Mostrando postagens com marcador Um Tesouro Humanista. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Um Tesouro Humanista. Mostrar todas as postagens

domingo, 7 de junho de 2015

Um Tesouro Humanista

As evidências de que o conde João Maurício de Nassau era um príncipe renascentista que se materializou no Brasil do século 17 estão preservadas no amplo legado artístico e cultural produzido ao longo de sua permanência de sete anos no país. Ao desembarcar em Recife, Nassau trouxe em sua comitiva 46 artistas, cientistas, artífices e sábios. Deslumbrado com o viço e o vigor da natureza tropical, encarregou seus protegidos a catalogar, pintar, estudar e preservar plantas e animais do Brasil. Transformou o abacaxi e o caju em símbolos desse “belo país do Brasil, que não tem igual sob o céu”. Tanto quanto a obra artística feita sob seu mecenato, destaca-se também o trabalho científico realizado em menos de uma década. Entre os letrados ilustres da corte tropical de Nassau incluíam-se Joham Benning, professor de ética e física da Universidade de Leiden; Elias Heckman, botânico; Constantin L'Empereur, especialista no Talmud; e o médico Servaes Carpetier. Nassau queria fundar em Recife uma universidade aberta. Partiu antes de consegui-lo.
Ainda assim, a obra de dois cientistas trazidos por Nassau não encontra, até hoje, paralelo nos anais da erudição brasileira. Em 1648, Georg Marcgraf e Willern Piso publicaram, em Leiden, na Alemanha, sua soberba História Naturalis Brasiliae. Piso, médico de Nassau realizou estudos sobre doenças tropicais e ervas medicianais brasileiras. Marcgraf, nascido em Liebstad, na Alemanha, em 1610, e morto em Angola em 1644, estudou o clima e classificou centenas de espécies da fauna e da flora brasileiras. Naturalista, astrônomo, matemático, agrimensor e cartógrafo, Marcgraf deixou muitos trabalhos inacabados. Cientistas modernos acreditam que, se tivesse vivido o suficiente, teria sido um dos maiores naturalistas de todos os tempos – talvez o maior desde Aristóteles. Na casa em que morou em Recife, de 1637 a 1642, Marcgraf dispunha de um observatório astronômico que o próprio Nassau mandou vir da Holanda. Ao ver a obra de Marcgraf, o padre Antônio Vieira deixou-se tomar pela inveja e observou que ela despertaria cobiça sobre “as terras que tão pouco sabemos estimar”.


Frans Post

Primeiro europeu a pintar os esplendores naturais do trópico, Frans Post (1608-1669) foi um paisagista brilhante, cuja obra, requintada e minuciosa, ilustra as páginas 57,59 e 60 deste capítulo. As três pinturas mostradas aqui fazem parte das 18 únicas que Post produziu a partir da observação direta da paisagem do Novo Mundo. Todas foram doadas por Nassau ao rei Luís XIV, da França, em 1678. Onze estão desaparecidas. Mas a obra de Post, que permaneceu no Brasil de 1637 a 1644, soma duas centenas de quadros: são paisagens imaginárias feitas na Holanda a partir do que ele vislumbrara no Brasil.


Fonte: História do Brasil, página 60.