Articulação do Jornal dos Amigos
4 Agosto, 2009
Mesmo na noite mais triste
em tempo de servidão
há sempre alguém que resiste
há sempre alguém que diz não.
Manuel Alegre
Porque não sou petista
Texto de Marcelo Tas em seu blog. Marcelo é jornalista, autor e
diretor de TV. A ênfase de seu trabalho está na criação de novas
linguagens nas várias mídias onde atua. Entre suas obras destacam-se
os videos do repórter ficcional Ernesto Varela; participação na
criação das séries "Rá-Tim-Bum", da TV Cultura e o "Programa Legal",
na TV Globo. Recentemente, Tas realizou o "Beco das Palavras", um game
interativo que ocupa uma das salas mais concorridas do novo Museu da
Lingua Portuguesa, na Estação da Luz, em São Paulo. Atualmente é
âncora do CQC, editado pela TV Band
Por não ser petista, sempre fui considerado "de direita" ou "tucano"
pelos meus amigos do falecido Partido dos Trabalhadores.
Vejam, nunca fui "contra" o PT. Antes dessa fase arrogante
mercadântica-genoínica, tinha respeito pelo partido e até cheguei a
votar nos "cumpanheiro". A produtora de televisão que ajudei a fundar
no início da década de 80, a Olhar Eletrônico, fez o primeiro programa
de TV do PT. Do qual aliás, eu não participei.
Desde o início, sempre tive diferenças intransponíveis com o Partido
dos Trabalhadores. Vou citar duas.
Primeira: nunca engoli o comportamento homossexual dos petistas.
Explico: assim como os viados, os petistas olham para quem não é
petista com desdém e falam: deixa pra lá, um dia você assume e vira um
dos nossos.
Segunda: o nome do partido. Por que "dos Trabalhadores"? Nunca
entendi. Qual a intenção? Quem é ou não é "trabalhador"? Se o PT
defende os interesses "dos Trabalhadores", os demais partidos defendem
o interesse de quem? Dos vagabundos?
E o pior, em sua maioria, os dirigentes e fundadores do PT nunca
trabalharam. Pelo menos, quando eu os conheci, na década de 80,
ninguém trabalhava. Como não eram eleitos para nada, o trabalho dos
caras era ser "dirigentes do partido". Isso mesmo, basta conferir o
currículum vitae deles.
Repare no choro do Zé Genoníno quando foi ejetado da presidência do
partido. Depois de confessar seus pecadinhos, fez beicinho para a
câmera e disse que no dia seguinte ia ter que descobrir quem era ele.
Ia ter "que sobreviver" sem o partido. Isso é: procurar emprego. São
palavras dele, não minhas.
Lula é outro que se perdeu por não pegar no batente por mais de 20,
talvez 30 anos... Digam-me, qual foi a última vez, antes de virar
presidente, que Luis Ignácio teve rotina de trabalhador? Só quando
metalúrgico em São Bernardo. Num breve mandato de deputado, ele fugiu
da raia. E voltou pro salarinho de dirigente de partido. Pra rotina
mole de atirar pedra em vidraça.
Meus amigos petistas espumavam quando eu apontava esse pequeno detalhe
no curriculum vitae do Lula. O herói-mor do Partido dos Trabalhadores
não trabalhava!!!
Peço muita calma nessa hora. Sem nenhum revanchismo, analisem a
enrascada em que nosso presidente se meteu e me respondam. Isso não é
sintoma de quem estava há muito tempo sem malhar, acordar cedo e ir
para o trabalho. Ou mesmo sem formar equipes e administrar os rumos de
um pequeno negócio, como uma padaria ou de um mísero botequim?
Para mim, os vastos anos de férias na oposição, movidos a cachaça e
conversa mole são a causa da presente crise. E não o cuecão cheio de
dólares ou o Marcos Valério. A preguiça histórica é o que justifica o
surto psicótico em que vive nosso presidente e seu partido. É o que
justifica essa ilusão em Paris...misturando champanhe com churrasco ao
lado do presidente da França...outro que tá mais enrolado que
espaguete.
Eu não torço pelo pior. Apesar de tudo, respeito e até apoio o esforço
do Lula para passar isso tudo a limpo. Mesmo, de verdade.
Mas pelamordedeus, não me venham com essa história de que todo mundo é
bandido, todo mundo rouba, todo mundo sonega, todo mundo tem caixa
2...
Vocês, do PT, foram escolhidos justamente porque um dia conseguiram
convencer a maioria da população (eu sempre estive fora desse transe)
de que vocês eram diferentes. Não me venham agora querer recomeçar o
filme do início jogando todos na lama. Eu trabalho desde os 15 anos.
Nunca carreguei dinheiro em mala. Nunca fui amigo dessa gente.
Pra terminar uma sugestão para tirar o PT da crise. Juntem todos os
"dirigentes", "conselheiros", "tesoureiros", "intelectuais" e demais
cargos de palpiteiros da realidade numa grande plenária. Juntos,
todos, tomem um banho gelado, olhem-se no espelho, comprem o jornal,
peguem os classificados e vão procurar um emprego para sentir a
realidade brasileira.
Vai lhes fazer muito bem. E quem sabe depois de alguns anos pegando no
batente, vocês possam finalmente, fundar de verdade um partido de
trabalhadores.
Comentário do Jornal dos Amigos
E precisa dizer mais?
quarta-feira, 12 de agosto de 2009
Artigo interessante... a realidade do PT
terça-feira, 11 de agosto de 2009
segunda-feira, 10 de agosto de 2009
domingo, 9 de agosto de 2009
TESE DE MESTRADO NA USP - Doença burguesa e 'invisibilidade pública'
TESE DE MESTRADO NA USP por um PSICÓLOGO
'O HOMEM TORNA-SE TUDO OU NADA, CONFORME A EDUCAÇÃO QUE RECEBE'
'Fingi ser gari por 8 anos e vivi como um ser invisível'
Psicólogo varreu as ruas da USP para concluir sua tese de mestrado da
'invisibilidade pública'. Ele comprovou que, em geral, as pessoas
enxergam apenas a função social do outro. Quem não está bem posicionado
sob esse critério, vira mera sombra social.
Plínio Delphino, Diário de São Paulo.
O psicólogo social Fernando Braga da Costa vestiu uniforme e trabalhou
oito anos como gari, varrendo ruas da Universidade de São Paulo. Ali,
constatou que, ao olhar da maioria, os trabalhadores braçais são 'seres
invisíveis, sem nome'. Em sua tese de mestrado, pela USP, conseguiu
comprovar a existência da 'invisibilidade pública', ou seja, uma
percepção humana totalmente prejudicada e condicionada à divisão
social do trabalho, onde enxerga-se somente a função e não a pessoa.
Braga trabalhava apenas meio período como gari, não recebia o salário de
R$ 400 como os colegas de vassoura, mas garante que teve a maior lição
de sua vida:
'Descobri que um simples bom dia, que nunca recebi como gari, pode
significar um sopro de vida, um sinal da própria existência', explica o
pesquisador.
O psicólogo sentiu na pele o que é ser tratado como um objeto e não
como um ser humano. 'Professores que me abraçavam nos corredores da USP
passavam por mim, não me reconheciam por causa do uniforme. Às vezes,
esbarravam no meu ombro e, sem ao menos pedir desculpas, seguiam me
ignorando, como se tivessem encostado em um poste, ou em um orelhão',
diz.
No primeiro dia de trabalho paramos pro café. Eles colocaram uma
garrafa térmica sobre uma plataforma de concreto. Só que não tinha
caneca. Havia um clima estranho no ar, eu era um sujeito vindo de outra
classe, varrendo rua com eles. Os garis mal conversavam comigo, alguns
se aproximavam para ensinar o serviço. Um deles foi até o latão de lixo
pegou duas latinhas de refrigerante cortou as latinhas pela metade e
serviu o café ali, na latinha suja e grudenta. E como a gente estava num
grupo grande, esperei que eles se servissem primeiro. Eu nunca apreciei
o sabor do café. Mas, intuitivamente, senti que deveria tomá-lo, e
claro, não livre de sensações ruins. Afinal, o cara tirou as latinhas de
refrigerante de dentro de uma lixeira, que tem sujeira, tem formiga, tem
barata, tem de tudo. No momento em que empunhei a caneca improvisada,
parece que todo mundo parou para assistir à cena, como se perguntasse:
'E aí, o jovem rico vai se sujeitar a beber nessa caneca?' E eu bebi.
Imediatamente a ansiedade parece que evaporou. Eles passaram a conversar
comigo, a contar piada, brincar.
O que você sentiu na pele, trabalhando como gari?
Uma vez, um dos garis me convidou pra almoçar no bandejão central. Aí
eu entrei no Instituto de Psicologia para pegar dinheiro, passei pelo
andar térreo, subi escada, passei pelo segundo andar, passei na
biblioteca, desci a escada, passei em frente ao centro acadêmico, passei
em frente a lanchonete, tinha muita gente conhecida. Eu fiz todo esse
trajeto e ninguém em absoluto me viu. Eu tive uma sensação muito ruim. O
meu corpo tremia como se eu não o dominasse, uma angustia, e a tampa da
cabeça era como se ardesse, como se eu tivesse sido sugado. Fui almoçar,
não senti o gosto da comida e voltei para o trabalho atordoado.
E depois de oito anos trabalhando como gari? Isso mudou?
Fui me habituando a isso, assim como eles vão se habituando também a
situações pouco saudáveis Então, quando eu via um professor se
aproximando - professor meu - até parava de varrer, porque ele ia passar
por mim, podia trocar uma idéia, mas o pessoal passava como se tivesse
passando por um poste, uma árvore, um orelhão.
E quando você volta para casa, para seu mundo real?
Eu choro. É muito triste, porque, a partir do instante em que você está
inserido nessa condição psicossocial, não se esquece jamais. Acredito
que essa experiência me deixou curado da minha doença burguesa. Esses
homens hoje são meus amigos. Conheço a família deles, freqüento a casa
deles nas periferias. Mudei. Nunca deixo de cumprimentar um trabalhador.
Faço questão de o trabalhador saber que eu sei que ele existe. Eles são
tratados pior do que um animal doméstico, que sempre é chamado pelo
nome. São tratados como se fossem uma 'COISA'.
*Ser IGNORADO é uma das piores sensações que existem na vida!
Respeito: passe adiante!