos a licença de instalação”, disse o presidente da Companhia Riograndense de Valorização de Resíduos (CRVR), Mauro Renan. A previsão é de que os aterros comecem a operar até o final do ano que vem. Cada usina custará cerca de R$ 40 milhões na fase inicial.
As técnicas de geração de energia por meio do gás produzido do lixo (metano) ainda engatinham no Brasil. A sua principal característica é que resolve dois problemas das grandes cidades: produção de grande volume de lixo e geração de energia limpa.
Para estimular a construção de usinas neste perfil, há subsídios do governo federal na tarifa de transmissão da energia produzida, o que torna o produto mais competitivo no mercado. Atualmente no Brasil operam poucas usinas similares.
Fonte: Correio do Povo, página 15 de 3 de junho de 2015.