De
tempos em tempos, a corrupção toma conta do noticiário e das
discussões do dia a dia das pessoas. O grande problema é que, de
modo geral, o debate sobre o tema é superficial, pois foca apenas
nos sintomas, deixando de lado as causas estruturais da corrupção
no Brasil. Um exemplo da superficialidade com que a corrupção é
tratada nos círculos de conversas está na quase completa ignorância
de que, na origem dos esquemas de corrupção, está a sonegação,
mal que assola o país cinco vezes mais.
O dinheiro que alimenta a corrupção,
na forma de propina, provém do caixa 2. São valores que não
aparecem na contabilidade oficial da empresa, tendo, no máximo, um
controle paralelo, informal, escondido, sendo de conhecimento apenas
dos administradores e poucos funcionários. O único profissional
que, por lei, possui a competência precípua de investigar as contas
das empresas é o auditor-fiscal. Esse profissional tem como missão
exatamente valores não informados pelas empresas, pois é desses
montantes que se pode aferir o que foi sonegado ou seja, o que deixou
de ser recolhido em impostos. Aliás, no dicionário, “sonegar”
significa exatamente omitir, esconde informação. Daí que se pode
dizer que dificilmente um escândalo de corrupção viria à tona se
não fosse o trabalho de um auditor-fiscal.
De fato, o sistema político é o
grande responsável pela corrupção que se entranha na máquina
pública. Contudo, de nada adiantará reformar a política brasileira
se os órgãos de fiscalização e controle não tiverem autonomia
para poder exercer seu trabalho sem interferência política.
Hoje, em Brasília, haverá uma
grande mobilização do Fisco de todo o Brasil, justamente visando
chamar a atenção da população para este aspecto estrutural do
debate acerca da corrupção. Há uma PEC, nº186/07, cuja proposta é
justamente combater a origem da corrupção que é abastecida pelo
dinheiro escondido, sonegado por empresas corruptoras. A população
precisa, urgentemente, se apropriar desse tema.
Diretor de Comunicação do
Sindfisco-RS e da Afisvec
Fonte: Correio do Povo, página 2 da
edição de 30 de setembro de 2015.