Conversei com o cartunista Plantu em
Paris. Fiz uma entrevista com ele que publicamos no Caderno de Sábado
do Correio do Povo.
Um tríptico: Plantu, Edgar Morin e Michel Houellebecq. Três
pensadores, três trajetórias, três visões de mundo. Plantu está
em Porto Alegre, participando do Encontro França-Brasil. Ele falará
hoje, às 10h, na Faculdade de Comunicação da PUCRS. Todo mundo
está convidado. Plantu tem a dura e deliciosa missão de fazer a
charge da capa do jornal Le Monde. No bate-papo, senti um homem
divertido, sensato e crítico. Há quem considere o humor sagrado e
intocável. É o que pensam, por exemplo, alguns dos que fazem humor
preconceituoso de televisão. O humor direitoso de Danilo Gentili e
outros do gênero.
Fiz a pergunta óbvia a Plantu: há
limite para o humor? Ele me respondeu com engenhosa ironia: “Sei,
por experiência, que tudo e todos na vida têm um limite. Mas esse
limite varia. Não conheço um só exemplo de cartunista que não se
fixe um limite. Mas esse limite varia. Não conheço um só exemplo
de cartunista que não se fixe um limite. Tenho rodado o mundo e
conhecido muita gente. Em todos lugares, há alguma coisa que não
pode ser caricaturada. Uma vez, na Nova Zelândia, conheci um
cartunista que parecia não tem limite. Mas fiquei sabendo que ele
não mexia com os jogadores de rúgbi. Era o seu tabu. Todas as
sociedades fixam as suas interdições. Cada um vê até onde deve
ir”.
Quis saber quais eram os limites dele
como humorista. Plantu não pipocou: “A vida privada dos políticos.
Isso não me interessa. Não me ocupo”. Aproveitou para contar uma
história: “Certa vez, no Brasil, tive uma interessante conversa
com o cartunista Chico Caruso, a quem admiro. Foi na época da
escolha do Papa que seria Bento XVI. Caruso, assim que houve a
confirmação da eleição do novo Papa, começou a desenhá-lo e, de
repente, fez uma suástica. Fiquei meio perplexo. Vai botar uma
suástica? Essa foi a minha pergunta. Caruso me respondeu
tranquilamente: “Ele não foi simpatizante do nazismo quando
jovem?” Respondi que sim, mas que isso já fazia muito tempo, o
homem estava velho, quase aos 80 anos de idade. Eu não faria. Caruso
fez uma observação muito boa: “Deixa o teu lápis pensar”.
Beleza.
Tem humorista brasileiro que poderia
refletir sobre isso. Plantu defende a liberdade de expressão, a
tolerância e o bom senso. Saber
fazer rir não é sinônimo de passar a vida fazendo bullying
e humilhando pessoas.
Fiquei pensando sobre uma resposta que ele me deu: “O humorista
deve soltar tudo o que tem nas suas tripas. Não deve ficar trancado
coisa alguma. Mas para mim, há algo importante, uma espécie de fio
condutor: o humor deve
servir para criticar os costumes e ajudar a libertar pessoas, não
para humilhar culturas”.
Plantu me tocou com as suas palavras. Continuo processando as suas
observações e análises. Satirizar cotidianamente o mundo da
política é tarefa árdua. Provoquei Plantu: é mais difícil com a
direita ou com a esquerda no poder? Tirou de letra: “Pode ser ainda
mais fácil quando a esquerda está no poder, pois a esquerda no
poder faz o trabalho da direita”. O cara não brinca em serviço.
Só se diverte.
Fonte: Correio do Povo, edição 9 de
julho de 2015, página 2.