Se me
perguntarem o que vem a ser a palavra “denuncismo”, eu sei o que
quero dizer com ela, embora não tenha encontrado em nenhum de meus
dicionários. É um neologismo, não é? Trata-se de imputar a pessoa
ou a uma instituição o uso e o abuso de acusações sem fundamento
com a intenção de neutralizar as críticas de que venham sendo
objeto, livrando-se, do trabalho e sobretudo do dever de contestá-las
com fatos e provas.
Na
atualidade, por exemplo, nosso simpático palavroso presidente da
República, diante das graves acusações que vêm sendo feita aos
presidentes do Banco Central e do Banco do Brasil, tem dito e
repetido que elas não merecem crédito nem carecem ser desmentidas
pelo governo e pelos próprios acusados, porque não passam pura e
simplesmente de denuncismo da oposição. O mesmo vem sendo reiterado
pelos homens públicos acusados de envolvimento em atos ilegais ou
pelo menos contrário à ética e aos bons costumes.
Sinceramente,
me confessso incapaz de entender os complicados procedimentos que, a
juízo dos denunciantes, teriam sido praticados pelos dois destacados
homens públicos que vêm sendo alvos de tantas e tão graves
acusações. No momento, o que me apresso a dizer é que concordo com
o chefe do governo – idem com relação aos que como eles estão
dizendo a mesma coisa – em que a prática do chamado denuncismo é
por todos os títulos condenável. Um odioso crime mesmo. Seus
autores, além de punição legal, merecem reprovação da sociedade
em geral. De acordo?
Agora,
tem uma coisa: dessas verdades não se há de chegar à conclusão de
que as alegações dos acusados possam ser desconsideradas por
inteiro, eis que são ocupantes de elevados cargos públicos. Em tal
caso é incabível que se limitem a ignorá-las, considerando-as como
sendo meros denuncismos ou afirmando que se trata de reles exploração
política.
Para
servidor público a situação muda de figura. Cabe-lhes o dever de
chamar seus detratores à Justiça, constrangendo-os a que provem
suas imputações ou respondam pelos delitos que tenham cometido.
Indispensável tal procedimento porque a servidores públicos,
especialmente quando exercem altos cargos de confiança, corresponde
o mesmo dever que os antigos romanos exigiam da mulher de César,
isto é, que, além de ser honesta, devia parecer honesta. No
momento, é o que se está esperando dos senhores presidentes do
Banco Central e do Banco do Brasil. E do próprio presidente da
República com relação a seu governo. Ou será que estou
raciocinando incorretamente?
A
propósito desse assunto, o governo está tratando de que seja criado
no Brasil um conselho de alcance ainda não bem avaliado. Trata-se do
Conselho Federal de Jornalismo. Quais suas finalidades? Quem
respondeu até aqui a essa indagação foi o ministro de Comunicação
e Gestão Estratégica, Luiz Gushiken. Disse ele: “A ideia é
proteger o jornalista, assegurando condições para que o jornalismo
seja indispensável a todos”. O texto do projeto será submetido ao
Congresso Nacional reza que o conselho e suas seções estaduais
tenham poderes para “orientar, disciplinar e fiscalizar” o
exercício da profissão e das atividades de jornalismo – inclusive
com possibilidade de cassar registros profissionais.
Informamos
apenas (?) disso, é de se ficar atentíssimo ao assunto. Mais do que
muito atento, com medo, trêmulo, para não dizer mais... Em todo o
caso, manda a prudência que, antes de qualquer comentário crítico,
se espere mais e completas informações sobre o assunto. Essa
cautela se justifica de modo muito especial quando se lê a opinião
que sobre o tema foi emitida por um destacado prócer do partido do
governo, o senador Cristovam Buarque. Ele reagiu ao anúncio da
proposta governamental, dizendo, num blog recém-criado, que “o
resultado da criação do referido conselho pode ser o controle da
imprensa”, e que um projeto como o anunciado não deveria ser
remetido ao Congresso.
*Jornalista
Fonte:
Zero Hora, 11 de agosto de 2004, página 17.