Voltam à tona
discussões com pouco sentido e debates sobre falsos dilemas na
província. Já que resolvemos todos os problemas de saúde, de
transporte, mobilidade, moradia, e segurança, chegou a vez de inovar
a partir de uma ideia surrada e leviana: cercar a Redenção,
justamente o mais popular dos parques e que leva no nome um grito de
liberdade contra a escravidão. Lembrando que o espaço foi tombado
em 1997 como patrimônio histórico, cultural e natural da cidade.
Enquanto outros povos derrubam muros, tecnologias eliminam fronteiras
e o poeta sonha com o pago “sem porteiras ou aramados”, lá vamos
nós desperdiçando tempo e plebiscitos com questões menores.
Ao isolar do nosso
convívio direto e livre os 40 hectares do parque Farroupilha, não
se enfrenta a questão da falta de segurança que está disseminada
por todos os cantos da cidade. Dessa forma, apenas cercamos o
problema, esperando as próximas gerações sejam capazes de
reabri-lo, a fim de dar uma solução mais inteligente e criativa.
Enquanto isso, jogamos a toalha, depois de acusar o golpe desferido
por nossa própria incompetência em lidar com os medos.
Existem representantes
do povo convictos sobre as razões para se investirem grandes
recursos em ferro, aço e cimento, quebrando com a estética do
local, agredindo o ambiente natural e interrompendo de uma vez por
todas uma relação de harmonia entre as pessoas da comunidade e o
parque. Os defensores da ideia poderiam afinar os discursos, o que
nos ajudaria a responder ao questionamento inicial: o que está por
trás das cercas? Há quem fale em reduzir a criminalidade (parques
cercados no país continuam registrando problemas maiores que os
nossos). Tem gente que alega ser apenas para evitar depredações (se
não houver policiamento no interior do parque, o que as grades podem
fazer?). Ainda tem quem sai atacando: “Não quer cercar quem deseja
traficar lá dentro”.
Caso a ideia seja
evitar o tráfico, ótimo: vamos cercar os morros, os becos e as
casas nos bairros de luxo, de ondem partem as chamadas tele entregas
de drogas a domicílio. Afinal de contas, o que está por trás das
cercas e grades da Redenção? No futuro poderão estar apenas
pessoas esperando passivamente que o portão se abra, ou que tudo não
passe de um grande pesadelo.
Jornalista
Fonte: Correio do Povo,
página 2 de 8 de junho de 2015.