Ao contrário do que tem sido publicado na imprensa após o atentado ao jornal francêsCharlie Hebdo em janeiro, que deixou 12 mortos, de que os cartunistas satíricos são “paladinos” da liberdade de expressão, "na verdade eles não passam de pessoas frustradas que usam o desenho como válvula de escape".
A opinião é do cartunista francês Riad Sattouf, cronista da vida francesa, que publicava a série sarcástica A Vida Secreta dos Jovens no Charlie. Ele rompeu o contrato com o jornal seis meses antes do atentado.
Para ele, depois dos assassinatos, foi atribuída aos desenhistas de humor uma importância que não tem relação direta com a vida política desses profissionais. "Acho que não há pessoas mais afastadas dessa expressão de liberdade do que os desenhistas". E brincou: "Eu mesmo sou um covarde, tenho medo de futebol, medo de que a bola venha para cima de mim”.
Sattouf deu entrevista coletiva hoje (4) na 13ª Festa Literária Internacional de Paraty (13ª Flip), onde veio divulgar seu livro O Árabe do Futuro, que narra sua infância vivida entre o mundo árabe e a França. Ele disse que não faz cartum com temas políticos. Prefere mostrar "os fatos da vida e deixar que o leitor tire suas conclusões”. Mas Sattouf diz entender que as sátiras com líderes da religião muçulmana publicadas pelo jornal possam ter ofendido alguns islâmicos.
“Eu compreendo perfeitamente que algumas pessoas possam ter se sentido ofendidas com aqueles desenhos, mas nunca existe um bom motivo para alguém matar alguém, qualquer que seja a razão, nada pode justificar”, finalizou.