Já explico o “esperto”. O
primeiro-ministro Alexis Tsipras “vendeu” aos gregos, para se
eleger em janeiro deste ano, promessas que ele mesmo deveria saber
das impossibilidades de cumpri-las, diante da consagrada dívida do
país que alcançava 175% do seu PIB, ou 360 bilhões de euros. Se o
Brasil estivesse com a mesma dívida grega e tomado como base o PIB
de 2014 (R$ 5,52 trilhões) estaríamos devendo R$ 9,66 trilhões!
E mesmo devendo 360 bilhões de
euros, Tsipras prometeu nos palanques gregos aumentar o salário
mínimo de 580 para 751 euros, suprir certos impostos para os mais
pobres e negociar a dívida externa. E ainda cantou de galo dizendo
que não se contentaria com uma “simples renegociação da dívida
externa”.
As primeiras medidas socializadoras
de Alexis Tsipras deixavam antever que a Grécia não só não sairia
da crise como a deixaria ainda mais atolada em dívidas. O apolíneo
primeiro-ministro – um “gato” para o leitorado feminino –
cancelou privatizações acertadas com a Comissão Europeia, o FMI e
o Banco Central Europeu (grupo conhecido popularmente como “a
troika”).
Um acordo firmado com o governo grego
anterior e derrotado nas urnas foi revogado por Alexis Tsipras, que
desautorizou as privatizações do Porto de Pireu, dos aeroportos e
da Empresa Pública de Energia. Não satisfeito com a quebra de
acordo, Tsipras baixou um decreto para o fornecimento grátis de
energia elétrica para 300 mil famílias gregas inadimplentes com a
empresa que seria privatizada.
Em menos de seis meses de socialismo,
os credores da Grécia resolveram cobrar as medidas austeras
prometidas pelos governo anterior e, mais uma vez, Alexis Tsipras foi
buscar legitimidade para seus atos num referendo eleitoral pedindo
que o povo votasse “não” contra as exigências da troika. E os
gregos acreditaram que o “não” vitorioso seria suficiente para
diminuir a pressão.
Nesta semana que terminou, o
parlamento grego revogou por 228 votos a favor e 64 contra aquele
pacote de reformas que tinha desautorizado as privatizações.
Provavelmente, já em setembro ou outubro, a Grécia terá novas
eleições para tentar acabar com as safadezas eleitorais de janeiro.
O socialismo benevolente sempre termina quando acaba o dinheiro dos
outros.
Dando
o que não tem
Algumas nações podem quebrar quando
insistem em prometer (e dar) o que jamais poderia ser entregue ao
povo sem uma contrapartida que equilibre receita e despesa. Isso
vale para qualquer atividade humana porque não existe almoço grátis
como dizia o economista Milton Friedman.
Sem
perda de identidade
A Grécia poderia ter feito os
primeiros ajustes em sua economia se tivesse promovido as
privatizações que lhe dariam bilhões de novos euros sem qualquer
interferência em seus brios nacionalistas.
Porto
de Pireu
O principal porto da Grécia, Pireu,
será privatizado como ficara prometido ao grupo chinês cosco (China
Ocean Shipping Company) por 500 milhões de euros. A privatização
fora cancelada depois da eleição de Alexis Tsipras.
Aeroportos
Na mesma tendência irão os 14
aeroportos gregos e uma imensa área de milhares de hectares no
entorno do antigo terminal aéreo de Atenas. Desde 2010 que Atenas
assumiu junto dos credores internacionais – Fundo Monetário
Internacional, Banco Central Europeu e Comissão Europeia – o
compromisso de pôr em marca um programa alargado de privatizações
abarcando equipamentos, propriedades e estruturas empresariais do
Estado.
Escola
de Chicago (1)
O pensamento do mercado livre
nasceu na Universidade de Chicago e os seus defensores foram os
professores George Stigler e Milton Friedman. É de Friedman o bordão
“não existe almoço grátis”. Ou seja, é impossível de se
conseguir algo sem nada em troca. Ou ainda: bons serviços públicos
exigem impostos justos.
Escola
de Chicago (2)
As teorias da “Escola de Chicago”
inicialmente embasaram a administração econômica da ditadura de
Pinochet no Chile, na década de 1970, com os “chicago
boys”, e posteriormente foram adotadas, na década de 1980, por
Margaret Thatcher na Inglaterra (thatcherismo) e por Ronald
Reagan nos Estados Unidos (reaganomics). Todos esses países
estão com suas economias ajustadas.
Fonte: Correio do Povo, página 6 de
19 de julho de 2015.