A invasão da Bahia só
trouxe prejuízos para a jovem Cia. Das Índias Ocidentais. Em 1628,
porém, a companhia capturou, ao longo de Cuba, a frota anual da
prata espanhola e obteve um butim de 14 milhões de florins (o dobro
do seu capital inicial). Enriquecida, a WIC planejou nova invasão ao
Brasil. O alvo escolhido desta vez foi a maior e mais rica região
produtora de aç[ucar do mundo. Além de possuir 130 engenhos
(responsáveis por mil toneladas de açúcar/ano), Pernambuco era uma
capitania particular, e não real, sendo, portanto, mal aparelhada na
sua defesa. No dia 15 de fevereiro de 1630, uma armada com 77 navios,
7 mil homens e 170 peças de artilharia surgiu diante de Marim –
mais tarde chamada de Olinda. Embora a resistência do governador
Matias de Albuquerque (neto do velho donatário Duarte Coelho) fosse,
mais uma vez, heroica – e, antes de partir, ele ainda conseguisse
incendiar 24 navios fundeados no porto - , Recife foi rapidamente
tomada. Desta vez, a ocupação iria durar mais de 20 anos.
O domínio holandês
em Pernambuco (de onde se estendeu para sete das então 19 capitanias
que constituíam o Brasil) divide-se em três fases. A primeira, de
1630 a 1637, seria marcada pela valorosa resistência lusa no
interior. De 1637 a 1644, o Brasil holandês floresce em relativa
paz: é o chamado “período nassoviano”. De 1645 a 1654, trava-se
a guerra que resultaria na expulsão dos invasores. Três séculos e
meio depois, a experiência holandesa no Brasil continua associada ao
tempo de Nassau.
Johann Mauritius van
Nassau-Siegen nasceu em 17 de agosto de 1604, em Dillenbourg, na
Alemanha. Foi neto do conde João VI, que era irmão do príncipe
Guilherme de Orange, fundador dos Países Baixos. Pelo lado da mãe,
seu bisavô foi Cristiano III, rei da Dinamarca. Embora ingressasse
aos 14 anos na carreira militar, Nassau teve formação humanista: na
Universidade da Basileia, estudou teologia, filosofia, matemática,
música, ciências de guerra, boas maneiras, esgrima e equitação.
Tornou-se coronel aos 25 anos, lutou contra a Espanha, encomendou
quadros de Rambrandt e iniciou a construção de uma mansão em Haia.
Em agosto de 1636, foi convidado pela WIC para governador-geral do
Brasil holandês. Como o salário de 1.500 florins mensais (mais um
adiantamento de 15 mil florins e 2% sobre o total das presas de
guerra) fosse atraente – e os gastos com a nova casa, grandes – ,
Nassau aceitou. Em 23 de janeiro de 1637, chegou a Recife, com 3 mil
soldados, 800 marinheiros e 600 índios e negros.
Tolerante, competente,
dedicado e ágil. Nassau fez um governo brilhante. Primeiro, tomou
Porto Calvo, último foco da resistência lusa Depois, atraiu os
plantadores luso brasileiros, concedendo-lhes empréstimos para
reerguer seus engenhos – e os defendeu da agiotagem dos negociantes
holandeses e judeus, limitando os juros a 18% ao ano. Deu liberdade
de culto, tratou bem aos índios, aumentou a produção de açúcar,
urbanizou Recife, protegeu os artistas, apaziguou o país. Foi um
príncipe.
Foi nas terras baixas
localizadas na confluência dos rios Capiberibe e Beberibe (Zona
alagadiça que lembrava a Holanda) que Nassau ergueu a Cidade
Maurícia, símbolo de sua administração. Ali, na ilha de Antônio
Vaz (hoje bairro de Santo Antônio), construiu à própria custa, o
Vrijburg, sua residência oficial, também chamada Palácio Friburgo
ou das Torres. “No meio daquele areal infrutuoso, plantou um jardim
e todas as castas de árvores de fruto que dão no Brasil”,
escreveu frei Calado, padre luso que conheceu o lugar. Entre milhares
de flores e frutos, Nassau plantou também 2 mil coqueiros. Fez um
zoológico com todos os tipos de animais encontráveis no país. O
conde adorava “que todos fossem ver suas curiosidades”.
Nassau não agiu
apenas em benefício próprio. Deu ao povo pão e circo: contrário à
mono cultura, obrigou senhores de engenho a plantar mandioca, “o
pão do Brasil”. Por decreto, proibiu a derrubada dos cajueiros, já
quase em extinção. Ladeou as ruas com mamoeiros, jenipeiros e
mangueiras.
Proibiu por edital, “o
lançamento do bagaço de cana nos rios e açúdes”, evitando
mortandade de peixes que alimentavam os obres. Promoveu cavalhadas,
peças de teatro e a famosa farsa do boi voador. Convocou a primeira
assembleia legislativa democrática do continente. Permitiu a
construção de sinagogas, aproximou calvinistas e católicos (só
não fez concessões a jesuítas). O povo comparava a Santo Antônio,
“a quem ninguém recorria sem ser atendido”.
Fonte: História do
Brasil (1996), página 59.