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domingo, 12 de julho de 2015

Professores que se aposentam, por Dilso José dos Santos

Eles não sabem atear fogo, mas sempre que encontram uma brasinha, não se aguentam, enchem o peito e sopram, abanam... fazem de tudo para que dela se levante uma fogueira.
Já faz algum tempo que perambulo pelos corredores da escola. O fato é que, nessa jornada, acabei encontrando caminhos bonitos e que nem sempre são compreendidos por pés jovens (como os meus). Para entenderem e podermos compreender o que quero dizer é necessário que falemos de mor – e você sabe qual é o contrário de amor? Errou quem arriscou “ódio”. Não, não é. O contrário dele é a indiferença o “tanto faz”. O oposto é isso, porque “desamar” é deixar de ter mar. É quando nos tiram o mar. É ganhar um deserto.
Hoje – por conta (e através) desses nobres “educadores das antigas” - sei bem ser professor é como estar em uma gangorra e sentir prazer tanto no alto quanto no baixo. E amar todos os níveis. É nivelar-se a cada tamanho e, às vezes, até negar-se um pouco para que todos ganhem certa altitude no outro extremo do brinquedo. Fácil? Não é mesmo. Se um piano só se afina com muita escuta, imaginem uma orquestra inteira?!
Com os “antigos” aprendi isso: só me demoro em lugares que não ficam e que, só de olhar, me levam junto. Sou um teacher que ainda usa fraldas, preciso ser levado. Sinto o mundo pela boca, como uma criança desejando não ter, mas ser mundo. Por isso degusto as vozes e os temperos da experiência de cada um desses mestres, seres mapeados por estranhas mais longas do que as minhas. Volta e meia para um, converso, “apreendido” (do verbo aprender, mesmo) e me afino com eles. Muitos não se fizeram doutores por paéis, fizeram-se fazendo fogueiras em lugares pouco favoráveis a “queimações”. Alguns incendeiam até mesmo garotinho cheio de “expertises” teóricas, feito eu, e, quando o fazem, os educandários se iluminam...
Enfim, escrevi bastante até aqui (perdoem-me!). Tudo que fiz foi tentar desenhar uma coisa simples, e “é preciso ser muito bom para ser simples, guri!” - já disse meu pai. Não sou como ele. Minhas pernas ainda não tiveram tempo para ser. Então, para concluir, vou arriscar um desabafo mais preciso do que quero dizer:
Não gosto quando professores se aposentam. Aposentando-se, menino que sou, fico órfão dos bons ensinamentos, porque a docência é um sacerdócio, e por ser uma missão tão sacra, preciso deles para me acompanharem em orações que ainda não sei rezar sozinho”.

Mestre em Letras


Fonte: Correio do Povo, edição de 5 de julho de 2015, página 2.