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segunda-feira, 15 de junho de 2015

Na Praça da Revolução

A má fama dele estava feita. Quatro meses depois da sua estreia espetacular foi transladada para a Place du Carroussel, onde decepou uma penca de seguidores da monarquia caída em desgraça. Para o supliciamento de Luís XVI foi removida para um lugar maior, a Place de la Concorde, onde o rei sucumbiu em 21 de janeiro de 1793. Nos tempos de paroxismo do terror, chegou a alimentar-se de 30 cabeças por dia. A maioria delas enviadas ao cadafalso pelo inquisidor e acusador mor da revolução, o juiz Fouquier-Tinville, presidente do Tribunal Revolucionário. Nos dez meses que durou a histeria de uma república que se sentia sitiada, abateram-se, segundo um minucioso pesquisador, 16.594 pessoas, aos quais deve-se acrescentar uma das 30 ou 40 mil vítimas por toda a França.

Criadores como vítimas

Nem todos eram nobres. Em sua grande parte eram o que Robespierre denominava de “satélites da tirania”, gente comum que prestava serviços e dava sua simpatia à causa dos aristocratas. Foi um dos maiores festivais de sangue que a França conheceu.
Não demorou muito para que aqueles que dela fizeram largo uso, condenando seus adversários políticos a serem decepados, também fossem por ela vitimados. Primeiro doi Georges Danton e, no Termidor, Robespierre, Saint-Just e todo o estado maior dos jacobinos.

Auto de fé revolucionário

Os guilhotinamentos eram verdadeiros espetáculos populares. A multidão, desprovida de cricos, de estádios, de qualquer outro lazer, transformou a frequência à praça do cadafalso num programa patriota e familiar.
De certa forma o cenário inteiro, a prisão dos suspeitos, a denúncia sem provas, as vítimas expostas à execração pública, seguida da profanação dos corpos lembravam muito aos autos de fé dos tempos da Inquisição católica.
As crianças eram erguidas sobre os ombros para que vissem o estertor dos inimigos da revolução. Bem perto da máquina ficavam as tricoteuses, as tricoteiras, mulheres envoltas em linhas e agulhas que, próximo das vítimas, as injuriavam.
Exultavam com o olhar de desespero dos adversários quando contemplavam aquela porta sem batente, aquele magnífica exatidão das paralelas, a impecável geometria, armada por um triângulo negro, carrancuda, gotejando sangue em seu gume, exigindo justiça social.

Projeção

Depois daqueles dias de abril, faz pouco mais de dois séculos, nunca mais a aristocracia se recuperou. O fantasma daquela máquina mortífera não cessou mais de atormentá-la. Nenhum outro instrumento executor de uma sentença de morte foi mais conhecido nos tempos contemporâneos do que a guilhotina. De certa forma o largo emprego que os revolucionários deram a ela depois de 1792 ajudou a infamar a causa de 1789, ampliando a legenda negra que envolveu a Revolução Francesa. Para muita gente, a palavra revolução passou a ser sinônimo de guilhotina. Este triste aspecto fez por ensombrecer as conquistas notáveis da Revolução de 1789, além, claro, de lançar no opróbrio o nome do doutor Guillotin.


História por Voltaire Schilling