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domingo, 5 de julho de 2015

UPAs: do sonho ao pesadelo, por Seger Menegaz

As UPAs (Unidades de Pronto Atendimento) surgiram como alternativa para desafogar os hospitais e os postos de saúde, oferecendo serviços de emergência 24 horas por dia, sete dias por semana. No Rio Grande do Sul, encantados com essa possibilidade, muitos municípios pleitearam uma estrutura desse tipo. Porém, o que parecia um sonho tornou-se paradoxalmente, um pesadelo para algumas comunidades.
De acordo com portaria específica do Ministério da Saúde, a gestão das UPAs possui financiamento compartilhado entre União (50%). Estado (25%) e municípios (25%). Ocorre que o governo federal repassa menos recursos do que o devido. E o Palácio Piratini também descumpre com sua atribuição em 2014, R$ 10 milhões deixaram de ser destinados às cidades, que tiveram de cobrir esse rombo.
É uma carência que ameaça gravemente – e, em alguns casos, até inviabiliza – o funcionamento de diversas unidades. No RS, dez estão concluídas, mas não foram abertas, pois não há como mantê-las. Outras 13 estão operando; porém, podem fechar por falta de verbas; e mais 22 estão em construção, mas não há certeza de que funcionarão. O risco de virarem elefantes brancos é grande.
Santo Ângelo, por exemplo, conta com uma estrutura pronta desde 2012, mas sua inauguração ainda não ocorreu devido à incapacidade financeira da prefeitura. Em Cruz Alta, a história é um pouco diferente: a inauguração do espaço aconteceu em dezembro do ano assado: porém, nenhum centavo foi recebido de Brasília.
A situação é tão crítica que há casos de prefeitos recusando a instalação de unidades e até cogitando devolver o dinheiro que iria para as obras. Ora, aos municípios cabe prestar a atenção básica. As UPAs prestam um serviço complementar de média e alta complexidade, cuja responsabilidade é do Estado e da União. Mesmo assim, para não desproteger a população, há casos de gestores locais respondendo por mais da metade do custeio das estruturas.
As perspectivas são pouco animadoras. A Famurs liderou uma comitiva em audiência no Ministério da Saúde, reivindicando aumento dos repasses e mudanças na operação para garantir o atendimento. O ministro Arthur Chioro reconheceu a falta de recursos, mas descartou qualquer possibilidade de elevar as verbas ou modificar o sistema.
Como se diz, a corda sempre estoura do lado mais fraco: mais de 100 mil gaúchos que podem ficar sem atendimento, justamente porque a União e o Estado não cumprem com suas obrigações. Os valores que estão sendo prometidos servem para compra de equipamentos, mas não resolvem o grande problema das prefeituras que é a falta de recursos para o custeio. Conscientes disso, seguiremos na luta pela regularização do financiamento das UPAs. Quando o assunto é saúde, estamos falando da vida e da dignidade das pessoas – e não há nada mais importante do que isso.

Presidente da Famurs e prefeito de Tapejara


Fonte: Correio do Povo, edição de 30 de junho de 2014, página 2.