por OSCAR PILAGALLO
Entre tantos indicadores econômicos negativos que têm
gerado manchetes –desaceleração da economia, pressão inflacionária,
aumento do desequilíbrio externo–, o primeiro mandato da presidente
Dilma Rousseff será também lembrado por uma tendência que costuma ser
menos mencionada: a intensificação do processo de desindustrialização
precoce.
É isso o que sugerem os dados do IBGE relativos à participação da indústria no PIB em seu primeiro mandato.
No primeiro ano, em 2011, a indústria representava pouco mais de 27,2% do PIB, mesmo patamar da herança deixada por Lula. Nos anos seguintes, a participação despencou, primeiro com mais intensidade e depois à razão de um ponto percentual por ano, atingindo marca inferior a um quarto, o pior resultado das últimas décadas.
Em relação às duas administrações anteriores, a de Dilma não se sai bem
nesse quesito. Fernando Henrique Cardoso (1995-2002), apesar das
políticas liberais e da abertura do país a importações para ajudar no
controle da inflação, pegou e entregou a participação da indústria no
PIB na casa dos 26%.
Sob Lula, a trajetória não foi diferente: em que pesem as variações ao longo dos mandatos, a participação da indústria em 2003 e 2010 ficou em torno de 27%.
Quando se fecha o foco na indústria de transformação, cujos produtos têm maior valor agregado, o cenário é mais desolador. A participação no PIB em 2014, de 10,9%, é bem inferior à metade da registrada em meados da década de 1980, a "década perdida".
Só em São Paulo, que concentra a produção dessa indústria, houve perda de 164 mil empregos formais em 2014, retração de 2% no ano, segundo a Fiesp, a federação das indústrias de São Paulo.
ANTES DA HORA
Tal desindustrialização é precoce por ocorrer antes de a indústria do país alcançar o auge ideal e então começar a perder importância relativa na economia, em favor de setores potencialmente mais sofisticados, como serviços.
Essa seria a desindustrialização natural, típica dos países mais ricos, sem impacto negativo sobre geração de emprego e renda.
Na desindustrialização precoce ocorre perda da renda média dos trabalhadores, pois a indústria tem elevado índice de empregos formais, paga salários mais altos e é um dínamo de crescimento, devido ao efeito multiplicador na economia.
Economistas alinhados com o interesse da indústria nacional consideram que os 12 anos de governo petista representaram uma oportunidade perdida para o setor. O aumento da renda dos brasileiros, que viabilizou a compra de produtos de consumo, foi em grande parte capturado pelas importações.
Esse processo ocorreu sobretudo no primeiro mandato de Dilma, quando a produção industrial ficou praticamente estagnada. Desindustrializar, aliás, não implica necessariamente queda da produção industrial, como a de 1,2% que correu no ano passado. Trata-se apenas da perda da relevância da indústria. Na economia, o que pode ocorrer se ela não crescer ou até se crescer menos que outros setores.
Nos dois governos anteriores, a produção industrial andou no mesmo compasso da economia em geral, o que explica o fato de sua participação no PIB ter permanecido no mesmo patamar.
Nos dois governos Lula, aumentou 3,5% e 2,8%, respectivamente, segundo dados não revisados. Nos dois de FHC, as taxas foram de 1,3% e 2,5%. Antes, a indústria dera um salto (de 7,5%) na curta gestão de Itamar Franco, que se seguiu à desastrosa performance no conturbado governo de Fernando Collor, com queda de 3,7%.
PIOR DESEMPENHO
Do ponto de vista da produção industrial, portanto, o primeiro mandato de Dilma foi o mais fraco desde os dois anos e meio de Collor, marcados pelo confisco da poupança, pelo fracasso do combate à inflação, pelo início de uma abertura comercial desregrada e pelo impeachment.
Só uma análise com viés oposicionista, porém, poderia atribuir responsabilidade exclusiva a Dilma pela desindustrialização em curso.
Entre as razões do processo estão desde as políticas liberais dos anos 1990 até a baixa qualificação da mão de obra, passando pelos juros elevados, pelo baixo nível de poupança interna, pelos gargalos de infraestrutura e, até recentemente, pelo câmbio sobrevalorizado.
Com tantos elementos determinantes, a desindustrialização precoce do Brasil está mais para obra coletiva. A "contribuição" de Dilma foi ter deixado que sua defesa da indústria nacional se transformasse em retórica vazia.
OSCAR PILAGALLO, jornalista, é autor de "A Aventura do Dinheiro" (Publifolha)
Fonte: Folha Online - 29/03/2015 e Endividado
É isso o que sugerem os dados do IBGE relativos à participação da indústria no PIB em seu primeiro mandato.
No primeiro ano, em 2011, a indústria representava pouco mais de 27,2% do PIB, mesmo patamar da herança deixada por Lula. Nos anos seguintes, a participação despencou, primeiro com mais intensidade e depois à razão de um ponto percentual por ano, atingindo marca inferior a um quarto, o pior resultado das últimas décadas.
Editoria de Arte/Folhapress | ||
Sob Lula, a trajetória não foi diferente: em que pesem as variações ao longo dos mandatos, a participação da indústria em 2003 e 2010 ficou em torno de 27%.
Quando se fecha o foco na indústria de transformação, cujos produtos têm maior valor agregado, o cenário é mais desolador. A participação no PIB em 2014, de 10,9%, é bem inferior à metade da registrada em meados da década de 1980, a "década perdida".
Só em São Paulo, que concentra a produção dessa indústria, houve perda de 164 mil empregos formais em 2014, retração de 2% no ano, segundo a Fiesp, a federação das indústrias de São Paulo.
ANTES DA HORA
Tal desindustrialização é precoce por ocorrer antes de a indústria do país alcançar o auge ideal e então começar a perder importância relativa na economia, em favor de setores potencialmente mais sofisticados, como serviços.
Essa seria a desindustrialização natural, típica dos países mais ricos, sem impacto negativo sobre geração de emprego e renda.
Na desindustrialização precoce ocorre perda da renda média dos trabalhadores, pois a indústria tem elevado índice de empregos formais, paga salários mais altos e é um dínamo de crescimento, devido ao efeito multiplicador na economia.
Economistas alinhados com o interesse da indústria nacional consideram que os 12 anos de governo petista representaram uma oportunidade perdida para o setor. O aumento da renda dos brasileiros, que viabilizou a compra de produtos de consumo, foi em grande parte capturado pelas importações.
Esse processo ocorreu sobretudo no primeiro mandato de Dilma, quando a produção industrial ficou praticamente estagnada. Desindustrializar, aliás, não implica necessariamente queda da produção industrial, como a de 1,2% que correu no ano passado. Trata-se apenas da perda da relevância da indústria. Na economia, o que pode ocorrer se ela não crescer ou até se crescer menos que outros setores.
Nos dois governos anteriores, a produção industrial andou no mesmo compasso da economia em geral, o que explica o fato de sua participação no PIB ter permanecido no mesmo patamar.
Nos dois governos Lula, aumentou 3,5% e 2,8%, respectivamente, segundo dados não revisados. Nos dois de FHC, as taxas foram de 1,3% e 2,5%. Antes, a indústria dera um salto (de 7,5%) na curta gestão de Itamar Franco, que se seguiu à desastrosa performance no conturbado governo de Fernando Collor, com queda de 3,7%.
PIOR DESEMPENHO
Do ponto de vista da produção industrial, portanto, o primeiro mandato de Dilma foi o mais fraco desde os dois anos e meio de Collor, marcados pelo confisco da poupança, pelo fracasso do combate à inflação, pelo início de uma abertura comercial desregrada e pelo impeachment.
Só uma análise com viés oposicionista, porém, poderia atribuir responsabilidade exclusiva a Dilma pela desindustrialização em curso.
Entre as razões do processo estão desde as políticas liberais dos anos 1990 até a baixa qualificação da mão de obra, passando pelos juros elevados, pelo baixo nível de poupança interna, pelos gargalos de infraestrutura e, até recentemente, pelo câmbio sobrevalorizado.
Com tantos elementos determinantes, a desindustrialização precoce do Brasil está mais para obra coletiva. A "contribuição" de Dilma foi ter deixado que sua defesa da indústria nacional se transformasse em retórica vazia.
OSCAR PILAGALLO, jornalista, é autor de "A Aventura do Dinheiro" (Publifolha)
Fonte: Folha Online - 29/03/2015 e Endividado
Orçado em R$ 7,1 bi, monotrilho de SP opera só em 2,9 km; obras pararam
por ARTUR RODRIGUES
Não há filas na bilheteria ou nas catracas, muito menos
camelôs nas imediações da estação. Nos trens, de tão reduzido, o número
de passageiros caberia numa van.
Esse é o cenário diário no monotrilho da zona leste de São Paulo, obra do governo Geraldo Alckmin (PSDB) que parece um trem-fantasma se comparada a qualquer transporte público da cidade.
Os trens funcionam em esquema de testes desde agosto do ano passado, apenas das 9h às 14h e num trecho de 2,9 km entre as estações Vila Prudente e Oratório –a obra completa, estimada em R$ 7,1 bilhões, terá 18 estações.
Por uma falha no projeto, a construção de parte das estações está paralisada. Conforme a Folha revelou, engenheiros "descobriram" galerias de água que passam embaixo das futuras estações e terão de ser remanejadas.
Na última quinta-feira (26), a reportagem acompanhou toda a rotina da linha 15-prata do metrô, o monotrilho, cujas obras estão atrasadas.
O trem, com sete vagões, tem capacidade para 1.002 pessoas: 122 sentadas e 880 em pé. Na prática, cada viagem reúne de 5 a 25 usuários.
Uma das poucas usuárias, a atendente Sandra Biazi, 49, usa a linha para ir ao trabalho, perto da Paulista. "Eu trabalho das 11h às 17h. Na volta [quando a linha já fechou], desço na Vila Prudente [linha verde do metrô] e ando 3 km até o Oratório, porque os ônibus estão lotados demais".
A dona de casa Francisca Palma, 67, que costuma aproveitar o vagão quase privativo, já pensa em abandonar o monotrilho. "Quando [tudo] estiver pronto, vai vir cheio da Cidade Tiradentes, e a gente não vai nem conseguir entrar".
Hoje, o horário de pico do trem ocorre por volta das 9h, na abertura das
estações, quando a lotação pode ultrapassar a casa das duas dezenas
graças à presença de funcionários do metrô.
A impressão é que, entre uniformizados ou não, a maioria dos passageiros está a serviço da companhia.
Alguns trabalham em notebooks, outros andam de um lado para o outro fazendo anotações. De tempos em tempos, operários entram no vagão e fazem selfies.
Nas estações, há cadernos disponíveis para sugestões de passageiros sobre o serviço. Nas anotações, há queixas sobre a demora nos testes. Mas há também quem elogie o trem ("espetacular"), proteste ("fora, Dilma!") e fale sobre suas preferências gastronômicas ("Eu gosto de bacon").
TREPIDAÇÃO
Quem anda de metrô em SP estranha o monotrilho, pelas dimensões reduzidas ou pelo maior tempo de espera (dez minutos, em média).
O que chama a atenção do contador Wagner de Oliveira, 35, é a trepidação, num trem que circula a uma altura de 12 a 15 metros. "Quando estiver em funcionamento normal e lotado, não sei se vou ter coragem. Porque, se completamente vazio, ele já treme desse jeito, imagina cheio".
Segundo o Metrô, as oscilações são comuns em veículos que trafegam com pneus sobre concreto, como o monotrilho. A empresa defendeu o atual período de testes.
"O funcionamento das novas estações em período parcial é essencial e possibilita os ajustes finais dos equipamentos, sistemas e suas interfaces", afirmou, em nota.
Ainda em abril, o período de operação da linha será ampliado –das 7h às 19h.
A companhia diz que, hoje, cerca de mil pessoas fazem o trajeto por dia -quando a linha estiver concluída poderá transportar 500 mil. A previsão é que mais três estações sejam entregues até 2016.
Fonte: Folha Online - 31/03/2015 e Endividado
Esse é o cenário diário no monotrilho da zona leste de São Paulo, obra do governo Geraldo Alckmin (PSDB) que parece um trem-fantasma se comparada a qualquer transporte público da cidade.
Os trens funcionam em esquema de testes desde agosto do ano passado, apenas das 9h às 14h e num trecho de 2,9 km entre as estações Vila Prudente e Oratório –a obra completa, estimada em R$ 7,1 bilhões, terá 18 estações.
Por uma falha no projeto, a construção de parte das estações está paralisada. Conforme a Folha revelou, engenheiros "descobriram" galerias de água que passam embaixo das futuras estações e terão de ser remanejadas.
Na última quinta-feira (26), a reportagem acompanhou toda a rotina da linha 15-prata do metrô, o monotrilho, cujas obras estão atrasadas.
O trem, com sete vagões, tem capacidade para 1.002 pessoas: 122 sentadas e 880 em pé. Na prática, cada viagem reúne de 5 a 25 usuários.
Uma das poucas usuárias, a atendente Sandra Biazi, 49, usa a linha para ir ao trabalho, perto da Paulista. "Eu trabalho das 11h às 17h. Na volta [quando a linha já fechou], desço na Vila Prudente [linha verde do metrô] e ando 3 km até o Oratório, porque os ônibus estão lotados demais".
A dona de casa Francisca Palma, 67, que costuma aproveitar o vagão quase privativo, já pensa em abandonar o monotrilho. "Quando [tudo] estiver pronto, vai vir cheio da Cidade Tiradentes, e a gente não vai nem conseguir entrar".
Editoria de Arte/Folhapress | ||
A impressão é que, entre uniformizados ou não, a maioria dos passageiros está a serviço da companhia.
Alguns trabalham em notebooks, outros andam de um lado para o outro fazendo anotações. De tempos em tempos, operários entram no vagão e fazem selfies.
Nas estações, há cadernos disponíveis para sugestões de passageiros sobre o serviço. Nas anotações, há queixas sobre a demora nos testes. Mas há também quem elogie o trem ("espetacular"), proteste ("fora, Dilma!") e fale sobre suas preferências gastronômicas ("Eu gosto de bacon").
TREPIDAÇÃO
Quem anda de metrô em SP estranha o monotrilho, pelas dimensões reduzidas ou pelo maior tempo de espera (dez minutos, em média).
O que chama a atenção do contador Wagner de Oliveira, 35, é a trepidação, num trem que circula a uma altura de 12 a 15 metros. "Quando estiver em funcionamento normal e lotado, não sei se vou ter coragem. Porque, se completamente vazio, ele já treme desse jeito, imagina cheio".
Segundo o Metrô, as oscilações são comuns em veículos que trafegam com pneus sobre concreto, como o monotrilho. A empresa defendeu o atual período de testes.
"O funcionamento das novas estações em período parcial é essencial e possibilita os ajustes finais dos equipamentos, sistemas e suas interfaces", afirmou, em nota.
Ainda em abril, o período de operação da linha será ampliado –das 7h às 19h.
A companhia diz que, hoje, cerca de mil pessoas fazem o trajeto por dia -quando a linha estiver concluída poderá transportar 500 mil. A previsão é que mais três estações sejam entregues até 2016.
Fonte: Folha Online - 31/03/2015 e Endividado