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domingo, 7 de junho de 2015

Os ensinamentos budistas

 Buda, que viveu provavelmente durante o século VI a.C. No Nepal, começou a vida como um aristocrata. Após renunciar ao seu palácio, harém e luxo, ele atingiu, por meio da meditação, uma iluminação na qual descobriu o grande princípio da roda da lei ou da roda do Buda. Isso pode ser definido como uma teoria da “origem dependente” da vida: que tudo está condicionado por outro fator em uma sequência fechada, de tal forma que a infelicidade da vida depende de certas condições e que, pela eliminação dessas condições, é possível eliminar a infelicidade em si. Então o desejo – que, em última análise, leva à infelicidade – origina-se da dependência das sensações, que, por sua vez, origina-se da dependência do contato e dos seis sentidos, e assim por diante. O objetivo budista, portanto, era cortar a corrente de condições que atava a pessoa a essa consequência de paixões, desejos e apegos. Dessa premissa de que a infelicidade é condicionada e que as condições podem ser destruídas, os primeiros budistas fizeram derivar muitas teorias.
Uma ideia central de grande interesse nos dias de hoje é a dos darmas. É, na verdade, uma teoria de elementos ou átomos de acordo com a qual uma entidade não existe em si, mas é formada por todas as suas partes. Os velhos monges budistas acreditavam que o homem é um mero composto dessas diversas partes ou darmas; ele não tem personalidade, alma ou ego. Existem vários tipos de darmas. Alguns estão ligados à forma e à essência, outros à sensação, e outros, à atividade mental. Vistos em conjunto, constituem uma bela explicação da experiência e formam uma base para a navegação da existência do ego. Isso era exatamente o que os budistas procuravam, como uma forma de escapar da infelicidade da vida.
Já que todos os elementos da experiência podiam ser analisados como dissociados, desconectados e atomizados, tanto no espaço como no tempo, sustentava-se que a devida percepção dessa verdade poderia levar à eliminação da ilusão do ego e a uma libertação da roda da lei. Esse tipo de fuga ou iluminação, como se preferir, tem sido perseguido por místicos do mundo inteiro e era buscado avidamente na China medieval.
O budismo, em seus primórdios, era institucionalizado em uma ordem monástica que pode ser comparada e contrastada com o monasticismo cristão de um momento posterior. Foram esses primeiros monges que finalmente registraram por escrito os sutras (sermões e ensinamentos tradicionais de Buda).
No momento de sua expansão do Norte da Índia em direção ao Extremo Oriente, a escola budista Mahayana ( o “grande veículo”) introduzira grandes mudanças as antigas doutrinas, tornando-as mais atraentes para a população e geral. Um desses desdobramentos era a ideia de salvação, que se tornou possível pelas intercessão dos bodhisattvas (ou “iluminados”), que tinham obtido a iluminação do Buda mas continuaram sua existência neste mundo para salvar os outros. A mais famosa dentre essas divindades era a deusa chinesa da misericórdia ou Guanyin, uma abstração do princípio da compaixão. Outra era o Buda da Luz Infinita, Amitabha (em chinês, Emitrofo ou O-mi-to-fo). A salvação de outras pessoas por meio dos esforços desses iluminados era possível devido à teoria de que o mérito era transferível. Junto a essa noção corria o conceito de caridade, que completava a fé budista original e fez dela na China e no Japão uma força social mais efetiva.
A escola Mahayana também desenvolveu uma doutrina positiva do nirvana, o estado que do objeto do empenho budista, mas o próprio Buda considerava tão indescritível que nada comentara sobre ele.
Os ensinamentos budistas foram estipulados pelo grande cânone budista ou tripitaka. A tradução dos sutras desse cânone tornou-se o principal trabalho dos primeiros monges de budistas da China. Ele e seus grandes criadores enfrentaram enormes problemas linguísticos e intelectuais – como fazer uma tradução do sânscrito, que era polissilábico, cheio de inflexões e alfabético como o inglês e como as demais línguas indo-europeias, para a escrita monossilábica, sem inflexões e ideográfica da China: e como transmitir com aquele meio lacônico e concreto as abstrações tão imaginativas e metafísicas do misticismo indiano.
Na tentativa de transferir ou “traduzir” suas ideias novas e estranhas em termos significativos para o público chinês, os primeiros missionários budistas deparam-se com o problema que desafiou todos os propagadores posteriores de novas ideias na China: como selecionar determinados termos chineses, caracteres escritos carregados de sentidos, preestabelecidos, e investi-los de novos sentidos sem deixar que, com isso, as ideias estrangeiras fossem minimamente alteradas, na verdade achinesadas. Por exemplo, o caractere chinês dão (“o caminho”), já bastante utilizado no daoísmo e no confucionismo, podia ser empregado tanto para o darma indiano como para a ioga ou para a ideia de iluminação, enquanto WUWEI, a “inação” do daoísmo, era empregado para nirvana. O resultado era no mínimo ambíguo, senão uma certa diluição da ideia original.
Ideias abstratas do estrangeiro, quando expressar em caracteres chineses, dificilmente conseguiam escapar de algum grau de achinesamento. Além disso, havia resistência a valores exóticos e indutores de corrupção social. Como observa Arthur Wright (1959), “A posição relativamente alta que o budismo dava à mulheres e mães foi modificada nessas primeiras traduções. Por exemplo, “Marido sustenta a esposa” virou “O marido controla sua esposa”, e “A esposa conforta o marido” ficou “A esposa reverencia seu marido”.
Os invasores não-chineses do Norte da China, do século IV em diante, aceitaram o budismo em parte porque, como eles, também ele era um elemento externo da velha ordem que estavam dominando. Os sacerdotes budistas podiam ser aliados na promoção da docilidade entre as massas. Para a alta sociedade chinesa que fugira para o sul, o budismo também oferecia explicação e consolo intelectualmente sofisticados e esteticamente satisfatórios para o colapso de sua velha sociedade. Tanto os imperadores como o povo buscavam a salvação religiosa em uma época de colapso social. Grandes obras de artes, estátuas e templos esculpidos em rocha são provenientes desse período. Comparações e contrastes frutíferos podem ser estabelecidos entre as funções do clero e do monasticismo, entre o crescimento das seitas e o relacionamento igreja Estado, durante essa era da fé budista na China e sua contrapartida cristã mais recente na Europa medieval. Os monastérios budistas, por exemplo, serviam de hospedarias para viajantes, locais de refúgio e fontes de caridade. Além disso, tornaram-se grandes latifundiários e assumiram cargos semioficiais na administração.
O período inicial de empréstimos e domesticação foi seguido por outro de aceitação e crescimento independente. O budismo nativo chinês foi influenciado pelo daoísmo e influenciou-o, por sua vez, em um grau até hoje controverso. Novas seitas surgiram na China, atendendo às necessidades chinesas. A mais conhecida hoje, por sua influência na arte oriental, era a escola que buscava a iluminação por meio de práticas de meditação (chamada em chinês de Chan, ou, na pronúncia japonesa, Zen). Talvez o que foi dito seja suficiente para indicar a interação tão complexa entre elementos como o budismo indiano, os invasores bárbaros, o daoísmo nativo e o crescimento, o florescimento e a decadência do budismo chinês.


Fonte: China – Uma Nova História, páginas 83 a 85.