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segunda-feira, 15 de junho de 2015

O que está por trás das cercas, por Antonio Czamanski

Voltam à tona discussões com pouco sentido e debates sobre falsos dilemas na província. Já que resolvemos todos os problemas de saúde, de transporte, mobilidade, moradia, e segurança, chegou a vez de inovar a partir de uma ideia surrada e leviana: cercar a Redenção, justamente o mais popular dos parques e que leva no nome um grito de liberdade contra a escravidão. Lembrando que o espaço foi tombado em 1997 como patrimônio histórico, cultural e natural da cidade. Enquanto outros povos derrubam muros, tecnologias eliminam fronteiras e o poeta sonha com o pago “sem porteiras ou aramados”, lá vamos nós desperdiçando tempo e plebiscitos com questões menores.
Ao isolar do nosso convívio direto e livre os 40 hectares do parque Farroupilha, não se enfrenta a questão da falta de segurança que está disseminada por todos os cantos da cidade. Dessa forma, apenas cercamos o problema, esperando as próximas gerações sejam capazes de reabri-lo, a fim de dar uma solução mais inteligente e criativa. Enquanto isso, jogamos a toalha, depois de acusar o golpe desferido por nossa própria incompetência em lidar com os medos.
Existem representantes do povo convictos sobre as razões para se investirem grandes recursos em ferro, aço e cimento, quebrando com a estética do local, agredindo o ambiente natural e interrompendo de uma vez por todas uma relação de harmonia entre as pessoas da comunidade e o parque. Os defensores da ideia poderiam afinar os discursos, o que nos ajudaria a responder ao questionamento inicial: o que está por trás das cercas? Há quem fale em reduzir a criminalidade (parques cercados no país continuam registrando problemas maiores que os nossos). Tem gente que alega ser apenas para evitar depredações (se não houver policiamento no interior do parque, o que as grades podem fazer?). Ainda tem quem sai atacando: “Não quer cercar quem deseja traficar lá dentro”.
Caso a ideia seja evitar o tráfico, ótimo: vamos cercar os morros, os becos e as casas nos bairros de luxo, de ondem partem as chamadas tele entregas de drogas a domicílio. Afinal de contas, o que está por trás das cercas e grades da Redenção? No futuro poderão estar apenas pessoas esperando passivamente que o portão se abra, ou que tudo não passe de um grande pesadelo.

Jornalista


Fonte: Correio do Povo, página 2 de 8 de junho de 2015.