Ex-governador do Estado vai completar 86 anos
Ex-governador do Estado vai completar 86 anos | Foto: André Ávila
Às vésperas de completar 86 anos, o ex-governador Alceu Collares (PDT) esbanja vitalidade e conhecimento. Afastado dos mandatos eletivos, lamenta certa incompreensão dos companheiros de sigla no que diz respeito às suas ideias sobre o atual momento político, mas nada que lhe "perturbe a vida". Ele, que governou o Estado entre 1991 e 1995, está na política desde a década de 50, conquistou o primeiro mandato em 1964, um dos anos mais agitados da história do país e foi o primeiro prefeito eleito de Porto Alegre após a redemocratização, em 1985. Collares é o segundo entrevistado da série "A Voz da Experiência", que ouve de ex-governadores suas impressões a respeito do atual momento político.
Correio do Povo: O senhor apoiou o governador Tarso Genro na campanha de 2010, apesar de seu partido compor uma chapa adversária. O que o PDT gaúcho deve fazer na eleição de 2014? O senhor acredita na viabilidade da candidatura do deputado Vieira da Cunha?
Alceu Collares: Se o Vieira vai ou não vai, nós temos é que ter candidatura própria. Se não chegarmos ao segundo turno, aí apoiamos o Tarso.
CP: Qual a sua avaliação da atual administração estadual?
AC: É indiscutível que o Tarso é uma das pessoas melhor preparadas a assumir o cargo. Mas não está tendo sensibilidade, competência ou assessoria para tratar de frente com problemas cruciais. Principalmente com a dívida, a forma como está encaminhando a questão é equivocada. O governo diz que pode obter crédito. Crédito pressupõe débito, e débito significa pagamento. Aí, acumula. A Dilma conhece isso profundamente. E se não mexer nisso, não tem como recompor o equilíbrio financeiro do Estado.
CP: O senhor acredita que a presidente Dilma será candidata à reeleição?
AC: A Dilma concorre à reeleição e ganha. O candidato não vai ser o Lula, apesar de ele ser um fenômeno de liderança que o mundo na verdade não conheceu. O Lula tem qualidades que vêm da intuição, uma forma refinada do conhecimento humano. O intuitivo guia as massas sem o conhecimento tradicional porque o conhecimento dele vem de sua vivência. O Brizola era um intuitivo. Mas tenho a impressão de que o mundo está se constituindo de tal forma que essas figuras estão se extinguindo. Quanto à Dilma, ela é a mais preparada entre todas as mulheres que hoje estão no cenário internacional.
CP: Mas os protestos que sacudiram o país neste ano tiveram consequências sobre a popularidade da presidente...AC: A Dilma atacou os problemas da infraestrutura e da saúde. O PAC é o instrumento mais forte que existe no sentido de tentar resolver os gargalos que impedem o país de se colocar entre os mais desenvolvidos. E ninguém até agora foi capaz de analisar a justa dimensão deste projeto da Dilma para a saúde (o Mais Médicos). É uma revolução. É que a pressão contra as forças progressistas, de esquerda, continua. Alguns dizem que não existe mais direita e esquerda. Eles deviam ler Norberto Bobbio. À direita, são conservadores, alguns reacionários. E, à esquerda, são os transformadores.
CP: O senhor apoiou os recentes protestos nas ruas?AC: As bandeiras são corretas. Mas minha preocupação com esta juventude que eu defendi e que está na rua é que ela está contra tudo e contra todos. Se for um projeto de destruição, de quebrar tudo, ao longo da história da humanidade já vimos que nunca produziu nada. É preciso elaborar a força das ideias. O quadro partidário está muito enfraquecido, e têm muita culpa aquelas maiorias no Congresso que fazem o que não devem. Agora, o neoliberalismo está morrendo, está esperneando, e o grande risco é de que haja sua retomada. Não somos contra os bancos, as financeiras, as classificadoras de risco. Somos contra as mentiras que eles contam.
CP: Os protestos são reflexo da crise internacional?
AC: As crises são um somatório. No Brasil, o que mais me angustia é a desproporcionalidade da representação política, que vem da época da ditadura. Todas as tentativas de reformulação política e eleitoral que possam ser submetidas a um plebiscito sem alteração da representação política não terão nenhum significado. Há três fatores que, se não forem alterados, a situação não muda: a desproporcionalidade, as altas taxas de juros e a dívida dos estados.
Correio do Povo