Adriano Benayon * - 10.11.2014
Só insensatos duvidam que a união faz a força. Quanto
mais dividido um país, mais fraco ele fica. Por isso, os impérios, sempre
usaram a estratégia de dividir os povos a conquistar.
2. “Divide et impera” foi o lema da
Roma Antiga, durante os setecentos anos em que dominou o mundo, e de outros,
antes dela. Tem sido seguido, com semelhante perfídia e
brutalidade, pelo império britânico e por seu sucessor e associado, o
angloamericano, nestes 350 anos.
3. O Brasil é vítima da predação imperial, desde quando
exportava suas mercadorias sob direção das casas comerciais britânicas e tinha
as finanças externas e a infra-estrutura controladas por bancos e empresas
estrangeiras.
4. Ao aparecer, com capitais nacionais, a
promissora industrialização, na 1ª metade do século XX, antes, durante e depois
da Revolução de 1930, o império, descontente com isso, fomentou o divisionismo
em nosso País, justamente em São Paulo, onde despontara a industrialização, e
de onde saía o café e outros produtos exportados.
5. No início dos anos 30, tendo as receitas da
exportação caído 2/3 em relação a 1929, sobreveio a falsamente denominada
revolução constitucionalista de 1932. De fato, o governo chefiado por
Vargas já organizava eleições e o processo que culminou na Constituição de
1934.
6. O movimento de 5 de julho de 1932, de conotações
separatistas, visava, na realidade, sustar a industrialização e reamarrar o
comércio exterior à finança e à direção imperiais.
7. Foi liderado pelos barões da pseudo-elite
agrária da Av. Paulista, econômica e culturalmente vinculados a Londres, juntamente
com a grande mídia prostituída.
8. Atitude irracional, pois o retrocesso ao
modelo colonial prejudicaria os industriais e até os cafeicultores, que estavam
sendo salvos da ruína pela política do presidente Vargas, através da compra
pelo governo dos invendáveis estoques de café e de sua queima.
9. Esse é um dos antecedentes do presente tsunami
de ignorância, que leva os pró-imperiais de hoje a alimentar mentiras, como a
que atribui as misérias do País ao Nordeste e ao Norte, quando elas
provêm do modelo dependente, adotado a partir da queda de Vargas, em 1954,
quando a política passou a favorecer os carteis transnacionais.
10. É por causa desse modelo que a economia do Brasil se
desnacionaliza e se desindustrializa, que as transferências de renda das
transnacionais para o exterior só aumentam e que se criaram mecanismos para
fazer crescer, sem parar, a dívida pública.
11. Para poder encobrir os fatos importantes, o
império, desde os anos 50, investe bilhões de dólares, em contracultura,
desinformação e aviltamento dos padrões éticos e culturais, além de cooptação
de pessoas em todas as instituições públicas e privadas de maior porte.
12. Essa é a corrupção da grossa, incrementada
aceleradamente nos mandatos de FHC (1995-2002), que a mídia sequer
menciona. É a que faz dezenas de milhões de brasileiros crerem que um
governo do PSDB, vinculadíssimo aos interesses imperiais reduza, e
não aumente, a corrupção.
13. Apesar do tsunami de ignorância gerado pelo
império e das fraudes eleitorais, o povo brasileiro escapou da radicalização do
entreguismo. Entretanto, não escapou de seu avanço, impregnado que está na
estrutura econômica e nas instituições.
14. A presidente é alvo de intensa campanha de
desestabilização, visando, no mínimo, a acuá-la a fazer concessões mais
radicais que as que têm feito a banqueiros e transnacionais.
15. As influências imperiais estão dentro do
próprio Executivo e suas agências reguladoras, e também no PT, que nunca
mostrou consciência clara da questão nacional em face das transnacionais e das
potências que as representam.
16. Além disso, o Congresso e os executivos e
legislativos estaduais têm composições cada vez menos favoráveis aos interesses
do País, e os demais poderes e instituições da República estão grandemente
infiltrados pelos esquemas pró-imperiais.
17. Ilustrativa de não ter cessado a campanha de
desestabilização da presidente, sequer no dia das eleições, foi a balela
proclamada nas grandes redes de TV, na mesma noite do resultado, segundo a qual
o País estaria dividido, diante do apertado o resultado das urnas.
18. Logo a seguir, comentaristas e pseudocientistas
políticos passaram a difundir a estória de que a divisão do País se manifesta
ao longo de linhas de classes sociais e de áreas geográficas.
19. Mais relevante do que fomentar a divisão entre as
regiões Norte e Nordeste e o Sul, seria reconhecer a falta de acesso do grosso
da população do País inteiro a condições de vida condizentes com os excelentes
recursos naturais do País e com as possibilidades tecnológicas dele, se não
tivesse sido alijado do real desenvolvimento, devido ao modelo econômico
dependente.
20. Esse modelo causa o endividamento, os juros
absurdos, as transferências de renda ao exterior, o atraso tecnológico e tudo
mais que enfraquece o País.
21. Ele vem de meados dos anos 50, sendo,
pois, ridículo atribuir suas mazelas só ao presente Executivo federal. Cabe,
condenar, em primeiro lugar, governos que mais contribuíram para acentuá-las.
22. O ridículo chega ao absurdo, quando os entreguistas
acusam o Executivo de que sua política econômica afugenta os investidores. Ora,
o montante dos investimentos, mormente os estrangeiros, nunca foi tão alto.
Entretanto, mais que proporcionalmente crescem as transferências de renda e de
supostas despesas para o exterior, e mais ainda as de recursos reais.
23. É o modelo de dependência financeira e tecnológica
que faz minguar verbas para os investimentos produtivos e sociais, e também
direcionar erradamente boa parte deles.
24. Ora, quanto maior o espaço geográfico do mercado
nacional, mais cada região tem a ganhar com o comércio e a interação financeira
internos.
25. De todo o exposto, decorre que o império,
primeiramente tratou de desestruturar o País como um todo. Isso o amoleceu para
a etapa seguinte: desmembrá-lo, como se delineia, em face das demarcações de
supostas terras indígenas, sobre tudo na Amazônia, entregando-as ao controle de
fundações, ONGs e igrejas controladas pelos oligarcas donos dos carteis
mineradores de âmbito mundial.
26. Outra vertente do projeto separatista parece ser a
radicalização da ignorância política e econômica, que investe nas diferenças
regionais e de classes de renda.
27. Essa está imbricada com o divisionismo ideológico
direita/esquerda. O império angloamericano o tem fomentado, em todo o
mundo, desde os tempos da revolução francesa. No Brasil, muito contribuiu
para acirrá-lo, a tentativa de golpe comunista em 1935.
28. Especialmente em função da geopolítica, nunca
foram altas as chances de o partido comunista chegar ao poder, mesmo em curtos
períodos pós-2ª Guerra Mundial, em que contou com recursos e teve
apreciável penetração eleitoral. De qualquer forma, a suposta
ameaça comunista encaixou-se como uma luva na estratégia imperial para fazer
abortar o desenvolvimento do Brasil.
29. Assim, qualquer coisa que implicasse modificar a
arcaica estrutura social e que não fosse favorável aos carteis econômicos e
financeiros transnacionais, passou a ser associada ao comunismo, na versão da
grande mídia e dos demais instrumentos da intervenção imperial angloamericana.
30. Não só empresas transnacionais, mas também
industriais e outros empresários nacionais investiram para derrubar os governos
voltados para o desenvolvimento industrial e tecnológico.
31. Mas os proprietários brasileiros foram expropriados -
não, como temiam, pelos comunistas - mas, sim, pelo capital estrangeiro,
privilegiado com favores inacreditáveis por governos egressos de golpes cuja
direção, como, em 1954, era orientada de fora do País.
32. Esse resultou da armação por serviços secretos
estrangeiros de atentado para supostamente matar um adversário do presidente,
no qual foi morto um oficial da Aeronáutica. Os comunistas não apoiavam
Vargas e até o criticavam.
33. Em 1964, a par das provocações suscitadas para
envolver o governo em atos de indisciplina de militares, houve intensa campanha
para que fossem vistos como de molde comunista os projetos de reforma econômica
e social de Goulart.
34. Apesar de o PT não representar resistência séria à
intensificação do modelo dependente, ele nasceu sob falsas bandeiras vermelhas,
para dividir a esquerda e, em última análise, participar dos golpes do sistema
para cortar as chances de Leonel Brizola.
35. Apesar também da política externa simpática a governos
vizinhos de inclinação bolivariana, embora não partilhando dela, a
retórica e os clichês do PT e sobre ele oferecem campo fértil ao império
angloamericano para pressionar a presidente e intensificar as ações para
a sua desestabilização.
* - Adriano Benayon é doutor em economia
e autor do livro Globalização versus Desenvolvimento