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sábado, 21 de novembro de 2015

A vergonha está agonizando?, por Maria Cecília Medeiros de Farias Kother

A “senhora vergonha” era uma dama que bem qualificava os seus usuários. Vergonha era prejudicado que fazia parte dos pré-requisitos dos relacionamentos, dos negócios e da atuação das pessoas públicas. O que possuíam a exerciam como suporte das atitudes e dos pensamentos, privam-na como se fosse um santuário de respeito, a si e aos outros, e a preservavam. A qualidade comportamental que emanava da vergonha era cultivada, respeitada e utilizada como exemplo nas falas e nas citações e, também, como componente nos preconceitos da educação dos jovens.
Vergonha era atributo de crédito no convívio social, no qual a taxativa dos que dela não se beneficiavam era designada pelo rótulo “aquele é um sem-vergonha”. Essa referência colava como um estigma depreciativo que excluía – os assim rotulados – do convívio das pessoas de “respeito”, ou seja, daquelas que primavam pela honestidade do ser, do ser, do ter e do fazer, observado no componente vergonha.
A seara do cenário constituído pela ação do ser, pelo efeito do ter pela forma do fazer circundada a muralha da vergonha, que se assentava nos princípios da honestidade, do respeito e do verdadeiro como pré-requisitos dessas ações, compreendidas e resultantes desses três verbos, resguardava os possíveis desgastes do desprezo da falta da vergonha.
A vergonha sempre fez parte da privacidade como elemento reforçador da sua extensão e aplicação no compartilhar a vida pessoal, no público e com o público. Vergonha se tem ou não se tem. Ela está incorporada, ou não, no modo como agimos no todo e não só em alguns casos especiais. A vergonha se garante pela permanência, isto é, por não ser volátil. Vergonha, no Dicionário Aurélio, é definida como “sentimento penoso de desonra, humilhação ou rebaixamento diante de outrem” e como “ato, atitude, palavras (…) obscenos, indecorosos e/ou vexatórios”. O dicionário também define a vergonha como um “sentimento da própria dignidade, brio, honra”, sendo o popular “vergonha na cara” a expressão que traduz esses preceitos.
A vergonha também é a sensação e o sentimento que nos fazem orgulhosos de sermos pessoas, de sermos humanos, pois, analisando-a, percebe-se a extensão do seu conteúdo, assim como os reflexos e as implicações que dela advêm ou lhe cabem, tanto no agir íntimo quanto no público.
Sabedoria de que muitos como nós valorizam o significado da vergonha e a preservamos como dote de herança que vem de nossos país, neste texto utilizei o verbo no passado, por vê-la distante, diante do sentimento que começamos a ter, em consequência dos exemplos que nos chegam de que ela está fragilizada e em desusos ou talvez, agonizando.


Diretora do Instituto MC Educação Social e vice-presidente da Federasul



Fonte: Correio do Povo, página 2 da edição de 17 de outubro de 2015.