Assuntos
Só um alerta e O cerco à indústria brasileira de defesa
Só um alerta
O Petróleo e a Corrupção
A
crise internacional do petróleo deve intensificar a ofensiva externa
para que o Brasil privatize a Petrobrás e o pré-sal. Desgastar a imagem
da estatal é uma forma de criar condições políticas para que isso
ocorra. Vale tudo paradesmoralizar a PETROBRÁS de modo a tornar irreversível a privatização da empresa.
Apesar
das licitações viciosas, apesar de todas as corrupções, as encomendas
da estatal petrolífera nacional dinamizam a indústria nacional para
fabricação de insumos, peças e equipamentos que impulsiona o
desenvolvimento dos componentes nacionais, sendo razão principal do
desenvolvimento da indústria brasileira, no campo do desenvolvimento
tecnológico e na criação de empregos de qualidade isto, naturalmente,
mesmo sem a corrupção deixaria a produção mais cara, mas não podemos
deixar que a crise que estamos vivendo mate a indústria e o
desenvolvimento tecnológico.
É
obvio que as firmas estrangeiras estão de olho nesse mercado além de
punir os corruptos temos que desenvolver os componentes nacionais e isto
tem um custo extra, mas é o único caminho para a independência.
Temos que punir os ladrões sem desmanchar nem privatizar as empresas.
Na Energia Nuclear
Uma
notícia de sentido estratégico. A usina nuclear Angra I receberá pela
primeira vez, na próxima recarga de combustível de 2015, urânio
enriquecido no Brasil. Até o presente momento, todo o urânio usado como
combustível na usina era enriquecido no exterior.
Não
tem sido fácil o nosso avanço no setor nuclear. O enriquecimento do
urânio é tido como uma atividade perigosa, pois pode levar à confecção
da bomba atômica. Enriquecer urânio, mesmo em proporção inferior à
necessária para a fabricação da bomba, sempre foi atividade obstruída
pelos Estados Unidos e países. Isto terminou impedindo, ou dificultando
muito, o uso da tecnologia nuclear mesmo para fins pacíficos pelos
demais países, criando um fosso entre os que detêm essa tecnologia e os
demais.
Entre
os países que foram mais atingidos por esse cerco está o nosso Brasil,
que dispõe da sexta maior reserva de urânio do mundo, capaz de abastecer
uma dezena de usinas por muito tempo, mas devido a covardia (ou a
traição) de três Presidentes, ficamos privados de lançar mão dessa enorme riqueza disponível com que a natureza nos dotou.
No Transporte - Nova traição?
O ministro da Aviação Civil, Moreira Franco, garante que o governo fará força para ser aberto 100% ao
mercado de aviação a estrangeiros. Hoje, uma companhia de fora não pode
ter mais do que 20% de capital em uma empresa aérea nacional.
Em
navegação marítima, a abertura já está em vigor. Um grupo estrangeiro
que se estabeleça no Brasil – mesmo com 100% do capital em mãos de
acionistas do exterior – tem todos os direitos dos brasileiros, o que
inclui o acesso ao crédito do Fundo de Marinha Mercante. A exigência é
ter subsidiária no país.
Abrir
mão de uma Marinha Mercante nacional é renunciar a uma posição
proeminente no concerto das nações. A navegação, especialmente a
cabotagem, é estratégica para uma nação. Abrir mão dela é ficar a mercê
dos estrangeiros, mais ainda do que no caso das empresas aéreas.
Na Industria Bélica
Já
há algum tempo tivemos informes de que a nossa única fabricante de
munição leve – a CBC, poderia não ser brasileira e que teria sua sede
numa ilha do Caribe, que ainda vendia munição para o estrangeiro por
nove vezes mais barato do que para o nosso Exército. Se confirmados
esses informes isto caracteriza uma grave vulnerabilidade facilmente
perceptível.
O
que confirmamos é que o próprio Exército tem bloqueado empresários que
desejem fabricar munição no País, a pretextos burocráticos que não dá
para aplaudir.
Sobre a indústria bélica recebemos do um oficial paraquedista o artigo abaixo, publicado ainda em 2012:
O cerco à indústria brasileira de defesa
Na contramão da tendência mundial, o Brasil desnacionaliza sua indústria bélica
As forças militares brasileiras só dispõem de munições para uma hora de
resistência, segundo declarou o general Maynard Santa Rosa a
O Globo.
No caso de uma situação de guerra, dependeríamos de um grande esforço
diplomático, a fim de ganhar tempo e mobilizar a nação às pressas para a
defesa do território. É certo que uma ocupação militar do Brasil por
força invasora é quase impossível, e que teríamos condições de
expulsá-la depois de imensos sacrifícios da população civil. Mas, nos
restaria a destruição de nossos centros industriais mais importantes.
Guerra quer dizer tecnologia. Desde o arco e a flecha — invenção que
surgiu, segundo os antropólogos, com o neolítico — os países mais
poderosos são aqueles na vanguarda da produção de armamentos. Preservar a
paz é preparar-se para a guerra, conforme a constatação dos romanos.
Quer pela nossa índole, quer por desídia, ou por confiança na sorte, o
Brasil talvez seja, relativamente, o país mais indefeso do mundo.
O país procura investir na sua defesa, mas está muito moroso e comete um
erro crasso, o de não produzir seus próprios armamentos e petrechos de
combate. Estamos desnacionalizando o pouco de indústria bélica de que
dispomos, com a entrada maciça de empresas estrangeiras (entre elas, e
de forma agressiva, as de Israel) no parque industrial brasileiro,
mediante a aquisição de firmas nacionais ou de sua associação com nossos
empreendedores.
No mundo inteiro, quem comanda a produção de armamentos – direta ou
indiretamente — é o Estado. No Brasil, um bom caminho é a criação da
Amazônia Azul Tecnologias de Defesa (Amazul), vinculada ao Ministério da
Defesa. Aprovada pelo Congresso, a estatal foi criada na semana passada
pela presidente Dilma Rousseff, com o objetivo, entre outros, de
construir o primeiro submarino movido a energia nuclear feito pelo
Brasil, em sociedade com os franceses.
A cada ano, devido à Amazônia e ao Pré-sal, entre outras razões, cresce a
importância de a nação aumentar — como acontece na Europa com complexos
industriais militares como a Eads, a Navantia e a Finmecannica — a
participação direta do Estado na indústria brasileira de defesa. Outra
meta deve ser a de se buscar um maior grau de conteúdo nacional nas
encomendas contratadas junto a empresas estrangeiras.
Posse da tecnologia
Não se pode admitir — como ocorre com a projetada fabricação de 2 mil
blindados ligeiros Guarani pela Iveco, no município mineiro de Sete
Lagoas — que apenas 60% das peças utilizadas sejam fabricadas no Brasil.
Em caso de conflito, ou mera ameaça de confronto entre o Brasil e
qualquer país da Otan (Europa e Estados Unidos), a produção desses
tanques seria descontinuada e não teríamos como substituir o material
perdido em combate. É de se recordar o exemplo da Argentina, que ficou
literalmente a ver navios — nesse, caso, britânicos — na Guerra das
Malvinas.
Por outro lado, há um verdadeiro cerco dos países geopoliticamente
identificados como ocidentais à indústria bélica brasileira. Todas as
nossas empresas que desenvolveram tecnologia militar nos últimos anos
tiveram o seu controle adquirido por grupos internacionais
recentemente.
Com isso, essas multinacionais se apossaram do conhecimento desenvolvido
por técnicos e engenheiros brasileiros. Agora podem decidir a seu
bel-prazer, seguindo a orientação estratégica dos governos de seus
países, até que limite essas empresas — que antes pertenciam a
empresários brasileiros — poderão ir, no desenvolvimento de novas
tecnologias bélicas.
A Aeroeletrônica, empresa brasileira que há mais de duas décadas se
dedica ao projeto, desenvolvimento, fabricação, manutenção e suporte
logístico de produtos eletrônicos para veículos aéreos, marítimos e
terrestres é um exemplo. Ela, que forneceu sistemas de aviônica para o
Tucano 27 e o Super Tucano, da Embraer, e para o caça ítalo-brasileiro
AMX, foi adquirida, em 2001, pela Elbit, empresa israelense criada, em
1967, sob o estímulo do Ministério da Defesa de Israel.
A Ares - Aeroespacial e Defesa foi outra a ter o seu controle adquirido
pela Elbit, no final de 2010, quando foi rebatizada como AEL Sistemas.
Ela desenvolvia a Remax, uma estação de arma estabilizada
servo-controlada, para metralhadoras, destinada a equipar os blindados
Guarani dos quais falamos. Outros de seus produtos são os colimadores,
indicadores visuais de rampa de aproximação, sistemas óticos de pontaria
para tiro indireto de morteiros, sistemas de lançamento de torpedos, e
foguetes de chaff, para defesa de navios.
Com sua desnacionalização, o Remax, desenvolvido inicialmente por
técnicos do CTEX, foi substituído pelo UT30BR, e o contrato para o
equipamento dos blindados Guarani com essas torretas automatizadas de
armamento, no valor de mais de R$ 400 milhões, foi repassado para os
israelenses.
Apenas três meses depois, em janeiro de 2011, Israel dava mais um passo
na sua estratégia de penetração na indústria bélica brasileira, com a
compra da Periscópio Equipamentos Optrônicos S.A, especializada na área
de defesa e sinalização aeroportuária.
Lucro assegurado
O que causa revolta no observador mais atento é o fato de que o retorno
do baixo investimento feito por multinacionais estrangeiras para a
compra dessas empresas, da ordem de algumas dezenas de milhões de reais,
é líquido e certo.
O lucro, várias vezes maior do que os investimentos, é assegurado por
encomendas já contratadas pela Marinha, Exército e Força Aérea. Em
muitos casos, nossas forças armadas já desenvolviam sistemas em parceria
com estas empresas que estão sendo desnacionalizadas quando ainda
estavam sob controle acionário local.
Empurrada pelas aquisições, a estratégia israelense no Brasil está indo
de vento em popa. Em março de 2011, a AEL, controlada pela Elbit, criou
com a Embraer uma nova empresa, a Harpia, que fabrica os Vants, veículos
aéreos não tripulados para vigilância e ataque, do tipo utilizado pelos
israelenses nos territórios palestinos e pelos norte-americanos no
Paquistão e no Afeganistão.
Outra empresa israelense, a IAL (Israel Aircraft Industries), fabricante
do míssil Rafael, fornece os aviões-robôs do mesmo tipo (que os Vants)
para o sistema de vigilância de fronteiras da Polícia Federal. Esses
veículos telecomandados poderiam ser desenvolvidos no Brasil, onde já
existem empresas incipientes formadas por universitários para atuar
nesse segmento da tecnologia aérea.
Assim, seja na área de blindados, na de aviônicos, na de optoeletrônica,
como é o caso de periscópios, ou de aviões robóticos não tripulados, os
israelenses — e, por meio deles, também seus aliados norte-americanos —
podem monitorar, confortavelmente, da mesa de diretoria dessas
empresas, cada passo que o Brasil dê nessas áreas.
Radares e helicópteros, e, agora, submarinos, são o campo de caça dos
franceses, que completaram, em setembro de 2011, com o Grupo Thales, a
aquisição, iniciada em 2006, de 100% do controle da brasileira Omnisys,
empresa especializada no desenvolvimento e fabricação de radares de
longo alcance, sediada em São José dos Campos.
Encomendas de US$ 7 bilhões
Em alguns casos a fabricação de armamentos é feita — sem subterfúgios ou
hipocrisia — por empresas diretamente controladas por governos
estrangeiros. Esse é o caso da DNCS (Direction des Constructions
Navales), que tem 75% de suas ações nas mãos do governo francês. Ela se
“associou” à Odebrecht para construir, em Itajaí, no Rio de Janeiro,
quatro submarinos da classe Scorpéne e mais o casco do futuro submarino
nuclear brasileiro — encomendados pela bagatela de 7 bilhões de dólares.
O mais perto que já cheguei de um submersível foi quando li 20 mil
léguas submarinas, de Júlio Verne. Mas, como disse Arquimedes,
referindo-se à alavanca, “deem-me um ponto de apoio e moverei o céu e a
terra”. Se derem a qualquer governo de um país, com um mínimo de
planejamento, 7 bilhões de dólares, ele certamente construirá bela
fábrica de submarinos, desde que haja tempo para contratar as pessoas
certas — aqui e no estrangeiro — e adquirir os componentes adequados,
sem precisar dividir o controle desse ativo estratégico com ninguém.
Com uma parcela desse dinheiro, o Brasil poderia montar uma completa
universidade naval, formando centenas de engenheiros especialistas na
construção de belonaves, entre elas, submarinos, por ano, no lugar dos
26 brasileiros que passaram alguns meses na França, em uma escola de
submergíveis, por conta do acordo. Por aí se pode ver que os
especialistas brasileiros formados no âmbito desse contrato milionário —
negociado pelo então Ministro da Defesa Nelson Jobim — cabem todos em
um micro-ônibus. Rezemos para que não aconteça um acidente.
Considerando-se que o Brasil ficou anos sem investir um centavo em
armamentos, e que teve a sua indústria bélica desmantelada durante a
tragédia neoliberal dos anos 1990, devido á ojeriza a qualquer coisa que
se aproximasse de uma política industrial decente, compreende-se que o
governo Lula esteve, nessa área, movido por boas intenções.
Processo persistente
Ocorre que a pressa não justifica a adoção de certo tipo de acordos, por
parte do Brasil, principalmente quando se sabe que alguns contratos,
como os assinados com os franceses, na área dos submarinos, ou com os
italianos da Iveco, para a fabricação de blindados — com projeto do
Exército Brasileiro — têm uma duração de 20 anos.
A Helibras, única fábrica latino-americana de helicópteros, é
controlada, em mais de 75%, pela Eurocopter francesa. Esta, por sua vez,
pertence em 100% à Eads, consórcio europeu que conta com a
participação, direta e indireta, dos governos franceses, alemão e
espanhol.
Como muitos grupos de defesa multinacionais que funcionam no Brasil, a
Helibras tem sido também irrigada com milionários contratos pelas Forças
Armadas. É o caso da encomenda de 50 helicópteros pesados, destinados
às três forças, apesar do conteúdo nacional de seus produtos ser baixo e
de a maior parte dos lucros seguir todos os anos para a Europa.
É fácil ver que o avanço dos franceses — assim como o dos outros países
geopoliticamente classificados como “ocidentais” — sobre a indústria
nacional de armamento é um processo duradouro, organizado e
persistente.
No dia 12 de junho de 2012, há menos de dois meses, portanto, a Optovac
Mecânica Optoeletrônica Ltda, especializada em equipamentos de optrônica
e visão noturna, parte de um seleto grupo de pequenas e médias empresas
inovadoras, assim classificadas pelo Ministério da Defesa, foi também
comprada — sem qualquer oposição — pela Sagen francesa, do grupo Safran,
controlado em mais de 30% pelo governo daquele país.
Navios patrulha ingleses
Os ingleses, naturalmente, não poderiam ficar de fora do processo da
tomada de controle de nossas empresas de defesa e das encomendas do
governo. A British Aeroespace, ou BAE Systems, acaba de fornecer três
navios de patrulha oceânica para a Marinha, por quase R$ 400 milhões, em
uma compra de “oportunidade”. Eles estavam antes destinadas a Trinidad e
Tobago. No final de 2011, essa empresa também assinou contrato — depois
do necessário nihil obstat do governo norte-americano — para modernizar
um primeiro lote de 150 veículos blindados sobre lagartas, o M-113,
utilizados em transporte de tropas, avaliados em 43 milhões de dólares. O
valor pode aumentar proporcionalmente, caso o processo se estenda para
toda a frota brasileira desse tipo de veículos, que chega a 350
blindados.
Na área aeroespacial, a BAE inglesa foi selecionada para fornecer os
sistemas de controle eletrônico de vôo do novo jato militar de
transporte KC-390 da Embraer. Agora, como informam meios especializados,
busca “parcerias estratégicas” para participar das licitações do
Sisfron (Sistema Integrado de Fronteiras) e do Sisgaaz (Sistema de
Monitoramento da Amazônia Azul), avaliados em 15 bilhões de dólares.
Poderíamos falar aqui também dos planos e manobras da Finmeccanica,
italiana, ou da Navantia, espanhola, no Brasil, ambas com participação
acionária de seus respectivos governos.
Tratamento diferenciado
É preferível, no entanto, lembrar a diferença entre o tratamento que
damos aos grupos estrangeiros de defesa — aqui representados, às vezes,
por pessoal da reserva de nossas forças armadas que já serviu no
exterior — e aquele que recebem as nossas empresas quando tentam
penetrar no mercado de algum país do Hemisfério Norte.
Nos países ditos capitalistas e de suposto “livre mercado”, a compra de
armamentos e a propriedade empresas fabricantes de material bélico
costumam ser tratados como assuntos estratégicos e de segurança
nacional.
Na Europa, para comprar um projétil que seja, procura-se, primeiro, uma
empresa local. Depois, se por uma questão de preço ou de escala, a
encomenda tiver de ser feita a uma empresa estrangeira, busca-se a que
tenha participação acionária de algum grupo do país comprador. Em último
caso, procura-se empresa que pertença a um dos enormes complexos
militares controlados diretamente por governos europeus, como é o caso
da Eads.
Os Estados Unidos são ainda mais curtos — e grossos — nesse aspecto.
Para vender qualquer arma ao governo dos Estados Unidos ou às suas
Forças Armadas, a empresa estrangeira terá que estar instalada em seu
território, onde obrigatoriamente deverá produzir a encomenda e estar
associada “minoritariamente” a uma empresa diretamente controlada por
capitais norte-americanos.
Devido a essa postura — que deveríamos praticar aqui há muito tempo, se
mais não fosse por uma questão de isonomia — a mera hipótese da entrada
de uma empresa brasileira de tecnologia de defesa naquele mercado, como
fornecedora das Forças Armadas norte-americanas, mesmo que cumprindo
rigorosamente todos os requisitos a que nos referimos, acaba se
transformando em uma questão nacional.
Licitação anulada
Foi o que descobriram os executivos da Embraer no ano passado. Após se
associarem à norte-americana Sierra Nevada Corporation e vencerem uma
licitação de menos de 400 milhões de dólares para o fornecimento de 20
aviões ligeiros Super Tucano a serem utilizados no Afeganistão, viram a
concorrência ser anulada.
Uma campanha movida no país, com apoio de congressistas republicanos,
pela Hawker Beechcraft, que teve seu avião desclassificado por problemas
técnicos, levou a Força Aérea norte-americana a anular a concorrência
conquistada pela Embraer. Isso, apesar do compromisso de a fabricação do
avião ser em território norte-americano e de a maior parte das peças
das aeronaves serem produzidas pelos Estados Unidos ou pelos seus
parceiros do Nafta.
Podemos imaginar o que não ocorreria no Brasil — e o escândalo que não
fariam certos veículos de comunicação — caso ocorresse o mesmo por aqui e
um contrato de fornecimento de armamento norte-americano para nossas
forças armadas fosse bloqueado no Congresso, devido ao pedido de uma
empresa concorrente de capital 100% nacional.
Estratégia definida
A estratégia dos Estados Unidos e da Europa Ocidental, com relação ao Brasil, está cada vez mais clara:
— Impedir o desenvolvimento de tecnologia nacional própria, com a compra de qualquer empresa que procurar desenvolvê-la;
— Associar-se à empresa que não se puder comprar, oferecendo cooperação
no desenvolvimento da tecnologia, com o intuito aparente de ajudar o
país a queimar etapas. Na verdade, tenta-se impedir qualquer avanço à
sua revelia, sem vigilância ou participação;
— Impedir que o dinheiro gasto com o reaparelhamento das Forças Armadas
chegue às mãos de empresas sob controle nacional, evitando ainda que
esse dinheiro seja investido em avanços de caráter tecnológico que
coloquem em risco a hegemonia de suas empresas no mercado brasileiro e
no exterior;
— Cooptar, com associações ou contratos de representação e de lobby,
pessoal da reserva das forças armadas, principalmente ex-adidos
militares brasileiros no exterior, para vender, como uma coisa
ideologicamente natural, a associação do Brasil com empresas ocidentais
para a produção de armamento, de forma a impedir que a nação recorra a
outras opções;
— Impedir a reunião, coordenada, de pequenas empresas brasileiras de
grande potencial tecnológico, em grandes consórcios industriais
militares de inspiração ou controle público, como os que existem no
Ocidente, como a Lockheed Martin, ou a própria Eads;
— Diminuir, via participação na maioria dos contratos, a realização de
associação entre empresas brasileiras de defesa de qualquer porte e
empresas não ocidentais, como as existentes nos países Brics. Se não
puder impedir a cooperação entre uma empresa brasileira de defesa e uma
congênere do Brics, estar presente acionariamente ou como participante
do projeto, do lado brasileiro, para “controlar” essa aproximação;
— Estabelecer, coordenadamente, via supervisão dos métodos de produção e
administração, e aplicando baixos índices de conteúdo nacional, um alto
grau de dependência da indústria nacional de defesa com relação aos
seus “parceiros” e controladores ocidentais. Isto permitirá futura
paralisação das linhas de montagem dos armamentos em nosso país, em caso
de conflito ou de potencial conflito, entre o Brasil e esses países;
Legislação perversa
Ao enfrentar uma situação absurda e desastrosa, com a criminosa
aprovação, no governo Fernando Henrique Cardoso, de emenda
constitucional que transformou, para todos os efeitos, em “brasileira”
qualquer empresa instalada no Brasil — mesmo que controlada por capitais
públicos ou privados estrangeiros — a presidente Dilma tenta fazer o
que pode, na área de defesa, embora não tenha conseguido impedir que o
processo de desnacionalização chegasse ao ponto que chegou.
Temos uma legislação perversa, que faz com que o país, do ponto de vista
da defesa do capital nacional, tenha que subir ao ringue com as duas
mãos atadas. Somos obrigados a concorrer com empresas que contam com
descarado apoio — direto e indireto — dos governos de seus países de
origem.
As agências “reguladoras” nacionais, incluindo o Cade, não fazem nenhuma
distinção entre empresas de capital nacional ou estrangeiro, até mesmo
quando grandes grupos autenticamente nacionais tentam se expandir, via
aquisições, no mercado internacional.
Superavit com a Venezuela
Além disso, o Brasil precisa ainda enfrentar a oposição de seus inimigos internos.
Nesse sentido, a pior herança que nos deixaram os anos 1990, foi toda
uma geração de presumidos formadores de opinião que insistem em ser mais
realistas que o rei, e mais neoliberais do que os executivos de Wall
Street, na defesa do entreguismo e da capitulação da nação.
Isso em um mundo em que os países que mais intervêm na economia são
justamente os que mais crescem, como é o caso da China; ou em que os
países mais poderosos são justamente os mais nacionalistas, como é o
caso da própria China, dos Estados Unidos, da Alemanha e do Japão.
É nesse Brasil absurdo que alguns industriais defendem a elite
paraguaia, que só nos manda armas e drogas e o mais maciço e rasteiro
contrabando. É essa mesma gente que insiste em estreitar a “parceria”
com os Estados Unidos — com quem temos mais de 5 bilhões de dólares de
prejuízo no comércio exterior — enquanto ataca duramente a entrada da
Venezuela — que nos compra quase 5 bilhões de dólares em alimentos e
manufaturados com um superávit brasileiro de mais de 3 bilhões e 200
milhões de dólares — no Mercosul.
O pior é que ninguém pergunta aos milhares de trabalhadores,
empreendedores, pecuaristas, agricultores e empresários brasileiros que
produziram e venderam esses 7 bilhões de reais aos venezuelanos em 2011 o
que eles pensam sobre o assunto.
Voltando à questão do cerco ocidental à indústria bélica, a entrada do
BNDES no capital da Avibras, no final do governo Lula, ao permitir que
essa empresa honrasse a entrega de importante pedido ao governo da
Malásia, e a encomenda de um sistema Astros 2020 para os fuzileiros
navais, apontam para a direção correta.
A criação da Amazul (Amazônia Azul Tecnologias e Defesa) para cuidar da
produção do propulsor nuclear que irá equipar o futuro submarino nuclear
brasileiro, também foi um passo fundamental para a independência do
Brasil na área de defesa. Isso, embora já se organize a resistência de
conhecidos grupos a fim de sabotar a empresa.
A Amazul, estatal que não pode ser vendida a nenhum grupo estrangeiro,
representará — se houver decisão política nesse sentido por parte do
governo — um divisor de águas na política brasileira de defesa.
Importância das parcerias
Ela poderá ser — e o Brasil precisa disso — a primeira de grandes
empresas cem por cento nacionais, destinadas à produção de armamento. E
se transformar no embrião de um grande estaleiro estatal, acoplado a uma
importante escola de engenharia naval, para a Marinha, além de
constituir exemplo para a criação de uma empresa desse porte também para
a força terrestre.
Com complexos industriais desse nível, o Brasil estaria pronto para
estabelecer parcerias com as grandes empresas estatais dos países Brics,
para desenvolver, ainda nas próximas décadas, toda uma nova geração de
armamentos.
A cooperação de empresas brasileiras como a que está em curso entre a
Mectron e a Denel sul-africana para a construção de um míssil A-Darter
pode quebrar um pouco da antipatia que ainda existe com relação à
cooperação com a Rússia, a Índia e a China, os outros Brics, no
desenvolvimento de material de defesa.
Não se trata de recusar a tecnologia ocidental, mas sim de impedir que
se tome de assalto o nosso sistema de produção de armamentos. Além
disso, a subordinação do Brasil às empresas norte-americanas, europeias e
israelenses nos fechará o mercado de boa parte do mundo — como os
próprios países árabes — que não são simpáticos a Israel ou aos Estados
Unidos. Ou os próprios Brics, com quem teremos que cooperar, caso não
queiramos colocar os nossos ovos — ou nossas empresas de armamento — em
uma só cesta.
Incentivos à indústria nacional
Não podemos correr o risco de ficar desarmados e inermes frente a
eventuais inimigos, por cooperar só com um lado do mundo, e com empresas
que estão todas, política e corporativamente, ligadas entre si, até do
ponto de vista acionário.
O governo federal está preparando novas medidas para a área bélica, que
incluem maiores incentivos fiscais e de crédito para empresas que
estejam sob baixo controle teoricamente brasileiro.
Com a aprovação, em março, da Lei 12.958, grupos que atuam na área de
infraestrutura e construção civil, como a Odebrecht (já associada à
Eads), OAS, Engevix, Queiroz Galvão, Camargo Correa e Synergy, além da
própria Embraer, terão vantagens tributárias e condições especiais de
crédito para participar de licitações na área de defesa.
O problema é que todos esses grupos estão negociando a participação de
empresas estrangeiras, todas dos Estados Unidos ou da Europa, na
composição dessas novas empresas, em troca de “tecnologia”.
Estamos partindo do pressuposto de que a única maneira de ter acesso à
tecnologia na indústria bélica mundial é a de nos associamos a um
parceiro mais forte, e, ainda por cima, estrangeiro.
Essa é uma premissa falsa, para não usar palavra mais forte. Com
dinheiro e decisão política, qualquer um vai atrás da tecnologia.
Pesquisa, planifica, copia projetos e contrata especialistas entre os
milhares de engenheiros e cientistas estrangeiros que estão
desempregados em razão da crise na Europa e nos Estados Unidos.
Ou se associa, em igualdade de condições, a países que desenvolveram de
forma autônoma a sua própria indústria de defesa, como a China e a
Rússia, sem depender de associações desse tipo com os países
ocidentais.
No entanto, no lugar de aproveitar a janela de oportunidade aberta pela
crise para nos apropriarmos de pessoal especializado e da tecnologia que
está disponível lá fora, sem abrirmos mão de controlar, sozinhos, uma
área que é estratégica para o país, o que estamos fazendo — e com
financiamento público e benefícios fiscais — é aprofundar a nossa
dependência a esse projeto geopolítico “ocidental”.
Comprometemos o futuro de nosso povo, e, graças às emendas
constitucionais de FHC, pagamos pela vassalagem. Isso já se fez nas
telecomunicações, quando se usou o dinheiro do BNDES para a expansão e o
fortalecimento, em nosso território de empresas estrangeiras —
“associadas” ou não a grupos nacionais — que não têm e nunca terão o
menor compromisso estratégico com o Brasil.
Como lembra a fábula de Jean de La Fontaine — ou a joint venture do
porco com a galinha para vender ovos com bacon — não existe pacto
possível entre lobos e cordeiros. Na associação de uma construtora
brasileira com um grande grupo multinacional de defesa, com eventual
participação estatal, ou golden share, do governo de seu país de origem,
não seremos nós os lobos e eles os cordeiros.
Essas joint ventures, se vierem a ocorrer, para o fornecimento — sem
garantia de 100% de conteúdo nacional e de 100% de controle brasileiro —
de armamentos que levam décadas para ser desenvolvidos e produzidos,
equivalerão à entrega e capitulação de nossa indústria bélica, agora e
no futuro, à Europa e aos Estados Unidos. O governo Dilma Rousseff, por
pressão, pressa ou ingenuidade, poderá vir a ser responsabilizado
perante a História se prosseguir nesse caminho.
Serão necessárias medidas corajosas como as que levaram à queda dos
juros. Crédito e condições fiscais especiais, em áreas estratégicas,
dentro de projeto nacional de independência, poderão ser destinadas
apenas a empresas que tenham 100% de capital nacional, com cláusulas que
assegurem a intervenção soberana do governo e impeçam a sua venda e
controle — como já ocorreu no passado e continua agora — por capitais
estrangeiros.
Tecnologia compra-se lá fora, quando existe dinheiro, sem ser preciso
entregar uma única ação aos concorrentes. Além disso, a presença de
empresas da Europa e dos Estados Unidos na composição acionária das
futuras “superbélicas nacionais” irá impedir que essas empresas possam
comprar tecnologia dos nossos parceiros nos Brics — como a Rússia, a
China e a Índia — caso não haja interesse de países como a França ou a
Itália em fornecê-la.
É preciso romper o cerco ocidental à indústria brasileira de defesa.
Estamos assinando acordos que equivalem a entregar a alma ao diabo. A
nossa indústria bélica deve nos defender. O exemplo do que houve com a
Argentina, no caso das Malvinas, basta.
Comunicados
1 – Este comentário estará disponível no Facebook, além dos blogs que nos honram com a reprodução
2 – Devido a próxima viagem só deverá ser retomado a partir da 2º quinzena de janeiro, se não houver algo de suma importância
3 – Desejo aos meus amigos e demais leitores que Deus abençoe suas casas e a todos que lá estiverem neste Natal
PEQUENO ADENDO
Transcrito como recebido. Oculto a fonte para protegê-la, mas revelarei se a notícia for falsa (parece que é verdadeira)
U$ 6,00 - Este é o preço da munição 9mm brasileira CBC nos USA , que vende usando o nome MAGTECH.
U$
11,00 - Este é o preço nos distribuidores, ou seja, tem o frete do
Brasil para os USA, impostos, frete para os distribuidores, margem de
lucro do distribuidor.
R$ 93,00. - Este é o preço que o EB paga. O Exército Brasileiro sabe o preço da exportação porque é ele que controla.
Como
uma caixa de munição 9mm, é exportada por U$ 6,00 vendida em um
distribuidor nos USA ao redor de U$ 11,00 e o EB paga sem impostos R$
93,00.
Isto
é uma transferência de recurso público para os cofres privados, um
escândalo tão grande quanto o da Petrobras. São milhões e milhões.
Vem acontecendo há tempos, todos sabem e não se faz nada. No mínimo é uma omissão do nosso querido EB