domingo, 13 de novembro de 2005

Vírus H5N1 inverte o sistema de defesa

Washington – Um estudo feito por cientistas de Hong Kong revelou que o vírus da gripe aviária faz o sistema imunológico do paciente funcionar o próprio corpo. A descoberta será publicada na revista médica Rspiratoty Research. Segundo eles, ao infectar as células pulmonares, o vírus H5N1 provoca uma reação exagerada das citoquinas, que são “mensageiros” moleculares que informam com que intensidade as células de defesa do organismo devem atacar o micróbio. Para o especialista em doenças infecciosas Michael Osterholm, da Universidade de Minnesota (EUA), o vírus da gripe aviária se assemelha muito ao da “gripe espanhola”, que matou mais de 40 milhões de pessoas.

Fonte: Correio do Povo, página 10 de 13 de novembro de 2005.

Trabalhador enfrenta dupla jornada

Na região Metropolitana de Porto Alegre, 67 mil incrementam a renda familiar com mais ocupações

Carina Fernandes

Além da jornada normal de trabalho, muitos brasileiros têm se dedicado a um emprego adicional para incrementar a renda mensal da família. Na região Metropolitana, cerca de 67 mil trabalhadores se enquadram nessa realidade, segundo dados do Dieese. Num país com alta taxa de desemprego, conseguir duas ocupações remuneradas pode ser considerado um privilégio, mas em alguns casos ocasiona problemas de saúde, como estresse e doenças associadas à intensa jornada, avalia o presidente da Central Única dos Trabalhadores (CUT) do RS, Quintino Severo.

Conforme a economista da área de Mercado de Trabalho do Dieese, Lúcia Garcia, a instituição realiza mensalmente pesquisa sobre o emprego e o desemprego na região Metropolitana, onde o número de pessoas ocupadas fica em torno de 1,5 milhão e o desemprego atinge 274 mil. Ela ressalta que existem normas de ocupação extra não desejáveis, como a dos servidores da segurança pública que arriscam a vida em serviços privados. As pesquisas realizadas mostram que há aumento das ocupações adicionais em duas situações: quando a economia se recupera e quando há mais opções no mercado de trabalho.

Em 1993, o índice de trabalhadores com dois empregos era de 4,6% na Grande Porto Alegre. Em 2005, os estudos apontam 4% até o momento. Entre 2000 e 2002, foram registrados os maiores índices, cerca 6%, em função da recuperação do mercado de trabalho. O emprego adicional tem como característica, em geral, a exigência de capacitação numa área específica e a necessidade de negociar uma carga horária reduzida.

A procura por um segundo emprego tem origem nos baixos salários e na má distribuição de renda do país, na avaliação do presidente da CUT-RS, Quintino Severo. Para ele, a situação traz prejuízos diante do grande número de desempregados e da necessidade de criação de mais postos de trabalho. “É preciso aumentar o poder aquisitivo dos trabalhadores para que não retirem vagas de outras pessoas”, salienta. Outro problema associado à dupla jornada de trabalho, de acordo com Severo, são as doenças relacionadas à intensa carga horária. O presidente da entidade ressalta que a situação leva o trabalhador doente a procurar auxílio da Previdência Social, o que faz com que toda a população pague pelas consequências de um problema social não resolvido.

Fonte: Correio do Povo, página 11 de 13 de novembro de 2005.

sexta-feira, 11 de novembro de 2005

'PT foi corrupto', afirma OAB

O presidente da Ordem dos Advogados do Brasil, Roberto Busato, declarou ontem que “Lula já teria caído se o PT estivesse na oposição”. Quando era oposição, analisou, o partido agiu com muita competência. Porém, na situação, “o PT foi absolutamente corrupto”. Lembrou ainda a sua capacidade de mobilização e as bandeiras da moral e da ética que empunhava, marcas indeléveis que não foram substituídas por outro partido de expressão, acredita. “Temos o PSol, que levanta bandeiras erguidas pelo PT. Trata-se de dissidência fundada pelos expulsos justamente porque queriam que o partido continuasse compromissado com as causas sociais”, observou.

Fonte: Correio do Povo, página 2 de 11 de novembro de 2005.

sábado, 30 de abril de 2005

Suicídio de Hitler completa 60 anos

Ditador nazista se matou com um tiro na cabeça.

Nas ruas de Berlim, as forças soviéticas e alemãs se enfrentavam no fim apocalíptico da II Guerra Mundial. O pó era a única coisa que restava sobre o entulho de prédios inteiros destruídos.

Mas nove metros sob a terra, no bunker de Adolf Hitler, era possível escutar o barulho de um alfinete caindo.

O primeiro-sargento da SS Rochus Misch, guarda-costas de Hitler, havia recebido a ordem de que ninguém deveria perturbar o Führer. Todos sabiam o que isso significava.

  • Não ouvimos nenhum disparo, não escutamos nada, mas um de nós se virou e disse: “Acho que acabou” - recorda Misch.

    Misch lembra claramente do momento em que entrou na sala. O que viu ficou guardado para sempre na memória: Hitler estava caído sobre uma mesa, com uma mancha de sangue escorrendo da ferida aberta pelo tiro que deu na cabeça.

O estudante de arte e soldado da I Guerra Mundial que abriu caminho para o poder entre lutas e intrigas, que conquistou boa parte da Europa no início da década de 40 e que foi o responsável pelo Holocausto – o assassinato de 6 milhões de judeus –, pôs fim a sua vida, aos 56 anos, no dia 30 de abril de 1945, há exatamente 60 anos. Uma semana depois, a guerra terminaria com a capitulação incondicional da Alemanha.

Perto de Hitler, estava sua mulher, Eva Braun, morta pelo efeito de cianeto.

  • Eva estava deitada no sofá, com os joelhos para cima e a cabeça voltada na direção dele – afirmou Misch.

Em um momento, o silêncio se transformou em caos. Misch subiu correndo as escadas para dar a notícia a seu superior. Quando voltou ao porão, o cadáver de Hitler havia sido colocado em um lençol no chão. O líder nazista e sua mulher foram levados a um jardim na superfície. Seus corpos foram incinerados. Um guarda da SS gritou para Misch:

  • Estão queimando o chefe. Vem ver.

Misch preferiu continuar escondido no bunker. Temia que a Gestapo chegasse para matar as testemunhas do suicídio. Ele tinha 27 anos. Hoje, tem 87. Suas histórias já foram contadas muitas vezes, mas segue sendo repetida em um mundo que ainda tenta afugentar aos demônios que criaram o ditador nazista.

Fonte: Zero Hora, página 24 de 30 de abril de 2005.

quarta-feira, 6 de abril de 2005

Um bispo que fabricou o futuro

Aquele bispo de Santo André que em abril de 1980 carregava pelas ruas a cruz de uma greve perdida poderá ser eleito papa. Pelo que se entende, o franciscano Cláudio, cardeal Hummes, está na lista dos prováveis sucessores de João Paulo II, caso o novo Pontífice não seja italiano.

Já que não se pode saber o que sucederá em Roma no futuro, vale revisitar o que se sucedeu em Santo André no ano passado. Dom Cláudio substituiu naquela diocese a uma das grandes figuras do clero brasileiro do século XX. Chamava-se Jorge Marcos Oliveira. Foi o primeiro bispo da cidade e morreu em 1989, aos 73. Hoje na lembrança está embacada, nasce o ABC paulita e produziu bispos como Hummes e políticos como Lula, isso se deveu em boa parte ao descortínio, iniciativa e coragem de dom Jorge Marcos.

O “Bispo dos operários”, como viria a ser chamado, chegou a Santo André em 1954, antes da indústria automobilística. Foi ele quem abençoou a primeira fábrica de motores à gasolina do Brasil, a da Willys, diante de JK. Tinha 38 anos e vinha da incubadora de lideranças da arquidiocese do Rio, comandada pelo regalista Jaime Câmara.

Dom Jorge Marcos foi um estimulador da Juventude Operária Católica, a JOC. Seu objetivo era criar uma liderança cristã no chão das fábricas. Nessa época, Lula, com 9 anos, ainda morava em Santos. Cláudio Hummes, com 20, estava no seminário.

Como ensinou o professor José de Souza Martins: “Lula não sabia, porque ainda não era senão o anônimo, mas essa opção da Igreja começava o movimento de constituição de uma força partidária católica de esquerda, anticomunista.”

O bispo de Santo André ia conseguindo criar essa nova militância, até que em 1964 veio a ditadura. Dom Jorge Marcos desentendeu-se com o cardeal de São Paulo Agnello Rossi (que se estendia bem mais com os generais). Em 1966 foi proibido de falar na PUC e acabou abrigado pelos dominicanos. A Central Intelligence Agency americana descreveu-se o dizendo que “até os comunistas o olham como um fanático”.

Ele não era um fanático. Batalha nos anos 60 por coisas que pareceriam maluquice nos anos 70 para tornarem-se audaciosas nos anos 80 e banais nos 90. O desgosto com a política levou-o à bebida e à debilidade física. Renunciou à diocese em dezembro de 1975, aos 60 anos. Desde abril daquele ano, o sindicato dos metalúrgicos de São Bernardo era presidido por Luiz Inácio Lula da silva. Em dezembro, dom Cláudio Hummes tornou-se bispo de Santo André.

Dom Jorge Marcos está sepultado na igreja em cuja nave se realizaram algumas delas reuniões de trabalhadores. Na hora em que o cardeal Hummes e Lula voam para Roma levando esperanças, algumas palavras de dom Jorge Marcos merecem eco.

Em abril de 1980, durante a greve dos metalúrgicos, dois dias depois da prisão de Lula, e da mobilização de centenas de PMs, dom Jorge Marcos mandou uma corta manuscrita ao presidente João Figueiredo. Ele perguntava:

“Por que, Exmo. Sr., os milhões gastos no aparato de guerra se viu no ABC, não foram usados contra os corruptos, contra a violência que graça no Brasil, ou pela salvação dos menores carenciados e dos favelados do próprio ABC?

Passou o tempo e mudaram os aparatos onde se queima o dinheiro da viúva. Lula, por exemplo, comprou um avião. A agenda de dom Jorge Marcos está intacta.

Fonte: Correio do Povo, coluna de Elio Gaspari, página 2 de 6 de abril de 2005.

sexta-feira, 1 de abril de 2005

Por que azul para menino e rosa para meninas?

A associação é tão comum que nem parece precisar de explicação, mas nem meninos vestiram azul e meninas vestiram rosa. Segundo o livro Dictionary of Omens and Supersticions (“Dicionário de Agouros e superstições”, sem tradução em português), o costume já existia na era pré-cristã, quando se acreditava que algumas cores podiam expulsar os espíritos que rondavam os recém-nascidos. Como bebês do sexo masculino eram mais valiosos, passaram a ser vestidos com roupas azuis, com associada aos espíritos do bem (por ser a mesma do céu). As meninas, quando recebiam alguma atenção, ganhavam roupas pretas, cor símbolo da fertilidade na cultura oriental, de onde possivelmente veio a crença nos espíritos.

Foi no século 19 que o rosa ganhou alguma ligação com a feminilidade, influenciado por uma lenda europeia que diz que as meninas nascem de rosas e os meninos de repolhos azuis. Esse padrão, no entanto, não se disseminou por todo o mundo. Por um bom tempo, na França, as meninas se vestiam de azul, por causa da tradição católica, que associa a cor à pureza da Virgem Maria.

Fonte: Revista Super Interessante, abril de 2005, página 37.

Síndrome de Down

Nosso material genético, os cromossomos andam aos pares. Em que tem Down há um único cromossomo a mais, o 21, formando um trio que provoca alterações por todo o organismo. Algumas estão na cara, com maior ou menor sutileza: os olhos amendoados, o nariz ligeiramente mais achatado. Os portadores em geral têm dificuldade para falar. Sua língua tende a ficar para fora e a boca costuma viver aberta. Isso é minimizado quando a criança com Down faz exercícios específicos, orientados por um fonoaudiólogo.

Outro fator associado é o fraco tônus muscular. “Portadores da síndrome devem fazer mais esforço físico para atingir os mesmos resultados de uma outra pessoa”, compara o médico Zan Mustacchi, do Centro de Estudos e Pesquisas Clínicas de São Paulo. Desse modo, com os movimentos são mais cansativos, a obesidade é uma ameaça constante. Mas ela pode ser controlada com uma dieta equilibrada e, espantando a preguiça justificável no caso, ginástica.

Fonte: Revista Saúde! É Vital, abril de 2005, página 57.

sexta-feira, 18 de fevereiro de 2005

O Protocolo de Kyoto

A entrada em vigor do Protocolo de Kyoto é um passo à frente para a conscientização internacional sobre a importância da proteção ao meio ambiente. O objetivo do protocolo, ratificando por 141 países, é controlar os efeitos de gases que, ao aprisionarem calor na atmosfera, aquecem o planeta. Estudos científicos estimam que o chamado efeito estufa, num processo gradativo, poderá provocar alterações do clima, cujo degelo das calotas polares seria o resultado catastrófico mais sério. Embora todos os cálculos quanto ao aquecimento do planeta assegurarem que tal hipótese é remota, a redução gradativa da emissão dos gases produzidos pela queima de fósseis é medida de segurança recomendada pela ciência.
O lamentável é que os Estados Unidos, responsáveis por um quarto das emissões poluentes, recusem-se a ratificar o protocolo, mantendo a posição firmada pelo presidente George W. Bush quando da investidura em seu primeiro mandato, em 2001. mesmo assim, governadores de quase a metade dos estados discordam da postura do presidente Bush e prometeram trabalhar em favor da cooperação internacional para uma melhor qualidade de vida no planeta, estimulando a adoção de políticas públicas antipoluição que não dependem, para sua implantação, da esfera federal.
Os países desenvolvidos do Primeiro Mundo, altamente industrializados, pelo Protocolo de Kyoto, comprometem-se em reduzir em determinadas porcentagens o nível de emissão de gases registrados em 1990.
Países emergentes, como Brasil e Índia, só terão metas a cumprir depois de 2012. Mesmo assim, em sua política de proteção ao meio ambiente, o Brasil, que conta em seu território com a maior floresta tropical do mundo, a Amazônia, com a implantação do Sistema de Vigilância da amazônia (Sivam), combate o desmatamento e as queimadas, fatores que concorrem para o aumento do efeito estufa. Na complicadíssima engenharia das negociações internacionais, o Protocolo de Kyoto pode não ser o suficiente, mas pode ser considerado um avanço na harmonização das preocupações ambientalistas, que ganharam corpo a partir da década de 70, com os interesses econômicos dos países.



Fonte: Editorial do Correio do Povo, página 4 de 18 de fevereiro de 2005. 

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2005

Chávez, novo Fidel?

A política, em qualquer lugar onde se exercite a mutação democrática, tende a ser ondulante: o réprobo de hoje, e a história está aí para confirmar, pode ser o herói de amanhã e vice-versa. Pois este senhor Hugo Chávez, ainda há pouco tempo quase apeado pela opinião pública do governo da Venezuela, vai tomando o papel de líder sul-americano disputado com Lula. Sem sucesso, para citar o episódio mais recente, no Fórum Social Mundial, foi estrondoso. No penúltimo dia do Fórum, sendo um dos oradores escalados, recolheu aplausos como ninguém antes recolhera. Falou coisas óbvias para o congresso, nada de novo em termos de políticas sociais e de integração, tudo dito e repetido por outros intérpretes, inclusive pelo próprio Lula, então de partida para Davos, onde falaria a outros senhores, estes representantes do capitalismo. Lula, por isso, colheu algumas vaias, de que passou recibo na base do “paz e amor”, que cultiva com maestria.
Voltando porém a Chávez: além da oratória de cunho social, foi especialmente prático ao assinar protocolos de intenções como o governo brasileiro para adoção de regras usadas em um assentamento de sem-terra nas proximidades de Porto Alegre, coisa sem grande importância por tratar apenas intenções, como o nome do protocolo indica, mas de muito efeito como marketing prático. Na sua aparatosa fala, dissertou sobre o papel da América do Sul, “que detém o futuro do Norte”, frase de interpretação cerebrina e incompreensível, mas de fato excelente para oportunidade. Terminou conquistando para seu país o galardão de ser uma das sedes prováveis do Fórum Social Mundial de 2006. Em suma, ficou sob a luz dos holofotes enquanto Lula se ofuscava no meio dos figurões de Davos...
É, tudo indica, ainda muito cedo para ser ter a certeza de que o índio venezuelano do país que já teve o tirano Gomez como líder venha a ser uma referência na história do continente meridional americano. Mas força e determinação não lhe faltam para isso. Parece questão de tempo para ser Fidel.



Fonte: Editorial do Correio do Povo, página 4 de 2 de fevereiro de 2005. 

domingo, 9 de janeiro de 2005

A difícil tarefa de explicar o horror

Depois da morte de mais de 150 mil pessoas, as religiões tentam descobrir um significado para a tragédia

PETER GRAFF

Reuters/Londres

Sempre que acontece um desastre, uma tragédia, a pergunta é feita. Dias atrás, ela foi repetida mais uma vez, agora na boca de uma mulher idosa em um vilarejo destruído do Estado de Tamil Nadu, no sul da Índia

  • Por que fez isso conosco, Deus? O que fizemos de errado?

  • Chorava ela.

Os tsunamis de 26 de dezembro, ondas gigantes assassinas que mataram mais de 150 mil pessoas, desafiam as grandes religiões do mundo. A tragédia atingiu indiscriminadamente muçulmanos indonésios, hinduístas indianos, budistas tailandeses e do Sri Lanka, além de cristãos e judeus que faziam turismo nas praias do Oceano Índico. Nos templos, mesquitas, igrejas e sinagogas de todo o mundo, pede-se aos religiosos que expliquem: como um Deus benevolente pode lançar tanto horror contra pessoas comuns? Alguns líderes religiosos descreveram a destruição como parte do plano de Deus, como prova de seu poder e como punição pelos pecados dos humanos.

É a expressão da grande ira de Deus com o mundo. O planeta está sendo punido pelas coisas erradas, seja o ódio desnecessário, a falta de caridade, a torpeza moral – disse à agência de notícias Reuters o rabino-chefe de Israel, Shlomo Amar.

Pandit Harikrishna Shastri, sacerdote do grande tempo hindu Birla, em Nova Délhi, declarou que o desastre foi causado por “uma enorme quantidade de maldade humana na Terra”, além da posição dos planetas. Para Azizan Absul Razak, líder religioso muçulmano e vice-presidente do Parti Islam se-Maysia, partido oposicionista islâmico da Malásia, a tragédia foi um lembrete de Deus que “ele criou o mundo e pode destruí-lo”. O xeque Ibrahm Mogra, influente líder religioso muçulmano de Leicester, na Grã-Bretanha, também deu sua opinião.

  • Acreditamos que Deus tenha o controle total sobre sua criação. Temos a responsabilidade de tentar atrair a bondade e a misericórdia de Deus e de não fazer nada que atraia a sua fúria.

Maria, 32 anos, uma testemunha de Jeová do Chipre que acha que o Apocalipse está se aproximando, afirmou que as pessoas começam a prestar atenção em suas palavras. Mas, para outros, calamidades como a do final de dezembro podem provocar a rejeição da fé. Ateu britânico Martin Kettle escreveu no jornal britânico The Guardian que os tsunamis deveriam obrigar as pessoas a se perguntarem “se Deus existe e pode fazer coisas como essas” – ou se não há Deus, apenas a natureza.

  • Não há problema para explicar a tragédia pela visão da ciência. Houve um fato natural burro, que destruiu tanto os muçulmanos como os hindus. Um sistema de crença não-científico, especialmente um que se baseie em qualquer tipo de noção de ordem divina, no entanto, deve explicações – escreveu Kettle.

Conforme o rabino americano Daniel Isaak, da congregação Neveh Shalom, em Portland, Oregon, essa é uma questão com que os religiosos lidam quase todo dia, quando consolam as pessoas em relação às tristezas diárias da vida – e não só nas épocas de grandes catástrofes.

  • É muito difícil acreditar em um Deus que não apenas cria tsunamis que matam milhares de pessoas, mas que põe defeitos de nascimento em crianças. Muitas vezes a primeira pergunta que as pessoas fazem é aquela feita pela mulher indiana. Por que Deus está fazendo isso comigo? – admite o rabino.

Para alguns, Deus não interfere em sua criação

Segundo Isaak, na visão moderna no entanto, Deus não interfere nas questões de suas criações. Catástrofes como as dos tsunamis no sul da Ásia ocorrem pelos motivos naturais apontados pelos cientistas.

  • Não foi algo que Deus fez. Deus não escolheu um determinado grupo de pessoas em determinada área do mundo e disse: “Vou puni-los”. O mundo tem certas imperfeições em sua ordem natural, e temos que conviver com elas. A pergunta não é “Por que Deus fez isso conosco?”, mas “Como nós, seres humanos, cuidamos uns dos outros?” – opinou Isaak.

O teólogo grego ortodoxo Costas Kyriakides, do Chipre, tem uma visão semelhante:

  • Pessoalmente, não vejo nenhum significado teológico nisso. Deus é sempre o bode expiatório. É sempre culpado, injustamente, por nós.

Fonte: Zero Hora, página 32 de 9 de janeiro de 2005.