terça-feira, 10 de agosto de 2004

Jornalismo perde Plínio Saraiva

Diretor do jornal O Taquaryense, único do RS que ainda adota o sistema tipográfico, faleceu ontem

O jornalista Plínio Saraiva, diretor do jornal O Taquaryense, de Taquari, morreu ontem, às 14h15min, no Hospital São José, onde estava internado. Aos 101 anos, ele havia sofrido um aneurisma cerebral na madrugada da última sexta-feira e acabou entrando em coma na tarde do mesmo dia. O corpo está sendo velado na Câmara de Vereadores de Taquari e o sepultamento ocorrerá hoje, às 17h, no Cemitério Municipal.
Plínio se encontrava à frente do jornal, o segundo mais antigo do Rio Grande do Sul, desde 1962. O veículo, com uma tiragem de 500 exemplares, é o único no Estado que ainda funciona no sistema tipográfico, tendo começado a circular em 31 de julho de 1887, utilizando tipos móveis. Mais tarde, passou a ser impresso pelo equipamento francês Marinoni, a primeira impressora comprada pelo Correio do Povo, que utilizou desde a fundação até 1910, quando foi adquirida por Albertino Saraiva, fundador do Taquaryense, pai de Plínio. Funcionário aposentado da Exatoria Federal, o jornalista gastava parte da aposentadoria para cobrir as despesas do semanário. O mais antigo periódico em circulação no Rio Grande do Sul é a Gazeta de Alegrete, que foi criada em 1º de outubro de 1882, por Luiz de Freitas Valle.
José Harry Saraiva Dias, neto do jornalista e gerente do Taquaryense, lembra que o principal objetivo da vida de Plínio era acordar na segunda-feira para começar a preparar o jornal. Além disso, mantinha uma profunda relação com a sua cidade. “Meu avô amava essa terra”, disse. Dias garantiu a continuidade do semanário em parceria com a Univates, de Lajeado, que promoverá o intercâmbio histórico e cultural por meio da manutenção e preservação do arquivo e do acervo do jornal.


Fonte: Correio do Povo, página 16 de 10 de agosto de 2004.

domingo, 8 de agosto de 2004

Lendo Platão, por Olavo de Carvalho*

Alguns leitores pedem-me umas dicas sobre como estudar A República de Platão. Creio que a resosta pode ser útil também para todos os demais. O conselho que tenho a dar é simples e direto: não leiam este livro como se fosse uma “utopia”, a proposta de uma sociedade ideal a ser construída num futuro próximo ou distante, determinado ou indeterminado. Ao contrário do que acontecesse com as utopias modernas, A República, definitivamente, não é uma proposta política nem um mito destinado a atiçar as ambições de partidos revolucionários. É uma investigação filosófica em sentido estrito, e uma das mais sérias que alguém já empreendeu. Para tirar proveito do seu estudo é preciso situá-la no lugar exato que ocupa no edifício da ciência platônica. Essa ciência compõe-se de uma diferenciação muito fina entre os diversos níveis, planos ou camadas da realidade. Quando você divide um quadrado na diagonal e obtém dois triângulos isósceles, este resultado não pode ser explicado pelo exame dos processos cerebrais mediante os quais você o obteve. As propriedades das figuras geométricas e a fisiologia cerebral permanecem irredutivelmente independentes entre si, embora de algum modo misterioso as duas se toquem no instante em que você estuda geometria. Elas residem em “planos de realidade” distintos. No conjunto da existência, Platão discerne um certo número desses planos, e num deles ele situa o ser humano – uma realidade específica que não pode ser explicada totalmente nem ela ordem geral do cosmos (a lei divina ou “Bem Supremo”), nem pelas propriedades que tem em comum com os demais habitantes do planeta Terra, animais, plantas ou minerais. Dessa situação peculiar do homem na estrutura do universo. Platão extrai uma descrição analítica da natureza humana como a de um ser intermediário, que vive da “participação” (metaxy) simultânea e instável em dois planos de realidade, sem poder absorver-se por completo em nenhum deles: mal instalado no ambiente terrestre, ao qual busca adaptar-se por meio de engenhosos artifícios, não consegue também elevar-se à contemplação da ordem suprema, da beatitude divina, senão por instantes fugazes que enfatizam ainda mais a sua dependência do meio físico imediato. Platão resume isso dizendo que o homem é um tipo intermediário entre os animais e os deuses.
Uma vez delineada assim a natureza humana, Platão coloca em seguida o problema de quais seriam as condições sociais e políticas mais adequadas ao desenvolvimento do homem segundo as exigências dessa natureza. É a essa investigação que ele consagra A República. Não se trata, pois, de uma proposta política, mas da construção de um conjunto de hipóteses. Como estas hipóteses estão sujeitas à avaliação crítica segundo os princípios anteriormente colocados e segundo a experiência de cada estudante (o próprio Platão fará mais tarde uma parte desse exame crítico, no livro das “Leis”), está claro que se trata de uma investigação científica no sentido mais rigoroso do termo.
É assim que deve ser lida A República.
A beleza da filosofia clássica de Platão e Aristóteles está na transparência com que ergue os princípios do conhecimento racional e em seguida se oferece para ser julgada por eles. Na entrada da modernidade, que paradoxalmente alardeia ter inaugurado o estudo científico da sociedade humana, essa transparência se perde e é substituída por um emaranhado de premissas implícitas, inconsistentes ou mal confessadas, obrigando o estudioso a um complexa e arriscada especulação das intenções subjetivas do autor antes de ter a certeza de que compreendeu Maquiavel ou Rousseau o bastante para poder julgar se têm razão.
A grande tarefa da filosofia política hoje em dia é recuperar o ideal clássico de transparência e racionalidade, sem o qual o nome de “ciência” se torna apenas um rótulo publicitário colado em cima de uma massa obscura de preconceitos bárbaros e rancores fúteis.

*Filósofo e jornalista


Fonte: Zero Hora, página 14 de 8 de agosto de 2004.

sexta-feira, 6 de agosto de 2004

Antônio Chiarello

O ex-deputado estadual e ex-prefeito de Uruguaiana, Antônio Chiarello morreu no dia 22, aos 83 anos, no Pavilhão São Francisco da Santa Casa, em Porto Alegre, vítima de falência múltipla de órgãos.
Chiarello teve a vida política ligada ao antigo PTB e ao PDT. Foi um dos fundadores do PTB em Uruguaiana, partido que presidiu na cidade por 13 anos. Funcionário concursado do Banco do Brasil (BB), não deixava de integrar a vida do partido mesmo quando transferido de cidade.
A participação de Chiarello na política teve início com a chamada Campanha Queremista, que pretendia convencer Getúlio a concorrer à Presidência em 1945. Na eleição de 1954, elegeu-se suplente de deputado estadual, assumindo uma vaga na Assembleia em 1957. Eleito prefeito de Uruguaiana em 1959, exerceu o mandato entre 1960 e 1963.
A doutora em Ciência Política e autora do livro Uruguaiana e Os Coronéis, Lúcia Silva e Silva, lembra que a principal característica de Chiarello era ser afável com os adversários políticos.
Pouco antes do golpe de 1964, foi convidado pelo presidente João Goulart para integrar uma assessoria da Casa Civil. Acabou não assumindo a função e em outubro foi demitido do BB em razão do AI-1. Desempregado, trabalhou em uma agência de publicidade, como produtor na Rádio Guaíba e, mais tarde, na assessoria do então deputado federal Victório Trez.
Com a anistia em 1979, aposentou-se no BB. Nos anos 80, filiou-se ao PDT e concorreu a deputado estadual, mas não foi eleito. Assumiu, no mandato de Leonel Brizola no governo do Rio, a superintendência para a Região Sul do Banerj. Abandonou a vida pública em 1987. Depois de aposentado, escreveu dois livros. Casado com Maffalda, teve os filhos Nicia, Nicely (falecida), Nídia e Antônio Francisco, nove netos e seis bisnetos.


Fonte: Zero Hora, página 53 de 6 de agosto de 2004.

quinta-feira, 5 de agosto de 2004

A moderna endoscopia já é coisa do passado

A endoscopia tradicional já tem seus dias contados. Há certa de um ano, chegou ao Brasil uma novidade que prometia acabar com o exame do aparelho digestivo que tanto incomodava os pacientes. A cápsula endoscópica fez sucesso, está sendo adotada por vários hospitais do país e os pacientes não se assustam mais com o fato de engolir um objeto eletrônico.

Quando caminha pelo aparelho digestivo, a cápsula envia até 50 mil imagens para um pequeno computador localizado no cinturão. O exame dura oito horas e, enquanto isso, o paciente mantém normalmente suas atividades diárias.

Depois que a cápsula é evacuada (e não-reutilizada) pelo organismo, as imagens que foram capturadas por meio de sensores fixados ao abdômen do paciente são descarregadas para um gravador.

Em seguida, o Data Recorder é processado no Rapid Workstation, um programa que permite ao médico visualizar e analisar o intestino delgado por meio de um filme de vídeo. O recurso possibilita o congelamento das imagens e o arquivamento em CD.

COMPOSIÇÃO – A cápsula de vídeo é do tamanho de uma pílula de vitamina (aproximadamente 1 centímetro de comprimento por 8 milímetros de largura) e é usada junto com um aparelho endoscópio, uma câmera e fonte de iluminação próprias à prova d'água e resistente a mordidas e ao meio ácido.

Esta tecnologia evita cirurgias, permite diagnosticar doenças e sangrentos do sistema digestório e é o único meio eficaz de identificação da Doença de Crohn no intestino delgado.

A Clínica Ana Rosa, de Santo André (SP), foi uma das primeiras empresas do Brasil a adquirir a cápsula endoscópica, assim como os hospitais Sírio Libanês e Albert Eistein, em São Paulo. Ronaldo Oliveira, médico gastroenterologista da clínica explica que a cápsula é indicada principalmente para o diagnóstico de doenças inflamatórias intestinais.

“Além disso, usamos este recurso para detectar sangramentos digestivos de origem obscura, anemia crônica e tumores intestinais benignos e malignos em que, na maioria dos casos, outros procedimentos frequentemente não alcançaram os resultados esperados”, destaca o especialista.

INVESTIMENTO – o Hospital Albert Eisntein inaugurou a divisão da Cápsula Endoscópica no dia 21 de julho do ano passado e o equipamento custou 60 mil dólares (cerca de 183 mil reais). A última versão do aparelho (adquirida pelo hospital) possui um sistema de localização espacial (tipo GPS) que facilita a localização exata do ponto de sangramento ou da lesão encontrada.

O recurso tem sido utilizado também para diagnosticar problemas no aparelho digestivo e acabar com o sofrimento dos pacientes que passam pela endoscopia tradicional.

Em São Paulo, o exame não é coberto por nenhum plano de saúde e custa entre 3 mil reais e 7 mil reais, dependendo do valor dos honorários do médico que analisa as imagens. (Cibele Gandolpho/AE)

Fonte: O Sul, página 9 do Caderno de Reportagem da edição de 5 de agosto de 2004.

segunda-feira, 2 de agosto de 2004

Imigração judaica, por Victor Faccioni

Além dos nativos, o Rio Grande do Sul foi enriquecido pela contribuição de grande variedade étnica: portugueses, africanos, espanhóis, alemães, italianos, judeus, árabes, sírio-libaneses e tantos outros ajudaram a formar o gaúcho contemporâneo. Se festejamos dia 25 último 180 anos dos alemães, cabe igualmente lembrar o centenário dos judeus. Seus ancestrais tiveram motivação diferente para escolher nosso Estado como sua seguida pátria. Enquanto a maioria dos imigrantes europeus buscava fugir de uma situação econômica difícil e reiniciar vida nova com dignidade, a corrente israelita fugia da discriminação em seus países de origem, para viver em paz. O barão francês Maurício de Hirsch, banqueiro em Bruxelas, fundou o ICA (Yidisch Colonization Association), em 1891, para retirá-los da Europa Oriental.
Em 1903, o barão Hirsch adquiriu 5,7 mil hectares no município de Santa Maria, para estabelecer a fazenda agrícola Philippson. Em 1904 chegaram as primeiras 38 famílias da Bessarabia (Rússia). Cinco anos depois, o ICA adquiriu mais 93.850 há entre Erechim e Getúlio Vargas. Em 1910 foi criada a União Israelita Portoalegrense, a mais antiga sinagoga do Estado, seguindo-se Centro Israelita. Começaram os “bancos informais”, para ceder empréstimos aos novos imigrantes, e os “caixas dos doentes” para subsidiar consultas e facilitar o acesso a toda infraestrutura médico-hospitalar. Embora exímios comerciantes, destacaram-se também a medicina, nas artes, no direito, na literatura, etc., e que tanto honraram o nosso pago.
Em todas as atividades, firmaram marcas indeléveis de participação ativa e tudo impregnaram com o seu senso progressista e os seus valores culturais. A comunidade israelita hoje prossegue na mesma trilha e, graças a ela, junto com a contribuição das demais etnias, o Rio Grande transformou-se ao longo de décadas, em uma das mais importantes unidades da Federação. No Biênio da Colonização e Imigração, em 1974-1975, de cuja Comissão Estadual fui o presidente, comemoramos os 70 anos da chegada dos primeiros imigrantes judeus, e a programação teve como coordenadores do então Grupo de Trabalho Estado de Israel, Saul Nicolaiewski e Maurício Rosemblatt, Shalon, pois à operosa comunidade israelita gaúcha.

Presidente do TCE-RS


Fonte: Correio do Povo, página 4 de 2 de agosto de 2004.

sexta-feira, 23 de julho de 2004

Fida Goulart Macedo

Irmã mais velha de Jango morre aos 97 anos em Porto Alegre

Morreu no dia12 Fida Goulart Macedo, irmã do ex-presidente João Goulart e da mulher do ex-governador Leonel Brizola, Neusa. Era mãe do publicitário Luiz Macedo, um dos fundadores da agência de publicidade MPM, destacada no mercado brasileiro nos anos 70 e 80.

Nascida em São Borja, ela tinha 97 anos e foi vítima de falência múltipla dos órgãos. Registrada como Elfrides, era a mais velha de sete irmãos. Na juventude, costumava cuidar dos menores e era a responsável nas brincadeiras.
  • Gostava de ser chamada de tia Fida e, como era 12 anos mais velha, ensinou as primeiras letras ao Jango, lá na Fazenda Nossa Senhora do Socorro – diz a irmã Yolanda.

Filha de Vicentina Marques e Vicente Rodrigues Goulart, estudou no Colégio das Irmãs Teresinas, em Itaqui, à época um dos melhores da região. Dona Fida morou grande parte de sua vida na fazenda principal da família, em São Borja, onde o marido, Joaquim Faria Macedo, era um dos responsáveis. Mudaram-se para Porto Alegre nos anos 40.
  • Bastante ligada à família, Dona Fida é definida como uma mulher independente e calma.
  • Era uma mulher de bom senso, a voz dela era acatada em todas as oportunidades pela família – destaca o filho Luiz.

Apesar de pertencer a uma família de políticos, nunca participou ativamente da vida pública.
  • Ela sempre esteve distante da política, acompanhava mas não se envolvia. Mesmo assim, nunca deixou de votar. Ela fazia questão em ir – conta a filha Terezinha.

Católica, costumava frequentar a Igreja Auxiliadora, onde colaborava com as quermesses e visitava os doentes. Em casa, costurava casacos de crochês e pintava porcelanas. Dona Fida convivia muito bem com as pessoas mais jovens e era admirada pelos netos.
  • Ela era reservada, não perguntava como ia a tua vida nem dava conselhos, mas todos sabiam que por traz disso tinha uma pessoa doce e que conseguia aglutinar a família – conta o neto Ivan.

Fonte: Zero Hora, página 47 de 23 de julho de 2004.

domingo, 18 de julho de 2004

Uma brava nação, por Sérgio da Costa Franco*

Data Nacional do Uruguai – 18/07/1830

Ni enemigos le humillan la frente,
Ni opresores le imponen el pié.
(Versos do hino nacional uruguaio)

Dezoito de julho, data do juramento da sua Constituição de 1830 é a data nacional do Uruguai. E o fato de termos nascido na fronteira de Jaguarão, onde brasileiros e uruguaios convivem fraternalmente, e de termos trabalhado na fronteira de Quaraí, junto à simpática e acolhedora cidade de Artigas, arrolou-nos definitivamente entre os amigos e admiradores da República Oriental.
O Uruguai, com escassos 180 mil quilômetros quadrados, o equivalente a dois terços do Rio Grande do Sul, parece um desses milagres pouco explicáveis da geopolítica. O fato de haver resistido às pretensões expansionistas de dois vizinhos poderosos – Argentina e Brasil – exige algo mais que meras explicações casuísticas. A posse de um porto acessível e de águas profundas, melhor que o seu concorrente da outra margem do Prata, desenha-se como a matriz principal da vocação autonomista dos orientais, cujo destino mais lógico teria sido a vinculação com as Províncias Unidas do Rio da Prata. Por outro lado, se não fosse Montevidéu um seguro porto para a navegação oceânica, enquanto o nosso Rio Grande era um cemitério de navios e de vidas, é bem possível que a transitória incorporação da Cisplatina ao Brasil pudesse ter perdurado. Mas a História não se faz de hipóteses e de discursos condicionais. Os uruguaios hão de concordar em que sua nação tudo deve ao seu porto, onde, aliás, se concentra quase a metade da população do país. Também é pacífico que a diplomacia britânica, interessada na existência de um Estado-tampão entre Argentina e Brasil, foi a madrinha da independência uruguaia. Porém, o fato de o Uruguai ter atravessado 176 anos de vida independente sem submeter-se à gula e às ambições de seus vizinhos revela uma nação de personalidade, de identidade própria e de aspirações autônomas. Mesmo que, ao nascer, tenha sido acalentada pela poderosa Inglaterra – um criador que, ao longo do temo, perdeu o controle de suas criaturas...
Entretanto, o que mais cabe admirar, na história do Uruguai, é a sua devoção à educação popular, mormente a partir da grande reforma escolar de 1876, empreendida por José Pedro Varela. Adotando os princípios da gratuidade e da laicidade da escola pública, o jovem José Pedro Varela, que faleceu aos 34 anos de idade, iniciou em seu país uma verdadeira revolução, responsável por maiúscula transformação na vida cultural. Em sua exposição de motivos, Varela registrava que, nos últimos 45 anos, houvera 19 revoluções no país, e que, desde a independência, nem 10 livros tinham sido editados. Revoluções e maus governos, segundo ele, seriam corolários da ignorância popular. Apesar da reação do clero, do bispo de Montevidéu, dos políticos que perdiam a faculdade de nomear e desnomear professores, a reforma foi implantada, com pulso firme pelo presidente Latorre, um autoritário de visão reformista e modernizante. E o fato é que, por longos anos, foi modelar a instrução pública no Uruguai, causando inveja aos brasileiros da fronteira, cujas aulas, por vezes, não bastavam para atender à população em idade escolar, obrigando-nos à suma vergonha de matricular crianças brasileiras na escola de “allá”.
Em verdade, nunca tivemos no Rio Grande do Sul um programa eficiente de educação, como o que se implantou na República Oriental. Nem conseguimos atingir os índices de escolaridade e alfabetização alcançados na pátria de Artigas. Só esse fato justifica homenagem muito calorosa ao Uruguai em sua data nacional.


*Historiador


Fonte: Zero Hora, página 17 de 18 de julho de 2004.

quarta-feira, 14 de julho de 2004

A desigualdade intelectual

Radiografia da desigualdade
Estudo classifica participação de países na produção científica mundial. Brasil é 23º

A produção científica de ponta é marcada por uma esmagadora assimetria entre os países do mundo. Um grupo de 31 nações – incluindo o Brasil – é responsável por 98% dos artigos mais citados em revistas especializadas nos últimos anos. Os outros 162 países do globo respondem por apenas 2% desses artigos. A desigualdade é ainda mais impressionante se considerarmos apenas oito países de maior produção científica: esse grupo concentra 84,5% dos artigos mais citados.
A conclusão é de um levantamento publicado em 15 de julho na revista Nature, em que David Ling, da Agência de Ciência e Tecnologia do Reino Unido, compara e analisa a participação de cada país na produção científica mundial. O britânico levou em conta dados relativos ao período entre 1993 e 2002, compilados pelo Thomson ISI, instituto responsável por reunir informações sobre mais de 8000 periódicos publicados em 36 línguas.
A análise de King se concentrou nos 31 países responsáveis por praticamente toda a ciência de ponta no mundo – definida como o grupo de 1% de artigos de cada especialidade mais citados por ano. A lista é encabeçada pelos Estados Unidos, que têm participação em 62,76% dos artigos mais citados. Completam o 'top-10 da ciência' Reino Unido, Alemanha, Japão, França, Canadá, Itália, Suíça, Holanda e Austrália.
Com a participação em apenas 0,5% dos artigos mais citados, o Brasil aparece na 23ª posição, atrás de China (19º), Coreia do Sul (20º), Polônia (21º) e Índia (22º). A lista com os 31 países de maior produção científica conta com um único representante africano: a África do Sul, na 29ª colocação. Na 30ª posição, o Irã é o único país do mundo islâmico.
A participação brasileira é um pouco mais significativa se considerado o total de artigos publicados nos periódicos indexados. Nesse ranking, o país ocupa 17ª colocação, com participação em 1,21% do total de artigos. Mas a posição do país poderia ser bem mais baixa se tivesse sido usado um critério que medisse a transformação do conhecimento científico em tecnologia e inovação – como o número de pacientes, por exemplo. Em levantamento recente da ONU para avaliar as realizações tecnológicas de 72 países, o Brasil ficou na 43ª posição.
Embora receba críticas, o critério adotado por King – número de artigos publicados em periódicos indexados e número de citações – é o mais utilizado em estudos para medir a participação relativa na produção científica mundial. O britânico considera que o amplo volume de artigos considerados no levantamento possa compensar eventuais distorções provocadas pelo critério de avaliação.
Em seu artigo, King especula sobre as razões por trás da disparidade entre países constatada: “O desenvolvimento econômico sustentável nos mercados globais altamente competitivos requer um engajamento direto na geração de conhecimento”, diagnostica. “Mesmo melhoras modestas na saúde pública, saneamento básico, alimentação e transporte requerem capacidade em engenharia, tecnologia, medicina, negócios, economia e ciências sociais que estão além do alcance de mutos países.”

Fonte: Bernardo Esteves
Ciência Hoje Online

14/07/2004

sexta-feira, 12 de março de 2004

Dia extra/ano bissexto

Um ano solar tem exatos 365 dias, seis horas, nove minutos e dez segundos, que é o tempo de translação da Terra ao redor do Sol. Caio Júlio César não foi imperador e sim general triunviro e ditador e foi assassinado em 44 a.C. e nada poderia ter feito em 40 a.C.

Orestes Moreira da Silva

Carta publicada no Correio do Povo, página 04 de 12 de março de 2004.