1. Este Ex-Blog já comentou várias vezes que um sistema eleitoral de voto distrital uninominal de maioria simples com distritos de uma pequena fração do eleitorado não reproduz necessariamente a opinião proporcional do eleitor e, portanto, as pesquisas de opinião eleitoral devem ter um extremo cuidado ao projetar intenções de voto.
2. Por exemplo: Suponhamos uma situação de 2 partidos em 10 distritos. Se um partido ganha em todos os distritos com 51% dos votos e o outro obtém 49%, as pesquisas vão falar de um empate técnico de 51% a 49%. Mas se o resultado for esse, na representação na câmara de deputados, o partido que obteve 51% dos votos terá 100% das cadeiras.
3. Um exercício assim pode ser feito com vários partidos. A probabilidade de os partidos menores não reproduzirem na urna o que as pesquisas informam é bem maior que os partidos maiores. No caso do Reino Unido os Distritos são de mais ou menos 40 mil eleitores, o que acentua a probabilidade do resultado de eleitos não corresponder ao da pesquisa.
4. Vamos ao caso concreto das eleições no Reino Unido anteontem. A Reuters informou que as pesquisas davam um empate entre os Conservadores e os Trabalhistas com 33% das intenções de voto. E mais, que os Trabalhistas haviam ultrapassado com uma leve vantagem de 1 ou 2 pontos. Ou seja: teriam um número igual de cadeiras na Câmara dos Comuns. Com isso, o governo só se formaria por coligação.
5. Mas havia um problema adicional. A vitória do PN da Escócia era –e foi acachapante- ficando com quase todas, 56 de 59 cadeiras ou 8,6%. Numa situação dessas, a probabilidade das pesquisas coincidirem com os resultados é muito, muito grande. Os liberais-democratas teriam 10%, os nacionalistas eurocéticos (UKIP) 10%, e os verdes 5%. Transformando em cadeiras, seriam 214 cadeiras para Conservadores e Trabalhistas, 65 para os liberal-democratas, 65 para o UKIP e 32 para os verdes.
6. Mas, uma vez abertas as urnas e definidas as cadeiras por distrito, os Conservadores chegaram a 331 cadeiras (51%), 117 cadeiras a mais que as pesquisas, ou 55% a mais. Os trabalhistas chegaram a 232 cadeiras (35,7%), beneficiando-se do voto distrital, mas tirando cadeiras dos partidos menores. Os liberal-democratas ficaram com 8 vagas (1,2%) do total, muito menos que as 65 cadeiras previstas. O UKIP elegeu apenas 1 deputado, radicalmente diferente dos 65 que elegeriam. E o PN-E confirmou as previsões, elegendo 56 deputados ou 8,6%, portanto beneficiando-se do voto distrital. E os pequenos partidos ficaram com 22 cadeiras, ou 3,4%, beneficiando-se por seu voto localizado.
7. Nesse momento em que se discute um novo sistema eleitoral para o Brasil, é bom os partidos analisarem bem as propostas dos que propõem um modelo de voto distrital de maioria simples e com distritos pequenos e variáveis. Isso poderia produzir um gigantesco desvio de proporcionalidade. Isso só é suportável em países com instituições sólidas e seculares, onde variações desse tipo já fazem parte da tradição eleitoral.
8. Lembre-se que na coligação entre conservadores e liberal-democratas (sempre prejudicados), foi feito um acordo para que fosse submetida a plebiscito uma correção nesse sistema. Com larga vantagem, o sistema atual de voto distrital uninominal de maioria simples em pequenos distritos foi amplamente vitorioso.