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sábado, 6 de junho de 2015

Migração, direitos humanos e dignidade, por Karina D'Avila

Esta semana a prefeitura de Porto Alegre foi surpreendida com a notícia de que o estado do Acre estaria enviando aproximadamente 400 imigrantes haitianos e senegaleses a Porto Alegre, seguindo o mesmo procedimento adotado em novembro de 2014. Relembrando o ocorrido naquela ocasião, em torno de imigrantes haitianos desembarcaram na rodoviária durante a madrugada em ônibus fretados pelo governo do Acre com recursos obtidos de convênio com o governo federal (Ministério da Justiça). No entanto, a maioria desejava rumar a São Paulo, Paraná e Santa Catarina, onde possuía amigos e familiares já estabelecidos e até garantia de trabalho.
Face à emergência configurada naquele momento visando a garantir os direitos fundamentais dos imigrantes, montou-se uma força-tarefa humanitária envolvendo Estado e município. Daquele grupo enviado pelo Acre permaneceram em Porto Alegre apenas nove imigrantes, que atualmente residem na Lomba do Pinheiro e trabalham na OAS. Durante o período que transcorreu até o recebimento do primeiro salário, a Secretaria Municipal de Direitos Humanos acompanhou os imigrantes fornecendo cestas básicas e outros bens necessários emergencialmente.
A Prefeitura de Porto Alegre não desconhece a grave situação do abrigo para imigrantes em Rio Branco, bem como compreende que o estado do Acre não consegue oferecer condições mínimas de trabalho e renda ao grande contingente que tem migrado ao Brasil entrando por aquela unidade da federação. No entanto, embora se solidarizando com os imigrantes e empreendendo esforços para lhes oferecer a melhor acolhida possível, crítica a omissão do governo federal em adotar uma nova política migratória, mais humana e inclusiva, defendida na Conferência Nacional sobre Migrações e Refúgio no Brasil, e em não compartilhar com os municípios a responsabilidade de garantir os direitos humanos das pessoas em mobilidade que chegam a nosso país sem visto de entrada, a grande maioria pagando US$ 2 mil a US$ 3 mil a coiotes. Buscando emprego, casa e comida, visando a uma melhor qualidade de vida para si e suas famílias.
De outro lado, questiona o procedimento irresponsável do governo do Acre em relação aos imigrantes quando os envia a outras unidades federativas, algumas vezes diferentes daquelas onde desejavam se estabelecer, e por ter adotado, mais uma vez, a estratégia de não estabelecer contato prévio com os gestores municipais para lhes proporcionar espaço adequado ao planejamento da recepção e das ações necessárias para auxiliar as pessoas que chegam a se integrar nas cidades das quais foram enviadas.

Secretária adjunta de Direitos Específicos da SMDH/POA


Fonte: Correio do Povo, página 2 de 27 de maio de 2015.