Aquela
parecia uma manhã como todas as outras, não fosse um tiro de um
colt calibre 32. Um tiro, não qualquer tiro, mas um que entraria
para a História brasileira como responsável pelo fim de uma de suas
mais intrigantes personalidades: Getúlio Dornelles Vargas. Era manhã
de 24 de agosto de 1954, o dia em que um tiro parou o Brasil, era o
suicídio do presidente Vargas. Cinquenta anos passaram-se e Getúlio
continua sendo, possivelmente, o líder mais estudado, pesquisando,
discutindo e sobre qual mais se tem escrito em nossa historiografia.
Temido
ou amado, respeitado ou odiado, Getúlio Vargas marcou importante Era
na história de nosso país. Portador de personalidade forte, para
vários de seus estudiosos Vargas encarnou o ditador e populista
sabendo adequar às exigências do momento histórico em que vivia,
sem deixar, entretanto, de perseguir suas ideias e determinações. O
período getulista, que se inicia com a Revolução de 30, ensejou
uma ruptura no poder das oligarquias do Sudeste, representativas dos
grandes fazendeiros do café. Getúlio, o gaúcho que se iniciara sua
vida política em 1909, eleito deputado estadual e percorrendo uma
carreira ascendente, assumia a presidência do Brasil devido a
deposição, em 24 de outubro de 1930, do então presidente
Washington Luís.
Era o
início de suas gestões, de 1930 a 1945 e de 1951 a 1954. Nesse
período, o Brasil aspirava o projeto nacionalista desenvolvimentista
que tentava a saída ra um capitalismo autônomo, não atrelado aos
interesses internacionais, mas é aliado à ideia de modernização
urbano industrial. Tal proposta, todavia, ensejaria um universo mais
amplo de realizações, quer visando à contenção das classes
trabalhadoras, com a criação da Carteira de Trabalho e da
Previdência Social (1932), o salário mínimo (1940), a CLT –
Consolidação das Leis do Trabalho (1943) ou com o projeto
modernizador. Desse último, vale citarmos a criação da Companhia
Siderúrgica Nacional, que entrou em operação em 1946 e a criação
da Petrobras, aprovada no Congresso em 3 de outubro de 1953.
Portador
de uma capacidade ímpar de negociar com os mais diversos setores da
sociedade, Getúlio Vargas é, ainda hoje, reconhecido por muitos de
seus seguidores como o “pai dos pobres” alcunha granjeada devido
ao seu estilo de governo paternalista, centrado em sua figura
carismática, que, entre outras coisas, “detinha a salvação do
país”, concedendo benefícios importantes à classe trabalhadora.
De certa forma, talvez isso explique a intensa manifestação e
indignação popular com sua morte. O povo, quando soube do ocorrido,
saiu às ruas em todas as principais cidades do país enfurecido
contra os setores oposicionistas a Getúlio. Carlos Lacerda, o
principal líder da UDN (União Democrática Nacional), histórico
inimigo de Vargas, teve, inclusive, que se refugiar no Exterior.
Com seu
gesto, Getúlio Vargas surpreendeu mais uma vez, derrotando seus
opositores e adiando, por 10 anos, o golpe militar de 1964.
Historiador
Fonte:
Zero Hora, página 16 de 15 de agosto de 2004.