Ronaldo Garcia –
Boletim Centaurus
Aqui
vale uma explicação: até hoje ninguém morreu no espaço. Para ser
considerado “espaço”, é necessário estar uma altitude superior
a 100 km, valor alcançado pelo Comitê Internacional de
Astronáutica, e abaixo disso estaríamos no espaço aéreo
territorial de algum país.
O
primeiro voo tripulado ocorreu em 12 de abril de 1961, quando o russo
Yuri Gagarin abriu os olhos lá de cima, a 300 km de altura, e viu
que a Terra era azul. Esse voo fora rápido e simples, apenas uma
volta ao redor da Terra em 90 minutos. Foi esse voo que inaugurou a
presença humana no espaço e, até o dia 1 de fevereiro de 2004,
mais de 400 pessoas já experimentaram a mesma sensação de Yuri
Gagarin.
O
astronauta é a profissão mais seleta do mundo: um em cada
15.000.000 de pessoas foi ao espaço. Existe uma estatística que diz
que um astronauta é muito mais popular que um jogador de futebol
(brasileiro) ou de basquete (americano), mais popular do que um
estadista ou governante e empata com atores de cinema de Hollywood.
Esse talvez seja o principal motivo pela qual as pessoas admiram
tanto um astronauta e a tragédia com o Columbia tenha tido a
repercussão e a comoção mundial que alcançou.
E como
toda nova aventura na qual os equipamentos nunca podem falhar, em que
qualquer erro é veementemente punido, ninguém pode lhe ajudar, não
existem possibilidades de resgate, as condições ambientais
simplesmente não existem, somente poucos tem a oportunidade e a
coragem para ir. Os acidentes então, se transformam em tragédias
abalam o mundo todo.
O
primeiro acidente espacial ocorreu numa plataforma de lançamento no
Cabo Kennedy, EUA, no dia 27 de janeiro de 1967. Os astronautas Gus
Grissom, Edward White e Roger Chaffee morreram num incêndio dentro
do módulo de comando da Apollo 1 durante uma sequência de teste de
voo. O objetivo desse ensaio era realizar todos os passas de uma
contagem regressiva completa, sem o lançamento e às 18h30min
daquela sexta-feira, o astronauta Chaffee disse sentir “cheiro de
fogo”. Dois segundos depois, o astronauta White sentenciou: “Fogo
no cockpit”. O incêndio tomou o módulo em questão de segundos
por causa do ambiente extremamente rico em oxigênio.
A perda
nas comunicações com os astronautas ocorreu 17 segundos depois do
início do fogo, seguido pela perda de toda a telemetria, que são os
dados enviados dos computadores da nave para os computadores na sala
de controle da emissão. Devido às várias complexidades técnicas,
depois de 5 minutos que o fogo havia começado foi que os técnicos,
do lado de fora, conseguiram abrir a porta da nave Apollo, mas os 3
astronautas já estavam mortos, provavelmente 30 segundos depois que
incêndio começou.
Depois a
vez da União Soviética. No mesmo ano do acidente da Apollo 1, o
cosmonauta Vladimir Komarov, realizando o primeiro teste tripulado da
nave Soyuz 1 em órbita da Terra, contou com vários problemas
durante a missão (um painel solar falhou e problemas com o controle
de reação – que faz com que a nave realize manobras no espaço),
os quais obrigaram o controle da missão de ordenar a Komarov que
abortasse a missão e começasse os procedimentos de descida. Após
ter reentrado na atmosfera, o paraquedas principal, que deveria ser
aberto a 6,5 km de altura não funcionou, e a cápsula da Soyuz 1
colidiu com o solo. Enquanto a nave fazia a sua descida fatal, os
pedidos de ajuda vindos de Komarov podiam ser ouvidos por vários
rádio amadores até nos Estados Unidos.
O ano de
1971 trouxe a Salyut 1, a primeira estação espacial construída
pela União Soviética e cuja principal missão era realizar
experiências científicas. A Salyut 1 estava equipada com
telescópios, espectrômetros, eletrofotômetros, entre outros
instrumentos. No dia 19 de abril daquele ano a Salyut 1 fora lançada,
sem nenhum cosmonauta dentro, e no dia 6 de junho do mesmo ano, a
nave Soyuz 11 levando os cosmonautas Georgy Dobrovolsky, Vladislav
Volkov e Viktor Patsayev acoplou na estação com a finalidade de
torná-la operacional e realizar as primeiras experiências
científicas. Para isso, os cosmonautas ficariam 30 dias a bordo da
Salyut 1. Um pequeno incêndio e dificuldades nas condições de
trabalho fizeram com que os cosmonautas voltassem a Terra 7 dias
antes do previsto. No dia 29 de junho de 1971, ao abrir a porta da
cápsula, os técnicos encontraram os 3 cosmonautas mortos devido a
uma rápida e violenta descompressão da nave a reentrada. Durante a
volta, uma válvula que servia para equalizar a pressão dentro da
nave, com a pressão do lado de fora, teve um mal funcionamento e
abriu, tirando a pressão e o ar em questão de segundos. Os
cosmonautas tentaram fechar a válvula, mas não houve tempo
suficiente para isso. Os cosmonautas das naves Soyuz, até essa
época, não usavam trajes pressurizados na reentrada.
Depois
veio a década de 80 e com ela, chegou a nova geração de veículos:
os Ônibus Espaciais. O primeiro a voar foi o Columbia, no dia 12 de
abril de 1981, exatamente 20 anos depois do voo de Yuri Gagarin.
O céu
estava limpo e o Sol brilhava naquela fria manhã de 28 de janeiro de
1986. O veículo chamava-se Challenger e a bordo estavam 7
astronautas incluindo a “professorinha” como fora chamada
posteriormente. Seus nomes eram: Richard “Dick” Scoobe, Michael
Smith, Gregory Jarvis, Ellison Onizuka, Judith Resnik, Ronald McNair
e a professora primária Sharon Christa MacAuliffe.
Era o
décimo voo da Challenger e a 25ª missão dos ônibus espaciais.
Essa missão tinha como objetivo realizar experiências científicas
e lançar uma sonda que iria estudar o cometa de Halley que naquela
época era a atração dos céus. O lançamento do Challenger fora
adiado 5 vezes devido às péssimas condições climáticas, e
naquela manhã a temperatura no cabo Kennedy estava por volta de 2
graus Celsius, 10 graus abaixo que qualquer outro lançamento feito
pela NASA. Mesmo assim, o laçamento havia sido confirmado e às
13h37min (horário de Brasília), os motores foram ligados e a
Challenger decolou para que 73 segundos depois viesse a explodir
matando os 7 astronautas.
O que a
comissão de investigação formada pelo então presidente Ronald
Reagan descobriu foi que, devido ao intenso frio, um dos anéis de
vedação de um dos foguetes de combustível sólido (SRB) não
aguentou e rachou, permitindo que gases extremamente quentes pudessem
vazar e com o passar dos segundos derreter as paredes do tanque de
combustível externo (ET) até a falência da estrutura, vindo então
a explodir. O Challenger não aguentou a mudança violenta de direção
e este veio a se partir em milhares de pedaços, devido mais à
pressão do ar do que à explosão do tanque externo propriamente
dita.
Mas
nesse caso, o compartimento da tripulação aguentou. Fora encontrado
dias depois no oceano atlântico a uma profundidade de 60 metros.
Todos estavam mortos.
Dezessete
anos depois, os astronautas que estavam no voo 113, o 28º do
Columbia, fizeram uma homenagem em órbita em memória dos sete
astronautas do Challenge. Mal sabiam que eles seriam os próximos
homenageados quatro dias depois.
Depois
de 16 dias no espaço, realizando mais de 80 experiências
científicas em diversas áreas, trabalhando 24 horas por dia em dois
turnos, chegou a hora de “guardar tudo” e começar a se preparar
para a descida. Diferente dos primeiros veículos da era espacial, os
ônibus espaciais mantinham o contato por rádio mesmo durante a
reentrada, um dos períodos mais críticos do voo, se é que existe
alguma parte no voo espacial que pode ser definido como o mais
crítico. Vale lembrar que o astronauta veterano John Young uma vez
relatou sobre isso, ao dizer que a fase mais difícil de um voo
espacial é aquela entre o lançamento e o pouso. Mas, 16 minutos
antes do pouso aconteceu o que o mundo todo hoje já sabe: o Columbia
não existe mais e com ele foram mais outros 7 astronautas. Seu
nomes: Rick Husband William McCool, Michael Anderson, Kalpana Chawla,
David Brown, David Brown, Laurel Clark, e Ilan Ramos, o primeiro
astronauta israelense.
Vale
frisar que a tragédia do Columbia ocorreu acerca de 63 km de altura,
ou seja, sob o espaço aéreo territorial dos Estados Unidos. E assim
como foi dito no começo, ninguém, até hoje, morreu no espaço.
O
Brasil, não fica fora infelizmente da lista dos desastres espaciais.
Meses depois do acidente com o Columbia, a Plataforma de Lançamento
do VLS, o Veículo Lançador de Satélites, incendiou-se ainda em sua
plataforma, matando 21 técnicos que executavam testes de
pré-lançamento. Até o momento, não é o desejo desse artigo,
expor e esclarecer as causas dessa tragédia, já que estas estão
ara ser investigadas. Quando todas as cusas forem mostradas, essa
será a ocasião para tratar os verdadeiros agentes causadores dessa
perda irreparável para todos nós.
Ronaldo
Garcia, é designer digital e professo de Astronomia no Centro de
Estudos do Universo. O presente artigo é fruto da parceria entre o
Boletim Centaurus e a Revista macroCOSMO. O boletim Centaurus é
mensal e está disponível através do endereço: http://br.groups.yahoo.com/group/boletim_centaurus