O povo gaúcho não
abre mão da Universidade Estadual do Rio Grande do Sul (Uergs), e o
atual governador precisa ouvir o que a sociedade tem a dizer. Neste
dia 29 de maio, professores e alunos (na companhia de seus
familiares) das 24 unidades da instituição espalhadas pelo interior
do RS estiveram em Porto Alegre manifestando seu descontentamento com
as medidas tomadas pelo atual governo, que já cogitou inclusive o
fechamento da universidade, que só não aconteceu pelos gritos que
ecoaram dos diferentes rincões clamando pelo bom senso de José Ivo
Sartori.
Mas se a instituição
não foi fechada, o governo tem dificultado ao máximo a vida da
comunidade acadêmica. Alunos enfrentam problemas desde o início do
ano. As bolsas de monitoria, pesquisa e prodiscência, entre outras
verbas que garantem o bom funcionamento das aulas, que não estão
sendo pagas. E sabemos que o enfraquecimento de uma instituição
pública de ensino começa com o corte de verbas. Não repassando os
valores necessários para a pesquisa e demais atividades, o governo
talvez aposte na silenciosa e gradual desistência dos alunos. Estes,
por sua vez, estão cada vez mais convencidos da necessidade de lutar
pelo fortalecimento da instituição. Desde o momento em que as
verbas deixaram de ser repassadas, os alunos são enganados com
promessas de que o dinheiro será depositado na semana seguinte, na
quinzena seguinte, no mês seguinte. E até agora nada.
Essa situação de
abandono e tentativa de precarização da Uergs me lembrou do trecho
do poema “No Caminho, com Maiakovski”. Escrito na década de 1960
por Eduardo Alves da Costa, nos diz: “Na primeira noite eles se
aproximam e roubam um flor do nosso jardim. E não dizemos nada. Na
segunda noite, já não se escondem: pisam as flores, matam nosso
cão, e não dizemos nada. Até que um dia, o mais frágil deles
entra sozinho em nossa casa, rouba-nos a luz, e, conhecendo nosso
medo, arranca-nos a voz da garganta. E já não podemos dizer nada”.
A Uergs é uma
universidade de excelência, e fechá-la não deveria ser pauta de
reunião nem meta de governo. Por isso sua manutenção não é uma
luta exclusiva da comunidade acadêmica, mas de toda a comunidade
gaúcha. Esperamos que o governador reveja seus planos, e que o
quanto antes normalize o repasse de verbas para a instituição. A
educação (assim como a cultura, a saúde e a segurança) não pode
ser penalizada pelos erros cometidos por sucessivos governos.
Queremos acreditar na sensibilidade do governador e pedimos empenho e
dedicação, trabalhando para o fortalecimento desta instituição
que, se ainda não é, deveria se tornar prioridade para o governo
estadual.
Jornalista e escritor
Fonte: Correio do Povo,
página 2 de 9 de junho de 2015.